Se um filho meu sofrer um acidente, mesmo que alcoolizado e em excesso de velocidade, e estiver a sair do coma, a última coisa de que me vou lembrar é criticá-lo. No prório dia da hecatombe, um jornalista interpelou Cavaco sobre a responsabilidade da excessiva construção na Madeira. Muitos media estão a alinhar no espojadouro. A natureza humana não cessa de me maravilhar.
posted by FNV on 11:30 da manhã
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IR AOS FIGOS:
Temos ouvido ,nos últimos dias, loas imensas ao Estado de Direito e à inatacável superioridade das mais altas instâncias da Justiça, sobretudo do Ministério Público. Pois então temos também que Lopes da Mota viu confirmada a sua suspensão. Façam uma viagem. Vão ler o que os mesmos que agoram defendem o MP contra a justiça da valeta mediática diziam do processo instaurado a Lopes da Mota. Pois.
posted by FNV on 11:22 da manhã
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O AFFAIR GALAMBA:
O resto da treta não me interessa nada: compreendo que quem usa os blogues para insultar povos , religiões, opções sexuais e outro bloggers, tenha vergonha de ser reconhecido, se acobarde e use heterónimos; no caso do Câmara Corporativa não se entende a opção. É um blogue de política que podia perfeitamente ser assinado: não é proibido, que eu saiba, exprimir opiniões em Portugal. Têm resvalado para alusões às características físicas e mentais do adversários do PS? O remédio é simples: ou reganham lisura ou assumem os ferros de palmo. Digo em público o que disse em privado. A denúncia de um ex-colaborador do PS na blogosfera não me impressionou nada. Recordo-me bem do fervor, e do desprezo pela opinião contrária, com que Carlos Santos defendeu coisas que hoje até o PS reconhece serem impossíveis de defender. Mudou repentinamente? Está no seu direito. O que me parece estranho é o ponto da actual dissensão entre CS e os seus ex-companheiros, mas isso não me diz respeito. O caso do João Galamba é outro osso. O JG andava pelos blogues, tem a sua profissão, participou num de apoio ao PS e foi eleito deputado. Trabalha e é remunerado. Claro. Onde está o problema? Talvez seja defeito meu, que cultivo um epicurismo descarado, mas não me dá para zangarilhar quando alguém do meu meio progride. Um tour de force, isto do meu meio, apenas com conotação blogger ( trocámos impressões algumas vezes e sempre de forma cordata) , naturalmente. Por mim até pode chegar a ministro. Estou às voltas com os meus pequenos escritos ( sempre a mudar ) e preocupado é com os laterais do Benfica.
O método. Sem autoridade, sem medicação, o que sobra? A linguagem, a inteligência, todas as formas de comunicação. Antifonte ( de Ramnunte) compôs a Arte de Não Sofrer. Personagem que se desdobrou entre o orador e o terapeuta, ainda hoje se discute as várias capas do teórico. Já cá o trouxe há muitos anos, noutro contexto - o da justiça na cidade. A Arte era uma espécie de psychagogia , uma mistela de terapia budista com taoísmo, visando a a harmonia universal. Tinha, no entanto, um elemento picante. Essa harmonia, coberta de homonoia ( concórdia) era alcançada através da argumentação ( dia logon) : o indivíduo mudava os sentimentos através de raciocínios adequados ( cf. a tradução das primeiras e segundas sofísticas feita por Ana Sousa e Maria Vaz Pinto a partir da versão de Diels e Kranz in Sofistas, INCM, 2005). Mudar sentimentos é um bom programa. Não implica esquartejá-los ( como na psicanálise) nem ignorá-los ( reduzindo-os a cognições como nas terapias comportamentalistas). Um exemplo: Já não sinto nada pelo meu marido, mas também não me sinto segura com o meu namorado. É uma mulher, professora, que tem uma tragédia na sua vida ( morreu-lhe um primo-irmão na adolescência) e que hoje vive à frente de uma manada de búfalos. Não pára quieta. O trabalho de oleiro tem sido o de ajudá-la a colocar os sentimentos nas caixas certas ( mudá-los, portanto, literalmente). Por exemplo ( outra vez) : um marido é um marido e um namorado é um namorado.
posted by FNV on 11:15 da tarde
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BEM LEMBRADO:
Na altura, este episódio fez-me escrever aqui qualquer coisa sobre a inexistência do nexo entre ter muitas milhas de avião e ter mundo ( e sou indiferente a Saramago). Como se fosse uma novidade.
Na sua coluna de opinião de Domingo passado, Vasco Pulido Valente considerava Sócrates uma "presença perigosa" e até "nociva" no Governo. VPV confessava não perceber a razão pela qual Sócrates se enfiava num "bunker" com "os seus fantasmas", enquanto o país ia ao fundo. Ao fim e ao cabo, o que o manteria agarrado ao poder.
Longe de mim esclarecer VPV do que quer que seja, mas há um antigo presidente de um clube de futebol da capital, actualmente a residir em Londres, que é capaz de explicar muito bem, até com exemplos práticos, quais os riscos de se perderem lugares de poder.
Para a RTP, à hora de almoço, a notícia de abertura é um naufrágio em Peniche. Vendo bem as coisas, não está mal.
posted by FNV on 1:02 da tarde
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EM PORTUGAL, NINGUÉM PÁRA O CARNAVAL:
Uma pessoa que, neste Carnaval, se tenha permitido uns dias de descanso distraído, acorda estremunhada e estupefacta com o que se está a passar no país.
O PM convoca a comunicação social para proferir declaração oficial e declara coisa nenhuma e novidade alguma. Mais valia estar calado. O PGR dá uma entrevista à Visão (coincidência feliz) onde discorre sobre casos que teve em mãos. Mais valia e mais apropriado seria a divulgação de um comunicado ou uma conferência de imprensa, se afinal finalmente se tinha decidido falar. Os deputados à Assembleia da República entretêm-se a auscultar os estados de alma e as opiniões de jornalistas, sujeitando-se a serem achincalhados como ainda há pouco, quando Felícia Cabrita lhes entregou fotografias dos accionistas da sociedade proprietária do Sol. Mais valia terem pedido aos jornalistas e demais auscultados que publicassem crónicas ajuramentadas na comunicação social. Sempre se poupava aos contribuintes o precioso tempo dos deputados.
Tudo isto é Carnaval a mais.
posted by VLX on 11:47 da manhã
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QUAL PINTASSILGO?
Como "não está contaminado pelo poder", o senhor estará mais entre Aires Rodrigues e Carlos Marques.
Neste post ( como no número anterior) tentei afinar a mira e o desenrolar dos acontecimentos confirmou a opção. A manifestação, por mas bem intencionada que tenha sido, não encontrou eco popular de espécie alguma; as audiências parlamentares, do que vi, foram um théâtre de l'absurde. A tese de um plano, criminoso e lamelífero, cuidadosamente desdobrado, também não colhe. E não éporque tal plano seja estúpido - como dizia o advogado de Sócrates - ou irrealizável em si mesmo. Não colhe porque o inner circle do PM, mesmo que o deseje, não possui os meios para o levar a cabo. Berlsuconi também não cometeu nenhum crime quando, detendo a maioria dos melhores media , os usou ( e usa) em campanha. Mas Berlsuconi podia - e pode - à custa do capital, proletarizar os persuasores permanentes. As corporações políticas afectas ao PS/Governo não têm outra alternativa senão negociar separadamente com os patrões , privados e semi-privados, um quinhão de influência e persuasão. A liberdade de expressão existe e é precisamente porque existe que estas traficâncias ocorrem. O mercado da influência é buliçoso e a pulsão - "que age de forma constante e a partir de dentro "( um pouco de Freud para desenjoar) - para nele intervir é enorme. Em Moscovo não havia pulsões destas.
Faltam alguns nomes ( o Carlos Abreu Amorim, por exemplo) , mas temos já um quadro geral. Muitos deles estiveram com Menezes e com Santana; agora estão com Passos Coelho . São os "reformistas" que querem "romper com a elite que tem dominado o PSD". Também podemos vê-los apenas como gente que , muito compreensivelmente, e com tenacidade, procura um lugar ao sol.
Carnaval atribulado, tempo só para links ( os posts anteriores) e duas notas breves:
1) A equipa está presa a um formalismo noético inaceitável. Aírton não entra, JJ não sabe abdicar de Javi quando é necessário e os argentinos insistem em tabelar rápido com Cardozo, o que é a mesma coisa do que apresentar Pascoaes a Armando Vara.
2) O Fóculporto é uma naçõn . É assim que se diz, não é ( eu e as línguas estrangeiras...)? Grande clube, com uma equipa ao nível do inolvidável Grupo do Destino no qual pontificavam Araújo, Monteiro da Costa, Gadda, etc. E tem um belo símbolo - com as armas da cidade sobre a bola azul - desenhado por um seu jogador, o extraordinário Simplício. Que os deuses os protejam na próxima jornada, que vençam contra tudo e contra e todos, sobretudo contra o cripto-regionalismo minhoto . São vermelhos: atirem-se a eles!
* em memória do J.F.
posted by FNV on 11:55 da manhã
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O LUÍS, O LUÍS, JÁ FOI A PARIS:
Vem, amor, vem ver se a rosa Que ontem, fresca e perfumosa Se abriu ao sol estival, Não perdeu o viço ainda E conserva, rubra e linda, Cor à de teu rosto igual.
Oh, amor! Vê quão depressa. Fenecendo, a rosa cessa De ser bela e ser louça! Como é madrasta a Natura, Pois que tal flor jamais dura Do entardecer à manhã!
Meu conselho é, pois,amor, Que, enquanto na vida em flor, Encantos possam sobrar-te: Colhe, colhe a mocidade, Pois como à rosa a idade Da beleza há de privar-te.
" Elas são um casal que tem a sorte de ter uma filha concebida de forma natural, mas sem sexo". ( Correio da Manhã, hoje, página 46) Ratzinger vai gostar quando cá vier.
posted by FNV on 10:17 da manhã
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MARIA BROWNE, SEMPRE:
Uma repetente. Tudo na história dela me atrai. Não se sabe de onde veio ( terá nascido em 1800), casa no Porto com um irlandês negociante de vinhos e, em vez de gozar o dinheiro em spas e carros ( como fazem as matronas de hoje ), abre os salões ( na definição de Jacinto do Prado Coelho) e cria uma tertúlia literária. Das melhores. Claro. As paixões e Camilo ( ele nos vintes, ela com 45) , que chega a bater-se em duelo com o filho ( personagem de filme, provavelmente o primeiro playboy portuense) de Maria. Sem a histeria do feminismo, pôde sofrer em cima do amor perdido ( hoje escreveria um manual de ténicas sexuais) e deixar-nos assim:
Existo qual flor cortada, Que, sem seiva natural, Inda se ostenta elevada Sôbre o vaso de cristal.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.