ANTES TARDE QUE NUNCA: Seguindo um dos ensinamentos do dao, tudo tem uma razão de existir: a extrema direita ( Portugal é um case-study mundial do desequilíbrio do espectro político, pois que a julgar pelo nossos media, não alberga extrema-esquerda) também. E desta vez serviu para eu ver e ouvir pela primeira vez na TV ( no caso, na SIC-N) uma jornalista perguntar a um grupo de cyborgs que debitavam uma estatística idiota, "em que é que se baseavam para fazer tal afirmação", "onde tinham lido" tal coisa, "de quais cientistas" era a autoria da tal estatística, etc. Agora que a SIC-N ( pelo menos) começou a saber entrevistar tipos e tipas da "extrema", espero que não perca o jeito.
posted by FNV on 10:20 da tarde
#
(2) comments
EU, PRESIDENTE: Eu, José Fernando das Neves, decidi candidatar-me à presidência da República. Sou de Hortinhas, concelho do Redondo, e dizem-me que tenho muitas ideias e alguns ideais. Estive ontem no jantar de lançamento da candidatura à presidência da República, de Maria da Conceição Hilário Silva, professora do ensino secundário, natural de Malpartida, Almeida, e gostei muito. Já somos dois. Amanhã vou a Paço Vedro, Ponte da Barca, cumprimentar o Sr. Jesolindo Carvalho Ferreira que também é candidato à mesma coisa que eu, e muito apreciado na sua terra porque é quase sempre o mordomo das festas. Se não empurrarem, chega para todos.
REMIX: Parece que o mesmo grupo de cidadãos que se manifestou contra a criminalidade e contra a imigração vai hoje manifestar-se contra a pedofilia e a adopção por casais homossexuais e o lóbi gay (não sei se por esta ordem). Se a moda pega, vamos ter aí manifestações - contra o nazismo e os partidários do não à despenalização do aborto e a Opus Dei; - contra a fraude fiscal e a iniciativa privada e as associações patronais; - contra o exército e a aparição de Nossa Senhora de Fátima e as queijadinhas de Sintra.
ORDINÁRIO: Imagino o tratamento que seria dispensado pela "nossa imprensa de esquerda" (toda, portanto) a um candidato de direita que, no final de um debate televisivo, recusasse apertar a mão ao seu adversário, mandando-o "dar uma volta", virando as costas à mão estendida. Imagino belos discursos sobre a "intolerância da direita", a "arrogância" e "...a fazer lembrar outros tempos", etc. Como o infeliz protagonista foi o candidato da esquerda, tratou-se apenas de mais um acontecimento... ordinário.
posted by Neptuno on 4:42 da tarde
#
(6) comments
CAVACO: Entre outras razões, Cavaco perdeu as eleições de há dez anos por dois motivos fundamentais. Por um lado, apostou na estratégia do tabú, que arruinou a sua imagem de quem não se desvia do caminho traçado (que nunca se engana e raramente tem dúvidas...) em prol de uma qualquer estratégia eleitoral. Fê-lo, e tramou-se. Por outro lado, os portugueses adoram um "coitadinho" e, na altura, Fernando Nogueira foi bem explorado pelos adversários como uma vítima da implacável ambição de Cavaco. Desta vez, é Cavaco quem beneficia do trunfo adicional do "coitadinho". De facto, nem uma amizade de décadas salvou Manuel Alegre do sacrifício às mãos da ambição de Soares. Assim, resta saber se o homem ainda vai desbaratar o avanço que as sondagens lhe concedem com as suas dúvidas, indefinições e "meias-tintas".
posted by Neptuno on 2:38 da tarde
#
(1) comments
OS OVOS DE BION: A teoria dos ovos é conhecida, Soares imortalizou-a no imaginário político nacional: os portugueses gostam que governo e presidente tenham cores políticas diferentes. Mas a dupla Sampaio-Guterres ( aquando da segunda eleição deste) enterrou a omelete. W.R. Bion, um famoso psicanalista inglês do século passado, tem outra. Bion discorreu sobre o que designou por "pressupostos insconscientes da cultura dos grupos". Os mais interessantes são o "pressuposto messiânico" e o "pressuposto da dependência parental". O primeiro refere-se à crença inconsciente que qualquer grupo tem na vinda de um messias redentor. O segundo, Bion desenvolve-o relativamente à crença que o grupo tem na necessidade de ser protegido por uma dupla que mimetize o casal parental fundador: pai e mãe, diferentes mas complementares na sua actividade protectora. Fazendo uma aplicação rápida, isto quereria dizer que um PM austero e duro deveria coabitar com um PR compreensivo e dialogante. Assim como a dupla Soares-Cavaco de 87-95. Aliás, deve residir aí a origem dos nosso males recentes: a dupla Sampaio-Guterres fez o português sentir-se uma criança adoptada por duas tia zucas, a dupla Sampaio-Santana deve ter feito o eleitor pensar que acordou numa casa comandada por um avô lélé e um irmão estroina. Agora vejamos qual a dupla que confirma a tese do psicanalista: Sócrates-Cavaco ou Sócrates-Soares? Eu sei mas não digo.
posted by FNV on 11:59 da manhã
#
(8) comments
SONDAGENS Julgo que era Tayllerand que dizia que um homem pode fazer qualquer coisa com uma baioneta, menos sentar-se em cima dela. Com uma sondagem, idem. A TVI exibiu uma, onde Soares está (quase) definitivamente varrido do mapa: resta assim a Cavaco aparecer triunfal e recolher os louros logo à primeira volta. Aparentemente, e segundo os analistas, Soares está a ser penalizado por querer mais do que pode e deve, e porque os portugueses em tempo de cries querem um economista em Belém. Há ainda quem defenda que Soares está a ser castigado pelo episódio Alegre. Isto é deveras sensacional. Os sondados conseguem castigar Soares por razões biológicas, cuuriculares e morais. A minha dúvida é esta: em campanha, pode Cavaco utilizar alguma destas supostas fragilidades? Poderá acusar Soares de ser velho e de já ter sido presidente duas vezes, de não ser economista e de se ter zangado com um amigo íntimo? As presidenciais são eleições muito peculiares, pois que se reportam directamente a pessoas. Esta sondagem, como outras, trabalha uma representação de um confronto imaginário, embora neste caso, entre o que já está ( Soares) e o que há-de estar ( Cavaco). O que ainda não está, só tem qualidades: o vizinho que se muda amanhã, o novo director que chega para a semana, etc. Depois as coisas mudam ligeiramente, a comparação passa a ser feita num plano de igualdade. No caso de Soares, repare-se que só se têm discutido as fraquezas da candidatura e do candidato, Cavaco, por enquanto, é D.Sebastião. Resta saber se come tudo tudo tudo, ou se perde o avião.
TRANSMUTAÇÃO: Estou a tratar uma arreliadora lesão - hipermotivada por uma série estupidamente esforçada de presses militares seguida de desengonçados e pseudo-capoeiristas chapéus de couro - na cápsula de rotação ( do ombro), com cartilagem de esqueleto de tubarão em pó. O problema é que a informação disponibilizada pela Diese, tanto no exterior da caixa como no folheto incluso, diz-me que o "tubarão é um mamífero" cujo esqueleto cartilaginoso possui extrordinárias qualidades etc etc. Está visto que daqui a uma semana sou um esqualo.
posted by FNV on 8:53 da tarde
#
(0) comments
PARA SUAVIZAR A BAGARRE POLÍTICA:
"Eu vivo no interior das negras sepulturas. Só eu sei conhecer as grandes amarguras Dos que pedem à terra a paz e o esquecimento... Na sua antiga dor encontro um alimento... E nas suas lágrimas sombrias e geladas, Como nos lagos ou nas fontes prateadas, Às vezes, mato a sede...E o mau ar que respiro Tem o amargo sabor dum último suspiro... Por isso, bem conheço a dor do homem..."
Teixeira de Pascoaes, "A Voz das Cousas". Pascoaes divide as cousas em secções lírico-naturais - a Lua, o Ar, o Mar, etc - assim ao jeito de Lucrécio. O trecho citado ocupa-se dos Vermes; na última secção, O Homem, Pascoaes volta a falar deles.
posted by FNV on 4:15 da tarde
#
(0) comments
O INVERGÁVEL: Passeando no Colombo em pleno Domingo, a família Silva decide ir ao cinema. O alvo escolhido é "O Invergável". Dizem os jornais que se trata de um filme de acção melodramático, da história de um homem que toma conta de uma empresa falida e de como a transforma numa empresa de sucesso graças à sua liderança dura, incorruptível, justa e sem concessões. Acreditando nos jornais, a família Silva paga o bilhete, mas mal adivinha o que o filme lhe reserva. "O Invergável" é um filme sobre um homem que toma conta de uma empresa falida, mas honrada e de como a transforma num bordel. O filme descamba num estilo pornográfico barato, em que os bons actores são substituidos por canastrões, em que os actores razoáveis se submetem a práticas vexatórias e em que não há amigo do realizador que não apareça no ecran em preparos de assinalável deboche. Não falta sequer a patética personagem de um anão, que é sempre barrado na porta do estabelecimento. Perplexa, a família Silva ainda fica a saber que o realizador gozou de total liberdade criativa - não podendo ser incomodado ou limitado pela produção - e que o mesmo justificou a escolha dos actores pela sua elevada competência - referindo-se, certamente, à sua "porno" competência. O pai Silva gostava de conseguir explicar aos filhos o que aconteceu: porque foram enganados na apresentação do filme, porque é que os actores maus afastam os bons, quem é aquela gente toda que aparece a babar o tempo todo e, pior ainda, porque é que não há nenhuma entidade a quem se possa queixar do sucedido. Mais não resta do que regressar a casa, de monco caído. Na certeza de que num próximo fim de semana certamente encontrarão a sequela, num enredo enriquecido com mais amigos do realizador, alguns animais e, eventualmente, uma porno-polícia.
posted by Neptuno on 11:59 da manhã
#
(2) comments
AQUI:deve-se ter sentido a mesma repugnância que eu senti.
posted by VLX on 1:01 da manhã
#
(0) comments
DÚVIDAS PARA O PEQUENO-ALMOÇO DE QUINTA-FEIRA: Que diabo de coisa será essa do "perfil humanista" que um "presidente de um pequeno país" deve ter? Porque é que o "pequeno país" deve ter um presidente com "perfil humanista"? E porque é que o presidente de um grande país já não precisa de ter o tal perfil? E porque é que o grande país não precisa de um presidente assim? Serão estas coisas apenas balelas proferidas depois de mais um bom almoço? Onde? E quem define o pernil, perdão, o perfil?
DÚVIDAS PARA O CAFÉZINHO DO MEIO DA MANHÃ DE QUINTA-FEIRA: de cada vez que o Primeiro-Ministro tem de se justificar por mais uma nomeação complicada vem distrair as TV's com a mesma divagação: ou é o aborto ou é o Soares. Quando tiver enterrado os dois, como irá justificar-se pelas inúmeras nomeações de camaradas que ainda lhe faltam fazer para chegar aos 150.000?
DÚVIDAS PARA A TARDE DE QUINTA-FEIRA, SE FOR COM FOLGA, CHARUTO E SESTA SOSSEGADA: E se esta triste figurinha que Soares anda a fazer com a sua candidatura presidencial não passasse de um genial plano engendrado e orquestrado por Sócrates para, de um vez por todas, enterrar bem fundo (e com vida) Mário Soares, libertar por fim o partido dos seus ferrolhos e cremar em lume brando o Joãozinho? Seria o PM capaz de inventar tudo isto?
posted by VLX on 12:36 da manhã
#
(0) comments
NÃO DESANIMEM: Tal como previ há duas semanas, a luta pelo segundo lugar no grupo do SLB está a ser renhida: Manchester e Villarreal estão ombro a ombro.
OLD FRIENDS:"Amigos há mais de quarenta anos, mas... eu queria tanto aquela casa! Bem sei que o Manel já tinha a escritura marcada mas, que diabo, eu já lá vivi. Tenho saudades daquele jardim. Bem sei que não devia ter torcido o braço ao tipo da imobiliária nem devia ter ultrapassado o Manel pela direita. Mas a casa será minha. Amigos há muitos e aquela casa é única. Não me pareceu oportuno falar abertamente com ele. Afinal de contas, conheco-o há décadas e sei como ele reagiria. Para além disso, ainda tentei arranjar um almoço através do tipo da imobiliária, para devolver o sinal ao Manel, mas ele recusou. Qual era a vantagem de ser eu a dizer-lhe? São coisas que acontecem. A gente encontra-se por aí, velho companheiro, amigo, camarada. Palhaço, como dizia o Herman."
posted by Neptuno on 5:58 da tarde
#
(0) comments
VOCAÇÕES: O sítio da PJ atribui-lhe a autoria comprovada de 29 assaltos, e não de 27 como diz o Público, mas isso é um detalhe. Em tantos assaltos e utilizando armas de fogo, nunca feriu ninguém, nem sequer ao de leve. Iniciou-se na carreira de ladrão de bancos aos 49 anos, o que dá que pensar sobre as potencialidades do ser humano, ao mesmo tempo que arruina muitas ( não todas) das oleosas teorias psico-jurídicas sobre a personalidade criminosa. Regressa à cadeia e, se vier para a de Coimbra, de onde fugiu no passado mês de Março, vou lá visitá-lo e ofereço-lhe um grande bolo, daqueles recheados...
posted by FNV on 12:24 da tarde
#
(4) comments
SARAVÁ! Linkar o "Origem das Espécies" do Francisco, aqui no Mar Salgado, é o que peço aos especialistas da casa.
posted by FNV on 12:22 da tarde
#
(1) comments
CROQUETES: Ricardo Rocha foi expulso em Alavalade porque "a FIFA deu novas instruções para este tipo de faltas serem punidas com cartão vermelho", zurravam os prosélitos comentadores televisivos, com a boca ainda meio-cheia dos croquetes de vitela amavelmente oferecidos pelos donos da casa. Pois é: é pena a UEFA não conhecer a FIFA; caso contrário, o FCP teria jogado contra apenas 10 escoceses, ontem, em Ibrox Park. Teria dado jeito.
NÃO, NÃO: Já percebi que os próximos tempos vão ser muito aborrecidos para quem não se interessar demasiadamente pelas eleições presidenciais. Tempos atrás, um marujo aqui da nau falava-me do que lhe ensinara o pai de um amigo comum (entre outras coisas, também sabia muito de política): "a gente vota sempre contra alguém". No meu caso, a frase não tem força normativa, mas, olhando para trás, é uma boa narrativa. Nos últimos 20 anos, votei quase sempre contra alguém ou contra um projecto, e não a favor de algo. A principal excepção foi, justamente, Mário Soares, em 1986. Entendo a eleição presidencial como uma escolha / rejeição de pessoas, mais do que de projectos políticos. Evidentemente: sendo a política um jogo de aparências, não me interessa aquilo que os candidatos são, mas aquilo que, com consistência, aparentam ser. Em suma: preciso de um candidato que me dê uma imagem de que gosto, ou de um candidato que possa vencer um outro cuja imagem me é particularmente adversa. Supondo que Cavaco Silva se candidata, e considerando que até votei em Jorge Sampaio contra Cavaco, pergunto-me por que razão não me apetece votar em Soares. E a resposta é: não voto no Cavaco de sempre nem no Soares de hoje. É que votar contra alguém também tem os seus limites: tem que haver uma empatia mínima com o candidato em quem se vota. Ora, errada ou certa, a imagem que Mário Soares me transmite hoje é a de uma inultrapassável soberba, pouco menos desagradável do que a arrogância da imagem de Cavaco Silva. Não me é suportável a afirmação de que só se candidata porque à sua volta vê o deserto, apesar das suas esforçadas tentativas de formar, de modos variados, gente nova que pudesse comandar o barco da grande esquerda. Estranho poder, o de quem pode dizer isto e contar com o apoio do maior partido da chamada esquerda. Claro que esta minha impossibilidade de votar em Soares não impede que sorria com o discurso de certa direita que rejubila com a previsão da sua derrota. Alguns voltam a berrar a plenos pulmões o nome daquele que execraram quando os deixou sem tecto, entre ruínas. Outros, continuando a não gostar de Cavaco (em quem votarão, no limite, com perninhas de sapo ao canto dos lábios), vêem na derrota de Soares a vingança da grande saga de 1986, quando agitavam radiosas bandeirinhas de Freitas do Amaral e sonhavam com lodens verdes pelo Natal. Hoje, na maturidade, odeiam ambos, e projectam na derrota de Soares uma espécie de vitória serôdia do movimento Para a Frente Portugal!, de que Freitas foi só, afinal, um acidente infeliz. Mais tarde ou mais cedo, se Cavaco for eleito, aparecerão por aí a indignar-se com a "imobilidade" do Presidente da República perante uma qualquer lei que aprove os casamentos homossexuais, ou coisa do género. O João Pinto e Castro diz que não está certo de que a eleição presidencial será de facto importante. Eu também não sei se o será no plano "objectivo" a que o João se refere. Mas, no que me diz respeito, entre aquelas duas majestades, tão acintosamente distantes de mim, sei que não farei o papel do Diabo.
posted by PC on 2:10 da manhã
#
(2) comments
PARA JURISTAS E OUTROS CURIOSOS DO DIREITO: Interrompo pontualmente o meu silêncio bloguístico porque não tenho visto mencionadas na blogosfera as audiências de confirmação do Juíz John Roberts como Presidente do Supremo Tribunal de Justiça americano. Devido ao sistema de case law, ao papel do precedente no sistema jurídico americano, ao facto de a nomeação ser vitalícia e ao sistema de checks and balances que vigora nos Estados Unidos, entre muitos outros motivos, a nomeação do Presidente do Supremo Tribunal assume uma importãncia muito relevante. Com a morte do anterior Presidente (William Rehnquist), a nomeação de John Roberts perdeu muito da sua importância política. Uma vez que é necessário substituir a prazo a juíza demissionária Sandra Day O'Connor será nessa substituição e não na actual que se jogará o equilíbrio no Supremo Tribunal entre conservadores e progressistas, entre defensores do Governo Federal e devolucionistas dos poderes aos Estados ou entre adeptos de outras opiniões divergentes mais fundadas em diferenças de filosofia jurídica e judicial que um pobre mortal economista como eu apenas intui. Para quem se interesse por estes assuntos aqui vão links importantes. A CNN tem links nesta página para video streams curtos sobre as trocas de argumentos do dia. Nesta página encontram video streams integrais, ao vivo e resumos das audiências. Tendo crescido no meio de discussões jurídicas, confesso que estas audiências têm sido um regalo. É sempre bom apreciar uma troca de argumentos elegante, de elevadíssimo nível intelectual e recheada de subtilezas e brilhantismo argumentativos de que apenas os juristas são capazes. Altamente recomendável. Para juristas e demais curiosos.
OLHOS LIMPOS: Na semana passada, a meio da faena de El Juli numa das corridas da feira de Palencia, vieram-me as lágrimas aos olhos; mas não cairam. Julián levava um astifino, sedoso, como queria. Passes de desprezo, passes de peito, naturales en rodillas ( um bocadito exagerados). Mas temple, muito temple. Quase chorei. Ainda bem, porque não sou tipo de choro fácil, e ele só cortou uma orelha.
posted by FNV on 8:58 da tarde
#
(4) comments
DIÁRIO DE UMA COLHER DE PAU (II): Da última vez que me aconteceu foi com um tártaro de atum fresco. Apanhei o jeito da coisa no La Karaba, arredores de Mahón, terra de belíssimas mesas (dizem ser os inventores da maionese, o que duvido, mas enfim...); ao atum fresco, vermelho escuro, em cru, faz-se o que eu quis fazer ao Koeman no último jogo: tritura-se. Depois junta-se cebola e alho picados, fininhos, s&p, e um ramo de boas ervas, igualmente picadas: poejo, oregão fresco, salsa. Emulsiona-se grosseiramente com uma gema de ovo e dá-se-lhe a forma que se quiser, em bolinha ou em paleta. É uma entrada honesta para um jantar de verão e embeleza o prato se rodeada de puré frio de tomate encimado de azeitonas verdes. Pois dizia-vos eu, aqui há tempos, estava isto tudo feito e empratado quando a sensação que faltava algo, e que já vinha a moer-me há uns bons minutos, se desmascarou: o limão! Tinha-me esquecido do limão, insubstituível para cortar a gordura do atum*. A mesma sensação tive em Julho e agora em Setembro, quando vejo os telejornais: o que é que falta? O que é que já deveria ter acontecido, que costuma acontecer sempre, mas que este ano civil, por milagre ou por distracção ( não me constou que a lei tivesse sido alterada) ainda não aconteceu? As manifestações contra as propinas. Elementar, caro Watson? Nem tanto, caro Sherlock, nem tanto...
Grande Vasco: Eu também faço assim as marinadas ( sem ovo e com azeite) mas esta é uma aproximação à filosofia do tártaro ( hoje até conseguia afixar um comentário, mas um imbecil anónimo que não se sabe comportar ocupou o espaço todo com algo que não está relacionado com o post)
* E para o macerar. A combinação do limão com as ervas ( umas gotas de vinagre são facultativas) "coze" o atum.
DERRIDA NO BOTA-ABAIXO: Ali à porta da demolição da Baixinha, o pessoal do Metro anuncia em cartaz: "Obras de desconstrução da Baixa". Todas as ideias, mesmo a de desconstrução, podem ser desconstruídas.
posted by PC on 2:50 da tarde
#
(0) comments
AO QUE ISTO CHEGOU:
"Lately, I' ve become accustomed to the way The ground opens up and envelops me Each time I go out to walk the dog. Or the broad-edged silly music the wind Makes when I run for a bus...
Things have come to that."
( Imamu Baraka , outrora LeRoi Jones, Preface To a Twenty Volume Suicide Note, 1967)
posted by FNV on 11:43 da manhã
#
(0) comments
CRAPULICES: Mário Soares entendeu por bem vir alegar que o atropelamento de Manuel Alegre na passadeira não lhe era devido pois ele até se tinha disponibilizado para resolver as coisas a bem numa almoçarada a três, orquestrada na sombra por José Sócrates (aquele que nós julgamos que anda a tratar dos problemas da governação). Manuel Alegre não terá julgado o almoço "útil", acrescentou Mário Soares, pretendendo assim atirar as culpas da desagradável situação para o poeta.
Sabe-se porque é que Soares quis vir com esta agora - uma vez que não deve estar satisfeito por se aperceber, através das recentes sondagens, que os portugueses manifestamente não o querem para presidente da república nem para professor dos filhos, que não lhe confiam um carro nem estão para o ouvir na tv, e que praticamente só o tolerariam para uma alegre e despreocupada cavaqueira numa bela jantarada (provavelmente paga por ele, como terá usufruído recentemente Saramago) ou para o ter como patrão (certamente para gozar de um regime alargado de sestas): são constatações que afectariam qualquer um que quisesse aparecer aos olhos da população como pessoa séria e responsável. Basicamente, e a avaliar pelas sondagens, os portugueses querem tanto Mário Soares como quereriam Santana Lopes se estivessem na bicha para entrar na Kapital: só para se aproveitarem da parte lúdica.
O que não se percebe é que um velho político (não confundir com político velho), mesmo que mortalmente acossado pelas sondagens, tenha dado tamanho tiro no pé. É que, com o que disse, Mário Soares revelou-nos desde logo que lhe faltou a coragem necessária para enfrentar directamente o velho amigo, pois necessitou cobardemente da intermediação de Sócrates (consequentemente, evidencia também que teria consciência da traição que estaria a efectuar).
Mário Soares mostrou-nos ainda que não conhece verdadeiramente Manuel Alegre, que não tem a mais pequena noção do que é uma coluna vertebral a sério nem que a do poeta não se assemelha, de perto ou de longe, com a do mais vulgar dos nobelizados: imaginar que Manuel Alegre se prestaria a trocar uma refeição, mesmo que no Gambrinus, pela sua própria consciência é de quem não está bom da cabeça. Imaginar que Manuel Alegre iria a um almoço deste tipo com Mário Soares, convidado por interposta pessoa e sob "condição prévia" de manifestar apoio a Soares é desconhecê-lo por completo.
Manuel Alegre sabe bem que não existem almoços de graça e, até por ser um bom garfo, não precisa de que as refeições lhe sejam pagas por Mário Soares ou pelas suas fundações, só para que aquele possa mais comodamente espetar-lhe nas costas a faca de trinchar, já suja e gasta, aproveitando-se de mais um momento de distracção de um amigo. De Manuel Alegre (mesmo discordando completamente da sua orientação política) podemos facilmente dizer que é um tipo de categoria e nobreza superiores, de uma categoria e nobreza que Mário Soares nunca atingirá nem compreenderá pois Mário Soares nem sequer percebeu a grandeza e a elevação de uma pessoa que, mesmo atacado da forma mais vil e soez, escondeu de todos este segredo execrável da "condição prévia" cuja revelação Soares veio agora provocar.
Alegre podia ter-nos falado do triste episódio há muito tempo, arrasando Soares. Não o fez e isso diz muito do seu carácter e personalidade, qualidades que possui em enorme quantidade e que não precisa de nos mostrar mais. Mas a forma como agora foi obrigado a revelar as coisas e aquilo que nos contou mostram muito do carácter de Mário Soares. Muito pouco, bem entendido.
SAIS DE FRUTOS: Apesar da crise, os passeios das zonas centrais de Coimbra estão em revolução: escavadoras, pedras, homens com martelos pneumáticos que trabalham aos sábados. Se é esta a prioridade do Dr.Encarnação, então não precisa do meu voto. Para o Dr. Batista, o socialista do aparelho que promete em enormes cartazes arranjar 5000 novos empregos, é que não vai de certeza o meu boletim: aprecio a franqueza da demagogia, mas nem tanto. Resta a CDU (do Jorge Gouveia Monteiro), em quem votarei se me conseguir esquecer que é um partido que organiza festas com tendas da Coreia do Norte, como bem lembrava o Rasputine-Louçã este fim-de-semana.
posted by FNV on 12:26 da tarde
#
(9) comments
DIÁRIO DE UMA COLHER DE PAU: Na cozinha, são essenciais, como é óbvio. A imagem do cozinheiro - mau, bom, profissional, amador - debruçado sobre o tacho, aspirando vapores e fragâncias, tem mais de lenda do que de realidade. Salvo os casos de espaços extraordinariamente bem equipados, o cozinheiro, sobretudo o amador, vê-se cercado por uma variedade esmagadora de cheiros. No forno, uma perna de borrego tosta crepitante desassosegada por cebolas brancas e rosmaninho; no lume de butano ( outro cheiro) um tacho acolhe qual Guterres-dos-Refugiados, uns percebes outrora vivos, numa atitude experimental de com eles fazer um creme frio. O aroma iodado dos percebes cruza o ar quente e tenso do borrego. Juntos visitam outras vitualhas, expostas na banca da cozinha: o recheio das lulas, uma pasta de alho, chouriço de Portalegre, oregãos, coentros ( poucos) e os tentáculos das ditas, picados e embebidos num pouco de ferrado; arrebatador. Serve-se assim o cozinheiro da vista e da disciplina, já que o nariz está trôpego. Tem muitas vezes de sair do local apetitoso, respirar ar puro à janela e regressar recomposto. Na vida a mesma coisa: quando muitos aromas se misturam, há que pôr ordem na mesa de trabalho. Hoje a tarefa consiste em evitar ler na blogosfera a profusão de alegorias místicas e relatos de sessões espíritas, segundo as quais o Katrina se fartou de enviar mensagens à administração Bush. Cheiram a confusão.
PORMENORES QUE IMPORTAM III: O nosso FNV cumpriu a promessa e presenteou-nos com uns bolinhos de bacalhau que não têm rival no mundo conhecido. O jantar terminou uns segundos antes das 21.30 e um pouco mais de uma hora antes de João Pereira ser substituído: nada foi deixado ao acaso. É bom.
PORMENORES QUE IMPORTAM II: Ao fim de três décadas, Alberto João Jardim arranjou um porta-voz cujo português é compreensível pela generalidade dos portugueses. É bom.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.