UM ANTÍDOTO CONTRA TODAS AS CERTEZAS, científicas, filosóficas e outras: este artigo de Umberto Eco no Guardian, sobre "provando e riprovando". Nada de muito novo - mas sempre muito necessário.
DAR UTILIDADE ÀS COISAS: A traineira ao largo da Figueira da Foz, se estivesse realmente interessada na saúde das pessoas, bem que podia ir aproveitando o tempo e as magníficas condições clínicas do contentor amarrado com cabos amarelos para umas operações ao apêndice ou às amígdalas, distribuição de aspirinas e curativos simples. Há que não deitar fora uma ideia genial e seria muito mais produtivo que este barco andasse pelos mares fora a curar efectivamente doentes e a auxiliar os diversos serviços de saúde dos países mais carenciados. Sempre era mais útil.
Quanto aos que generosamente têm andado a enviar mantimentos e bebidas para bordo, se querem verdadeiramente ajudar as mães carenciadas, recordo que há muitas que passam necessidades e mesmo fome para educar os seus filhos e que há inúmeros sítios onde se podem entregar mantimentos para lhes serem remetidos. Podem entregar também brinquedos, mesmo velhos, as crianças gostam de brinquedos.
posted by VLX on 11:22 da manhã
#
(7) comments
ALEA JACTA EST ou como dizia um deputado da Nação, as pedras estão lançadas. Segundo os primeiros números parece certo que a convenção republicana teve um efeito mais positivo para o Partido Republicano do que a que os democratas organizaram há um mês.
No entanto, numa eleição com tantos potenciais factores incontroláveis a poderem interferir, a incerteza reinará até perto das eleições. Kerry tem uma carreira política com provas dadas de combatividade e recheada de vitórias em cima da hora, vindo de trás nas sondagens. Vai ter de usar todo o seu talento político. Para já, a coisa parece começar a estar preta para o lado dos democratas.
posted by NMP on 4:18 da manhã
#
(0) comments
REVELADOR: Há quem veja as divisões provocadas pela "questão iraquiana" como uma disputa entre francofonia ou anglofonia, ou entre a América e a França. Pois reparem bem como o problema é visto por alguns. O mestre cita um blogue iraquiano (Healing Iraq) que transcreve a argumentação do senhor Mohammed Bashir Al-Faidhy, porta-voz de uma associação de professores islâmicos. Aqui fica o esclarecedor trecho:
To our brothers in the Islamic Army of Iraq. We wish to inform you that we totally understand the extreme rage that is boiling in your hearts regarding the French decision to ban the Hijab in their schools, and we share you your dissapointment. We officially condemned the French decision at the time... However, killing the two hostages without considering the grave consequences of such an act would be harmful to our cause and would isolate us from our international support... Our goal is to besiege the Americans politically in every spot of the world and this act is not serving that goal... You can see how the agents of the occupation are already using this incident against us... It is our duty as scholars to point out to our brothers what is wrong and what is right... France as an anti-occupation country has been helpful to our cause... You might say that the French stance is not an altruistic one and that they have their own political interests that caused them to disagree with the Americans, and I am not going to say that is not true but it is also our goal to turn them against each other to serve our cause so France has a strategic importance for us.
FRANCAMENTE CONFRANGEDOR: Enquanto na Rússia as mães choram amargamente pela vida das suas crianças, que se arriscam a ser mortas no interior de uma escola às mãos de um punhado de bárbaros poderosos, em Portugal um punhado de bárbaros grita histericamente na defesa de que faça escola o poder amargo de matar pelas próprias mãos as nossas crianças, no interior das suas mães. Mundo muito complicado, este em que vivemos...
posted by VLX on 11:53 da tarde
#
(14) comments
DÉFICE DEMOCRÁTICO?: Manuel Alegre referiu-se a Sócrates como sendo o candidato à liderança do PS "...ungido pelo aparelho partidário." Com isto terá querido dizer que as eleições intra-partidárias são filtradas por um aparelho, que terá o poder de controlar o sentido de voto dos congressistas - que, por sua vez, representam x militantes filiados - de cujo voto irá depender a escolha do novo líder. Deste modo - e esta interpretação é da minha exclusiva responsabilidade - M. Alegre está a afirmar que as "cartas estão marcadas" e que a iminente eleição do secretário-geral do partido está dependente da inclinação de quem manda no dito aparelho (há-dem concordar que assim é...) . E que o sentido de voto dos congressistas votantes não será totalmente livre mas sim condicionado por eventuais favores, trocas ou reverências, recebidos ou esperados, do incontornável aparelho.
Esta situação também é espelhada na actual falência do sistema político existente, na relação de (falta de) representatividade entre eleitores e eleitos. Não só não há responsabilização (eleitoral) directa como há um completo desconhecimento dos eleitos, por parte dos eleitores. Porque aqueles também são escolhidos pelo famigerado aparelho. Sendo esta situação comum aos dois maiores partidos portugueses, os únicos que (até hoje) sempre estiveram no governo do país, podemos então avaliar o alcance do poder dos tenebrosos aparelhos partidários, quais Frankesteins que acabam por dominar o criador.
Embora seja triste que os políticos só se lembrem de criticar o aparelho partidário quando este não os apoia, percebe-se bem que assim seja. De facto, quando se ganha, é graças a, ou com o apoio do respectivo aparelho. Que também será decisivo para a manutenção do poder, pelo que dificilmente um qualquer político ganhará eleições intra-partidárias contra o aparelho ou propondo a sua transformação.
Quando um político não está no poder e é confrontado com um resultado adverso já "cozinhado" pelo aparelho, é natural que o questione - embora se resigne mais facilmente se dele já tiver beneficiado.
Quando um cidadão não filiado em partidos políticos se confronta com o poder de facto dos aparelhos partidários, só lhe resta esperar pela próxima revolução ou rezar pela chegada ao poder de alguém que perceba como é grave a crise da representatividade na política portuguesa.
posted by Neptuno on 5:16 da tarde
#
(0) comments
MOORE DIXIT: Já aqui foi mencionada a presença de Michael Moore na convenção republicana. A genial ideia foi do USA Today, o excelente diário com verdadeira circulação nacional na América. Aqui fica um link para a sua crónica de ontem, comentando um incidente aqui descrito.
posted by NMP on 4:15 da manhã
#
(0) comments
LES BEAUX ESPRITS SE RENCONTRENT: O Prémio Nobel da Paz Arafat apelou aos raptores dos jornalistas franceses para que procedessem à imediata libertação dos reféns. É impressão minha ou quando as vítimas eram civis italianos, filipinos, sul-coreanos e nepaleses não se escutou a voz deste humanista ?
posted by NMP on 3:53 da manhã
#
(7) comments
É A FALTA DE DIÁLOGO, PÁ ! Terroristas mataram 12 trabalhadores civis nepaleses no Iraque. O Nepal não tem tropas no Iraque e permite o uso de véus de mulheres muçulmanas.
Dois jornalistas franceses estão detidos por terroristas no Iraque sob ameaça de morte iminente. A França não apoiou a intervenção americana no Iraque.
Na Rússia mais de 100 crianças estão reféns de um grupo terrorista. As crianças russas, como as americanas, portuguesas, iraquianas ou palestinianas não têm certamente qualquer responsabilidade em matérias político-militares.
Isto se calhar tinha ido ao sítio com um diálogozito... Está-se mesmo a ver que, bem conversadinhos, estes fanáticos assassinos se tinham contentado por exemplo com a impressão de planfetos ou a emissão de meia dúzia de tempos de antena.
DIVULGAÇÃO: Da nossa leitora Paula Cruz Grave recebemos o seguinte e-mail que passamos a transcrever sobre uma louvável nova iniciativa bloguística:
(...) Hoje muito particularmente, e porque sou "navegante bloguista" nos meus escassos tempos livres, suscitou-me interesse uma pequena notícia publicada in Diário de Coimbra, sobre um determinado blog criado por um habitante desta cidade, deficiente motor. O propósito é discutir, comentar e denunciar preocupações inerentes ao problema em si, o ser-se deficiente motor e deparar-se com imensos problemas á sua volta, nomeadamente a nível de acessibilidades arquitectónicas das mais variadas formas. Porque é de louvar este género de iniciativas, porque a matéria implícita é algo que não nos pode passar ao lado e porque nunca é de mais a sua divulgação, aqui deixo o endereço do referido espaço a visitar:
posted by NMP on 3:29 da tarde
#
(0) comments
SETEMBRO é sempre uma mudança de estação, um virar de página, um início limpo. Este ano, precisamos de Setembro mais que nunca.
The sun shines high above The sounds of laughter The birds swoop down upon The crosses of old grey churches
We say that we're in love While secretly wishing for rain Sipping Coke and playing games
September's here again September's here again
David Sylvian, September (Secrets of the Beehive). Costumava passar aqui (a propósito, vão lá ver e ouvir, já está disponível a edição IF - Verão 2004)
posted by PC on 2:17 da tarde
#
(4) comments
PARABÉNS à confraria do queijo, que completa hoje um ano de existência. Independentemente do conteúdo das opiniões aí publicadas, saúdo os veneráveis irmãos pela criação de um espaço onde se discute a política da justiça, dimensão fundamental da cidadania. Um blogue qui n'a pas froid aux yeux.
posted by PC on 2:05 da tarde
#
(1) comments
JUAN, O NOVO PAPILLON: O Die Welt também dá a notícia, mas fica muito longe da intensidade dramática do La Repubblica (pela mesma razão que impede um Porsche de ser um Ferrari). Juan, o simpático urso do zoológico de Berlim, urdiu cuidadosamente o seu plano de fuga: atravessou o fosso de água numa jangada, remando até à outra margem; escalou o muro; já em território humano, no meio de mães e crianças espavoridas, apoderou-se de uma bicicleta e tentou pedalar.
Ora, os ursos que sabem andar de bicicleta foram ensinados pelos homens. E a esses, nem lhes passa pela cabeça tentar fugir do circo a que pertencem. Juan, precisamente porque nunca tinha aprendido a andar de bicicleta, viu nela o meio da sua salvação. Foi atingido por um projéctil com sonífero que o adormeceu imediatamente, "magari a sognare di essere fuggito sul serio. Magari le Ande".
Juan nunca aprenderá a andar de bicicleta.
posted by PC on 3:17 da manhã
#
(1) comments
CRISTALINO: Num notável post intitulado "O Estado à deriva", na cada vez mais reforçada Grande Loja do Queijo Limiano, o Prof. Medina Carreira dá-nos conta da verdadeira dimensão do «monstro» em que se transformou a situação orçamental portuguesa. Os assustadores números tornam inevitáveis e prementes as reformas da Administração Pública e da despesa pública.
Um pequeno pormenor é particularmente chocante: Portugal é o único país da UE/15 que gasta mais com os salários públicos do que com as transferências sociais. Ou seja, o aumento desbragado da despesa pública nem sequer serviu para reforçar qualquer forma de «política social».
Não enfrentar este «monstro» é condicionar o desenvolvimento do país e hipotecar o futuro.
posted by NMP on 2:51 da manhã
#
(0) comments
NÃO TE PRIVES: Um dos ajuntamentos que implorou pela embarcação que se diverte a fazer abortos apelida-se de "não te prives". Parece-me que não poderia ter arranjado designação mais esclarecedora pois dá a todos a ideia cristalina de que se pode fazer o que se quiser da vida sem qualquer efeito secundário, uma vez liberalizado o aborto.
Uma vez liberalizado o aborto, podemos estar à vontade e sem qualquer tipo de problemas. Não há privações. Tudo é permitido.
Repare-se: se do que quisermos fazer da nossa vida fizermos vida alheia sem querermos, e se podermos sossegadamente e apoiados pela lei desfazer a pobre da vida criada por nós em vida querida, triturá-la e deitá-la fora, prosseguindo nós a nossa sossegada vida que pretendemos...
Enfim... qualquer que seja o prisma pelo qual se analise o problema, isto não pode parecer bem.
posted by VLX on 1:38 da manhã
#
(1) comments
RESPONSABILIDADE POLÍTICA II: Quando falamos de moral, a política fica de lado porque não tem nada a ver. Quando falamos de política, não fica bem esquecermo-nos da nossa moral. Marcelo Rebelo de Sousa, pessoa que até gosto de ouvir e de ler, resolveu criticar por questões políticas uma questão que para ele julgávamos moral. Pior para ele. Política e moralmente.
posted by VLX on 1:35 da manhã
#
(1) comments
RESPONSABILIDADE POLÍTICA: Que grupecos ou partidos políticos marginais se entusiasmem com a violação da lei, é coisa que já não nos incomoda. Não se lhes liga. O que impressiona é que partidos políticos que ambicionam o poder denigram e ofendam o ordenamento jurídico. Entendamo-nos: a lei pode ser boa ou má, pode ser alterável ou não, mas é lei. Aprendemos nas faculdades: a lei pode ser dura mas é lei. Dura lex, sed lex. Deve ser cumprida. Foi democraticamente definida, tem de ser cumprida. Poderá ser mudada, poderá ser alterada, poder-se-á defender a sua alteração mas enquanto vigorar deve ser cumprida.
Por isso compreende-se mal que dirigentes do PS adiram a estas incitações à violação da lei. Na verdade, poderá muito bem acontecer que daqui a uns largos anos o PS chegue ao poder: pretenderá que os restantes partidos incitem à violação das normas democraticamente vigentes? Pretenderá o PS que as manifestações públicas se substituam ao Parlamento ou aos Referendos? Eu julgava que não; mas, se pensar bem, Sócrates não foi um dos que há uns anos infringiu a lei no buzinão da ponte sobre o Tejo? Terá ele noção do que é norma?
posted by VLX on 1:32 da manhã
#
(0) comments
FIM DE FÉRIAS: Tem sido cómico o tratamento de diversos sectores políticos à barcaça que se ancorou nas imediações da belíssima Figueira da Foz. Primeiro, foram só alguns punhados de pessoas que se juntaram, falando sozinhas, pertencentes a umas associações desconhecidas, amigavelmente circundados pela comunicação social (em muito maior número). Como o tempo estava bom e a Figueira é agradável, a comunicação social foi ficando à beira-mar e os partidos políticos começaram a olhar para o que lhes parecia um palanque quixotesco. Começaram a aparecer as juventudes partidárias, com os seus eventos planeados no joelho. De nada serviu: as notícias nos jornais continuavam banais. Até o Público enchia uma página inteira com banalidades genéricas e desinteressantes, como fossem os preços que Ferreira Gordo cobrava para os basbaques se abeirarem da barcaça cobiçada através do velho rebocador Capitão Capelo. O Público gabava-se de ter conseguido um preço em conta. Que bom!
posted by VLX on 1:29 da manhã
#
(0) comments
NÃO SE PRIVAM DA NADA: Fomo-nos habituando a ser bombardeados de tempos a tempos com aquele folclore carnavalesco muito próprio de certos grupos na defesa dos seus muito próprios interesses.
Grupelhos reduzidos, nunca mais de uma mão cheia de rapazolas, afavelmente perseguidos por uma comunicação social cordata e amiga, sedenta de se julgar útil, pretendem fazer crer ao mundo que são unanimemente apoiados pela generalidade das pessoas nas suas posições originais, quaisquer que elas sejam.
No presente, temos de gramar um barco que pretende, nada mais nada menos, do que proclamar e proporcionar a violação do nosso ordenamento jurídico (o qual, diga-se desde já para evitar perder tempo em discussões no futuro, advém de um regime democrático e é por ele sustentado).
Que grupos, grupinhos, grupecos pretendam ofender a nossa legislação democraticamente vigente e aceite, é coisa tão banal como o fedelho que toca às campainhas das casas à noite e foge. Que pessoas com responsabilidade no nosso país fujam à ordem jurídica e incitem à violação legal é preocupante.
A PRIMEIRA NOITE da convenção republicana foi marcada pelos discursos de dois republicanos que têm, no imaginário colectivo americano, um estatuto de semi-heróis: Rudy Giuliani e John McCain.
Giuliani gastou parte do discurso a ilustrar algumas inconsistências de Kerry e invocou os momentos dramáticos dos dias pós-11 de Setembro para prender a assistência ao seu elogio e apoio incondicional a Bush. Foi um discurso emocionado, de um bom advogado da política externa de Bush, algo idealista e de alguém que está distante da maioria dos republicanos em algumas matérias domésticas. Com esta prestação, Giuliani garantiu um lugar na memória futura do partido, quem sabe se para uma candidatura a Presidente em 2008.
O momento mais interessante da noite foi quando McCain se referiu a Michael Moore como um "disingenuous filmmaker" (qualquer coisa como um realizador habilidoso/manhoso). Michael Moore tem estado sempre presente na sala, na bancada dos jornalistas. A referência de McCain provocou enorme agitação. A sala gritava four more years, respondendo Moore com um sinal de two more months.
Este curioso incidente serviu para ilustrar vivida e involuntariamente o enorme grau de tolerância política da sociedade americana. Praticada e vivida por todo o espectro político, mesmo por aqueles que são pintados pela notoriamente parcial imprensa europeia como perigosos e violentos intolerantes.
Uma lição, para quem está aberto a aprender. Para os que preferem o conforto das ideias feitas e pré-concebidas, apenas mais uma manifestação da hipocrisia e duplicidade típicas do capitalismo imperialista...
posted by NMP on 4:55 da manhã
#
(12) comments
LEAVING NEW YORK é o que grande parte dos autóctones optou por fazer, para evitar o caos provocado pelas restrições de trânsito e as apertadas medidas de segurança em torno da convenção republicana. É também o título desta bem esgalhada nova música dos REM, audível por quem tem o QuickTime Player ou o iTunes e convenientemente lançada por estes dias.
Definitivamente, há bandas que são como o Vinho do Porto.
posted by NMP on 1:21 da manhã
#
(0) comments
A FOLHA NA FESTA no dia em que uma flor, a mais bela, está em festa.
Esta flor Não é da floresta.
Esta flor é da festa
Esta é a flor da giesta.
É a festa da flor E a flor está na festa.
(E esta folha?
Que folha é esta)
Esta folha não é da giesta.
Não é folha de flor.
Mas está na festa.
Na festa da flor Na flor da giesta
L'EXCEPTION FRANÇAISE: Como bem se lembra aqui e aqui, afinal parece que os terroristas fundamentalistas islâmicos não dominam totalmente este conceito tão essencial para a compreensão do mundo de hoje.
Façamos votos para que este lamentável rapto não termine da pior maneira.
posted by NMP on 10:39 da tarde
#
(0) comments
SINAL DOS TEMPOS: Nos últimos dias de férias, torna-se difícil deixar de antecipar o regresso à dura realidade. É um processo mental quase inconsciente em que diversos actos ou factos nos remetem para o quotidiano que, até então, se encontrava convenientemente em off.
Assim, passeando tranquilamente ao longo da marginal, saboreando a doce brisa marítima, eis que se apresenta uma vetusta Volkswagen, anunciando um não menos jurássico circo que já conheceu melhores dias. Logo se avivou a memória da infância, da novidade que foi poder ver pela primeira vez leões, tigres, zebras, orangotangos e elefantes, entre outros animais selvagens. No entanto, a grande atracção é agora outra: "... o Circo "X" orgulha-se de apresentar o homem mais pequeno do mundo!" A grande vedeta circense dos tempos que correm é um anão. O maior (portanto, o menor) de todos.
Presumo que se trate de um português, cujo tamanho foi sendo progressivamente (ou regressivamente) reduzido, acompanhando fisicamente o desaparecimento da floresta, a degradação da justiça e da sociedade em geral, a diminuição do seu poder de compra e o seu doloroso afastamento económico relativamente aos seus semelhantes de outros países da UE, cada vez maiores.
Enquanto continuava o meu passeio, perguntava a mim próprio se aquele circo ainda teria palhaços.
posted by Neptuno on 5:17 da tarde
#
(0) comments
BALANÇO: Sob mais um dos seus habituais títulos geniais, Je ne regrette rien(clicar para escutar Edith Piaf), o Economist efectua esta semana um balanço da presidência Bush (ver editorial aqui, o resto carece de assinatura). Para lá de slogans e propaganda. Elogiando a audácia das linhas-mestras da sua política externa e criticando o seu demagógico proteccionismo, a intransigência moral e de costumes e grande parte da sua controversa política económica.
posted by NMP on 5:57 da manhã
#
(0) comments
MOMENTO THOMAS CROWN: O roubo do célebre quadro de Munch, O Grito, levou muito boa gente a interrogar-se ácerca da utilidade de roubar uma peça de arte tão conhecida e que não pode ser revendida em público (por exemplo no Sotheby's). Este raciocínio esconde uma dura realidade - há bastantes formas de lucrar com tal acto. Assim, cumprindo uma missão mais digna dos irmãos Metralhas, aqui fica um pequeno guia para aspirantes a Thomas Crown ou a seus serventes.
A primeira maneira de lucrar é vender o quadro a coleccionadores privados, estetas que apenas pretendem disfrutar do prazer de possuir estas obras de arte. Quem sabe até se um destes tipos não estará por detrás do roubo como financiador. A segunda forma de realizar dinheiro com um furto deste tipo é pedir uma soma pela sua devolução ao museu ou instituição sua proprietária ou à sua seguradora.
Se a pintura é famosa, mas não no grau do quadro de Munch, a peça pode ser entregue a uma instituição bancária como colateral de um financiamento (muitos bancos não se preocupam em verificar a proveniência dos itens que lhes são dados como colateral, sobretudo se o seu valor de avaliação supera em muito o montante de crédito em risco).
Por último, um quadro desta natureza pode interessar a traficantes de droga de grande fôlego ou a bandidos bem sucedidos e com contactos (e já agora cultura) como uma espécie de moeda de troca no sub-mundo do gangsterismo.
Como vêem, um quadro de Munch escondido na garagem dá sempre jeito.
P.S. - Não me recordo mas penso que as jóias reais portuguesas roubadas de um museu na Holanda nunca mais apareceram. Certamente que não foi por ninguém lhe encontrar utilidade.
posted by NMP on 5:32 da manhã
#
(3) comments
A FIGUEIRA ESTÁ NA MODA: Pelo que leio na Imprensa online, este slogan está cada vez mais actual. É um rodopio de gente, de imprensa, de anónimos e colunáveis. Chegam de barco, por terra e por ar. Novos, velhos, de direita, de esquerda e do centro. Moças solteiras, casadas, novas e entradotas, rapazes do campo, gandulos da cidade, civis e marujos.
Uma autêntica loucura, para não dizer uma loucura colectiva.
posted by NMP on 4:43 da manhã
#
(1) comments
A HORA DE W.: Nos próximos 4 dias, George W. Bush lançará finalmente a sua campanha eleitoral. Bush tentará nesta fase distanciar-se da direita religiosa, que namorou durante a primeira metade do ano. A escolha dos oradores principais é prova dessa tentativa de cativar os eleitores moderados: Rudy Giuliani, Arnold Schwarzenneger, John McCain e o senador democrata da Geórgia, Zell Miller. Todos os oradores republicanos fazem parte da minoria do partido em matérias morais e éticas como o aborto ou o casamento gay.
Depois da convenção se verá se esta abertur ao centro do Partido Republicano colhe frutos. Mas numa eleição com muito poucos indecisos é improvável que haja muitas alterações nas sondagens. A não ser que o flop da convenção democrata, em termos de aumento de apoio eleitoral, se tenha devido mais à falta de empatia de Kerry.
O tema dominante das últimas semanas foi a dvulgação de anúncios de grupos de veteranos questionando o suposto heroísmo de Kerry no Vietname. Ao fazer do seu serviço no Vietname o tema principal da sua candidatura, Kerry pôs-se a jeito para estes ataques e tentativas de assassínio de carácter. Karl Rove, o principal chefe de campanha de Bush, é conhecido por jogar duro e por vezes baixo.
A verdade, no entanto, é que os anúncios da MoveOn.org e outras organizações de activismo político próximas dos democratas têm tratado, ao longo do tempo, Bush com pelo menos idêntica violência, como se se tratasse de um retardado e inepto mental. Os anúncios do veteranos contra Kerry são uma espécie de contra-ataque do campo republicano. Resta saber o seu efeito - para já, colocaram Kerry na defensiva, mas podem virar-se contra os republicanos).
Uma coisa, no entanto, é certa: a intervenção de grupos de activismo político de ambos os lados da contenda, financiados sem escrutínio público, veio baixar o nível do debate político. É uma boa lição para os que passam a vida a pregar por abertura do debate político à mitificada "sociedade civil" que não está sujeita aos constrangimentos de linguagem e estilo dos partidos e dos políticos profissionais.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.