A Carla tem razão apenas em contextos muito particulares. Os escandalizados com a intolerância do Cardeal esqueceram-se de explicar isto. Conveniente, não é? Já aqui repeti vezes sem conta que me faz impressão a designação "Islão" para abraçar uma realidade - geográfica, política, religiosa e social - que vai de Rabat a Jacarta. Em Kabul os talibans mataram à fome, aprisonadas nas suas próprias casas, as viúvas da guerra contra contra os soviéticos ( as que não tinham sequer um irmão que pudesse sair com elas à rua); em Marrocos há deputadas mulheres; em Beirute as mulheres publicam boa poesia ( que já aqui trouxe socorrendo-me da Banipal). Qual Islão? Nada impede que em Portugal uma católica tenha liberdade de culto se estiver casada com um muçulmano. E se quiser abdicar dessa liberdade é uma liberdade que lhe assiste. O liberalismo começou na questão religiosa e é muito estranho que tantos estudiosos do iluminismo escocês e dos founding fathers americanos o esqueçam. Já um pastor pode dizer o que quiser às suas ovelhas. É-me indiferente. É sabido que a condição feminina nos países islâmicos fundamentalistas - no sentido utilizado por Eisenstadt - é um instrumento de coerção. Não existia cidadania na Kabul dos talibans e essa ausência começava em casa. Numa sociedade liberal, o fetiche religioso tem de conviver com super-mecanismos que condicionam o desempenho social das pessoas. A religião passa de um affaire d'état para um affaire de soi. Por último, como romântico incurável - o amor é sempre uma tragédia - , aprecio a ideia de uma mulher se despir da liberdade de culto para vestir o seu amor.
posted by FNV on 11:29 da tarde
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TENTEM OUTRA VEZ:
O comentador das 16.21h diz que "a polícia vai tentar arranjar confusão". Viu-se. Estes indivíduos utilizam a morte de uma pessoa para promover as suas agendas sociais-fascistas. Deve ser por isso que tapam a cara.
posted by FNV on 9:48 da tarde
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100% AMADORISMO:
Esta história é uma desgraça. Quem a enviou a MFL ignora coisas básicas sobre o combate político pós-medieval. Só nos metemos com jornalistas se: a) eles tiverem mentido b) eles declararem apoio ao nosso adversário ( isto no mundo anglo-saxónico) c) eles truncarem declarações nossas. Usar uma historieta de queixinhas e desenhas de viagem é confrangedoramente patético. Por falar em profissionalismo, a entourage de MFL também podia pedir à candidata para não repetir o que fez na entrevista à RTP1: nenhum líder político deve falar em público com os punhos cerrados. É uma mensagem (quase) universal de ameaça e de agressividade.
posted by FNV on 3:10 da tarde
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AVISO À NAVEGAÇÃO:
Eu não defendo "os excessos de Israel" nem defendo esta guerra. Não teorizei uma linha sequer sobre o assunto ( ao contrário dos especialistas instantâneos). O que tenho escrito é sobre o tratamento mediático e retórico da guerra em Gaza.
Partilho com o meu amigo - e ex-companheiro no Mar Salgado - Pedro Caeiro a aversão a dois tipos de argumentos:
a) o argumento de autoridade. b) o argumento da idade.
Você conseguiu fazer o pleno.
posted by FNV on 11:40 da tarde
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O MILAGRE DE DAVID:
O dr. Mads Gilbert, o tal médico norueguês "marxista radical" que tem aparecido nos media a chorar baba e ranho pelas vítimas inocentes da guerra em Gaza, explicou em tempos que compreendeu o 9/11 e que apoiaria novo ataque terrorista aos USA "no contexto actual" ( presumo que o contexto ainda hoje é o mesmo). Agora o dr. Gilbert é um pacifista humanitário. O que Israel não faz pelas pessoas.
posted by FNV on 2:57 da tarde
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QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU:
Parece que se preparam "manifestações espontâneas". Já não existe a árvore de Natal ( via-se do Marquês, não era?), mas há sempre umas montras da Gucci e uns stands da Mercedes. Não receio muito. A estes sociais-fascistas ( ou para os outros, os de cabedal negro gay-fashion que querem expulsar os imigrantes) aplica-se a receita das claques: isolamos os tipos e damos-lhes bebida e uns carros velhos para eles se divertirem. Depois podem voltar para o esterco do Bairro Alto - com a mesada dos papás - e discutir os requentados Foucault e Negri até às tantas.
posted by FNV on 10:52 da manhã
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O QUE ARDE CURA:
Eu sei que doeu, mas não era preciso fingir que tem estado em Marte.
Tropeça nas palavras como o romeiro que escolhe o caminho tropeça nas pedras. Sorri quando tem de ser e não quando está a mentir. Sim, quando mente não se orgulha. Não pede, não promete. Diz o que vai fazer e quando não sabe não diz. A elegância com que tratou os adversários internos transformou-os em aliados. Estou-me nas tintas para os 23%. Podiam até ser 12%. A forma de fazer política que MFL está a mostrar aos portugueses não tem preço.
Mais de duas semanas de "massacre" operado por uma força militar poderosíssima que ataca "indiscriminadamente civis", sobretudo crianças e velhos, e "destrói escolas e hospitais" numa das áreas mais densamente povoadas do mundo. Resultado esperado? Dezenas de milhar de mortos certamente, talvez centenas de milhar. A Al-Qaeda conseguiu assassinar 3.000 pessoas em poucas horas. Não. Segundo a última contagem pouco mais de mil. Tragicamente alguns civis e crianças, sendo razoável esperar que alguns desses mil mortos sejam os tais guerreiros que cansados de enviar rockets enfrentaram no solo o exército sionista. Como é possível? Com a propaganda. A mesma propaganda que assegurava que nos campos de extermínio chineses, vietnamitas, soviéticos e cubanos, existia apenas um punhado de delinquentes burgueses e tudo mais era invenção da CIA.
Suponhamos que a mulher pesa 60 quilos. Agora percebem como é fácil e rentável introduzir droga nas cadeias. Trocar seringas é que não. É imoral e perigoso.
posted by FNV on 1:39 da tarde
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RENÉ CHAR, SEMPRE:
Les boueurs de poésie sont en général privés du sentiment de la poésie; inaptes à percer les voies de son action. Il fau être l'homme de la pluie et l'enfant du beau temps.
( Moulin premier, 1936)
posted by FNV on 1:25 da manhã
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GAIOLA DAS MALUCAS:
Com o país a braços com uma "crise gravíssima e sem precedentes ", o parlamento entreteve-se hoje com a representatividade de "Os Verdes", as habilitações literárias do dr. Rangel e as queixas do dr. Portas sobre perguntas sem resposta, entre açordas várias. Pois. Debater na TV as estratégias dos dois maiores partidos para combater as dificuldades que aí vêm é que não pode ser. Para isso temos o parlamento.
A realizadora, Raquel Freire, diz ao DN que o filme"não é sobre o amor romantizado das historinhas de cordel e das telenovelas. Aqui não há príncipes encantados". Diz também que o filme inclui uma cena de galinhas a correr sem cabeça que é "uma metáfora" do filme inteiro: Somos sobreviventes , sem cabeça, a sangrar por todo o lado, mas continuamos a correr e a aproximar-nos uns dos outros e a querermos amor(...) Todos nós comemos galinhas mas não queremos ver como elas morrem" Não vi o filme, comento apenas o que foi dito ( desarme de patrulheiros) . Isto seria de uma originalidade comovente há 50 anos. Sublinhe-se a fobia persistente às histórias de amor sexistas-imperialistas que envolvem príncipes encantados e donzelas. Mas o mais importante é a nudez: se Raquel Freire assinasse um remake de Casablanca, veríamos Bogart a limpar o rabo no WC e Ingrid Bergman a palitar os dentes.
1) Se a rapariga se perder de amores e quiser casar-se e enfiar-se num apartamento na Brandoa e deixar de usar mini-saia e nunca mais conduzir ( o que até pode ser bom) , o que temos nós a ver com isso? Nada.
2) Se a rapariga emigrar com o marido e for viver para Mishapur e ficar debaixo da pata da Sharia, o que temos nós a ver com isso? Por acaso eles vêm até cá tentar impedir-nos de ver a Júlia Pinheiro? Não.
3) Se a rapariga ficar por cá e converter o marido às morcelas, ao tintol, à chapadita ocasional e ao Benfica, aí podemos ter um problema. Será uma inqualificável atitude neo-colonialista com a qual a mulher, armada com artefactos sexuais-imperialistas, pretenderá subjugar as massas árabes. Nunca.
Tenho medo que ela morra. Ela tem sete meses e sofreu um AVC hemorrágico. A mãe está sentada à minha frente e tem esperança. Já sei que a menina não tem salvação. E dou-lhe ainda mais esperança como quem vende raiva. Sei o que se vai passar a seguir. Os corredores brancos, as árvores no parque de estacionamento, o corpo a soltar-se aos poucos. Está frio e escuro o meu gabinete. Não tão escuro nem tão frio como vai ficar o olhar desta mulher. Para sempre.
posted by FNV on 1:45 da manhã
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PEDRO GARÇÃO, SEMPRE:
Quem de meus versos a lição procura, Os farpões nunca viu de Amor insano, Nem sabe quanto custa um vil engano Traçado pela mão da formosura.
O dr. Menezes, na SIC-N, disse ter o dr. Armando Vara em grande consideração. Depois criticou a dança partidária dos lugares apetecíveis ( não se riam). Finalmente a jornalista lá lhe arrancou qualquer coisa. Reconheceu então que o "comportamento da CGD" pode ter sido discutível "do ponto de vista prático". Este é o homem "que se expressa muito melhor do que MFL": o homem que acredita em comportamentos criticáveis do ponto de vista teórico.
1)Ainda bem que sabes como se sai da Trofa. Agora aproveita, passa por uma casa correcional e deixa lá o Bruno Alves. Não te esqueças de mandar pagar a continha do hospital, porque os moços da Trofa não têm conta no BPN.
2) Ele há matraquilhos com mais dinâmica do que a equipa que actualmente usa o nome do Glorioso. Só ganhámos porque o árbitro foi amigo ( é melhor gastar a honestidade toda com estes gajos porque não servem para mais nada).
posted by FNV on 1:04 da tarde
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OS TRIBALISTAS ( e formalistas):
1) O argumento de Vasco Pulido Valente - MFL é que não quis ser deputada por isso agora não tem de se queixar - é absurdo. Se dermos crédito a isso, qualquer líder partidário terá de nascer nessa gamela de acéfalos que é como VPV classifica ( nos seus dias bons) o parlamento.
2) É delicioso constatar a súbita reverência pelo parlamento, sobretudo nos media. Onde antes só havia preguiçosos, yes men e caruncho, agora há a grande casa da democracia. E também é instrutivo perceber a selecção dos jornalistas-opinadores: a TV serve para pôr cidadãos no detector de mentiras, para fingir eleições virtuais, para discutir quem dorme com quem; já usar a TV para debater o país numa altura de crise é uma aberração nunca vista e um crime lesa-democracia.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.