NON EST HIC: O radar do Mar Salgado detectou uma pobre alma que anda aí à procura de Nuno + Mota + Pinto. Pedimos encarecidamente ao bravo internauta que, se obtiver qualquer indício sobre o paradeiro do nosso saudoso Comandante, no-lo comunique.
OS PEIXES DO MAR SALGADO - Nº 4: O JAQUINZINHO: A semana trouxe à rede do Mar Salgado a espécie de que vos falaremos hoje: o popular Jaquinzinho (Trachurus trachurus: Lin., 1758).
Todos conhecem este engraçado perciforme (foto aqui), pequeno cosmopolita cujo habitat vai desde a Europa do Norte até ao Senegal e do Índico ao Pacífico ocidental. Não se importa de viver em sítios com nomes como Skagerrak e Kattegat, e muitas vezes acaba (no prato) em lugares como Wezembeek ou Tervuren.
Caracteriza-se por ser uma espécie gregária, não gostando de nadar sozinho. Quando chega a Carapau, diverte-se com os companheiros ensaiando corridas (daí a conhecida expressão Carapau-de-corrida), que todavia nunca toma muito a sério, enfastiando-se depressa.
Imprevisível, nada em zigue-zagues constantes, dificultando a acção dos predadores e dos observadores.
No plano gastronómico, tende a aparecer acompanhado de grandes açordas ou escabeches, embora a sua versatilidade seja manifesta (pode ser frito, fumado, assado, etc.). Actualmente, desponta a moda de congelar ou enlatar o Jaquinzinho para degustar em momento posterior.
A sua proverbial graça não belisca a avisada prudência: como diz um velho ditado chinês, "não há jaquinzinho que desdenhe de chegar a chicharro".
posted by PC on 1:45 da tarde
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NEM MAIS: Rodrigo Moita de Deus, n'O Acidental, escreve um post percuciente sobre as diferenças entre o político de esquerda e o de direita. É um excelente pretexto para uma reflexão filosófica acerca da diferença entre acção e intencionalidade.
ÂNIMO!: Ainda não vi o original, mas já vi a miniatura da serigrafia com que a Ânimo nos presenteou no seu aniversário. Sei que, amanhã, o nosso Neptuno, rebocado pelas suas alimárias, a irá receber das mãos do António Colaço.
É quase tão bonita como o gesto da Ânimo de distribuir presentes no seu próprio aniversário. Mas também, dali, o que é que se poderia esperar?
De toda a tripulação, para a Ânimo, vai já, por via virtual, o abraço grato que o Neptuno se encarregará de dar pessoalmente amanhã.
PS: António, cuidado com a carteira, que os tempos estão difíceis até para os deuses.
PS 2: Este post vai sem links porque o blogger se passou outra vez: nem links, nem bolds, nem itálicos, nem coisa nenhuma. Um dia destes temos de escrever aqui por sinais de fumo. (Act.: já temos blogger outra vez, e cheio de botões cuja utilidade desconheço).
posted by PC on 11:46 da tarde
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AS TIME GOES BY: Agora, no meio de uma conversa sobre qualquer tema que envolva convicções, dizemos aos colegas de curso: "tu conheces-me há 20 anos".
Claro, também há os amigos de infância. E, curiosamente, essa frase nunca surge.
posted by PC on 11:37 da tarde
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FAIT DIVERS: À entrada para a reunião que iria decorrer na sede do PS, onde se discutiria a sucessão na liderança do partido, Sócrates foi recebido com uma "espontânea" manifestação de apoio, por parte das "mulheres socialistas". Muito interessante.
Não deixa de ser curioso verificar que, quase em simultâneo, os dois maiores partidos políticos portugueses passam a ser liderados (caso se confirme a provável opção Sócrates) por figuras normalmente associadas a uma desejada renovação geracional. É igualmente curioso verificar que ambos sofrem do mesmo problema dentro e fora dos respectivos partidos: um problema de credibilidade.
O seu desapego ideológico pode (e deve) traduzir-se numa vantagem para o país - que não pode continuar atolado em mundividências do século passado - e a realidade exige que ambos demonstrem que o seu valor não é meramente mediático e eleitoral.
PENA E COMISERAÇÃO: Causa dó a situação particular de Ferro Rodrigues. Não gosto do homem, não lhe gabo nem felicito o gesto cobarde de se ter demitido e de não pretender confrontar-se corajosamente com os gabirus que há muito o queriam fazer descer do poleiro. Não sei nem sequer me interessa saber se ele antecipou durante a campanha, na noite das eleições europeias, ou, mais recentemente, nos Açores, as abjectas opções dos seus camaradas mais próximos face à sua pessoa. Mas a verdade é que ele não merecia o que os amigos lhe fizeram: desde sexta-feira que ninguém se incomoda, ninguém se importa, ninguém se insurge contra a demissão de Ferro (omito deliberadamente a posição de Ana Gomes, por pura caridade de adversário e opositor que sou). Estava tudo à espera disto e ninguém queria coisa diferente (à excepção da já referida), e ele parece só ter percebido a realidade agora (a aludida compreenderá um dia destes).
Por fim, um engraçadinho cheio de humor macabro veio espetar a estocada final fazendo circular pela comunicação social a ideia de que Ferro Rodrigues se candidataria à Presidência da República. Isto não se faz!...
posted by VLX on 1:15 da manhã
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A ESQUERDA RUGE: O próximo governo ainda não está sequer formado, mas já há quem o acuse de não ter determinadas políticas ou de prosseguir políticas erradas. A extrema-esquerda organizada (CDU e BE) declararam já votar contra as ditas políticas e contra o governo, não sabendo sequer quais serão. Não seria mais razoável esperar para ver? Ou razoabilidade é um conceito incompreendido pela extrema-esquerda?
posted by VLX on 1:00 da manhã
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"SEM DENTES, SEM DENTES...": Os mais velhos recordam-se certamente daquela velha historieta que nos pretendia assustar e fazer ter juízo, a do rapazinho de bicicleta que gritava à mãe: "Olha mãe, sem uma mão!...", e depois: "olha mãe, sem duas mãos!..." (ao que a mãe, distraída, respondia sempre: "que giro, meu filho..."). A história acabava invariavelmente com a bicicleta desfeita e o miúdo sem dentes (variando o número), quando não mesmo com a cabeça partida e um braço ao peito (segundo percebi logo na infância, o final da história variava em função da bravura do rapaz a quem a mesma era contada).
Vem isto a propósito da mais recente brincadeira. De há três ou quatro anos para cá, apareceu e vulgarizou-se rapidamente a propriedade de pequenas trotinetes a motor. São um veículo realmente fantástico, agradável e prático, e a redução do seu preço tem levado à democratização das pequenas máquinas, ao ponto de hoje até podermos ver miúdos, criancinhas de dez anos ou menos a passearem-se nelas.
O problema não é esse. Não tenho nada contra o facto dos pais entenderem oferecer aos filhos trotinetes a motor (motorizadas, o que quiserem. É uma coisa que eu poderia fazer, e provavelmente farei um dia). O que me incomoda é que os paizinhos não ensinem as crianças a terem cuidado com os brinquedos que lhes são oferecidos, que não lhes digam para andarem nos passeios.
E o resultado é que rapazinhos de dez anos ou menos andam de trotinete a motor, não nos passeios, mas sim nas ruas, como se de motinhas se tratassem, sem terem a mais pequena noção dos perigos e das regras de trânsito.
Aqui há dias vi um miúdo, que seguramente não tinha mais de dez anos, a andar com uma máquina dessas na rua, numa rua perigosa e com um cruzamento complicado, e o rapazinho não morreu por pouco, desfeito por um veloz autocarro que lhe passou a centímetros. Convinha que os paizinhos pensassem nisto, já que nem sempre Deus põe a mão por baixo.
posted by VLX on 12:49 da manhã
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LOUÇÃ ACUSA III: Passaram já quatro dias, quase uma centena de horas. Todas as manhãs passo os olhos por inúmeros e diversos exemplares da imprensa escrita mas em nenhum, quer por reportagem quer por artigo de opinião, se descortina uma voz crítica a Francisco Louçã. Este último, recorde-se, deputado e líder partidário, disse alto e em bom som que o nosso Presidente da República tomava decisões irresponsáveis e tinha cedido a interesses.
Não gosto, em geral, da figura do Presidente da República e, em particular, não gosto da figurinha deste que temos. Mas, continuo a dizer: é o que temos, é nosso, representa a nação e sobre ele não se pode dizer o que Louçã alardeia, de forma vil e ultrajante.
E, mesmo num país povoado por uma imprensa esquisita que ao líder do Bloco de Esquerda permite todas e as maiores alarvidades, mesmo que o tipo seja um inimputável e não mereça atenção, é estranho que seja eu, que tenho as minhas particulares ideias sobre a Presidência da República e sobre o Presidente da República, o único (ou dos poucos) que se indigna e se insurge contra as idiotices proferidas pelo infamante Louçã. Triste país.
SAMPAIO E O INTERESSE NACIONAL: Tendo sempre (ou quase sempre) assumido uma postura crítica relativamente à actuação de Jorge Sampaio com PR, cumpre-me elogiar a coragem e o carácter revelados por Sampaio na decisão de manter o actual parlamento.
Sampaio foi confrontado com uma situação em que o PM apenas aceitaria demitir-se e rumar a Bruxelas caso a estabilidade política fosse assegurada, com a nomeação de novo PM saído da maioria no poder. Por outras palavras, Sampaio foi confrontado com a opção entre o interesse nacional - de aproveitar a oportunidade única de ter um presidente da comissão europeia português, apesar das consequências internas imediatas - e as suas posições políticas e relações de amizade pessoais com a liderança do PS - que impediriam que Durão avançasse ou que motivariam a convocação de eleições antecipadas.
(A)normalmente, já estamos habituados a que a política funcione por interesses pessoais e ciumeiras - de quem já cobiçou o cargo que Durão vai desempenhar - ou por mero interesse partidário - em que a "janela de oportunidade" de chegar ao poder leva a que o interesse nacional (neste caso, óbvio) seja precipitado por essa mesma janela. Daí que não espante a reacção de algumas figuras da esquerda.
Neste caso e graças a Jorge Sampaio prevaleceu, e bem, o interesse nacional.
posted by Neptuno on 5:10 da tarde
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OS PEIXES DO MAR SALGADO - Nº 3: O BARBO CEGO DO IRÃO: Depois de termos estudado a Rémora e a sua associação com o Cherne, seguida do Peixe Palhaço, a primeira edição d'Os Peixes do Mar Salgado não ficaria completa sem uma referência ao Barbo Cego do Irão (Iranocypris typhlops, Bruun & Kaiser:1944), última espécie que conseguimos recolher nestes dias de mar batido.
Este simpático ciprinídeo habita no Rio Tigre, passando toda a sua existência em caves e grutas. Tímido, prefere a serenidade das águas paradas e não lhe agrada misturar-se com outras populações.
A pele é rosa, debruada por barbatanas azuladas que lhe dão um ar algo aristocrático. Não há diferenças de tamanho significativas entre a fêmea e o macho.
Como o nome indica, é destituído de visão, tendo por isso grande dificuldade em nadar: bate amiúde contra os obstáculos e as suas trajectórias são, as mais das vezes, erráticas.
Esse handicap faz com que repouse grande parte do tempo sobre o fundo, onde encontra meios de sobrevivência graças a um olfacto apurado. À semelhança da generalidade dos ciprinídeos, é omnívoro, conhecendo-se alguns casos de canibalismo.
O feitio recatado e o aspecto translúcido dificultam a sua observação, mais fácil quando se agita em fundos lodosos que, esverdeados, lhe dão o necessário contraste.
Infelizmente, encontra-se referenciado na IUCN Red List of Threatened Species, que lhe atribui o estatuto de "vulnerável": não estando "em perigo crítico", nem mesmo "em perigo", enfrenta um elevado risco de extinção a médio prazo.
Pois é. Bem me parecia que o riso não era o melhor remédio.
posted by PC on 4:18 da manhã
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QUEM É AMIGO...?: A esquerda anda para aí a rasgar as vestes por causa de o PR não ter convocado eleições antecipadas. Posso compreender esses lamentos de indignação quando vindos do PCP e do BE, mas fico confuso com os protestos do PS.
Na verdade, foi, com grande probabilidade, uma péssima decisão para o País, mas uma excelente decisão para oS interesses do PS.
Por um lado, conduziu à demissão de um líder notoriamente desgastado, fragilizado e sem discurso. Não estão em causa as razões que levaram a essa vulnerabilidade, mas apenas o facto inegável da sua existência. Como se sabe, a política tem uma lógica diferente do mérito ganho com a seriedade, a coragem e a competência. Em suma: a demissão de Ferro Rodrigues - que já se tinha anunciado como inevitável no momento das desastradas intervenções a propósito do processo Casa Pia -, por mais "injusta" que nos surja no plano ético e emocional, é um benefício para o PS.
Por outro lado, e em consequência dessa vulnerabilidade, não é certo que Ferro ganhasse eleições contra Lopes. Em caso de derrota, a obrigatória demissão de Ferro implicaria a escolha de um líder que aboborasse durante quatro anos na oposição. É muito duvidoso que esse cenário fosse do agrado de António Vitorino.
Assim sendo, só a falta de sentido estratégico, a reserva mental ou o secreto prazer de gozar com a direita podem levar os socialistas a queixar-se da decisão de Sampaio.
posted by PC on 3:35 da manhã
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A CULPA É DO CAVACO: Não percebo a onda de protestos contra Jorge Sampaio. Acredito que 50% daqueles que o elegeram (grupo onde me incluo) não votaram em Jorge Sampaio, mas sim contra Cavaco Silva. Daqui decorre, limpidamente, que a culpa do actual estado de coisas é de Cavaco Silva: não se tivesse ele candidatado à Presidência da República e, provavelmente, nada disto teria acontecido.
posted by PC on 3:20 da manhã
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POSTURA DIGNA? Umas das coisas mais engraçadas deste fim-de-semana é a mensagem posta a circular de que Ferro Rodrigues teve uma postura digna. Se não estou enganado, Ferro Rodrigues demitiu-se da liderança do PS por entender que o facto do Presidente da República (seu amigo) não lhe ter feito o jeito constituiria uma ofensa pessoal.
O jeito, recorde-se, era permitir a Ferro Rodrigues a sua manutenção na liderança do partido socialista à custa do país, da sua economia e bem-estar, evitando-lhe com prejuízo da nação inteira o confronto com um punhado de camaradas que o queriam retirar do poleiro.
Para não enfrentar a camaradagem em congresso, Ferro Rodrigues fugiu, fazendo-se de vítima. No meio disto tudo, onde entra a dignidade?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.