O capítulo III da Convenção saída da Conferência da Haia ( iniciada em 1911 e ratificada em Janeiro de 1912) dizia respeito às drogas fabricadas - heroína, cocaína e morfina. Este capítulo incluiu diversos artigos que tentaram limitar a produção, o licenciamento e a distribuição. Os alemães objectaram, e com razão, que não assinariam a Convenção a não ser que importantes parceiros ausentes na conferência - Turquia, Sérvia, Bolívia, Peru, Suiça - viessem a ratificar a mesma. Outros países foram sensíveis ao argumento alemão: qual o interesse em limitar a produção e comércio das drogas se tal limitação não for global? Na preparação da conferência, Hamilton Wright - um proibicionista fanático que agitava o fantasma de multidões de negros cocainómanos - , conselheiro oficial do Departamento de Estado para os "international narcotics matters", estava preocupado com Portugal. Através de Macau os portugueses continuavam a fazer entrar ópio na China e não viam com bons olhos uma limitação parcial do comércio, a menos que outros parceiros ( e rivais) se comprometessem a aceitá-la. Os que imaginam uma reviravolta no sistema de controlo - e que sonham que algum dia os EUA concordariam com tal coisa - fazem bem em pensar no aviso alemão. (cont.)
Bibliografia: Mc Allister ( 2000), Vicente ( 2003)
Agressivo e bem preparado ; ilusionista e deselegante.
1) Foi para o debate com uma ideia fixa - discutir os efeitos da crise em Portugal - e levou a matéria estudada. 2) Pretendeu que discutia o papel de Portugal no parlamento europeu, e as opções europeias em diversas áreas, enquanto na verdade discutia apenas o impacto da crise no país. 3) Usou sempre a forma "candidato Vital" como método de desqualificação do adversário (quase de certeza recordado da boutade de Almeida Santos). Método tão bom quanto irrepreensível: todos são candidatos. Se Louçã tivesse tratado Cavaco Silva por "candidato Cavaco" nas últimas presidenciais, estou certo de que Paulo Rangel protestaria.
Vital Moreira perdeu o hábito de ser vigorosamente contrariado. Doença da Faculdade de Direito de Coimbra? Talvez.
Já agradeci ao João Galamba o artigo e também prolonguei o debate na sua caixa de comentários. Os melhores especialistas ingleses em contra-espionagem , na WW II, não tocavam num cabelo dos presumíveis espiões e sabotadores nazis ( ou a soldo dos nazis). Havia ( e há) todo um mundo fascinante de técnicas psicológicas para ser usado. Em contrapartida, os ingleses executavam suspeitos sem julgamento.
posted by VLX on 12:58 da tarde
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OTELO DIALÉCTICO-25 (II):
"Falta cumprir Abril", diz Otelo à TSF. Todos os anos falta cumprir Abril. Abril é difícil de cumprir. Sobretudo quando em vez de tentar cumprir Abril, muitos ex-futuros revolucionários andaram entretidos a fazer negócios com regimes fascistas e corruptos. Lá para as bandas quentes.
posted by FNV on 12:10 da tarde
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OTELO DIALÉCTICO-25:
"Foi o 25 de Novembro que restituiu ao país a pureza dos ideais do 25 de Abril" ( No Público, hoje). Festeje-se então, e sem reservas, o de Abril e agradeça-se o de Novembro.
posted by FNV on 11:26 da manhã
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NÃO ESQUECER!!!!
Agasalhos. Principalmente para os miúdos. Dizem que amanhã estará frescote, em Vigo...
Tive acesso a uma pequena lista – desconheço se verdadeira – dos próximos convidados da SIC – NOTÍCIAS para comentarem momentos altos da vida de diversas personalidades.
Assim, para o aniversário do Senhor Cardeal Patriarca será convidada Fernanda Câncio, para o de Paulo Rangel será Vital Moreira (embora o Ministro Santos Silva tenha exigido estar também presente), para o de Manuela Moura Guedes será José Sócrates (embora o Ministro Santos Silva tenha exigido estar também presente) e para o de Pacheco Pereira será o Ministro Santos Silva (embora o Ministro Santos Silva tenha exigido estar também presente).
Scolari ainda não respondeu ao convite para comentar o aniversário de Vítor Baía mas, asseguram-me, se faltar, o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol já prometeu comparecer (embora o Ministro Santos Silva tenha exigido estar também presente, desta vez não me perguntem por que razão...).
Foram ainda convidadas diversas pessoas ligadas à hierarquia do Ministério Público mas, lamentavelmente, não tinham agenda para mais comentários. Diz-se que Luís Filipe Meneses se tem oferecido para comentar qualquer data relevante de Rui Rio mas isso não está ainda nos planos da SIC – NOTÍCIAS e, curiosamente, Santos Silva não terá visto relevância em participar nesse concreto programa ("como na situação muito particular da Fernanda Câncio, a liberdade de expressão neste caso será seguramente total, or else..." – terá dito)...
Jorge Nuno Pinto da Costa comemora hoje 27 brilhantes e ofuscantes anos à frente do Futebol Clube do Porto e a SIC NOTÍCIAS convidou Rui Santos para comentar.
Que simpatia!
Simpatia para com Rui Santos, claro...
posted by VLX on 11:16 da tarde
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DROGAS, PROIBIÇÃO E CRISE (V):
Um dos erros de análise mais frequente cometido por quem discute potenciais alterações ao actual sistema de controlo mundial da produção e comércio de estupefacientes é o de julgar que ele pode ser alterado por decreto. Esse erro resulta da ignorância acerca da forma como o sistema foi estabelecido: demorou meio século, teve antecedentes de outro tanto e sofreu muitas peripécias pelo meio. OS EUA lideraram o processo desde o início, e o início tem origem na Prohibition ( Lei Seca). Os fundamentos assentaram numa mistura de fanatismo puritano com uma peculiar concepção do Bem, temperada com o way of life dos vencedores da Guerra da Secessão. Se relermos Tocqueville lá encontraremos a admiração do francês pelos códigos do Connecticut: tão liberais ao permitir a participação do povo nos assuntos públicos e a eleição de todos os agentes do poder executivo quanto castrantes ao proibir os cabelos compridos ( precavidos...), o adultério - punido com pena de morte e ao regular escrupulosamente a quantida de vinho servida nas tabernas. O percurso até ao Volstead Act (que eleva a Temperança a lei federal, em 1919) é fascinante mas não cabe aqui. Recordemos ainda assim que a WCTU ( Women's Christian Temperance Union) e a ASLA ( Anti-Saloon League of America) fundadas, respectivamente, em 1784 e 1853, foram motores incansáveis na primeira tentativa bem sucedida de dominar a intoxicação. A Temperança afrontava o álcool armada com o aparelho religioso-cultural dos primeiros colonos: associava-o à pobreza, à dissolução de costumes e à indigência moral. A chegada de milhões de imigrantes católicos e bebedores ( polacos, alemães, irlandeses e italianos) incomodaram e estimularam a cultura sober e old timer. Lentamente caminhou-se para perfeição. Quando as primeiras conferências mundiais sobre narcóticos ocorrem - Xangai (1909) e Haia (1912)- já os americanos há muito estão no terreno. Se o leitor se recorda, o bispo Brent e o senador Taft tinham já lançado nas Filipinas ( 1904) a sementinha: interdição absoluta de produção, comercialização e consumo de opiáceos. No próximo número examinaremos o longo caminho até ao Opium Protocol de 1953.
Bibliografia: diversa, incluindo Jay (2000), Junger (1968), Behr (1996), Vicente (2003).
E a não esquecer que depois do 9/11 nenhum alvo norte-americano relevante foi atingido.
posted by FNV on 11:10 da tarde
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UMA NOITE DE CHUVA (XXIX):
Dá-me outra vez essa artéria. Deixa-me ver bem. Onde tropeçou? Um coágulo fugidio tem todas as habilitações. Pode interromper uma aula. Ou um duche. O que lhe admiro é o poder de síntese. Uma simples contracção e estás em Roma aos sessenta e três. A idade certa antes do tempo. Proezas.
Abertura do telejornal da hora de almoço: "Sócrates quebrou o silêncio sobre o caso Freeport". Isto é muito bom. Isto já nem é novilíngua, isto é superlíngua.
Imagino que aqueles que andam sempre a defender a separação entre o Estado e a Religião irão cair ferozmente sobre José Sócrates por este se lamentar pela cruz que diz carregar.
posted by VLX on 11:14 da manhã
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TEMPO PERDIDO NA RTP:
Os portugueses a pensar que ele iria falar dos seus problemas e o Primeiro-Ministro foi antes falar dos seus problemas.
Provocam, não assumem que provocam e ainda temperam com mau gosto: um bom retrato da impotência abafada do Portugal salazarento.
posted by FNV on 9:34 da manhã
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NÃO COMPREENDO:
O ódio, o desprezo ou o enfado com a candidatura de Vital Moreira. Vital escreve, lê, discute, tem vida para além da política. Não esqueço que divergiu do PCP numa altura muito difícil, bem antes do estouro da manada. Não é um roberto nem um soldadito.
Vê-se a entrevista de Sócrates à RTP. Já aqui escrevi, na altura do affairlicenciatura, que o PM devia demitir-se e concorrer de novo. A reacção de um homem a uma acusação infame mede-se pela repulsa com que a enfrenta. Não há escapatória. Vejo aquele homem na minha televisão. Vejo um homem que foi acusado de ser batoteiro com as suas habilitações e com a sua actividade de engenheiro, e agora vejo-o acusado de ser um político corrupto. E aquele homem fala, e explica e está. Outra vez. Não há escapatória: ou é um enorme estadista ou é um mentiroso compulsivo. Nunca saberemos.
posted by FNV on 10:18 da tarde
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UMA NOITE DE CHUVA (XXVIII) *:
E essa hora. Que já não esperas nem recebes. Uma laranjeira, uma mesa, um copo. Os caracóis sentados ao pé de ti, atentos e corteses. Examinas os minutos quase líquidos. Lá fora as pessoas sem data. Moderníssimas. Fazem chaves para fechaduras que não existem. Tratam de ti.
Para os blogues-dobermann de Sócrates, só existem dois tipos de adversários: os que já morreram e os que ainda mexem. Acabarão como o Brejnev, que disse a uma bailarina do Bolshoi para pedir o que quisesse. A moça respondeu: Abre as fronteiras. Brejnev, embevecido, sorriu e murmurou: Compreendo, queres ficar sozinha comigo.
Eu cá sei porquê. A Marlen é licenciada em ciências políticas? Prefiro licenciadas em jornalismo.
posted by FNV on 1:09 da tarde
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TER "BOA BLOGOSFERA":
É isto que escreve o Pacheco Pereira, mas não só. Ando aqui vai fazer seis anos, em Junho, e já notei que os jornalistas-bloggers não convivem bem com os bloggers que dispensam a boa imprensa. Como que os estranham.
posted by FNV on 9:15 da manhã
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PERDIÇÃO LUSA ( novela, 2º episódio):
O criado de José não quer que se saiba onde está o contador da electricidade. Titica continua preocupada com o Condestável. Em Rosalândia, Ana e Elisa querem ir para a praia e para o campo ao mesmo tempo. José deixa-as tentar. Rui deixa Ferreira sozinha sob o pretexto de que está muito ocupado com o seu carro antigo de colecção. Mixuruca procura voluntários para seu estudo sobre a excitação sexual e concorre ao nobel da abébia.
posted by FNV on 1:15 da manhã
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ESCRITURAS PÚDICAS:
Como podem ler no post anterior, um governante julga que estamos proibidos de consultar as escrituras públicas da família Sócrates. O Obama e a sua transparência só são exemplo quando dá jeito. No resto do tempo vale a máxima do Mestre Pedroto: descontracção e estupidez natural.
O secretário de Estado da Justiça acha que uma escritura pública não deve revelar-se publicamente. Sobretudo se se trata de escrituras públicas do cidadão primeiro-ministro. Pessoalmente, posso pensar que é perseguição; mas é a vida. Podem inverter o ónus da prova a todos os outros cidadãos, meter-se na sua vida privada (realmente vida privada), fabricar culpados na Administração Fiscal, publicar dados contra a vontade dos próprios, trinta por uma linha. Se se divulga uma «escritura pública» («pública», insisto), vem a intimidade abaixo. Dói, não dói? É a vida.
* enviado por um leitor devidamente identificado.
posted by FNV on 11:09 da tarde
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LIBERAL À MODA ANTIGA, CLARO (*):
Bastava estar atento a esta coisa estapafúrdia para se perceber que o cidadão, o cidadão solitário, é que continua a ser o grande inimigo do Estado, que permanece no bailarico de braço dado com as corporações (que arregimentam o dinheiro das campanhas eleitorais e a «riqueza do país»). É fácil atacar, ameaçar, vigiar e inverter o ónus da prova quando se trata de contribuintes individuais. O resto pia mais fino.
Adenda: O Eduardo Pitta diz-me que o processo contra o sr. Smith já deu entrada. Acredito no Eduardo e assim tudo se compõe.
posted by FNV on 12:50 da tarde
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JORNALISMO DE OPORTUNIDADE:
A TSF esteve toda a manhã entretida com um pilha-galinhas. O país pode descansar com este jornalismo adolescencial e das boas causas: não há nada mais importante.
posted by FNV on 12:15 da tarde
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REGRESSANDO A CÍCERO:
Imaginem-se num navio em alto mar. A tempestade é terrível, a tripulação está inquieta, o rumo é incerto. Qual destes personagens vocês escolheriam para comandar o navio: MFL, Cavaco, ou Sócrates?
Os quatro golos em Setúbal foram quatro pregos no caixão onde jaz o futuro do Glorioso.
posted by FNV on 11:04 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
1) No superior interesse do Benfica, espero que percamos os próximos três jogos. Acaba-se a fantasia da estabilidade e os aldrabões regressam à reserva de microcéfalos de onde nunca deviam ter saído.
2) Olegário não faz por mal. Ao contrário do Guímaro ( das quinhentolas), do Calheiros (o brasileiro) , do Jacinto Paixão ( o das meninas) e do Augusto Duarte ( o dos problemas pessoais). Faz porque sim. Uma ligeira melhoria.
Graças um leitor do João Gonçalves, que não consegui ainda linkar.
posted by FNV on 12:13 da tarde
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DOIS MOMENTOS DE EXTREMA GRAVIDADE:
Nestes últimos dias. Disseram-me que eu era um dos novos líderes de opinião ( nos blogues) e convidaram-me para uma coisa. Fiquei de cama o resto do dia e só melhorei quando revi - em VHS - o golo do César ao FCP na final da Taça de Portugal de 1980 ( o adjunto do Pedroto chamou-nos "mafiosos e comunistas", o que dá bem ideia da azia tripeira pois nestas matérias são uns puristas). Depois foi ainda pior. Encontro uma senhora de 63 anos que me diz ( e a um irmão meu, infelizmente) ter sido a minha primeira educadora no Jardim-Escola João de Deus. E diz que me expulsou da sua sala apesar dos protestos da directora de então. Tive de mudar de educadora com apenas três anos de idade. A risota já corre na família. Moral da história: na minha acácia é que estou bem.
posted by FNV on 11:51 da manhã
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O MAIS BELO POEMA SOBRE FUTEBOL:
A meio da semana, em Pádua, numa tarde escura e fria, com pouca gente no estádio, luta-se para não descer de divisão. Muito longe dos horríveis panegíricos de Alegre, o poema come a realidade. Senhoras e senhores, Umberto Saba:
Sui gradini um manipolo sparuto si riscaldava di se stesso. E quando - smisurata raggera - il sole spense dietro una casa il suo barbaglio, il campo schiarì il presentimento della notte. Correvano su e giù le maglie rosse, le maglie bianche, in una luce d'una strana iridata trasparenza. Il vento deviava il pallone, la Fortuna si rimetteva agli occhi la benda.
Piaceva essere così pochi intirizziti uniti, come ultimi uomini su un monte, a guardare di là l'ultima gara.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.