A REPÚBLICA COMEÇA EM CASA: Muitos dos que, como eu, se indignaram com as ameaças dirigidas aos autores dos cartoons satíricos sobre a religião muçulmana, mantêm um silêncio prudente e cobardoso em relação às vergonhosas ameaças de que têm sido alvo os Gatos Fedorentos por causa do seu, aliás engraçado, outdoor, coberto - ao menos - pela mesmíssima liberdade de expressão invocada pelo PNR para a exibição do cartaz contra a imigração. É tão bem ser solidário com jornais dinamarqueses, ameaçados por longínquos e obscuros terroristas árabes que nunca cruzaremos no Bairro Alto.
E macacos. Agora está um tipo a jantar e a SIC anuncia com a solenidade dos lunáticos que Sócrates não ia às aulas. Os intrépidos jornalistas falaram com "quatro colegas de Sócrates do tempo da universidade ". Eu sei que o homem não acompanha a descida ( ou não acompanhava...) do PS e do governo nas sondagens, mas não é caso para começar a queimar navios.
O Francisco José Viegas ( www.aorigemdasespecies.blogspot.com) deve andar cianosado de todo. Depois do golito do Pepe ter relançado o FCP na corrida para o título, um romance do Francisco, "Um céu demasiado azul", foi premiado em França. Beberei uma cerveja vermelha por ti.
* Já agora, um beijo à veterana ( 4 anos ) dos sapatos, dos gregos e da boa música, a Carla Hilário Quevedo, aka www.bombainteligente.blogspot.com. Com atraso, claro.
posted by FNV on 11:57 da manhã
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COMPANHEIROS:
No outro dia, no supermercado do bairro, uma velhota contava a outra, com um sorriso de figos, como o marido estava a recuperar de um AVC: "ele agora faz tudo o que eu quero." Ouço muitas vezes a versão contrária no consultório, mas qualquer delas aponta numa direcção precisa: os velhos casais de hoje enfraquecem juntos, com mais ou menos harmonia, mas sempre solidariamente. E amanhã? Daqui a vinte anos, muitos de nós estaremos em dificuldades sem uma companheira de uma vida ao lado. Esta companheira ( roubo o termo ao PCP et pour cause) é quase sempre cúmplice de histórias de traição, ódio, raiva até, mas também da dura massa de todos os dias, de todas as horas. A juvenilização cultural atirou o casamento-duracell para o pilhão da "hipocrisia" e da "falsa felicidade burguesa". Seja. O que nos parece escapar é que este modelo de vida - 40 anos juntos - é mais subversivo do que um departamento inteiro de sociologia pós-moderna. E é-o porque um laço humano dessa dimensão subverte tanto a biologia como o estado: ao fim de 40 anos são irmãos que deitam juntos, ao fim de 40 anos criaram o seu próprio instituto de solidariedade social. Este laço, com história, peso e tragédia, não tem o frisson do amor telenovelesco, é monótono e difícil de manter. Pois é. Por isso, quando chega a hora, está lá.
O PODER: O facto de Ségolène Royal sugerir que cada francês tenha uma bandeira do país à janela no dia 14 de Julho está a provocar alguma preocupação entre a esquerda, que normalmente associa estes eventos a nacionalismos de direita, vendo-os como a parte visível de algo mais perigoso como o racismo e a xenofobia. Ségolène "defende-se" apregoando que a nação pertence a todos e que a sua invocação patriótica não implica, necessariamente, a exclusão "dos outros" ou qualquer exaltação das causas xenófobas que, na opinião da esquerda, vêm sempre atreladas a tais manifestações nacionalistas. No entanto, parece-me que é exactamente isso que Ségolène está a fazer, "pescando" os votos dos que suportam essas causas sem "molhar o pé", ou seja, sem ficar com a "parte suja" desses votos. Tudo isto vai ao encontro do que se vem passando na política nos últimos anos, em que se torna muito complicado (ou impossível) distinguir a direita da esquerda. Durante as campanhas eleitorais, os políticos defendem algo e o seu contrário. As últimas seis ou sete eleições realizadas no nosso país (incluíndo as presidenciais) foram ganhas com base em mentiras descaradas, mascaradas de promessas. O verdadeiro móbil é apenas um: o poder. Para o conseguir, para além da disputa do "centrão", é preciso chegar aos votos, estejam eles onde estiverem, mesmo que encostadinhos à direita ou à esquerda. "It's the power, stupid!" Ségolène já percebeu.
Só agora compreendi de quem é responsabilidade pela destruição sistemática das estações de serviço na A-1ao longo dos últimos dez anos. É das estações de serviço, que deviam saber que não se pode pôr claques dentro das estações de serviço. Aliás deve ser por isso que ao longo destes anos - e com tantas câmaras de videovigilância - nem um macaco foi engaiolado. As coisas são tão simples.
Quando fez sessenta anos, Primo Levi escreveu uma pequena nota na imprensa ( Stampa Sera, 15/11/82) sobre a idade-fronteira. Parecia um texto comum ( "ainda tenho isto", "ainda conservo aquilo ") até que Levi termina: Estou consciente da tonalidade grave da palavra que acabo de escrever duas vezes: " ainda ". Delimitar o momento presente, toda a gente sabe, mandava Marco Aurélio. Daí querer-se o futuro como forma de desprendimento de toda e qualquer importância do desejo de um acontecimento específico. O que vem é sempre bom porque vem hoje, e hoje é tudo o que existe ( a boulêsis de Cícero como rectificação do desejo) Uma doença mortal não parece ser uma coisa que se deseje, o que deixa o estoicismo imperial em dificuldades. Nem tanto. Se um homem estiver a pensar no seu cancro, está vivo. E isso é , de certeza, tudo o que conta nesse momento. Ou não é?
* Aprende-se sempre com aqueles que defendem ideias opostas às nossas, quanto mais não seja para percebermos o que eles deixam para trás. É o caso do texto, originalmente publicado no Jihad Watch ( também há uma versão portuguesa) e agora reposto no http://www.newenglishreview.org, de Hugh Fitzgerald: Ten Things to Think When Thinking of Muslim "Moderates". A reza é nova-velha: não existem muçulmanos moderados. É uma espécie de actualização do velho refrão, "o único índio bom é o índio morto". O ponto de apoio é surpreendentemente néscio, pelo menos para quem conheça alguns textos bíblicos: " o Corão está cheio de violência ". O restante nível de argumentação é infantil ( Oscar Schindler seria "um nazi moderado" ), mas tudo isto mostra como estamos a deixar cair a escola de Souroush , Tabeshari e outros intelectuais e académicos islâmicos moderados aos quais não ligamos peva.
* Um artigo compostinho e à maneira, publicado numa revista "pós-moderna" ( assim mesmo, não sabia que ainda havia coisas que se reclamavam da coisa), mas que foge à langue de bois no que se refere à intoxicação. Chama-se " Radical Indulgence: Excess, Addiction and Female Desire ", é escrito por Karen Kopelson e está em http://www.3iath.virinia.edu.
posted by FNV on 10:44 da tarde
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PAGAR CANIVETES:
Paulo Portas sempre definiu o "centrão" como a causa de todos os males e agora quer pôr o partido lá dentro. Um tipo ouve isto enquanto lê as atribulações de Xenofonte caminho da Paflagónia - " é melhor lembrar o que é bom em vez de recordar o que é mau " - e não pode deixar de pensar na expressão que titula este post: referia-se, em tempos que já lá vão, à mulher velha que casava com um homem novo. À mulher que dá do seu para a quererem.
posted by FNV on 7:38 da tarde
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ESQUERDA, VOLVER: Tem havido um grande alarido a propósito da vitória de Salazar no concurso televisivo e também dos anúncios de carácter xenófobo divulgados por um partido de extrema direita. Ainda bem que assim é e espero que os democratas continuem vigilantes. Numa fase em que a nossa actual democracia faliu - tendo descambado numa partidocracia em que os cidadãos não se revêem - urge reformular e aperfeiçoar essa mesma democracia e, acima de tudo, defendê-la dos extremistas cujo sucesso é propiciado pela pantanosa situação vigente. Não deixa de ser curioso, no entanto, que não se preste a mesma atenção à extrema esquerda, a qual se encontra representada no Parlamento e cujo compromisso com a democracia é mais do que duvidoso (não me venham com o "centralismo democrático", p.f.). Todos os movimentos não democráticos deverão ser combatidos, da extrema esquerda à extrema direita e sem hipocrisias ou máscaras de "combates pela liberdade" em que essa liberdade não é bem a liberdade democrática - a qual, mesmo com os seus defeitos, é a menos má - mas sim uma liberdade subjugada a um qualquer ideal colectivo, normalmente "interpretado" por uma nomenclatura iluminada e despótica. Não vale a pena trancar as janelas se a porta da frente fica escancarada.
posted by Neptuno on 7:01 da tarde
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CADERNINHO PRETO:
Quando uns animais, supostamente do SLB, atiraram um petardo e mataram um espectador, julgo que 1995, no Jamor, a culpa foi dos ditos animais e, por extensão, do SLB. Quando uns animais, supostamente do FCP, atiram petardos ( que só por acaso não causaram vítimas), a culpa é do clube organizador ( o SLB). Continuem que vão bem.
A CGTP decretou uma greve. " Ordenou" a todos os seus sindicatos que a façam no dia 30 de Maio em protesto contra "a nova legislação laboral ". Parece que houve mosquitos por cordas, a greve terá sido imposta pelo PCP. Isto é o que se chama voltar às cebolas do Egipto: ao tempo em que o PCP falava e era obedecido.
F.Santos: o castigo anda a cavalo. Renteria: não é o mel para a boca do asno. Lucho: em tempo de figos não há amigos. Benfica: como o cavalo do inglês. Pepe: boi sonso, marrada certa. Jesualdo: falar francês como uma vaca espanhola. Katsouranis: quem não pode com o pote não pega na rodilha. Pinto da Costa: mulher que não se enfeita, por si se enjeita.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.