OLHE QUE NÃO, OLHE QUE NÃO... Que Cunhal seja enterrado como um "benemérito da democracia", compreendo que irrite o Dr. Vasco Pulido Valente, pois é um exagero manifesto, quando não uma imbecilidade. Agora que o Dr Pulido Valente não ache Cunhal uma figura "importante" ou "Ímpar" do século XX português, como ele hoje sarcásticamente dá a entender que não acha, espanta-me assaz. O Dr Pulido Valente publicou um livrinho em 1992, no qual faz dez "retratos" de figuras da vida política portuguesa, presumo que do século XX; ora bem, dedica quatro desses retratos a Cunhal: 40%, portanto. Tenho a impressão, já aqui o escrevi várias vezes, que VPV (o cronista) já conheceu melhores dias.
posted by FNV on 3:17 da tarde
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OBRIGADO V.P.V.: Obrigado Vasco Pulido Valente, por escrever - no Público de hoje - de forma tão clara aquilo que eu (e, certamente, a grande maioria dos portugueses) penso sobre Álvaro Cunhal e respectivo funeral.
posted by Neptuno on 12:31 da tarde
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VAIS LONGE VAIS: Sei que Trapattoni não sabia quem era Roger, o que só abona, em favor dele, Trapattoni. Mas Co Adriaanse dizer que "não conhece nem nunca viu jogar" Luís Lucho Gonzalez, é extraordinário. Eu não sou treinador nem dirigente, nem nunca estive na Argentina. Mas já vi jogar Lucho para cima de uma dúzia de vezes, nos últimos três anos, sobretudo na sua selecção, em desafios da Copa América e da qualificação para o Mundial. Lucho é um jogador de selecção e de enorme prestígio na Argentina e no mundo do futebol ( basta consultar os sites especializados, desde os da FIFA e UEFA até aos particulares), o que não é, convenhamos, o caso de Roger. Este argentino que o FCP contratou é dos jogadores mais completos que vi jogar nos últimos anos. É quase tão bom como o Manuel Fernandes.
MAIS DO MESMO: No amor sigo o conselho de Alceu, o de Lesbos: uma parte para duas e que um cálice empurre o outro. Nunca me preocupei com o amor romântico, salvo quando não o julgava possível. Nessa altura, sim, suspirava e chegava tardíssimo a casa. Agora que o perdi, não me preocupo mesmo nada em encontrá-lo. Penso hoje noutros amores: no dos viúvos, por exemplo. Como é que uma velha de 80 anos recorda o sentinela que lhe desapareceu ao fim de 60 de guarita comum? Haverá coisa mais romântica do que vê-la, todos os Domingos, aperaltada mas compostíssima, depor um gerânio banal e branco na campa rasa do seu amigo de sempre? É o agasalho mais espesso e bem-curado que o amor suporta; Se lá chegarmos.
posted by FNV on 9:28 da tarde
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AQUELE ABRAÇO: Ao brasileiro -tripeiro-alentejano, o Francisco José Viegas, pelos dois anos do sereníssimo Aviz. Eu bem tentei enviar um saravá directo pelo correio do blogue, mas faz tempo que não consigo aceder em condições - leio tudo em colunas fininhas - ao template dele ( deve ser coisa do meu Mac).
FUNERAIS EM DIRECTO: Nenhum ser humano (nem a respectiva família) deveria ser objecto do voyeurismo que encerra uma transmissão televisiva em directo de um funeral. Seja na perspectiva do defunto - que não se pode defender - seja na perspectiva da família enlutada, cujo sofrimento é explorado até à exaustão - e que também não se pode defender. Mete nojo - que não o nojo devido às circunstâncias - a crescente exploração mediática de funerais de pessoas conhecidas e temo que ainda não se tenham esgotado todas aas possibilidades de reportagem.
posted by Neptuno on 6:08 da tarde
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FERNANDO GABEIRA: Ícone da esquerda brasileira, em entrevista publicada na Veja desta semana quando questionado sobre o que resta das suas convicções depois de três fracassos "existenciais" (o fracasso do marxismo, da autoproclamada "política do corpo" e o envolvimento num governo que ia transformar o país e que veio a revelar-se uma farsa) fez uma declaração que ajuda a compreender a posição de certos partidos comunistas ortodoxos perante a democracia mas também uma forma de posicionamento político de esquerda em democracia, i.e., assumindo-a como intangível e não como um meio para um fim totalitário: "A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia - como uma visão estratégica e não mais como os comunistas a viam, uma tática para chegar ao poder - a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social."
posted by Neptuno on 5:03 da tarde
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BÉBÉS: Estaremos tão infantilizados que não conseguimos assinalar a morte de um pedaço de carne histórica sem o santificar mas também sem o apoucar, ressuscitando-o? Foi ele o verdadeiro intelectual orgânico português ao melhor estilo gramsciano, girino do processo revolucionário do século XX luso que nunca chegou a ocorrer, mas que nem por isso deixou de federar o imaginário da oposição a 48 anos de atraso português. É mais do que suficiente para aceitar a sua importância evidente. É verdade que podemos especular, temos esse direito, sobre o que poderia acontecer se o girino se tivesse desenvolvido no charco; mas a História, meus caros, não tem o hábito de consagrar o que as pessoas poderiam ter feito. Quanto aos babados pelo santinho, respeito os da sua idade e sonhos. Já aos novos, aos meninos e meninas, mimados e mimadas, das redacções que fizeram os "especiais Cunhal", recomendo-lhes que se fiquem pelo Cristiano Ronaldo e pela Angelina Jolie. São mais do seu mundo.
A ADMINISTRAÇÃO FUNCIONA!:Hummm... Cheira-me que o Anarca, não tarda nada, vai ser posto no olho da rua. E na rua, já se sabe, faz frio. e quem apanha frio constipasse. e u gaju recomessa praí aos ispirros outra vez! (Boraí montar uma petição on-line pelo direito do Anarca à reforma integral e vitalícia, majorada de 10 diuturnidades, e multiplicada pelo número de dias que esteve em funções, a acumular livremente com o blogue).
FALEMOS ENTÃO DE MICHAEL JACKSON: "Tal como os cirurgiões estéticos de Jackson, o pós-modernismo acredita na infinita plasticidade do mundo material. A realidade, tal como o nariz sobre-cinzelado de Jackson, é apenas matéria desprovida de sentido para se esculpir como se quer. Da mesma maneira que Jackson lixiviou a pele, o pós-modernismo lixivia o mundo do sentido inerente. Isto significa que nada nos pode impedir de criar tudo o que desejemos; mas, pela mesma razão, as nossas criações estão condenadas a não ter valor. Com efeito, de que serve impor a nossa vontade a uma realidade desprovida de sentido?". Terry Eagleton, "The ultimate postmodern spectacle", no Guardian de 25 de Maio, argumentando que Michael Jackson e o seu julgamento são elementos da pós-modernidade, onde se confundem facto e ficção (dica da Micha). Uma delícia.
OSTINATO RIGORE (parte II): A morte de Álvaro Cunhal (e já assim a de Vasco Gonçalves) tem possibilitado as mais espantosas afirmações de diversas pessoas, que na maior das calmas deturpam a História e a realidade como se o resto das pessoas não tivesse memória. É fantástico! Estou certo que só por isso o meu amigo PC não levará a mal ter-lhe roubado o título do seu post para me referir ao comentário que a ele fez o King_Arthur.
Dizia o tal comentador, num português mais ou menos semelhante, que Cunhal se encontrava tanto à frente dos demais que em 1940, enquanto prisioneiro, tinha sido escoltado pela polícia até à Faculdade de Direito onde apresentou uma tese sobre o aborto e a sua despenalização que terá merecido 19 valores. Fantástico! Direi mesmo mais: que homem avançado!
O feito é ainda maior se nos lembrarmos de que Álvaro Cunhal não vivia propriamente num regime paradisíaco como o soviético onde, como todos sabemos, havia uma ponte aérea da Sibéria para as diferentes Universidades Públicas da URSS para levar comodamente os prisioneiros que queriam ir alegremente defender as suas ideias, contrárias às do regime, perante Professores Universitários alegadamente adeptos do regime mas que se limitavam a avaliar a tese do prisioneiro apenas do ponto de vista científico.
É evidente que na maravilhosa realidade soviética que Cunhal nos quis gentilmente impor, semelhante herói teria naturalmente tido, para além das comodidades abundantemente conhecidas dos centros reeducadores Siberianos, os 19 valores que agora lhe atribuem e não os 16 que Marcello Caetano efectiva e avaramente lhe conferiu. Má sorte ter nascido aqui. Só espero que descanse em paz e por muitos. No seu paraíso soviético.
posted by VLX on 10:27 da tarde
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DEMOCRACIA: Será correcto afirmar que Kim Il-Sung lutou toda a vida pela democracia?
posted by Neptuno on 3:54 da tarde
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100%: De acordo com o Francisco José Viegas. Aliás, em futebol, geralmente só discordamos no fudamental clubístico; O Carlos Alberto Parreira é um chato insuportável e o futebol devia proibir ele ( de existir). E não é só por CAP ter dito um dia sobre Deco, que no Brasil havia "centenas como ele" ( os cartolas do benfica pensaram o mesmo) ou por ter sido campeão em 94 a jogar feito póia mole. Pior, muito pior, é dar a titularidade no escrete ao Luisão, esse traidor da irmandade da zaga central. Sabem de onde vem essa mania de chamar "escrete" ao time do Brasil, não sabem? Se alguém não souber, peça que eu conto.
Adenda: O mesmo Francisco, bem informado, linka-nos para lugares interessantes de outras brasileirices, como as do mensalãogate. Ficámos a saber que entre outras patifarias já confirmadas, existem fortes probabilidades de o PT de Lula e das novas-madrugadas-que-cantam ter andado a vender a Amazónia aos pedaços em troco de financiamento partidário.
posted by FNV on 3:33 da tarde
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INCANSÁVEIS: Lembram-se das fanfarras quando Lula foi eleito? Lembram-se dos alvitres sobre o "novo Brasil"? Pois tentem agora ler os mesmos prosadores e vejam se conseguem desencantar um comentário, uma nota, uma linha que seja, sobre o mensalãogate ou ate mesmo sobre estes dois anos de reinado do chefe do PT. Cheira-me que já despediram o homem e já fuçam, atarefados, na peugada do novo messias. Os culpados? Os de sempre, à escolha no menu disponível: o FMI, Bush, a natureza humana, o siri, a temperatura. Até já descobriram uma nova constante; a corrupção na política brasileira, afinal, não é exclusiva dos governos de centro-direita e populistas: é endémica.
Meu caro PC: Crescimento económico??!! Isso é o lado neo-liberal do Lula. As fanfarras anunciavam ( ou já te esqueceste?) era "feijão na barriga de todo o mundo", "uma casa para todos", o fim das favelas e da corrupção, etc...
Não, PC, o mundo não é simples, embora eu seja de facto um simplório; simples e irritantemente recorrente, é a distorção paternalista, caricatural e burlesca ( aliás, ao arrepio de muitos textos meus nos quais não divido o mundo dessa forma idiota a que tu aludes) que fazes das coisas que escrevo, quando delas discordas: a catequese dominante, sabe-lo muito bem, sempre rezou que a corrupção brasileira era a dos "negócios", dos "capitalistas", enfim, da canalha habitual.
CASA ROUBADA...: Os incêndios devastam o país e o MAI anuncia meios aéreos de combate aos fogos para o mês seguinte; dá-se um assalto por arrastão em Carcavelos e o MAI anuncia para breve a protecção nas praias; um punhado de espanhóis ataca os vigilantes das Selvagens e anunciam-se mais medidas de protecção para um futuro próximo (ou mais rápidas, para não demorarem 14 horas). Fica-se com a ideia de que em caso de invasão, este governo mandaria fechar e vigiar as fronteiras quinze dias depois...
posted by VLX on 4:34 da tarde
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VALE TUDO: Ouvem-se por aí grandes loas acerca de Álvaro Cunhal. Colaram-lhe até alguns conceitos como os de patriotismo, democracia ou ainda, pasme-se, de liberdade. Mas como os conceitos de liberdade, democracia e patriotismo dele eram muito dele (e não tinham nada a ver com os da generalidade das pessoas) e como o que ele verdadeiramente sempre quis foi impor esses seus muito próprios conceitos, compreende-se mal o luto nacional. Ou então vale tudo.
A CULPA E A SUA DESCENDÊNCIA: A propósito do julgamento, no Mississipi, de um ancião de 80 anos, acusado de ter matado James Chaney, Andrew Goodman e Michael Schwerner, voluntários do CORE (Congress of Racial Equality), no dia 21 de Junho de 1964, Gary Younge, em extenso e afiado comentário no Guardian, intitulado Don't take the blue pill, fala-nos dos perigos da legitimação do presente através da reprovação do passado. Younge argumenta que estes julgamentos servem para estabelecer a reponsabilidade individual, mas não devem ser utilizados para traçar uma linha cortante entre esse passado e o presente, como se os actos individuais passados tivessem sido produto de um sistema racista que hoje não mais existiria. Ainda segundo o cronista, essa "pílula azul" (na definição do Morpheus / Matrix) pode pôr o acusado atrás das grades - mas deixa à solta o sistema que o produziu e o tornou infame. Percebo o argumento. Porém, acrescentaria outra coisa: este julgamento não deve servir como "pílula azul", que nos envia para o mundo onde acreditamos no que queremos, ainda que à custa da realidade, mas também não deve servir como reparação da consciência colectiva sobre o passado. Só a tibieza nos pode levar a pedir à punição de um indivíduo a expiação do que fomos, ou alguém por nós, quarenta anos atrás. E esse é, precisamente, o perigo dos bodes expiatórios: confessamo-nos culpados na terceira pessoa e queremos a absolvição para nós, fingindo que na condenação dela vive o nosso perdão.
TAU-TAU: Gide a Walter Benjamin, em Janeiro de 1928: "Só escrevo para ser relido". Talvez por causa da mania que Gide tem ( Les Faux Monnayeurs) de encontrar na prática das decisões quotidianas coisas que põem fora de jogo as normas antigas e herdadas. Aceitar, portanto, sem reserva nem cinismo. Ou, para utilizar um termo caro aos dois - a Gide e a Benjamin - integrar. Bom conselho, quando surpreendemos em nós um parricida sossegado, um pedófilo intermitente ou um incestuoso apaixonado. Bom, não será necessário ir tão perto. Integre-se o roubo de um pequeno pão, porque não nos apetece destrocar uma nota de 100 euros.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.