Caminha numa placa azul por entre repolhos plantados. Cada um dista exactamente cinco centímetros do outro. No espaços livres a mãe aparece e dá-lhe a mochila da escola. Não é sempre a mesma mãe.
posted by FNV on 10:14 da tarde
#
(0) comments
TEM GOSTO O BURRO EM OUVIR O SEU ZURRO:
Os castigos aos árbitros têm muitas semelhanças com a troca de seringas nas cadeias. O presidente dos árbitros ( este ou qualquer outro) "não quer que se fale em castigos" ( apesar de vários árbitros terem ido de férias) e compreende-se porquê: se ele assume que os árbitros erram com gravidade, não tarda os clubes vêm pedir as repetições dos jogos. Com os guardas prisionais passa-se a mesma coisa: se permitirem programas de trocas de seringas assumem a existência de droga dentro das cadeias ( coisa deveras aborrecida para eles).
Tudo muito português, tudo muito asinino: a autoridade assenta no equívoco.
posted by FNV on 7:37 da tarde
#
(0) comments
TRABALHINHO BEM FEITO...: Rectificação 105/2007 - Rectifica a Declaração de Rectificação nº 100-A/2007, de 26 de Outubro, que rectifica a Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto, que procede à 15ª alteração e republica o Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei nº 78/87, de 17 de Fevereiro.
posted by VLX on 12:23 da tarde
#
(0) comments
ACÇÃO-REACÇÃO:
O debate em torno da escola é dos mais reveladores sobre a representação social que o país elabora acerca da oposição inovação/tradição. Nos anos oitenta, a escola inovou graças a um punhado de pedagogos com rédea livre no ministério. O país desinteressou-se porque na altura estava a recuperar da cultura das couves e da boina baixa. Os inovadores eram uma espécie particular de adversários da modernização. Enquadrados nos sistemas utópicos, recusavam o que estava em nome de uma construção ideal. Tudo o que vinha de trás era tido como pernicioso, como impeditivo da grande escola socialista igualitária.
Hoje, os adversários da modernização são os saudosistas. Substituiram a utopia por um endeusamento da tradição, movimento clássico dos reaccionários: tudo o que não pertence a um passado que eles têm como ideal cheira-lhes a perigo e a disparate. Uma das razões que explica este desequilíbrio prende-se com a ausência, em Portugal, de verdadeiras mudanças técnicas e industriais. Estas mudanças arrastam sempre modificações sociais que acabam por empurrar para as franjas do pensamento os dois tipos de adversários da modernização a que aludi. Como as poucas mudanças técnicas e industriais que tivemos foram caridosamente impostas - os dinheiros europeus -, a mobilização social é inexistente. Daí que alternem, consoante as circunstâncias, os discursos de recusa do real, da recusa em trabalhar a partir da sociedade que existe. Seja porque continuam a sonhar com o que deveria existir, seja porque continuam a preferir, sempre, aquilo que jánão existe.
No filme "Capitão Alatriste" ( com o Vigo Mortensen um bocado desfazado como soldado espanhol do século XVII) há uma cena do cerco católico a Breda. No meio dos espanhóis aparece um soldado português que os companheiros não têm em grande conta: "Vocês, portugueses, são todos meios judeus".
posted by FNV on 11:22 da manhã
#
(1) comments
ODI ET AMO ( XLVIII):
Existe hoje um produto que "elimina as rugas de expressão". É anuciado em toda a parte e, presumo, vende-se bem. Deve ser um progresso extraordinário e muito desejado. As marcas no nosso rosto são um diário escrito por outros. Elas dizem-nos o que nos fizeram e como reagimos. Noutras ocasiões foram escritas pelo acaso, mortal ou benigno, ou pelos deuses. São, em todo o caso, as marcas da nossa presença no mundo. Da nossa expressão. O desejo insaciável de apagar estas marcas faz-me pensar que não nos temos em grande conta.
PENSAMENTO DO DIA: Atenta a distância que nos separa da longínqua década de sessenta, tenho por certo que, daqui a duas ou três eleições para os órgãos sociais, o candidato que se apresentar prometendo "um Benfica à Benfica" é linchado ou tido por doido.
posted by VLX on 12:04 da tarde
#
(0) comments
UM POUCO DE BOLA: Dado que o país quase só é falado lá fora pelo que faz no futebol não podemos deixar de felicitar os clubes portugueses pelos feitos que conseguem alcançar. Assisti hoje, apenas pela televisão e via RTP 1, ao jogo entre o Marselha e o Futebol Clube do Porto. E, não obstante os comentadores da estação terem, por uma boa dezena de vezes, criticado a equipa portuguesa por se basear apenas em jogadas individuais ou ímpetos individuais dos jogadores, não posso deixar de felicitar o clube por ter ganho (julgo que pela quadragésima vez nas competições em causa, independentemente de ser fora ou em casa, contabilidade que obviamente já não se faz no Futebol Clube do Porto), por ter ficado à frente no seu grupo e por ter tido as ditas maravilhosas jogadas individuais (descontando ainda uma grande penalidade evidente que não foi marcada e um golo discutivelmente anulado). Infelizmente, por estar a ver essa emotiva disputa na RTP, não pude assistir ao fabuloso jogo "para homens" (li no Público) de que Camacho falava. Não sei ainda o resultado, por não estar a ver as notícias, embora tenha ouvido na mesma RTP que o resultado não tinha comprometido as esperanças do clube na competição, pelo que não deve ter sido desmerecido. Também por não ter visto as imagens não posso negar com a veemência que a acusação ignóbil exigiria o que me disseram por telefone sobre a evidente tentativa de partir a perna do adversário que o jogador expulso manifestava nas imagens. É seguramente falso, não pode certamente ser outra coisa (já bem bastam ao futebol português os "tapas" para nos fazerem parecer mal nas competições futebolísticas). Enfim. O que interessa reter de tudo isto é que o futebol efectivamente defensor das verdadeiras cores de Portugal está uma vez mais de parabéns. Parabéns, então, aos merecedores das felicitações.
posted by VLX on 12:27 da manhã
#
(6) comments
UMA VERDADE INCONVENIENTE:
O Benfica já tem o seu Paulinho Santos: só que é negro e as câmaras da TV estão lá.
ESTÓRIAS MAL CONTADAS: A comunicação social, e em particular as televisões, vive uma vez mais com inexcedível exaltação a tragédia humana. E algumas das televisões procuram à força um culpado para denegrir rapidamente na praça pública. Ontem à noite e hoje de manhã vi, em certos canais, a tentação de culpar a condutora de um automóvel ligeiro por um acidente terrível. Com perguntas que imagino, as repórteres no local conseguiram que pessoas que seguiam na camioneta acidentada, ainda feridas, combalidas e certamente confusas, declarassem que um automóvel desgovernado tivesse embatido por uma ou mais vezes, por trás, na camioneta, provocando o acidente. As respostas de ontem do Presidente da Câmara de Castelo Branco também não melhoraram a percepção do acidente (limitou-se a dizer que tinha falado com o condutor da camioneta e que ele lhe tinha dito que tinha havido um outro automóvel interveniente no acidente, o que é muito pouco ou quase nada).
O tipo de perguntas que atrás supus, feito com respostas a reboque, foi efectivamente feito por uma repórter da SIC a um oficial da GNR que, contidamente, respondeu que só podia afirmar-se que teria havido uma colisão (não o embate por trás causador do acidente pretendido pela repórter nem a possibilidade de se apontar desde já um responsável pela desgraça). Felicito o agente da GNR pela sobriedade da resposta à traiçoeira pergunta ou, precisando, pergunta-resposta.
É que, com efeito, causava-me algum espanto que um Ford Fiesta, uma casquinha de noz, conduzido por uma professora, pudesse embater por uma ou mais vezes na traseira de uma camioneta de passageiros, cheia, pesada, muito maior, causando um acidente desta dimensão. Mais depressa e mais natural seria o Ford Fiesta ficar em fanicos obrigando a que os seus destroços fossem retirados com espátulas dos farolins traseiros da camioneta.
Vi, hoje à noite, na RTP 1, que possivelmente o acidente não teria ocorrido desta forma mas antes no decurso ou no final de uma ultrapassagem, com desvio de condução ou susto de ambos os condutores. Não sei se isso é verdade ou não, e confesso que durante a noite de hoje não voltei às notícias da SIC (há pouco sintonizei-a mas o Ricardo Costa, com quem até simpatizo, estava de tal forma a defender o actual governo que vim para o computador). Até podem ter corrigido entretanto os tiros cerrados anteriormente dados mas pareceu-me mal que esta estação de televisão que considero tivesse tido a atitude que descrevi atrás. Não se queimam assim as pessoas - é preciso ter certezas, primeiro.
posted by VLX on 11:58 da tarde
#
(0) comments
NARCOANÁLISE ( Nova Série):
Os jornais têm feito um esforço: o Público ( edição de ontem) e o Expresso ( a última Única) publicaram peças que fogem ao passa-e-corre. É bom lembrar que há milhares de drogados que nunca contactaram estruturas de apoio ( prevenção das DST) ou de tratamento; e é um facto que a África Ocidental é hoje a grande zona de transição da cocaína ( já digo isto aqui há anos). O que falta muitas vezes é uma visão: global e de futuro. A heroína vai saindo de moda da Europa rica, a cocaína vai entrando. Ainda temos muitos heroinómanos que correspondem ao perfil do drogado dos anos 80 ( nos EUA a coisa era diferente, o crack teve sempre uma maior prevalência). Em países como Portugal, estas pessoas não foram convenientemente atingidas pelos programas de redução de riscos. Por isso apresentámos nos anos 90, e mesmo no início deste século, cifras de prevalência de infecção por HIV absolutamente vergonhosas . À medida que a heroína for sendo substituída por outras drogas ( tão cedo não desaparecerá), os veteranos continuarão a constituir um problema de saúde pública: hepatites, SIDA e tuberculose serão a sua herança. Tratá-los ou integrá-los ( em programas de substituição de baixo limiar de adição) será uma questão de inteligência. No mínimo. Quanto ao eixo atlântico da cocaína, a perspectiva temporal é diferente. Os europeus têm de estudar a realidade americana das últimas três décadas se quiserem fazer coisas eficazes. É possível que novas formas de consumo de cocaína sejam desenvolvidas. Mesmo que tal não aconteça, a explosão de consumo de coca altera por completo o quadro legal e social. Os americanos experimentaram os métodos musculados de Reagan e deram-se muito mal: entre 1980 e 1990, e apesar de gastos rondando 0s 40 bilhões de US/ano, o preço da cocaína desceu para metade ( The Economist, Julho de 2001). Nada disto impressiona os evangelistas lusos, eu sei, mas também não são eles que me preocupam. A aproximação das redes de tráfico à África Ocidental segue o modelo dos carteis mexicanos: a proximidade ( linguística, racial, social, familiar) via emigração vai tornar ( ainda mais) impossível um controlo eficaz da quantidade de droga introduzida na UE. Depois, os montantes envolvidos e a riqueza criada vão originar um efeito de imitação custoso de travar, tanto mais que serão as comunidades ( já o são, em certa medida) mais pobres que farão a entrega final do produto.
No Pra Lá Caminha, no minhoto Moledo, servem-se as ditas ( uma espécie de torradas), o "Sanduichão Sr. Alfredo" e ainda o "Cachorrão Toninho Fangio". Para me consolar de ter visto aquelecujo nome não deve ser pronunciado falhar sete-7-sete golos feitos, só mesmo as ditas Alminhas. O nome delas faz-me lembrar os presidentes que compram por catálogo, os directores desportivos que depois de terem visto a Copa América ( como eu vi) não se desfizeram logo daquele cujo nome não pode ser pronunciado, e, por fim, os treinadores que o põem a jogar.
A interpretação da Bíblia pode efectivamente tornar-se um instrumento do anticristo, escreve Ratzinger. O Papa refere-se à exegese moderna, científica, na qual o próprio Deus não diz nada. Clemente de Alexandria, há 1800 anos, na Exortação aos Gregos, também avisava os fiéis para fugirem dos demónios como se fugissem de bestas selvagens; embora na altura a tarefa de Clemente fosse a desconstrução dos deuses gregos, existem algumas semelhanças entre as duas missões. Ratzinger pretende evangelizar de novo e não o esconde, Clemente iniciou uma evangelização. Ratzinger tem como adversários, diz ele, o hiper-racionalismo, a fé na ciência e o distanciamento de Deus; Clemente lutava contra os "deuses adúlteros", os estóicos ( "que cobrem a filosofia de vergonha") e os epicuristas ( "afirmam que Deus não se importa com o mundo"). O último livro do Papa - escrito de forma acessível - é de leitura obrigatória para quem quiser antecipar a política do Vaticano para os próximos anos. Vai ser uma luta rua a rua, porta a porta.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.