"A minha sogra dá-me cabo da cabeça. É má como as cobras e mete-se em tudo. No outro dia eu estava de baixa por causa de um a dor nas costas e ela andou a dizer que eu gosto é de estar na cama. E o meu marido ainda lhe apara os golpes".
Imagine uma bruxa velhaca que vive num castelo guardado por harpias e cinocéfalos. Imagine uma donzela desmiolada que bate à porta da bruxa para a conhecer melhor. A bruxa é a sua sogra. Sabe quem é a donzela, não sabe? Também conheço o inverso: noras ciumentas patológicas e melífluas, mas são a excepção. Você nunca ganhará a guerra, por isso desista. Não quer? Então prepare-se para conhecer mais duas personagens: um anti-depressivo e um advogado especializado em divórcios.
posted by FNV on 9:22 da tarde
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A ÚLTIMA SÉRIE (XII):
Hesse está refugiado na bela Montagnola nos finais de Março de 1941. Tem reumatismo e escreve à custa de doses perigosas de salicilato. Bom homem, a sua preocupação é a amiga Annette Kolb ( que viria a ganhar o Prémio Goethe em 1955) retida em Lisboa. Annette está sem dinheiro, esgotada e voltou a falhar um voo num clipper: disseram-lhe duas horas antes que não podia embarcar. Hesse, discretamente, faz uma comparação entre ele e Annette. Cabemos todos nesse barco - os doentes crónicos e os exilados: o progresso é mau, o regresso é impossível.
" O meu namorado pediu-me um tempo. Tenho a impressão de que quer romper. Por que faz ele as coisas desta maneira? O que hei-de fazer?"
Depende. Se você tem 20 anos, deixe-o ir. Se começa tão cedo a acreditar nestas balelas está perdida. Pedir um tempo é a forma masculina de misericórdia. Eles agoram usam hidratantes, mas o cérebro ainda vai precisar de 50.000 anos para mudar. Se você tem 49 anos, está divorciada e o tipo é asseado, compre uma colecção da sua série favorita de TV e aguarde. Se ele não voltar a dizer nada, tente a faixa etária 65-75.
Em 2008 tive duas conversas esclarecedoras: com um produtor destas festas promovidas pelas autarquias e com um jornalista. O primeiro, para grande espanto meu, explicou-me que o seu bacon ( as comissões ) era assegurado quase em exclusivo nesses desvarios autárquicos. O segundo contou-me como Moita Flores e Luís Filpe Menezes eram generosos com o povo. Qualquer um pode verificar quem paga os artistas populares.
Numa época de grande liberdade de expressão sexual, como entender o assinalável progresso dos abusos sexuais de crianças? Não é difícil. Basta não entender a liberdade sexual como um valor culturalmente aperfeiçoador. O velho Reich ( o primeiro psi a distribuir preservativos pelos operários) , se voltasse ao nosso convívio ficaria desiludido. Acreditava piamente que a dominação sexual das mulheres,(o culto da virgindade pré-nupcial e a diabolização do prazer), a preparação dos rapazes para chefes de família burguesas e repressivas e a penalização do aborto ( responsável pela impotência orgástica devido ao medo de uma gravidez indesejável) estavam na origem da neurose sexual. As ideias feitas fazem o seu caminho.
Victor Tausk suicidou-se com 42 anos no dia 3 de Julho de 1919. Foi jurista ( esteve na Bósnia) , jornalista e tornou-se psiquiatra em Viena. Nessa altura integra o círculo de Freud com enorme sucesso, nas palavras do mestre. Na condição de médico militar, voltou aos Balcãs e esgotou-se entre a morte, o sofrimento e a sujidade ( Boulgakov passou pelo mesmo e apaixonou-se pela morfina) . Dão-lhe baixa e regressa Viena: a psicanálise foi para Victor Tausk um lugar de eterno retorno. Deixou trabalhos inéditos - Freud fala de uma excelente comunicação ao Congresso Psicanalítico de Budapeste de Setembro de 1918 - e uma vida despedaçada. Não é difícil perceber, na homenagem que lhe prestou, a admiração de Freud * por um estilo galopante e arriscado. Quando regressa a Viena, Tausk planeia novamente mudar de vida profissional ( já fora jurista, psiquiatra, médico de guerra e agora novamente psiquiatra) e amorosa - um novo casamento. Sucumbe numa manhã de Verão. Freud fala em condições externas e internas para explicar o suicídio de Victor Tausk. E eu falo-vos daqueles que teimam em classificar de cobardes todos os suicidas. Às vezes nem lhe chegam aos calcanhares.
*Se bem que esse sentimento coexistisse com alguma desilusão com o comportamento errático de Tausk. O que conta é esta homenagem prestada por Freud e originalmente publicada na Internation. Zeitschrift fur arztliche Psychoanalyse, volV, nº3, 1919.
posted by FNV on 1:30 da manhã
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A ÚLTIMA SÉRIE ( X):
Tive um pesadelo reaccionário : O - agora - homem bigodudo ostenta uma gravidez de seis meses adivinhada na barriga espetada sob os pêlos negros : guardou o útero e as mamas de uma encarnação anterior. O peru pende, mole e espantado, ainda não refeito da operação que a levou a ser sinal de homem. O outro membro do casal que vai criar o humano, gerado a partir de sémen de um doador anónimo de Sumatra, tem - agora - mamas e tangerina , mas já teve um peru e muitos pêlos. O que importa, dizem, é que o bebé foi produzido com excelente técnica e o feliz casal está feliz com o seu direito a criá-lo. O meu pesadelo levou-me ao tempo em que os humanos nasciam para servir. O tempo dos servos.
Numa carta ( Dezembro de 1922) a Ottoline Morell - patron of the arts, meia-irmã do Duque de Portland e amante de Bertrand Russel - , Eliot diz que Yeats faz parte do restrito grupo de pessoas com as quais se pode falar de poesia. Em muitas cartas a Yeats, Eliot exibe , de facto, um enorme respeito e está sempre preocupado com os possíveis desarranjos domésticos ( e políticos, porque Yeats é entretanto eleito para o senado irlandês) do seu correspondente. Uma projecção, talvez, já que Eliot e Vivien passavam por um período muito peculiar. Com que pessoas se pode falar de poesia? Respondo: com qualquer uma que não a declame.
posted by FNV on 11:02 da manhã
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A ÚLTIMA SÉRIE (VIII):
Tive um sonho revolucionário: as mulheres engravidavam de homens e as crianças viviam com um pai e com uma mãe. No meu sonho, os humanos nasciam de humanos imperfeitos e geravam sociedades inacabadas.
"Se te propões adornar a cidade ( monumentos) , primeiro dedica a ti próprio as nobres oferendas das boas maneiras, da justiça e da beneficência" (LXXX).
posted by FNV on 11:25 da manhã
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MUDANÇA DE TURNO:
Em vez de ir de férias e regressar em finais de Agosto, este ano farei uma ligeira alteração. Durante os próximos meses: nada de política quotidiana, nada de futebol, nada de modas.
Estive a ler pedaços disto ( tradução do Rogério C.) antes de fazer umas bochechas de bacalhau guisadas. Cama de azeite e cebolada, alhos descamisados, 1/5 de uma folha de louro, um golpe de vinho branco, tomate ( pouco porque o tomate é ópio dos maus cozinheiros), colorau, um cheiro de coentros e pimenta preta. Nos últimos minutos, uns talos de alho francês ( a parte verde). A frase que lá está ( de Henry James) é acertada e o resto é muito bom.
Depois do vulcão islandês, é Mourinho a arrancar aos capatazes da palavra as mais imbecis generalidades. E sempre com o ar grave de quem põe açúcar na chávena.
posted by FNV on 4:59 da tarde
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A LESTE NADA DE NOVO:
posted by FNV on 4:13 da tarde
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POBRE PASSOS COELHO:
Na TSF, Pedro Marques Lopes, o amável Toy da análise política, aborda a CPI e diz que JPP "subverteu o estado de direito". Depois diz que "os juízes de Aveiro são também réus". É muito difícil atingir esta desenvoltura infra-cognitiva.
posted by FNV on 12:45 da tarde
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A ÚLTIMA SÉRIE (VII):
Dicta e Contradicta: "A correcta educação das crianças é uma bem abastecida farmácia, mas não temos a garantia de que um espirro não seja tratado com cianeto" ( Karl Kraus, 444). Exacto. Por isso receito o adestramento canino: um afago sempre numa mão, uma ordem inquestionável na outra. Ficamos livres do cianeto.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.