AS COISAS NO SEU LUGAR: Leitores houve que comentaram o meu post Predestinação de uma forma que considero injusta: não discuti a existência de Deus a propósito da tragédia asiática. Apenas me irritei ( sim, a palavra é adequada), um pouco como o meu caro Francisco José Viegas no JN com os turistas que não cancelaram as suas férias naquelas paragens, com os intermediários de Deus. Intermediários esses, que numa longa tradição da usurpação da palavra de Deus, pretenderam ver na morte de centenas de milhares de pessoas e na desgraça de milhões de alguns dos habitantes mais pobres deste planeta, um castigo divino. Se bem me recordo ( e de memória, logo imperfeitamente), aquilo que fizeres ao mais fraco dos homens, fazes-me a mim. Neste caso, um vergonhoso ultrage.
posted by FNV on 4:21 da tarde
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PALAVRA??!!! António Serzedelo, presidente da Opus Gay, diz hoje ao Independente que "existe um lóbi gay secreto em Portugal". A gente vai a ver e afinal o homem em só fala em ministérios e secretarias de Estado.
Países decentes têm lóbis gay nas TV's, nas Universidades, no cinema, no berlinde, na engenharia de betão pré-esforçado, na pesca à linha ao atum de Setembro.
Pobre Lusitânia, que até nos lóbis gay é paroquial e provinciana.
posted by FNV on 1:20 da tarde
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ASSIM: Muitos blogs e bloggers informam-nos das suas escolhas do ano. Aqui na nau não existe esse costume, e pela minha parte, não inovarei. De resto, a quem interessarão as minhas escolhas? Um tipo qualquer lê-me e diz: olha, o FNV escolheu este livro, vou já comprar? Ou: o FNV escolheu este filme? Já não durmo! Não me lixem. E depois, os anos civis partem as coisas, e eu ainda vivo no ano lectivo/futebolístico/taurino, funciono por temporadas.
Com os desejos de Ano Novo, a mesma coisa. De que me adianta desejar coisas para o ano novo, se o que eu queria era que ele fosse igual ao velho? Com o meu amor, os meus filhos e os meus amigos vivos, com o meu corpo a funcionar decentemente, sem a amarga (des)ilusão de estar a festejar 3 minutos um certo golo que afinal não foi. Bom, isto quanto ao umbigo, porque no que diz respeito ao mundo, a coisa ainda é pior: de que serve desejar que as coisas más que aconteceram por aí não tivessem acontecido?
Assim.
PS: um abraço de Ano Novo (deles...) aos leitores desta nau, em particular ao mfc e ao jpt, que tantas vezes me aturam.
posted by FNV on 11:41 da manhã
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O PESSOAL ECLÉTICO: Segundo a imprensa regional de Coimbra, Zita Seabra foi uma "escolha de Santana Lopes" e tem a concordância de Jaime Soares ( será o presidente da Distrital?). Jaime Soares concorda porque "sempre defendeu que fosse uma senhora" e com "ligações a Coimbra": ao que parece "Zita é natural de Aveiro". São critérios, como diria Sir Humphrey Appleby no Yes Minister, extremamente originais e criativos.
Mas o que admiro no pessoal político é a sua versatilidade: tão depressa se é gestor de espaços desportivos como estratega da luta contra a droga, tão depressa se gere o Instituto da Juventude como as Águas de Coimbra, tão depressa se é vereadora em Vila Franca de Xira como candidata a deputada por Coimbra, tão depressa se é deputada por Castelo Branco como adida cultural/de imprensa em Londres.
Isto evidentemente só pode ser conseguido por gente de alto coturno intelectual e grande equilíbrio emocional; e de uma dedicação sem limites à coisa pública. Não compreendo como se pode dizer tão mal do nível dos políticos em Portugal.
NÃO APRENDERAM NADA: Um rabino qualquer ( nem quis fixar o nome ou a posição) já anda por aí a dizer que a tragédia do Sudeste Asiático ( é tão grande que nem tem nome) foi um castigo de Deus perante os comportamentos dos homens. Era uma questão de tempo até aparecerem os exegetas divinos.
Noutros tempos, os epilépticos que ardiam nas fogueiras tomados por desgraçados possuídos por Belzebu, também morriam por vontade de Deus. As grandes fomes, do Palatinado à Suábia, produto do conúbio vergonhoso de uma Igreja gorda e complacente com a mesquinhez dos príncipes devotos de Roma, também eram um castigo de Deus, irado com os heréticos adeptos de Erasmo, João Huss ou Lutero.
Estas orelhas que pretensamente O ouvem, que despudoradamente acenam com o castigo divino, já as conheço de gingeira. São elas que sopram o lume que teima em reacender a minha fogueira de incréu.
posted by FNV on 8:42 da tarde
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COMEÇA MAL: Segundo o Público, Matilde Sousa Franco, cabeça de lista do PS por Coimbra, terá dito à Rádio Renascença que "sobre a co-incineração não se pronuncia porque não é técnica, e isso é assunto para especialistas". Muito bem: e se houver três especialistas a dizer coisas diferentes, quem é que decide?
Matilde Sousa Fraco, segundo a mesma fonte, diz que "o nível na política portuguesa é muito baixo". Talvez ela própria posa ajudar a elevar a fasquia, não se eximindo a tomar posições claras sobe assuntos importantes e difíceis. Porque como se sabe, o calculismo eleitoral é uma das coisas que baixa o nível da política. Ou não é?
posted by FNV on 7:13 da tarde
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2005, O ANO DE SAMPAIO?: Jorge Sampaio está a terminar a sua época como Presidente da República. Os seus dois mandatos ficam irremediavelmente associados aos piores dez anos da democracia portuguesa, que coincidem com o declínio geral do país a todos os níveis. Se considerarmos que qualquer transformação terá que passar pelo bom exercício do poder político, verificamos que Sampaio pactuou com a desgraceira do (des) governo Guterres e, mais recentemente, decidiu "furar" o sistema, com a trapalhada da dissolução da AR. Poderá sempre defender-se com o facto de o PR não "governar" mas, a verdade é que o PR deve ser um defensor do povo e um garante da democracia e das respectivas instituições. Não pode pactuar com a degradação social, económica e política, nem com a "prostituição" das instituições (cfr., a aprovação de orçamentos com base em negócios de queijos...), nem deve usar os seus poderes sem motivo válido que o justifique ou apenas para agradar à sua família política.
Pese embora o seu mau desempenho - na minha opinião - Sampaio aparenta ser uma pessoa sensata, inteligente, equilibrada e sensível à situação que o país atravessa. Deste modo e por forma a retirar-se de consciência tranquila, Sampaio tem agora uma oportunidade de ouro para dar sentido aos seus mandatos. E também para dar sentido à sua decisão de dissolução da AR. Esta decisão deverá fazer parte de uma estratégia mais abrangente que se traduza num claro "Basta!" à classe política dirigente. As reformas de que o país precisa, no actual panorama político, apenas poderão ser efectuadas com um pacto de regime entre os maiores partidos. De outra forma, continuaremos a assistir (e já estamos a assistir...) à política(?) que se esgota na mera demagogia eleitoralista, em que as ideias apenas servem como armas de arremesso eleitoral, em que os políticos não se coibem de atacar hoje aquilo que ainda ontem defendiam. E, para além disso, os cromos são os mesmos, de um lado e do outro. Sampaio tem agora a oportunidade de impor esse pacto. Já que decidiu intervir, que vá até ao fim e que não permita que, independentemente do resultado, tenhamos mais do mesmo nos próximos dez anos. Que intervenha na campanha eleitoral e que imponha esse pacto sobre as reformas que o país precisa e que, isoladamente, tantos votos poderiam custar. Defenda os portugueses que, neste momento, são completamente reféns de um sistema político que, alavancado na imperfeição das regras democráticas, se tornou totalitário.
Uma coisa é certa: 2005 será sempre o ano de Jorge Sampaio. Por motivos que nos levem a recordá-lo com gratidão ou apenas porque terá feito as malas e desaparecido da vida política.
A MISTERIOSA INÊS: Teotónio Pereira, de seu nome completo, escreve no O Acidental. E escreve hoje sobre a inexistência no seu blogue de link para o Abruptode Pacheco Pereira; E diz que concorda porque acha o Abruptoum blogue chatérrimo, em que as ideias próprias não são boas e as boas não são próprias. Até aqui tudo bem, a opinião é livre. O que a Inês diz depois, em início de frase, é que é delicioso: "sempre que vou ao Abrupto"...
Que insondáveis motivos levarão a Inês a "ir sempre" a um blogue que considera infrequentável, a ponto de concordar com a sua exclusão da lista de blogues recomendáveis? É uma mulher interessante, a Inês. Muito.
Resposta aos comentários: Se eu disser que achei Madrid entediante "quando lá fui", os leitores perceberão que eu ( para além de burro) não vou frequentemente a Madrid. Mas se eu disser que acho Madrid uma seca insuportável, o que confirmo "sempre que lá vou", os leitores ficarão, no mínimo, intrigados. O resto é conversa.
posted by FNV on 9:06 da tarde
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ORDEM DE TRABALHOS: Não é o meu género de poesia, mas estas palavras de António Franco Alexandre ( A pequena Face, Assírio & Alvim 1983) poderiam bem servir como guia de marcha para quem vai ao sudeste asiático em missão de salvamento:
"um duro arbítrio quer que me desprenda
dos cinco ou mais sentidos
vou ser livre na terra desnudada
vou dizer o que sei como quem mente".
posted by FNV on 7:40 da tarde
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OS ANÓNIMOS: Por aqui não tivemos o problema dos nossos amigos do Barnabé com a caixa de comentários. Desde logo porque somos um pequeno blogue, mas também porque o comandante sempre apagou imediatamente e sem problemas de consciência, comentários insultuosos, racistas, nazis, etc. Mas a figura do comentador anónimo fascina-me. Um tipo que nos casca ao abrigo do anonimato, como será na vida para lá da blogosfera? Imagino-o do género de gajo que numa fila de trânsito nos manda à merda de dentro do seu automóvel, mas que se por acaso saimos do nosso e nos encaminhamos na sua direcção, tranca as portas, encolhe-se, e tenta arrancar desesperadamente.
posted by FNV on 1:07 da tarde
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AI QUE INVEJA: Que sócios do FCP, como o meu companheiro de nau P.C. ( vide post anterior), continuem 5 meses depois (de Pinto da Costa que apresentou Victor Fernandez como Luis Fernandez) a mimetizar a gaffe do seu presidente, só me pode causar, como benfiquista, uma enorme inveja.
posted by FNV on 1:03 da tarde
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AS DUPLAS IMPROVÁVEIS... OU TALVEZ NÃO: Depois da dupla Santana / Bagão Félix (ainda se lembram de como o Ministro Bagão foi entronizado, em Julho, por aceitar "credibilizar" o Governo de Santana...?) e da dupla Luis Fabiano / Benni McCarthy, vejo hoje na 2 a dupla Marilyn Manson / Eminem, regougando ao vivo The way I am. No início pareceu-me uma dupla improvável, mas, com a continuação, achei que colavam bem. Havia um elo, uma comunhão básica, um registo harmonioso.
Nem sempre o que parece improvável o é. Sempre é uma esperança para o Luis Fernandez.
O FALANTE FALADOR: Luis Filipe Meneses, na SIC-N há pouco, falando sobre a hipótese de ser candidato ( não percebi se nas legislativas se nas autárquicas) por Braga : "Quando tiver alguma coisa a dizer ás cois.. ás pessoas de Gaia, digo".
Já aqui perorei sobre os lapsos freudianos, tão involuntários quanto mortais. O que serão "as coisas de Gaia"? A correcção quase imediata, por parte do falante, significou a vigilância sobre o erro, logo, o reconhecimento de que este seria de facto mortal. "As coisas de Gaia", para deleite do espectador, seriam combinações, alianças, compromissos ou dívidas políticas?
Pessoas não eram certamente, pois caso fossem, não tinham inspirado, como inspiraram, a correcção imediata.
posted by FNV on 9:05 da tarde
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PREDESTINAÇÃO: Um velho e simpático padre, com quem de quando em quando mantenho umas conversas (oficialmente enquadradas como apoio psicoterapêutico), respondia-me há (muito?) tempo a uma provocação. Foi na altura da tragédia da ponte de Entre-os-Rios, e eu perguntei-lhe se sendo certo que tudo acontece por vontade de Deus, porque quis Deus matar aquelas dezenas de pessoas. Respondeu-me com um sorriso compreensivo. Que não podemos querer ter a veleidade de compreender imediatamente os desígnios divinos, mas também que Deus não tinha culpa nenhuma da incúria e do desleixo humano ( aludindo ao mau estado da ponte).
Quando estiver com ele vou perguntar-lhe porque estava predestinada a morte de dezenas de milhares de pessoas no Sudeste Asiático. Sendo certo que nem eu nem ele poderemos ter a veleidade de tentar perceber, hoje ou amanhã, a vontade de Deus. O que eu admiro - sem ironia - nos que têm fé, o que chego a invejar, é a predisposição para o aceitar de uma razão ( no sentido causal, motivacional do termo, por ex, "Cristo morreu para salvar os homens") futura, enquanto no presente aceitam viver sem nenhuma.
TOCA A COMPRAR: O livro de ( sobre) Camacho, apesar de escrito por Gabriel Alves, Um ano e meio à Benfica. Apesar de obcecado pelo 4x4x2 ( esquecendo o que Mennoti dizia sobre ser o esquema a adaptar-se aos jogadores e não o contrário), este filho de um carpinteiro madrileno, foi desde Eriksson, o treinador que mais fez pelo Benfica. E como a nação vermelha conhece o valor da gratidão, só nos resta comprar o livro do transpirado, exaltado e independente Camacho.
posted by FNV on 1:48 da tarde
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UMA MÃOZINHA: Na imprensa local aprende-se muito. No Diário As Beiras de hoje, na página 17, pode ler-se que José Cesário, secretário de Estado da Admnistração Local desloca-se hoje a Cantanhede, Penacova e Montemor-o-Velho. E que vai lá fazer, tão atarefado membro de um governo demissionário e de gestão? Ainda pensei que fosse tomar conta da ocorrência de alguma catástrofe repentina. Mas depois achei estranho, porque de Penacova a Montemor, não dei por incêndio, praga de gafanhotos ou dilúvio dignos de registo.
Continua-se a ler a peça e somos informados que o membro do governo demissionário e em gestão vai a estas localidades proceder à assinatura de protocolos de apoio a um conjunto de entidades e instituições públicas e privadas. Não fazia ideia que promessas (=protocolos) a autarquias, IPSS's, Bombeiros e sei lá que mais, faziam parte das competências de um governo demissionário e de gestão. O que se aprende na imprensa local...
posted by FNV on 1:33 da tarde
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O SILÊNCIO: Frederico Lourenço, no seu "Grécia Revisitada", Cotovia 2004, pp 57:
"(...) e, pela parte que me toca, quando vejo que foi lançado mais um livro sobre Sófocles para juntar à pilha de lixo produzida pela indústria universitária e escrito da mais recente perspectiva à la mode ( seja psicanálise, feminismo, Deleuze, Derrida, o que for), dou por mim a pensar: e os manuscritos que ainda falta estudar? Será a insolência que gera o tirano, ou a tirania que gera a insolência? Não encontraremos neles a achega almejada, que talvez nos permita restituir a Sófocles pelo menos mais uma palavra perfeita?"
Olha se fosse outro a dizer isto. No minímo era apelidado de parolo, provinciano, ignorante e reaccionário. Mas como foi Frederico Lourenço, tradutor de Homero, nova estrela académica da divulgação dos clássicos e romancista elogiadíssimo da condição homossexual-erudita, os policiazitos calaram-se bem caladinhos. Resta dizer que com mais uns como ele (Frederico Lourenço), este país era bem melhor.
posted by FNV on 11:49 da manhã
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OS EFEITOS DO DUCHE NO NATAL: Acabo de ler um textinho que fecha, com chave de ouro, este fabuloso ano de 2004. Assinado pelo Prof. João César das Neves, leva o humilíssimo título de Conto de Natal e narra-nos a história de uma adolescente ignorante que traz aos seus amigos infiéis a boa nova: "Descobri hoje de manhã, no duche, que os infiéis, mesmo sendo infiéis, são muito mais felizes no reino de Cristo do que julgam vir a ser nas suas crenças", porque o Deus cristão a todos acolhe. Como é ignorante, a universitária oblitera Mateus 10,33; Mateus 12,30; Marcos 16,16; e João 12,48. Até aí, nada a assinalar: as descobertas feitas no duche nem sempre coincidem com a verdade e a ignorância é desculpável se atendermos à intenção de propagação da fé.
Já é interessante notar que a cristã foi baptizada de Maria, o agnóstico dá pelo nome de Fernando, a budista se chama Cláudia e aquele que acredita "num paraíso de delícias corporais no seio de Alá" ostenta o prosaico nome de... Ibrahim.
Mas o mais edificante é o fim do conto, provavelmente congeminado pelo Prof. João César das Neves no duche: "«E se a gente se deixasse de conversas e se agarrasse à Matemática?» disse o Ibrahim. «Os testes são logo a seguir ao Ano Novo e, se não marrarmos agora, não há espírito de Natal que nos salve.»".
Ah, os Ibrahims, os Ibrahims... esses irremissíveis calculistas.
O PALÚRDIO: Blazerzinho castanho, mãozinha airosa num gesto que sublinha o enfado; fala o meco sobre "os novos protectorados", referindo-se à presença dos capacetes azuis da ONU na Bósnia. E que diz ele? Mais coisa menos coisa, isto: "não se percebe para que servem, senão talvez para impedir que eles se matem uns aos outros." Acabou de passar no Eixo do mal, na SIC-N, e o enfadado chama-se José Judice.
Uma boa amostra de um pacóvio lisboeta alcandorado a estrela de TV-fast food, para quem, "impedir que se matem uns aos outros" (o que o energúmeno, num alarde inesperado de sageza reconhece) é coisa de somenos; que no entanto chega para lhe perturbar a compreensão e o conforto do debatezinho com os amiguinhos num canal da TV-Cabo da parvónia lusa.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.