HUMANOS: Nas páginas centrais do "Sol" está uma fotografia terrível: dois corpos ( que não se vêem na imagem) , vítimas de um acidente de viação ocorrido em Lisboa, são retirados pelos bombeiros sob o olhar atentíssimo de dezenas de populares, alguns encavalitados em janelas e varandas. O que vê esta gente em tripas e ossos que a tenha feito esquecer as novelas e os concursos por um bocado? Quantos deles abominam o sofrimento do touro na arena? Que espécie de combustível lhes corre no sangue?
posted by FNV on 5:50 da tarde
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DUPLOS CUIDADOS: Diogo Infante apresenta na RTP um programa que pretende corrigir o mau uso da língua portuguesa. Saber falar é importante, mas se for para o fazer de boca cheia, alternando com o sempre pitoresco chupar de dedos, enquanto se come um pastel dos Amigos de Peniche e se divaga sobre a origem da expressão, mais vale estar calado. Sobretudo na televisão pública.
posted by FNV on 5:05 da tarde
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TONY ROYAL: Visita-se o site, que tem nome de creme para as rugas ( www.desirdavenir.org) , de Ségolène e está tudo arrumadinho: o que ela pensa sobre defesa, "democracia participativa " ( uma vacuidade que se esgota nos orçamentos participados dos liceus) , imigração, etc. Diz tudo e o seu contrário, apesar de os media portugueses já estarem a avisar que é Sarcozy o demagogo ( como o "Público" de hoje). Mas é mulher, linda-flor de sorriso plástico e mamã certificada. Parafraseando o seu compatriota Malraux, Ségolène será ou o Blair francês ou não será.
posted by FNV on 12:26 da tarde
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VOU ALI E JÁ VENHO: José Manuel Fernandes escreve hoje no "Público" que Milton Friedman "era de esquerda nos costumes " e dá como exemplo a defesa da liberalização das drogas proposta pelo economista. O que JMF não diz - porque não sabe ou porque não quer - é que Friedman também defendia que, após a tal liberalização, o Estado não deveria gastar nem mais um dólar no tratamento de drogados. Se isto é ser de esquerda nos costumes não imagino o que seja ser de direita.
O SANEAMENTO DE FRANCO: Depois de a Universidade de Santiago de Compostela ter retirado o título de doutor "honoris causa" a Franco, o Prof. Doutor José Manuel Pureza, da Faculdade de Economia, defendeu que a Universidade de Coimbra deveria "seguir o exemplo da sua congénere", em termos que o jornal As Beiras relata do seguinte modo: "José Manuel Pureza frisou que aquele grau honorífico da instituição, fundada há 716 anos pelo rei D. Dinis, deverá galardoar homens que se distinguiram pelos grandes valores do humanismo e da decência universal. 'Manifestamente, não é este o caso de Francisco Franco', sublinhou". Vital Moreira (aqui e aqui), José Medeiros Ferreira, Paulo Dá Mesquita e o meu amigo José Mouraz Lopes já comentaram variamente o mesmo assunto. Um doutoramento "honoris causa" é um acto de reconhecimento de homens feito por homens, no contexto específico da Universidade e dos valores com que ela se identifica, e não pode deixar de participar do momento histórico em que é praticado. Todavia, não sendo uma santificação, deve ser tendencialmente irreversível, porque o seu sentido inerente é o de um juízo definitivo sobre os méritos do agraciado, da mesma forma que não é possível retirar o grau de doutor (comum) a quem o obteve (salvo, talvez, casos excepcionais de fraude). Por isso é que os doutoramentos "honoris causa" são escassos, e não devem ser atribuídos de ânimo leve. Como não consta que a personalidade e a acção de Franco fossem desconhecidos no momento em que o grau lhe foi atribuído, não se pode falar de "fraude". Por outro lado, sendo ainda (talvez) admissível revogar o grau quando o homenageado passe a ofender de forma grave e reiterada os valores que nele se louvaram, há que fazê-lo imediatamente, para vincar bem a relação entre os dois termos. De maneira que retirar o grau honoris causa a Franco, em 2006, só pode ter um significado: pretender que esta Universidade não é a "outra" que o atribuiu, sobrepondo, para todo o sempre, o juízo presente ao juízo passado. Em minha opinião, seria um erro grave. Desde logo, porque o tal juízo que se pretende definitivo passaria a ser meramente provisório ("rebus sic stantibus"), levando até a questionar o próprio sentido da existência do grau. Mas, sobretudo, porque nega a dimensão histórica e humana da Universidade, com as virtudes e defeitos inerentes, e denota uma grande dificuldade em compreender a Universidade como instituição una e multímoda. Muito mais útil que uma Universidade asséptica, é assumir a história como ela foi (e não reescrevê-la à nossa medida). E, já que falamos de Universidade, aprender: haverá certamente candidatos que não se distinguirão pelo "humanismo e pela decência universal" nos próximos 716 anos.
RIO E A CULTURA (II): Eliot tinha uma visão mendeliana da cultura, desconfiando do sucesso da transmissão imediata das qualidades culturais por parte de uma elite ( ao contrário do que Mannheim defendia). Entretanto o mundo engordou e a satisfação das necessidades básicas enfraqueceu a gravidez : o pessoal precisa tanto de cultura como de um buraco no sapato ( o Pedro Mexia fornece alguns exemplos deliciosos no www.estadocivil.blogspot.com). O ministro Carrilho percebeu isso muito bem e por conseguinte, se bem se lembram, subsidiou " As Lições do Tonecas ". Porque a cultura já só é desejada, as elites desapareceram e os "agentes culturais " esperam agora que um autarca os satisfaça. Mas a decadência, já explicava Hesíodo, apenas acrescenta valor ao trabalho, e a cultura é coisa de ociosos. E um autarca tem muito trabalho.
posted by FNV on 11:37 da tarde
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TRABALHADORES DO COMÉRCIO: Então parece que o Presidente Cavaco parecia o porta-voz do PM Sócrates, na entrevista televisiva de hoje. A guarda de corpo que na última campanha presidencial assegurava que Cavaco ia ser um elefante numa loja de porcelanas vai continuar à espera que a loja abra.
posted by FNV on 11:12 da tarde
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ANTENA ISLÂMICA: Kareem Amer, um estudante egípcio e blogger de 22 anos, viu prolongada, na semana passada, a sua detenção pelas autoridades judiciais de Alexandria ( toda a história em www.allafrica.com). O crime de Kareem foi o de "difundir ideias secularistas " e, por isso, "incitar o ódio ao Islão ". Os polícias que o têm interrogado humilham-no com aspectos pessoais, perguntando-lhe se reza, se jejua durante o Ramadão, etc. Kareem foi expulso da universidade que frequentava, a Al-Azhar, no passado mês de Março, pelas mesmas razões. Isto passa-se num país, o Egipto, que defende a liberdade da expressão na sua Constituição e que subscreve a Convenção Internacional de Direitos Políticos e Civis. O Islão " moderado " existe, mas os bravos defensores do direitos humanos não sabem.
posted by FNV on 12:24 da tarde
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BIOLOGIA: As coligações PSD-CDS/PP assentam sempre numa enorme desconfiança recíproca , seja no início - quem não se recorda do temor que Portas provocou quando ascendeu a ministro ? -, seja no fim. E no entanto insistem, condenados que estão a partilhar o mesmo espaço, como a pulga e o cão; até que do nevoeiro surja um novo Cavaco...
BODY LANGUAGE: O Paulo Gorjão ( www.bloguitica.blogspot.com) farta-se de perguntar o que aconteceu ao punho cerrado e mostra imagens esclarecedoras do congresso socialista: Sócrates com os braços erguidos à altura dos ombros e com as duas mãos fechadas, num gesto simétrico, com os polegares levantados. Disso do punho não sei, mas o psicólogo -intérprete diria que o gesto revela uma atitude paternalista - os polegares levantados significam condescendência e apoio - tanto quanto uma mensagem clara de autoridade: as duas mãos em gestos simétricos informam a audiência que não há nada a discutir, tal como quando cruzamos os braços à frente do corpo (quando estamos zangados ), ou sobre o peito (quando damos a discusão por encerrada) .
"SITES VICIOSOS": É o título de um deliciosamente misófobo texto, publicado no www.ojornaldafamilia.blogspot.com, ao qual cheguei via www.bloguedonão.blogspot.com ( que o coloca na barra dos links) . Tudo vale a pena nesse texto: da imagem da pornografia a borboletear nas mentes dos jovens à equivalência viciosa da pornografia com o tabaco ( por acaso, neurosensitivamente falando, até nem estão longe); mas a minha preferida é a associação da pornografia com o divórcio. E eu a pensar que Salgado Zenha tinha ido a Roma, em Fevereiro de 1975, negociar a Concordata que fez explodir o numero dos divórcios em Portugal . Nunca imaginei...
posted by FNV on 4:37 da tarde
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LIVROS: Santana Lopes escreveu um livro, Paulo Portas não. Significa isto que um tem de se justificar, o outro não. Já dizia Fu-chih que só pode haver um rei, tal como não pode haver dois pais.
posted by FNV on 12:21 da tarde
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O PARAÍSO:" A grande India, este oceano da humanidade condensada, jardim voluptuoso de explendores, onde brilham como sóes, sob o imperial manto do mais liberal soberano europeu, opulentos principes em trhonos de diamante ..." Isto foi escrito por Xavier Gracias, médico goense, em 1912 ( "Flora Sagrada da India", Margão, Typografia do Albergue ). E sempre interessante esta concórdia no discurso colonial moderno ( noutros tempos as coisas não eram bem assim ) sobre as civilizações axiais: brilham porque sob o manto imperial. Neste caso o manto é " liberal ".
O SENTIDO DA VIDA: Um website imperdível onde se discute as Origens da Vida, a existência de Deus, do Bem e do Mal, a questão do papel da consciência, relação entre Religião, Razão, Ciência, Evolução, Criação e muito mais. Tudo isto apresentado em longas e serenas conversas com alguns dos mais brilhantes pensadores e cientistas contemporâneos. Para consumir lenta e atentamente
posted by NMP on 5:01 da tarde
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RIO E A CULTURA: Mais interessante do que o pequeno episódio do Rivoli é a análise da opção de Rui Rio pelo corte dos subsídios. O que Rio quer dizer é isto: "eu não sou promotor cultural ". E tem toda a razão. Se concordarmos com Mathew Arnold - a cultura como luz e doçura, como a busca da perfeição - que raio tem a fazer por ela um autarca, já de si e por definição, provisório? A tese de Rio foi sempre a de que primeiro está o leite nas escolas e o saneamento, o que me parece sensato. Não se vê bem que famintos e porcalhões possam vir a constituir os futuros espectadores de Beckett ou Sófocles. Mais, o que Rio faz é aprofundar um elemento essencial à cultura: o conflito. Infelizmente truncou-o um pedaço, como veremos adiante. A democratização trouxe um inevitável abismo entre os agentes culturais e o público: do não ter nada ou ter cultura passou-se para ter uma data de coisas - livros idiotas, televisão boa e má, cinema - e ter , ou não, cultura. A velha ideia que obrigava o homem de bem a educar o povo já não faz qualquer sentido. Quando digo que Rio, apesar de conflitualizar o debate cultural, cometeu um erro, é porque se deixou enredar num visco assassino: cortar todos os subsídios impede-o de participar no conflito. Continuasse ele a escolher e a recortar e poderíamos finalmente saber quanto custa a cultura: não em dinheiro, mas em interesse público.
posted by FNV on 11:55 da manhã
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FOTOGRAFIAS: Poucas coisas ilustram melhor a ambivalência face à perda. Pegamos nelas e os dedos fazem sempre aquele gesto obscenamente dissociativo de as afagar, prova provada que somos todos - pelo menos um bocadinho - esquizofrénicos. Enquanto vamos perdendo e envelhecendo elas permanecem cruelmente iguais, ilustrando a medida exacata do gasto. E o mais estúpido, e o mais humano, é que na altura em que as fizemos só estava alegria no ar. Na melhor das hipóteses, elas são prestações de um empréstimo mortal.
posted by FNV on 11:32 da manhã
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O TRIUNFO DOS BOYS: Como alguém já escreveu, a única oposição que poderia tirar o sono a Sócrates seria a oposição interna, dentro do seu próprio partido. Já está resolvido. Como ficou público na discussão do orçamento, a despesa... aumenta! Re(gabo)fixe! Os boys acalmam e ficam motivados para glorificar o querido líder no Congresso. De tal forma ficaram excitados que até demoraram a ouvir-se algumas palmas para os apelos à transparência das contas dos partidos, feitas por Helena Roseta e Manuel Alegre, que deveriam merecer o aplauso de qualquer pessoa de bem.
REPETIÇÃO: Louçã acusando fanáticos obscurantistas e Helena Roseta ameaçando que se o referendo não funcionar legaliza-se o aborto pela via legislativa, parecem estar a fazer tudo para que o "não" ganhe de novo. A costela puritano-presbiteriana tem dificuldade em convencer pessoas sem as tratar como estúpidas.
posted by FNV on 7:14 da tarde
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FEIRANTES: A vida de feirante é sete dias por semana, horários brutais, viagens e canseiras várias. Por que motivo, numa altura de crise, a polícia alimentar invade as feiras e apreende chouriços e bolos só por não terem prazo de validade ou por estaram "ao ar" ? Que mal há nessa tradição? Se é para proteger os hipermercados é mau, se é por higienismo de opereta é pior: mais valia que o estado controlasse - muito melhor do que o faz - a porcaria que nos vendem com os alimentos ( hormonas, químicos, etc). E ainda mais ridículo é esta política higienista conviver com a moda das " feiras medievais " que todas as cidades agora gostam de organizar: na última em que estive, Caminha, nada tinha prazo de validade, tudo estava "ao ar " e o pão era cortado à mão.
posted by FNV on 4:40 da tarde
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LAICOS MA NON TROPPO: Escrevia Samir Amin ( numa pequena tradução da Centelha, de 1974, que traz na capa um árabe com uma metralhadora e com o punho erguido) : "Podemos desde já dizer que , face à visão medieval e racista do estado sionista, é o programa do movimento de libertação da Palestina que constitui a única base de uma solução progressista, moderna e socialista. Uma Palestina única, laica , multinacional. " Israel é "medieval " e o Hamas é " laico ". Sim senhor.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.