Qualquer dia há laparotos que entraram para o PSD pela mão de Sá Carneiro depois de ele ter morrido. São vidas. Este homem fez parte do meu quotidiano porque era execrado em minha casa. Por coincidência, ainda miúdo, cruzei-me com ele em duas ocasiões: no Reids, na Madeira, e no Balaia, no Algarve. Da televisão, recordo um olhar exuberante e generoso esmagado por uma voz ( mais o tom) sibilina. A edição de Miguel Pinheiro não acrescenta muito, no plano político, à de Maria João Avillez. Um ponto, contudo, está bem desenvolvido : a longa ausência em plena pré-campanha para Constituinte. O que não diriam muitos dos perfurantes analistas políticos de hoje, de um líder deprimido, ausente entre Londres e o sul de Espanha, em plena bagarre eleitoral. No plano psicológico, o livro de Miguel Pinheiro é muito bom. Fica claro que Sá Carneiro era um déspota e dos puros. A tal ausência, a depressão, deveu-se ao desencanto. As coisas não correram como ele queria e amuou. O estilo conflituoso, que tanta falta faz, também bebe na mesma fonte e prova que líderes de alcatifa apenas conduzem os povos ao chão onde se prega a dita. Um factor, pessoal , novo para mim : que grande e corajosa mulher foi Isabel Sá Carneiro.
posted by FNV on 7:23 da tarde
#
(15) comments
BLOGALTERNE (II):
Este é do coração. É intermitente, mas já tem uma vida longa. Sou um imbecil em não o visitar mais vezes. É um blogue à antiga: franco, forte e fiel.
posted by FNV on 4:53 da tarde
#
(0) comments
STASIS BENFIQUISTA:
Depois de um luto obrigatório:
1) Os andrades andam inquietos porque sabem que o 5-0 foi um epifenómeno. Agora esmiuçam todos os jogos do SLB ( já lhe cantavam o nome). "Olha lá: aquele defesa que perdeu a bola para o Saviola não é primo do vizinho do Diamantino? Ou: "Já viste que a águia Vitória deu duas voltas sobre a baliza da outra equipa e fez um mortal à rectaguarda por cima da cabina do 4º árbitro". Uns exegetas.
2)No FM aprendemos que não se mexe muito numa equipa campeã.E se se mexe , por força do mercado, tenta-se manter a rotina das funções e compram-se jogadores em consonância. O nosso problema não é filosófico: chama-se Roberto-entregaste-9-pontos-no-início-da -coisa. O Viegas, espertalhão, lançou a treta do bode expiatório. Experimenta começar com 9 pontos de atraso e depois telefona-me se eu atender.
3) O senador-referência-moral-tem-dias-depende-de-quem- é-escutado Rui Moreira indignou-se com o arremesso de maçãs no quintal de Alvalade. Ó meu rico: golfe é para os ricos. A casa-mãe indignou-se porque alguém do SLB terá ameaçado o jornalista da TVI que incomodou Jesus. Correcto: nem uma pernita partida ou um carro pontapeado ( a propósito: esse inquérito sobre as agressões ao Adriaanse está muito adiantado ou quê?) .
4) Falcão: se fosse nosso era o novo Nené.
posted by FNV on 12:28 da tarde
#
(7) comments
DEPRESSÃO-REPRESSÃO ( XIII):
Tudo no mesmo ano: cancro, divórcio, despedimento. E embala para uma série de crónicas na rádio e um livro. Se o quiserem ver e ouvir contar os detalhes, têm uma reportagem da RTP ao alcance do teclado. Prefiro recomendar este texto. É contido e delicado. A história confirma o que tenho aqui escrito - somos insaciáveis - e confirma outra coisa que me obceca ( é o tema do meu artigo da Ler deste mês como foi tema de muitos textos nos meus livros): o que opor à destruição? A criação. Claro que uma bretoniana Beretta 6.35 também será muito criativa.
Uma coisa é a ( legítima) conversa de chinela, outra é a argumentação política contra Cavaco, esta semana, assentar no facto de o homem ter declarado à PIDE que não se dava com a mulher do sogro. Sim, leram bem, foi (re)publicado no CC, blogue assumidamente político e pró-Alegre. Só opino sobre o uso deste género de arma no combate eleitoral: estão a fazer Cavaco ganhar votos em rincões insuspeitos ( então se chegam à sogra nem vos digo nada). Têm a minha solidariedade.
posted by VLX on 11:58 da manhã
#
(1) comments
TODOS TEMOS DE FAZER SACRIFÍCIOS (III):
O que aí vem é o mais próximo do que alguma vez estivemos , desde que há telefone, de uma guerra em termos do impacto que terá na sociedade portuguesa: mudanças reais e drásticas na vida quotidiana, tensão social extrema, queda de alguns mitos, questionamento de certezas tidas por imortais. Políticos de plástico têm utilizado a expressão de Churchill " sangue , suor e lágrimas". É difícil compreender que se peça sacrifícios às pessoas se esses sacrifícios não forem distribuídos. E as palavras não podem, em alturas destas, ser tão estupidamente vãs. Essa parte do discurso, proferido em 13 de Maio de 1940, na Câmara dos Comuns, até foi "nada tenho para oferecer senão sangue, trabalho árduo, lagrimas e suor". "Trabalho árduo" ( toil) não estava no discurso por acaso. Se mobilizamos as pessoas para uma batalha difícil, se as pessoas vão sentir enormes dificuldades para pagar contas que há dois ou três anos pagavam despreocupadamente, se outras vão literalmente passar fome, o lado simbólico, que tanto elogiam em Churchill, tem de ser respeitado. Pagar ordenados principescos a funcionários políticos para dirigir uma exposição de cultura ou ver grandes accionistas receber a totalidade dos dividendos como se não se passasse nada, se simboliza alguma coisa é a hipocrisia política. A conversa da partilha dos sacrifícios será, temo bem, um grande embuste. Ao mesmo tempo que os salários serão cortados e as instituições de solidariedade social verão os seus recursos extintos, teremos notícias como "venda de Ferraris aumenta 20%". Tudo perfeitamente legal, estou certo, mas então não nos mintam.
Diz o Vasco( post anterior) que o Estado rapa tudo. Seja. Conheço muito boa gente que trabalha desalmadamente e que viu o ordenado rapado, o custo das coisas aumentado e o destino lixado. Zangam-se? Talvez, mas ao contrário das sociedades comerciais não podem fugir para paraísos fiscais.
Prefiro seguir Ratzinger ( ou Adam Smith) -não ao capital sem um mínimo de moral - e ir um pouco mais além: estamos todos no mesmo barco ou não? Não duvido da existência do risco de fuga do capital, mas também não duvido da esferovite social que representa este egoísmo de albardar os sacrifícios sempre nos mesmos. Que espécie de sociedade é esta que, quando as coisas apertam, dá a uns o direito de escapar e impõe a outros o dever de sofrer?
Acrescente-se que as comparações feitas com a poupança do IVA no carro do vulgar cidadão demonstram os pés de barro da tal "dimensão social" do empresariado.
São tantas as empresas públicas que gravitam na órbita do Governo que eu me pergunto: e o Governo, serve para quê?
posted by VLX on 2:26 da tarde
#
(1) comments
A NACIONALIZAÇÃO DOS DIVIDENDOS:
A distribuição de dividendos da PT é perfeitamente legal mas a avidez de certa classe política não quer ver isso: limita-se a pretender extorquir o que não é seu. No fundo, querem nacionalizar os dividendos. Gamar. Já nem é rapar o fundo do tacho: é pilhar o próprio tacho. Vêem ali um porquinho mealheiro e toca a roubar o dito, para resolver o problema que criaram, sem pensar nas consequências do gesto. Mas será que esta gente é doida? Não pensa? Não vê que semelhante coisa só serve para as sociedades fugirem outra vez do país? E o que virá a seguir? Proibir as pessoas de comprar carros para esperarem pelo fim dos subsídios ao abate e aumento dos impostos? País de doidos...
declaração de interesses: não tenho uma única acção da PT e a única coisa que me liga à dita é um aparelho fixo que anda lá por casa quase sem uso e pelo qual me cobram um aluguer criminoso.
A anedota do ano. Os do costume comem e calam, os outros "cumprem a lei". Depois admirem-se se os do costume começarem a fazer a lei.
Adenda: do relativismo. É tudo igual, fica tudo no mesmo plano, etc. Esquerdismo fracturante, é o que é.
posted by FNV on 11:48 da manhã
#
(0) comments
BLOGALTERNE (I):
Blogues diferentes e propostas diferentes ou até textos inesperados em blogues habituais. Comecemos a série com o fabuloso Israel Sktechbook do consagrado Ricardo Cabral.
Isto aconteceu por volta de 1975-76, tinha eu dez anos. Recordo-me como se fosse hoje: a minha mãe a chegar com o Paris-Match que trazia a história e as fotografias. Nunca esqueci os humanos a fotografar um humano que é devorado. E as bestas são os leões.
E está lá um neo-PSD ( mas já com currículo de cata-vento) que dizia de Cavaco o que Maomé não dizia do toucinho ( "Quem é esse gajo? Doutoramento onde? Numa merda de faculdade que ninguém conhece? Um parolo", etc). Sei-o porque mo disse a mim . E várias vezes.
Uma "investigação" da revista Sábado sobre a integração de Cavaco no Estado Novo. Assim como uma investigação que descobre que a terra é redonda e que os portugueses já elegeram Cavaco quatro vezes. Bem, se o PS, que já teve Veiga Simão e Freitas do Amaral no governo, só oferece isto, é caso para oferecermos nós solidariedade a Alegre.
posted by FNV on 10:16 da tarde
#
(8) comments
PARA A LAREIRA (III):
Sempre baratos os velhinhos fundos da INCM. Desta vez, um título de 1992: "Um judeu no desterro - Diogo Pires ( 1517-1599)e a memória de Portugal", de Carlos Ascenso André. O percurso biográfico é o habitual num judeu escorraçado, os motivos eram os da época ( há sempre motivos para odiar judeus) , mas a paragem mais interessante é na Croácia, em Ragusa, hoje Dubrovnik. Depois, epitáfios de portugueses, odes a rios e a cidades ( a Coimbra "antes morada de Reis agora residência de ninfas")e a poesia possível. Trabalho apaixonado de Carlos André.
posted by FNV on 9:29 da tarde
#
(6) comments
DEPRESSÃO-REPRESSÃO ( XXII):
Antecipar o fim ou aguentar , numa trincheira branca, os últimos dias? A favor da primeira: o comando é nosso, a dor é apenas mental. A favor da segunda: sermos recordados como dignos na morte. A escolha é óbvia. Só que não é. Na maioria dos casos acabamos por escolher a segunda. Não por bravata ou ânsia de uma espécie de posteridade privada. Somos apenas tão insaciáveis nos dias de guarda como fomos nos belos dias do desperdício.
posted by FNV on 9:09 da tarde
#
(2) comments
NARCOANÁLISE IV ( série3):
Esta rede desmontada em Espanha é exemplar. Mostra várias coisas sobre o médio ( o do retalho) narcotráfico: a mobilidade, a organização, a flexibilidade e a adequação às exigências do consumidor. Não mostra, quer dizer, não está na peça , outra coisa que existe e da qual que ninguém gosta de falar: o nível de corrupção de que uma rede destas necessita. Pressentimo-la no México, no Brasil ou em Cabo Verde, mas negamo-la na Europa. Isto ( 3º e 4ºs parágrafos), comparativamente, é uma brincadeira e só seria notícia escandalosa se o governo brasileiro fosse da temível direita securitária. Quem estuda a Prohibition ( "Lei Seca") aprende depressa o nível de corrupção que infectou a esfera judicial, política e mediática. Não pode ser de outro modo. Há muito dinheiro, há muita operação encoberta e há o sentimento generalizado de impotência. Em Portugal, os poucos casos conhecidos, que envolveram PJ, PSP ou GNR, não tiveram eco mediático. E , francamente extraordinário, não temos notícia de políticos, advogados ou jornalistas acusados de envolvimento no narcotráfico. Por que é que é extraordinário? Porque somos um dos principais pontos de recepção e distribuição da cocaína europeia.
O mito da transparência, pegando no exemplo que ele dá do PCP, cai com estrondo nos ( antigos) congressos mais desejados pelos media, os do PSD. Toda a encenação tauromáquica, o bichanar excitado das dondocas e señoritos das televisões, a criação da grande expectativa numa espécie de concepção mística ( roubando o significado ao grande Broch) da história partidária . E o bom povo acreditava que era no palco que as coisas se decidiam. Ainda por cima, logo mais abaixo, o VD põe Brubeck, O Dave.
posted by FNV on 11:46 da manhã
#
(1) comments
NARCOANÁLISE ( nº2, série 3):
1) Só agora completei o estudo do relatório preliminar de 2010 do UNODC sobre a situação do ópio afegão. Quem acompanha estas séries talvez recorde as críticas que fiz ao ex-director do gabinete. Antonio Maria Costa, um ano antes de sair, disse uma verdade óbvia: o dinheiro do narcotráfico está a ser utilizado para financiar bancos nesta época de crise mais ou menos global. Costa foi sempre irrealista nas previsões acerca da erradicação da cultura do ópio, mas agora acertou (por acaso foi substituído, Yuri Fedotov é o novo patrão ). Quando é que as pessoas se convencem de que o dinheiro gerado no negócio não fica em caves de indivíduos mal afamados? Sempre que leio estes relatórios impregnados de voluntarismo norte-americano não consigo deixar de recordar uma das coisa que mais dificilmente entrava nas cabeças dos meu alunos ( quando dava aulas): os EUA são os responsáveis pelo actual estado de coisas.Começaram nas Filipinas e só pararam ( para ganhar balanco) nas conferências de Nova Iorque/ Single Convention Geneva, 1962. Isto leva-me a outra memória: os alunos não aceitavam que a inovação, nesta matéria, é a proibição. E em Portugal os media preferem dar espaço a ignorantes e/ou cavaleiros andantes. Paciência.
2) O relatório. Um facto interessante. Naquela selvajaria, de 2009 para 2010, os mesmos 123.000 ha plantados. A produção, no entanto, baixou de 6,900toneladas para 3,600. Como? Uma doença. Da planta, da papoila. Teremos de aguardar pelo relatório final para saber o que aconteceu excatamente ( há informações imprecisas, especulações, etc). Um facto preocupante para ser analisado mais tarde: o preço subiu brutalmente. Farm -gate prices: 64U$/kg para 169U$/kg de pasta de ópio ( o que se consegue depois de precipitar num bidão as impurezas e matérias lenhosas e é depois seco e parece mousse de chocolate). Uma previsão que se pode fazer é esta: o grau de impureza nas ruas vai aumentar e o negócio da cocaína vai melhorar muito.
"Mas porque raio é que tanta gente reage como o cãozinho do Pavlov? Parem lá de salivar, oh que caraças. Não percebeu que essa frase é resposta ao que escreveu o Luís G.? De que não preciso de explicar a dimensão religiosa na vivência humana, de tão evidente que é? Ou tenho que fazer um rol de "provas" de que o apelo religioso, do Paleolítico ao século XXI, esteve omnipresente na história humana? Terei que escrever mais banalidades destas? Irra que, pior do que um beato, só mesmo um anti-beato".
posted by FNV on 2:25 da tarde
#
(2) comments
Regressaram .Olé.
Esta série será sobretudo acerca dos novos cenários: o mercado e as políticas de droga em tempos de crise económica. À laia de introdução: o que se está a passar no Rio não é bom. Sei que existe agrado por ver a força usada contra os narcotraficantes, mas as coisas não são bem assim. Começa por não ser guerra nenhuma contra os narcotraficantes. Esses estão bem longe das favelas. Este camarada, que sigo há muito tempo, já se aproxima mais da figura do narcotraficante, se bem que esteja no fim da escala. Esta acção para-militar é uma acção securitária ( ver vídeo) que apanhará simples vendedores de rua ( não discuto aqui os méritos securitários). Depois temos outro , e mais grave, problema. O México e a Colômbia começaram assim: com o exército nas ruas. Isto significa não só a falência da máquina judicial ( corrompida e incompetente), mas também a assimilação da narcocultura. Convém não esquecer que o narcotráfico é gerador de riqueza : as populações latino-americanas não ganham mais do que com as multinacionais de bananas ou petróleo, mas também não ganham menos.
posted by FNV on 6:53 da tarde
#
(2) comments
O QUE MARCA O JOGO:
Enquanto preparo cuidadosamente um delicado g’vine para beber à Beira-Mar, duas ou três reflexões.
A comunicação social tem insistido em que o jogo Sporting-Porto foi marcado por lances polémicos. Não me parece. É claro que houve um golo na sequência de um evidente e claríssimo fora-de jogo, dualidade de critérios da arbitragem (comparem-se as faltas de André Santos e de Maniche sobre Moutinho, sem qualquer sanção, e a de Maicon sobre Liedson, logo tingida de vermelho), e até maçãs em barda atiradas sobre Helton e Moutinho (o subintendente da PSP lisboeta que permitiu a entrada no estádio de um completo pomar deve achar que a claque mais a sul é pródiga em maçãs).
Ora isto (tirando as maçãs) não é novo nem causa polémica que marque o jogo. O FCP está bem habituado a este tipo de coisas e a remar contra estas marés (ao contrário dos tolinhos que por dá cá aquela palha se recusam a ir ver jogos fora).
O que marca este jogo é que o melhor Sporting deste campeonato não conseguiu ganhar ao pior Porto do ano, o que marca este jogo é a constatação de que o FCP já jogou com os três grandes (Braga, Benfica e Sporting) sem perder. É o maior, portanto.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.