CARÍSSIMO FNV: (eh eh eh) confesso que não sabia que te iria incomodar tanto nem que já estavas em festejos - desculpa se os atrapalhei. Só dois ou três pontos: na verdade, não temos tido o vosso infatigável treino para as derrotas. No mais, recordo que, nas últimas vitórias do FCP (campeonato mundial, liga dos campeões, taça uefa, diversos campeonatos nacionais - e fico-me por aqui para não ser achincalhante), vi por diversas vezes a população lisboeta sair em júbilo para a rua para festejar essas conquistas, como seria natural que a população portuense fosse festejar os feitos benfiquistas, acaso os houvesse. O que não vi - e é isso que distingue as situações - foi a Direcção do FCP orquestrar, organizar ou incentivar algo deste género como forma de empolgar ou acicatar os ânimos, de provocar ou ofender. De certeza que percebes as diferenças.
Quanto às decisões tomadas pelos grupos de apoiantes, convirás que os responsáveis dos clubes não serão propriamente responsáveis pelo que os outros fazem, não é verdade? De resto, mesmo podendo argumentar-se que os rapazes mais não estão a fazer do que a defender o seu território da afronta que se lhes pretendia fazer ou a responder a uma provocação, confessa que nem por isso estão a utilizar foguetes de sinalização marítima.
Boa sorte para amanhã. Se vieres ao Bessa, não te esqueças de distribuir uns abraços pelos jogadores cartonados que estiverem nas bancadas. Eles merecem.
posted by VLX on 11:48 da tarde
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CARO VLX: Tens toda a razão do mundo, excepto num ponto, num pequeno ponto: um cortejo só faz sentido, com trio eléctrico e super autocarro ou lá o que é, se houver gente, muita gente, a participar. Ora, na hipótese que colocas, a de o FCP pretender fazer uma imbecilidade idêntica em Lisboa, caso lá se sagrasse campeão na última jornada, a coisa não funcionava: ficava parecida com uma marcha gay-pride em Viseu.
Adenda: Falta acrescentar, o que o meu caro VLX não fez por manifesta distracção, que a decisão desse amável grupúsculo que é a claque "Super Dragões" ( e que parece que manda no FCP, coisa que eu desejo que continue a suceder por muitos e bons anos) de ir festejar o "final da época" para a Avenida dos Aliados e para as imediações da Câmara Municipal (!!!), sem que o Sr. Costa os tente demover ( olha quem!), é originalmente idiota. Uns não sabem ganhar, outros não sabem perder.
posted by FNV on 7:49 da tarde
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TARDE SOALHEIRA: A rede está excelente, o mar está mais azul que o céu (oxalá seja assim tudo tão azul amanhã). Houve quem fosse trabalhar para o tribunal (eu sei, é sábado, os tribunais deveriam estar fechados, o ministro da justiça julga que estão, não valoriza o esforço ou o empenho nem paga mais por isso, mas como é que eu posso impedir quem conscientemente e apenas por brio quer trabalhar de graça?), a pequenada foi distribuída por diversas festas infantis. Não há trabalho atrasado. A casa é toda minha. Dois cafés amortecidos por duas pequenas tangerinas (velha receita familiar, composta por uma pedra de gelo, 50% de red label e 50% de Licor de Singeverga) cumprem às mil maravilhas a sua missão de manter um olho entreaberto e o outro completamente fechado, proporcionando um repouso acordado. O sol vai descendo. A Quad e as Marantz parecem ter ressuscitado Ray Charles, que está ali na sala, cantando em plenos pulmões, só para mim. Há dias piores.
posted by VLX on 7:03 da tarde
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SABER GANHAR: Vejo no JN que a Direcção do SLB terá alugado um trio eléctrico («camião de grandes dimensões, com potente aparelhagem de som») para festejar o título pela Avenida dos Aliados, no Porto, coisa que o Sr. Vieira tem vindo a prometer aos seus apaniguados. O Ministro da Administração Interna proibiu a coisa. O assunto merece-me alguns comentários.
Entendamo-nos: pouco me interessa se o Benfica, mesmo tendo Quim na baliza, não aprendeu com o Sporting que se deve deixar a galinha sossegadinha até que ela ponha cá fora o ovo. É-me também completamente indiferente que os adeptos benfiquistas do norte festejem o título que lhes venha a cair no colo (não confundir com aqueles vários que o transportaram até aqui) onde lhes aprouver: há no norte imensos adeptos benfiquistas - só eu conheço três - e certamente pretenderão comemorar qualquer coisa (para muitos adolescentes poderá ser a primeira vez).
E provavelmente deveriam poder festejar o título onde quisessem mas parece-me que a decisão do Ministro da Administração Interna de proibir o que se planeava foi uma decisão bastante ajuizada. É que as intenções da Direcção do Benfica ao festejar ruidosamente nos Aliados o título pretendem apenas ser - e são - acintosas e insultuosas para com grande parte da população portuense e a totalidade da população portista. Que os adeptos comuns quisessem festejar o título benfiquista nos Aliados e que fossem para lá festejar, era perfeitamente compreensível. Que seja a própria Direcção benfiquista a promover este acinte, a querer obstinadamente acirrar pequenos ódios é que não se justifica. É reles, deve envergonhar as muitas pessoas sérias que há no Benfica e nem é próprio de vencedor. Soa - e cheira - a um arrotar de postas de pescada, grosseirão e arrogante, impróprio e injustificado, brejeiro. Repito: deve envergonhar muitos benfiquistas sérios.
Como a bizarra proposta vem do Presidente do Benfica, fazem todos orelhas moucas e ninguém comenta o assunto. Mas imagine-se o que não seria - e o que não se diria - se a Direcção do Futebol Clube do Porto, numa das suas 7 ou 8 vitórias nos últimos 11 anos, promovesse cortejo idêntico pela 2ª Circular ou pelas ruas de Lisboa, apenas e só com o mero intuito de insultar, de acirrar pequenos ódios? Seria o diabo! Estaria a promover a violência, a envergonhar o futebol, um chorrilho de acusações se abateria sobre o FCP. Claro que este cenário nunca sucederia porque de um lado está uma Direcção que sabe ganhar, do outro não. Geralmente até comemora em cuecas.
posted by VLX on 6:57 da tarde
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MARKETING: Já houve um tempo que os jornais serviam para embrulhar o peixe fresco (rói-te de horror e nojo, Europa comunitária!) Hoje em dia, com os jornais, vem de tudo. Tirando o Expresso, pois com ele geralmente só vêm mais jornais, jornais, jornais, a imprensa sustenta as suas vendas numa multiplicidade de acessórios: discos, dvd?s, livros, enciclopédias, colecções diversas e até faqueiros. Pretende-se, segundo percebi, fidelizar o leitor mas, mesmo admitindo que por vezes os adereços sejam de grande qualidade (no Público, por exemplo, que sigo mais de perto), mais não se faz que aproveitar o espírito consumidor da população menos atenta que, desprevenida, tudo compra como pechincha. Hoje, todo contente, trouxe para casa um belíssimo duplo cd com bd do Ray Charles que saía não sei aonde. - Mas não tinhas tudo do Ray Charles? - ...Aaaa...
posted by VLX on 6:55 da tarde
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SABER COMER: Durante onze anos a porta do G. tinha-lhe sido barrada. Até que um dia, por sorte, alguém se distraiu e ele entrou, feliz e ufano, sentando-se na primeira mesa que viu livre e pôs-se à vontade, casaco lustroso nas costas da cadeira e colarinho desapertado, gravata à banda. Acendeu um cigarro e pediu "vermute" ao incrédulo empregado, ainda confuso com a presença do boçal. Feliz da vida, demorou-se na ementa o tempo necessário para limpar, com o mindinho, os orifícios auriculares e fez o pedido pelos preços mais altos, com excepção do vinho. Enquanto esperava pela sopa que se lhe havia de secar nos bigodes até ao café, olhou sorridente e orgulhoso pela sala, enquanto com o indicador limpava o salão. Pediu tudo e tudo rapou com sofreguidão, embora pensando que a perdiz não se chegava aos calcanhares do frango da Tasca do Zé de Além. Não quis sobremesa e optou pelo café directo, que estranhamente lhe soube à sopa. O anelar e o médio esgravataram freneticamente os dentes mas não foram suficientes para a missão pelo que teve de pedir alto, fazendo o gesto esclarecedor, um palito, que saltitou sozinho de um lado para o outro da boca aberta todo o tempo que demorou a trazerem-lhe a conta, para inspecção minuciosa. Arrotou três vezes e por três vezes pediu, educadamente, licença à mesa do lado. Escorropichou o JB e pagou espalhafatosamente em dinheiro. À saída quis-se pôr a fazer um enorme balbúrdia no meio da rua, para mostrar com estardalhaço que tinha finalmente conseguido almoçar onde sempre lhe tinha sido vedada a entrada. Felizmente veio a polícia e proibiu-o.
posted by VLX on 6:53 da tarde
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INTERLÚDIO: Espero bem que os animais de ambos os lados, obedeçam às ordens dos seus condutores, amanhã, no Porto: "batalha" é sentido figurado para posts mais ou menos conseguidos.
posted by FNV on 3:50 da tarde
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DESCOMPRESSÃO: Estou a ouvir um concerto de margaridas: a Marante e a Rebelo Pinto, na TSF. Ambas me divertem, mas a segunda levou o prémio un poruleux regard com esta queixa: " O que se passou comigo é que se começou a discutir mais as vendas do que o conteúdo dos meus livros". Há gente que não acredita na sorte nem quando esta lhe bate à porta. A mesma divertidíssima personagem arrebatou também o prémio Luis Filipe Vieira, com esta refundação epistemológica: "Não acredito nada disso de os homens serem pessoas sem coração". Nada como uma manhã bem disposta.
posted by FNV on 11:39 da manhã
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AVENIDA DOS ALIADOS (vol.5): Diz-me o homem da Maratona que a tropa das panteras negras foi incentivada: sete mil contos a cada um se nos vencerem amanhã. Estou de estupor! Sete mil? Será preciso bem mais do que isso, uma derrota vermelha é muito mais cara.
LEAVE THE KIDS ALONE?: Eu também acho mal essa coisa da educação sexual explícita nas escolas. Não só porque deve ser algo de muito entediante para os cidadãos de 10-12 anos, mas, e sobretudo, porque sou contra essa oficialização, pedagogização e, portanto, desencantamento da aprendizagem sexual. Retire-se-lhes mais um espaço de transgressão e, mais tarde ou mais cedo, apanhamo-los todos a fumar. PS: Para quem quiser uma abordagem um pouco mais séria do problema, sem se reduzir à nauseante deriva ideológica que o assunto tem tomado, recomenda-se o artigo do Prof. Valentim Rodrigues Alferes, aqui.
posted by PC on 8:18 da tarde
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POSADA-CARRILLES: Não é com perdões mal disfarçados a gente desta, que os EUA ensinam a democracia a Fidel Castro.
posted by FNV on 3:30 da tarde
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LIGA DA FAMÍLIA: Alertado pelo Luís do Mal e pelo JMF do Terras do Nunca ( os meus educadores do povo favoritos), fui espreitar a petição do Forum Família, que pede ao Presidente da República para parar com essa mania de se ensinar na escola os miúdos/as de 10 anos a explorar as zonas erógenas (como se tal fosse necessário). Assim, qual Artur Agostinho no Leão da Estrela, aqui vos deixo os resultados referentes aos apelidos vitoriosos das primeiras cinco jornadas ( folhas):
Telles de Menzes: 2 assinaturas Líbano Monteiro: 4 " Perestrello de Vasconcellos: 3 " Cabral Pacheco de Noronha: 5 " Pereira Coutinho: 3 "
Como podem ver, os Pacheco de Noronha lideram a Liga da Família de forma convincente. Mas atenção aos valores individuais, como o "Jaime Fernandéz Bobadila Lassalete Bilbao": como diria o Gabriel Alves, belo nome próprio, belo apelido, belo brasão.
Ao Pedro Picoito: não se zangue, isto é apenas um exercício de boa-disposição, não diz nada sobre aquilo que me acusa; ou as petições sobre educação sexual também são uma tragédia sobre as quais não se pode fazer algum humor?
AVENIDA DOS ALIADOS (vol.4): Parece que a batalha final não será nos campos de Marte nem nos Elísios, mas sim para os lado do Campo Alegre. Enfim, é uma terra tão boa como qualquer outra para matar panteras. Dizem-me que as há por lá, e negras. Por isso ressuscitei o maior matador de panteras do mundo, Alexander Sasha Simmel (1890-1970), letão de nascimento e sul-americano de profissão. O seu ofício é matar jaguares, armado de uma simples lança, pelas bandas do Cuyaba, no Mato Grosso, acompanhado do seu cão Raivoso. À cautela, mandei vir outros mestres, estes africanos, peritos no bom uso da assegai: uma centena de Zulus, Bantus, Samburus, Masais e Nandis. Como ensinava Sasha Simmel, já velho e reformado no Rio de Janeiro, a grande dificuldade em matar onças com uma lança, reside no facto de o caçador ter de permitir uma proximidade perigosíssima ao bicho. No problema: quanto mais se aproximarem, mais ao alcance ficam.
posted by FNV on 4:28 da tarde
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OS SUICIDAS DO BODE EXPIATÓRIO: Os nossos maiores partidos políticos e respectivos governantes portam-se, perante o défice, como comandantes de navios com instintos suicidas. Apontam o navio aos rochedos - emboram saibam qual é a rota salvadora - e, perante o naufrágio iminente, culpam o comandante anterior. O bode expiatório é mais importante do que o naufrágio. Os passageiros irão certamente morrer afogados mas em nome de algo superior: o sacrifício do bode.
FUTEBOL E RACISMO: Há uns tempos atrás, o nosso FNV vituperava, com toda a razão, os sócios da Académica que tiveram comportamentos racistas contra N'Doye. Não sei se os insultos se deveram a uma pulsão racista profunda, ou se eram "apenas" mais uma forma - fácil e sempre vergonhosa - de injuriar um adversário. Mas já não tenho a mesma dúvida quando leio no Expresso que os NN não aceitam "membros não-brancos" nas suas fileiras, dispondo-se até a confrontos com os Diabos Vermelhos para que estes façam o mesmo. Já não se trata de adversários, mas de compinchas do mesmo clube. Ora, quando o racismo se sobrepõe ao ligame mais forte que pode unir os apoiantes de um clube... não deveriam os dirigentes desse clube fazer algo? E devem tolerar-se bandeiras dessa claque, e de outras que alinhem pela mesma cartilha, a apoiar a selecção nacional? Eu diria: só se Portugal se apurar para o Mundial de 2010. Aí, gostava de vê-las a esvoaçar, exibindo o seu white pride, nos estádios da África do Sul. Precedidas por uma vasta campanha de informação, in loco, acerca das ideias dos seus portadores.
ADENDA: Um comentador anónimo afirma que existem muitos membros não-brancos nos No Name Boys, indicando um site com 292 fotos como prova. O importante, creio eu, é saber se a notícia do Expresso é verdadeira ou falsa. Se for falsa, espera-se que a direcção da claque reaja em conformidade, desmentindo-a e exigindo ao jornal que a corrija. E, se assim for, apresentarei as minhas desculpas aos visados por ter reproduzido, ainda que involuntariamente, uma falsidade.
posted by PC on 2:13 da manhã
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2 X's:Duas únicas vezes. Em toda a minha vida, apenas por duas vezes torci freneticamente por outra equipa que não a minha. Ambas as vezes na mesma semana e a mesma sensação amarga senti. Basicamente foi como se tivesse ido comer uma cabidela, a dita tivesse saído inacreditavelmente avinagrada e, poucos dias depois, cometesse o mesmo erro e fosse ao mesmo sítio pedir o mesmo prato, uma, duas, três vezes. Uma barrigada! Nem eu sei porque não fiquei em casa e admiro os que sabem porque estranha razão não ficam. Mas eu aprendi. Os comentadores mais avalizados choram, depois de terem passado vários dias e toda a tarde a comemorar, como se tudo estivesse no papo e não fosse frango insípido. Os comentadores mais experientes comparam a situação actual com a do Euro 2004, esquecendo-se de que as únicas semelhanças se resumem ao facto de se jogar em casa imaginando que isso bastaria, do treinador principal da equipa derrotada não saber bem a quantas andava, as redes estarem entregues ao mesmo isolamento e à insipidez da ave. Os comentadores mais simpáticos repisam carinhosamente que chegar à final já é um feito notável (espera-se nova comemoração lacrimejante do Presidente da República, com ampla distribuição de medalhas aos segundos classificados), deixando de lado a certeza de que os segundos são meramente os primeiros dos últimos e abstendo-se de provar o frango. seja com que molho for. Eu queria mesmo a vitória e tenho pena da derrota. Mas não acho que a culpa seja propriamente do treinador - como muitos têm sustentado - a não ser que seja por decisão dele que a equipa joga sem ninguém à baliza. É que a equipa jogou realmente bastante bem este ano, da defesa para a frente, e merecia melhor sorte (outra coisa a que os que não pretendem comentar o sabor do frango geralmente se lembram de referir). Mas, com efeito, quando se alinha com alguém que seguramente só virá a ser lembrado por uma grande penalidade marcada e pela enorme publicidade que faz às aves de capoeira, dificilmente poderemos pensar que estejamos a falar de um guarda-redes. E a sorte pouco ou nada tem a ver com isto.
PARABÉNS: Eles não mandaram convite, mas nós somos especialistas em aparecer nestas datas, porque em todos os porões há um pequeno barril de água-da-vida destinado a aligeirar as noites dos visitantes. A Loira, menos gasta, faz um ano. Rave on.
AVENIDA DOS ALIADOS (vol.3): A civilização vermelha é aplaudida, do Rio das Pérolas ao Cunene, dos Bijagós a Fall Rivers. Será necessário compreender que uma derrota na batalha final, envergonhará centenas de culturas e de sub-civilizações. Felizes os exércitos cujas vitórias alegram o coração de apenas meia-dúzia de desorientados. Mas a grandeza da causa vermelha obriga a outros cuidados, os do ouro fino. Assim, vozes e couros, lágrimas e suspiros, não temam. Gozemos, nas palavras do grande Camões, a nós dedicadas no canto décimo,
"daquele Bem tamanho, que só ele se entende e alcança, De quem não há no mundo semelhança."
NO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DO ALMOCREVE: & porque a citação obsessiva se tem tornado no mais expediente emplastro para as chagas aflitivas da nossa preguiça, aqui fica, em inédito absoluto & irrepetível, o que se segue:
Saúde, bom masson! Vero morcego, À volta das estantes como um puto, Mostrando enganos d'alma, nada cego, Ao pagode luso, pequeno e bruto. Inspirado p'las musas do Mondego, Inventas águia alta em qualquer bútio; E eu ergo a taça alegre às tuas linhas, Altar da língua pré-margaridinhas.
FIAMA:"Com o cerco a fechá-la - vila elevada sobre os alicerces de uma falésia -, pensa-se na sua fundação. Forais, a chegada ou a partida de emissários, o exôdo, se o houve para ali, dos indigentes das terras secas de latifúndios interiores vindos para a actividade da pesca. Os variados peixes claros, carpas, em suma toda a fauna marinha da costa, rodeada de muralhas fortes ( reforçadas), estas por sua vez cercadas: os brilhos, as epidemias, os ferimentos sem a cirurgia apropriada."
Do "Falar sobre o falado" ( 1988, Afrontamento), de Fiama Hasse Pais Brandão: um dois mais belos livros portugueses.
posted by FNV on 9:19 da tarde
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AVENIDA DOS ALIADOS (vol.2):"Guilherme Pinto Basto (cap.), Keating, Locke, Barley, Artur Raposo, Rankin, Afonso Villar, Pittuck, Thomson, Palmers e Carlos Villar". Esta foi a equipa da selecção de Lisboa, que em 1894 disputou no Porto a Taça del Rei, à qual assistiram D.Carlos e Dª Amélia. O match teve lugar no campo do Oporto Cricket and Law-Tennis Club, ao Campo Alegre. O adversário dos lisboetas foi o recém-criado (28 de Setembro de 1893) Football Club do Porto. O árbitro do jogo foi Eduardo Pinto Basto, irmão do capitão da selecção de Lisboa. O jogo, na altura, era de cavalheiros, os paranóicos repousavam nos asilos.
PS ( com a ajuda do grande e saudoso Manuel de Sousa): O Rei e a Rainha chegaram atrasados, já o jogo tinha terminado; de modo que Ponsoly, capitão da equipa portuense, e Guillherme Pinto Basto, resolveram, por "gentileza e humildade", jogar dez minutos extra para que "a deslocação de tão ilustre família não tivesse sido em vão".
posted by FNV on 8:43 da tarde
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"SOMOS UM PAÍS CORRUPTO": A afirmação pertence a João Ubaldo Ribeiro, numa entrevista publicada no melhor semanário de língua portuguesa - a Veja - em que se pronuncia sobre a realidade brasileira. Não resisto a transcrever um pequeno excerto, que me parece aplicável a outras realidades: "Nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade. Esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável." (...) "...o domínio dos portugueses ocorreu de uma maneira desordenada, desregulada, importando caoticamente a burocracia lusitana, com a corrupção que essa burocracia gera. Construiu-se toda uma visão do mundo centrada na ação estatal. A origem de muitos dos nossos problemas pode ser essa." Sem comentários.
Ao Lutz do Quase em Português: Claro que não acho que Jane Hanói Fonda seja co-responsável pelos massacres de Pol-Pot: eles eram inevitáveis. O que ela e muitos fervorosos denunciantes das atrocidades cometidas pelo exército americano no Vietname são responsáveis, é por outra coisa: deram à sola depois do Tio Sam sair da zona, deixando a tarefa da denúncia dos crimes de Pol-Pot entregue aos "malvados agentes do imperialismo americano".
Ao JMF do Terras do Nunca: Tenho aqui na nau publicado muitos textos sobre a incrível variedade cultural, política e religiosa daquilo a que se chama "mundo árabe", até ao weblogestan ( a blogosfera iraniana) fiz referência. Tenho particularmente chamado a atenção para diversos movimentos reformadores do conservadorismo islâmico. Porque o faço? Porque acho tudo isto um campo fabuloso de estudo da relação entre o fundamentalismo ( permite até compreender, em estudo comparativo outros fundamentalismos que não apenas o árabe) e a modernidade; e também, porque tendo de estudar o tema por obrigação académica, aproveito alguns textos. Não me parece pois justa a sua acusação de desinteresse pelo assunto: pode acusar-me de ignorância, mas não de desleixo. Esforço-me. Concordo consigo relativamente ao duplo papel dos EUA na região, o que já me valeu de resto, comentários desagradáveis aqui na nau. Os EUA, fiéis à convergência de interesses, beneficiaram, e por isso promoveram, a velha ordem na Arábia Saudita e não só. Mas isso não invalida que pelo mesmo princípio, o da convergência de interesses, a velha esquerda anti-americana (vivo ao pé de um liceu com grafittis anti-Clinton) caucione ( cada vez menos? talvez...) alegremente, e em nome da especificidade cultural, a ditadura da fiqh e da sharia. São coisas diferentes, o mundo é complexo, de facto.
PAPÁ JOSÉ: Há um concerto rock em Matosinhos com bandas de skin heads: aqui d'el rei na imprensa nacional, o fascimo ressurge, etc. O jornal oficial de um partido representado na AR "tira" uma semana para louvar o revolucionário José Estaline, responsável por mais de vinte milhões de vítimas, e parece que tudo é muito natural, que o homem até era boa pessoa e que o seu projecto continua actual. É impressionante a complacência que é dispensada pela generalidade dos media a criminosos deste tipo. Qualquer déspota de esquerda tem sempre direito a uma aura de romantismo que o diferencia dos abomináveis congéneres de direita. Entre outros pormenores do romantismo de Estaline, lembro-me das anotações a lápis em pequenos despachos, em que alterava de novecentos para nove mil o número de pessoas a fuzilar, em certa povoação onde surgiam suspeitas de alguma contestação. O pormenor da anotação a lápis é bem romântico.
posted by Neptuno on 3:05 da tarde
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AVENIDA DOS ALIADOS (vol.1): Anda por aí gente feliz, demasiado feliz, mas a guerra ainda não acabou. E o terreno da última batalha é terreno perigoso, batido pela espada da justiça, mas habitado por nativos hostis. Daqui envio ao general piemontês, um velho ensinamento de Sun-Tsu: " Em terreno fronteiriço, não parar. Em terreno gravoso, pilhar. Em terreno difícil, prosseguir caminho. Em terreno cercado recorrer a estratagemas. Em terreno mortal, lutar corajosamente." Isto significa, respectivamente, que a magnífica horda vermelha: a) não poderá almoçar leitão na Mealhada; b) não poderá desperdiçar castigos máximos; c) sobreviverá aos apitos, qualquer que seja a cor. d) terá de apostar nos flanqueadores; e) terá de entregar o medo às garras da águia.
posted by FNV on 12:29 da tarde
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NORMALIDADE: Graças ao João Miranda do Blasfémias, encontrei um texto do Avante da semana que findou. Nesse texto, o chefe de redacção , Leandro Martins, diz em editorial, em 2005, entre outras coisas, o seguinte sobre o consulado de Estaline: "(foi) a mais brilhante conquista da história da humanidade". Reacções? Nenhuma. É normal, tudo perfeitamente normal. Este jornal é o orgão oficial de um partido que passa a vida com as palavras liberdade, justiça e paz afixadas à boca, e de dedo em riste contra os opressores. Alguém se incomoda? Não. Ninguém. Nem TSF's, nem TV's, nem imprensa. Isto é interessante, porque demonstra como o PCP sabe que pode elogiar Estaline na ex-URSS e defender os direitos humanos em Guantanamo. E foi sempre essa a doutrina, apoiada pelos dirigentes actuais. Os que agora não estão no PCP ( alguns sairam bem recentemente), quando lá estavam, também assinavam por baixo a original agenda de defesa dos direitos humanos ( o que explica em parte a ambiguidade em relação à Cuba de Castro, por exemplo). Mas o silêncio habitual face a coisas destas - diverso, é certo, do elogio desbragado como o do Avante - apenas nos relembra uma velha verdade da inteligência ocidental. Não se tendo conseguido desembaraçar do complexo pós-marxista dos anos 60, manteve até aos dias de hoje a matriz genética: os crimes da engenharia social são sempre mais toleráveis do que os do capitalismo. Por isso Pol-Pot ficou com as mãos livres em 1975 para conduzir um competente genocídio: Jane Hanói Fonda já não morava ali.
CAMPEONATO: PENÚLTIMAS NOTAS: Tal como havia desejado aqui, o Benfica alcançou o resultado mais útil para o FCPorto. Aliás, esse fugaz apoio de 90 minutos à agremiação da Luz valeu-me uma monumental cabidela de galo com carqueja em casa do nosso FNV, premonitória e esmeradamente preparada desde as 6 da tarde, tão memorável que hoje ainda acordei a resplanceder de gratidão. Pode acontecer que o Porto ganhe na próxima jornada e o Benfica perca. Mas, se o Porto for campeão, não festejarei. Ao contrário do que diz o inefável Sr. Cunha Leal, este é o campeonato mais miserável de que tenho memória. Disputado até à última por causa da inépcia de todos. Prova evidente é o facto de o meu clube, jogando como jogou, ainda ter hipóteses de o vencer. Ninguém merece ser campeão. Este ano, de castigo, não se atribuía o troféu, e pronto. Como isso não parece possível, há uma razão para continuar a preferir a vitória do Porto. É que, se tudo correr bem, o Sporting terá a sua festa - merecida - na 4ª feira. O Benfica já celebrou o título ontem, pelas ruas de Lisboa, exorcizando o fantasma e arrastando até, no delírio, homens consabidamente moderados e prudentes. Assim, o Porto também tinha a sua festita no domingo, seguia-se-lhe a do Vitória de Setúbal no Jamor e ficava toda a gente contente. Quanto ao encontro das claques benfiquista e portista na Invicta, no próximo domingo, espero que não se comportem como vulgares dirigentes dos respectivos clubes.
HOMOFOBIA: Mesmo que exista algum exagero na descrição/construção mediática dos actos violentos e/ou intimidatórios que têm ocorrido em Viseu, contra um, três ou vinte homossexuais, a situação deve ser combatida. Como "velho liberal à moda antiga" que sou, enoja-me o simples cheiro a perseguição organizada a um grupo de pessoas por aquilo que elas fazem entre lençóis. Se os meninos de Viseu querem limpar alguma coisa, que limpem as matas do concelho, que vem aí a época dos fogos.
posted by FNV on 11:27 da tarde
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É A TUA FESTA, PÁ! Daqui envio um forte abraço de boa sorte para 4ª feira ao Jaquinzinhos, o meu blogue sportinguista favorito, que mesmo tendo sido acordado às cinco horas da madrugada pelos lampiões em festa, não perdeu nem o fair-play nem a compostura.
Actualização: parabéns ao Barcelona, que também está em festa, pois que este fim de semana se sagrou campeão espanhol de futebol e europeu de hoquei em patins, neste último caso vencendo na final, infelizmente, uma equipa portuguesa, o FC Porto.
posted by FNV on 4:16 da tarde
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O DUQUE E O MENDIGO: O Duque de Portland era famoso por entre a gentry pelos seus multiplos dotes: fortuna, coragem e espírito. De resto, a rainha Vitória e o parlamento não o dispensavam. Mas certa vez, regressado do Levante, longínquo e imperial, refugiou-se no seu castelo à beira do promontório de Portland e desapareceu de circulação. Os rumores multiplicavam-se, desesperados. Um ano mais tarde soube-se que o Duque tinha morrido de lepra. Numa das suas viagens, nos arredoresde Antioquia, ouviu falar de um mendigo eremita que agonizava com a grande lepra antiga, a lepra-seca. O Duque , num arroubo de valentia, foi visitá-lo contrariando os conselhos dos seus acompanhantes; entrou na caverna do moribundo, deu-lhe um punhado de moedas de ouro e apertou-lhe na mão. Adeus juventude, adeus noiva prometida, adeus glória: o Lorde herdou do mendigo. Um instante de bravade (ou um gesto demasiado nobre?) arrastou aquela existência luminosa para o segredo de uma morte desesperada. Esta estranha história vem publicada nos Contes cruels ( 1883) do genial Viliers De L'Isle-Adam, que já aqui trouxe noutras ocasiões. A lepra do Duque de Portland é contraída no Oriente devido a um acto trop noble, como explicitamente crava Villiers. Há aqui uma ironia evidente sobre a presença imperial do europeu no Levante, uma certa premonição mesmo. Mas também um tom habitual em Villiers De L'Isle-Adam, condensado num aviso que ele dizia ter encontrado à beira de um antigo carreiro:
"Bonnes gens, vous qui passez, Priez pour les trépassés."
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.