UM PAR DE GALHETAS: Ou de lamparinas, verdascas, festas de marmeleiro, caldaças, ou até das queirosianas ( Os Maias, I, pp 294) bolachas. Todas não seriam muitas para quem teve a ideia de proibir os galheteiros nos restaurantes a partir de 2006, segundo portaria do Diário da República publicada esta semana. Depois das colheres de pau, os galheteiros.
Parece que a intenção é assegurar ao comensal que está a sorver azeite virgem: como se fosse impossível o taberneiro pegar num frasquinho de azeite Romeu e enchê-lo com um lá da terra, daqueles cuja origem foram azeitonas que estiveram 15 dias a fermentar no lagar, à espera de serem esmagadas ( e isto porque há anos que ilegalizaram os lagares caseiros, pelo que muitos lavradores têm de fazer bicha no lagar autorizado da zona).
Esta gente não tem mais nada com que se ocupar?
posted by FNV on 1:29 da tarde
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APRENDENDO A GOSTAR DO PORTO III: Uma antipática tripeira é ainda mais antipática do que uma antipática lisboeta: deixa transparecer um leve tom neandartalesco, pré-civilizacional. Mas a comum portuense é muito mais afável do que a comum olisiponense: fala realmente connosco.
PS: Agradeço ao leitor a correcção da gralha do "conosco": nem a hora nem o cansaço do regresso da Invicta desculpam a ausência de revisão do texto.
posted by FNV on 3:01 da manhã
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APRENDENDO A GOSTAR DO PORTO II: Em Lisboa sorriem-nos de início, no Porto prometem-nos que talvez um dia. Antes assim, gosto bastante desta tensão erótico-social.
posted by FNV on 1:18 da manhã
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APRENDENDO A GOSTAR DO PORTO I: Tem gaivotas. Longos craaaaaa me vigiam enquanto estaciono o carro junto ao rio, lá para as bandas da Via Panorâmica. Uma terra com gaivotas protege-nos sempre das tempestades.
posted by FNV on 1:15 da manhã
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SIDEREUS NUNCIUS: Era o título do trabalho que Galileu dedicou em 1610 a Cosme II de Médicis. Galileu ainda não sabia explicar bem o funcionamento do telescópio, mas já sabia que grande proeza é juntar à numerosa multidão de estrelas que até aos nossos dias se têm podido observar com a faculdade natural, outras inumeráveis, nunca antes vistas. Lá onde estás hoje, Galileu (ou melhor, onde estiveste ontem), livre do religiosamente correcto da tua época, deves estar satisfeito. Titanicamente satisfeito.
RETORNO: O que Vasco Pulido Valente descreve hoje no Público não é um exclusivo português. Quando aqui abordei o caso Buttiglione fi-lo na perspectiva de um ressurgimento de uma reacção à sobre-modernidade: aos seus aspectos bons e aos seus aspectos maus. Não me interessava nada na altura a cruxificação que o politicamente correcto fez do homem: um erro não apaga outro. Interessei-me e interesso-me sempre que as concepções sobre o mundo começam por se ocupar dos (aparentemente) moleculares comportamentos individuais. Quando Buttiglione disse ( nunca o negou) que uma mulher sózinha cria pior uma criança do que uma mulher casada, não o fez por estar numa comissão: fê-lo para passar uma mensagem num auditório privilegiado, como se viu.
Nada disto é particularmente novo, tudo isto é geralmente inovador.
SENTENÇA: É uma mulher de 25 anos, há tempos manteve uma relação heterossexual, agora está a sair de um amor feminino. Pergunta-me ela: o que é que eu sou? E eu com isso...
O que me interessa é o sofrimento, categoria universal. Ela não consegue falar com nenhum dos amigos ou das amigas sobre a relação que agora acabou. Não consegue falar com o irmão, não consegue falar com os pais. É muito fácil dizer que a opção sexual de cada um é com cada um, quando temos microfones interessados e uma garganta desimpedida. Quando entre dois copos um amigo/a nos acena com a cabeça e se mostra interessado em saber mais; quando não abrem a boca de espanto e no dia seguinte casam a distância deles com a nossa culpa.
Esta mulher dedicou-se a outra, separaram-se, ela sofre. Mas sofre duplamente, como se tivesse roubado o fogo aos Deuses, porque não pode dizer. Vocês , pelo contrário, dir-me-ão que ela não diz porque não quer. Talvez. Talvez porque ela queira manter a roupa no corpo, talvez porque entenda que se falar ficará nua de cada vez que entrar no café, ou no sítio onde trabalha, ou na sala de estar dos pais; talvez porque passamos a vida a chafurdar nas opções sexuais uns dos outros. Talvez porque a vergonha aparece de cada vez que não conseguimos fazer esquecer a nossa nudez, de cada vez que não conseguimos encobrir o que não se pode esconder, como lembrava Levinas. Talvez seja por isso que a primeira coisa que os torcionários nos exigem seja a roupa.
De qualquer forma, este é um castigo que nunca deveria ter sido decretado.
posted by FNV on 11:44 da tarde
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SOBREVIVENTES:: Do Filoctetes de Sófocles, tradução de José Ribeiro Ferreira incluida no volume colectivo editado pela Minerva 2003 ( J.Ribeiro Ferreira publicou também O Drama de Filoctetes, INIC, 1989, um ensaio interessantíssimo sobre os vários "Filoctetes"), mas também serviria o de Teodectes, em que o herói é ferido não no pé mas na mão. De qualquer forma, um cheiro nauseabundo exala da ferida causada pela traição em corpo de serpente:
-Filoctetes:
Por isso mesmo te pergunto agora por um indíviduo infame, mas de língua temível e hábil. Onde está ele agora?
-Neoptólemo:
De quem podes tu estar a falar, senão de Ulisses?
-Filoctetes:
Não é desse que falo, mas de um tal Tersites que nunca se contentava com falar uma só vez, mesmo quando ninguém lho consentia. Sabes se ele ainda vive?
-Neoptólemo:
Não o vi, mas ouvi dizer que vive ainda.
-Filoctetes:
Tinha de ser. Nenhum malvado pereceu.
Tersites é uma personagem absolutamente insignificante na peça, mas que tem um papel extraordinário: reabilita Ulisses, distinguindo entre o mal feito em nome da cidade e o mal natural. Também permite a Sófocles a repetição de uma ideia que o persegue: a guerra colhe sempre os bons, só poupa os malvados.
"ACÇÃO SOCIALISTA" II: Perante a curiosa reacção dos meus companheiros de embarcação - e velhos compagnons de route - ao meu post anterior com o mesmo nome, tenho que acrescentar mais qualquer coisa.
Aquilo que pretendi criticar no Expresso dos últimos meses, por ausência, é precisamente a mais nobre - quanto a mim - característica do Mar Salgado: o pluralismo. Para que não sobrem dúvidas sobre as motivações para as afirmações seguintes, penso que Santana Lopes não tem perfil/competência para Primeiro Ministro, como continuamos a penosamente a comprovar com regularidade impressionante, face ao desenrolar de trapalhadas da sua autoria ou daqueles sob a sua liderança (?).
Voltando ao tema, excluíndo os comentadores externos ao jornal e que são militantes de partidos políticos, verifico que aquele que é considerado o semanário de referência da imprensa escrita:
- torpedeou Santana desde o primeiro dia como PM;
- assumiu como natural e insusceptível de ser questionada a dissolução da AR pelo Presidente - nã se viu (leu) uma voz discordante ou sequer apreensiva, apenas se questionando o timing do anúncio público da decisão; e
- culmina com uma primeira página digna de um jornal partidário de campanha, com um feérico "Sócrates Absoluto"!
Tudo isto me parece falho de credibilidade, isenção e pluralismo, características que costumava associar ao Expresso. Tudo aponta para uma linha de pensamento cujo aparecimento coincide com a chegada de Santana ao poder e com a chegada de Sócrates à liderança do PS. Ou talvez seja apenas impressão minha.
De qualquer modo, se tudo continuar como até aqui, Sócrates não precisará - como não precisou até hoje - de abrir a boca para ganhar as eleições. Basta deixar prosseguir a "campanha" em curso e aguardar pelos novos episódios dos nossos governantes folgazões.
Finalmente e como diz o PC, talvez tudo isto seja mera euforia minha motivada pela liderança do Sporting no Campeonato, à frente do segundo classificado que é o Boavista...
posted by Neptuno on 1:03 da tarde
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CARICATURA QUASE RETRATO:Aqui. Cada vez que um bonzo cai, o mundo fica mais leve.
posted by PC on 2:26 da manhã
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QUEM DIRIA!: O representante máximo do situacionismo anti-situacionista neste blogue (aka Neptuno), que regularmente nos alerta contra a degradação do País, dos costumes, da classe política, da capacidade de Vítor Baía e da qualidade das hóstias na Igreja de S. Paio dos Infelizes, ferreteia o Expresso de Acção Socialista.
Hah! O Senhor é só Um, mas o Demo tem mil formas!
Ainda havemos de ver o Neptuno a cancelar a assinatura do Povo Livre como forma de protesto contraa escolha da cabeça de lista por Coimbra. Ou talvez seja só uma fase eufórica causada pelo efémero lugar do Sporting à frente do segundo classificado no Campeonato.
PS: Nem tudo se faz a troco de alguma coisa.
posted by PC on 1:31 da manhã
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NÃO PERCAM: Na Pulga, a transcrição da análise feita pelo empresário-Pai-de-Santo Jorge Quintela no Domingo Liberal, onde se assevera que Santana Lopes tem formigueiros nas mãozitas quando acorda. Já cheio de remorsos de não o ter comprado, aguardo, anelante, o próximo número do promissor periódico.
posted by PC on 1:21 da manhã
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OS NEO-VIRTUOSOS: Acabo de ver na SIC-N uma peça que explica ( denuncia) até ao último euro a viagem de Morais Sarmento ao Príncipe. É engraçado, talvez porque não seja ganso de engordar pela boca, não me recordar de tanto afã explicativo e preocupação pelo erário público, noutras ocasiões em que muitos deles - jornalistas - foram integrados, por exemplo, em estimulantes visitas oficiais à Lapónia, ao Recife ou às Seychelles.
ANSIEDADE: Não costumo meter-me com o Neptuno, mas não pude deixar de notar a fúria indignada deste meu amigo de há 20 anos, habitualmente calmo e pachorrento ( uma das qualidades que eu mais aprecio nele) . Ó homem, tanto pau só porque o Expresso estampou na 1ªpágina o que toda a gente já sabe, ou seja, que Sócrates vai ganhar mas sem maioria? Xanax, Xanax...
posted by FNV on 1:33 da tarde
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"ACÇÃO SOCIALISTA": É o nome virtual de um pasquim que dá pelo nome de "Expresso". Ainda a viver do epíteto - outrora merecido - de jornal de referência, nos últimos dois meses tornou-se uma publicação engagée, seguidista e unanimista. Parece metade de uma orquestra, bem afinada, bem aprumada, mas... em que falta metade. A forma como tratou Santana e o seu Governo ainda se pode justificar pelos consecutivos "tiros no pé" que aqueles lhe proporcionaram. Mas a forma unânime como branquearam a dissolução da AR - como se se tratasse de um acto ordinário (que de alguma forma foi...) do PR - foi escandalosa. A edição do último Sábado, finalmente, já nos deixou perceber o que os move. Absolutamente.
A troco de quê?
posted by Neptuno on 1:13 da tarde
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UM IMENSO VÁCUO: No forúm da TSF está uma "empresária de Coimbra" a vociferar com os políticos; diz ela que "Portugal precisa de uma revolução, mas não como a dos cravos, que foi muito soft, mas de uma revolução a sério". Sim, de facto, felizmente foi "soft": no Campo Pequeno, em matéria de carne, só chegaram a entrar toiros, cabrestos e cavalos. Outro fora e esta empresária lá teria estado, de palanque e com um saco de pipocas ( não são contra-revolucionárias, pois não?) no colo, divertida e entretida. Com uma revolução a sério.
Desconheço a idade exacta desta empresária, mas pareceu-me ser claramente da "geração de sessenta". E apercebo-me, uma vez mais, que parte ( parte, não se excitem...) desta geração seria incapaz - como foi - de erguer um país desenvolvido, culto e moderno. No tempo da noite provincianamente sufocante do Estado Novo, eram pequenos e não puderam aprender a pensar: depois, outros pensaram por eles, e quando acordaram nos finais de 80, não tinham nada. Agora não sabem fazer mais do que rilhar os dentes.
Não são melhores nem piores do que os políticos que execram.
posted by FNV on 11:47 da manhã
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A MENINA E O LEOPARDO: Nem história de adormecer nem cantilena. A miúda de cinco anos, olhos grandes e cinzentos, longos cabelos louros e mãozitas debaixo da cara, deita-se aconchegada e pede ao pai: faz de leopardo bonzinho.... Como é? Simples: o leopardo deita-se ao seu lado, franze os bigodes, rosna baixinho na direcção da porta, vigilante. Depois, a intervalos regulares, dá umas lambidelas nas bochechas da menina. Passado um bocado já ela dorme, o leopardo levanta-se e vai para a sala fumar.
Não sem antes dar uma última mirada à garota adormecida, e pensar que perdeu uma boa oportunidade de uma ceia tenra e grátis. Até quando ela acreditará em leopardos bonzinhos? Enquanto acreditar em leopardos que fumam, claro.
CUIDAR DOS VIVOS: Acabo de ver no Jornal da 2 uma reportagem onde um jornalista-mergulhador, depois de filmar a vida subaquática das costas tailandesas, afirma que apenas 5 a 10% dos recifes de coral terão sido afectados pelo maremoto: os turistas scuba poderão continuar a maravilhar-se com um dos mais espectaculares lugares de mergulho do mundo.
Não sei se já haverá por aí gente a indignar-se, mas isto é jornalismo positivo, jornalismo responsável. Faz mais pelo futuro próximo da Tailândia do que mil carpideiras juntas: pior do que a lepra, são as gafarias.
posted by PC on 10:36 da tarde
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D.O.P.: Já terão reparado na conta em que esta gente nos tem. Foi assim com Guterres e os Estados-Gerais, com Barroso, e agora com as Novas Fronteiras: sempre que cheira a poder acenam-nos com "os independentes". Ainda hoje estava montado na TV o cenáculo habitual; na mesa com Sócrates, uma catrefa de "independentes"; na sala, os "dependentes": Fernando Gomes, Pedro silva Pereira, etc.
A coisa deve ser gizada mais ou menos termos: estão a ver o meu independente? É giro, não é? Bastante independente, não acham? Conhecem-no de algum lado? Claro que não, isso prova que este independente é verdadeiro. Os "independentes" são assim como que uma espécie de salpicões D.O.P. - denominação de origem protegida" - que nos impingem regularmente.
E não é por acaso que sempre que estão "independentes" na mesa, a sala está cheia de "dependentes". Sócrates deve aconselhar, calculo, qualquer coisa como isto: Vigiem-me esse independentes, não os conheço de lado algum. Aquele ali não está a parecer suficientemente independente. Olha aquele acolá: tira-o! Já foi independente nas outras eleições pelo PSD! É repetido! temos para a troca? Claro que uma vez no governo, os "independentes" são de uma utilidade extrema: os poucos que lá chegam, se por acaso borregam e ainda que a culpa seja do chefe, pagam a factura: com a prestimosa ajuda dos jornalistas das colunas do "sobe-e-desce", são cravados com o vergonhoso epíteto de "inexperiência política". Isto costuma ocorrer durante o primeiro ano do governo, os "independentes" são reenviados à procedência, e os "dependentes" ocupam os seus lugares. Que foram sempre seus.
posted by FNV on 9:17 da tarde
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TOYOTA: O inenarrável Dr.Manuel Pinto Coelho voltou à carga, desta vez com cúmplices: segundo o Público de hoje, criou a "Associação Portugal Livre de Drogas", com o "objectivo de contrariar a filosofia de que as drogas vieram para ficar e de que não existe outra solução senão adaptarmo-nos a elas através das estratégias de redução dos danos que elam provocam".
Nunca sei nestes discursos qual o intervalo temporal do "vieram para ficar". Se se refere aos factos, ou seja por exemplo à cerâmica com desenhos do cultivo e consumo da cannabis da cultura neolítica Yang-shao ( 4200-3200 a.C.) e ás pedras em forma de Psilocybe, os "cogumelos alucinogénios", encontradas na Guatemala e datadas de 100-200 a.C.; ou ás Guerras do Ópio no século XIX, e à Odisseia e ao ópio que os amigos de Ulisses bebiam ( a tesiarca dos Romanos), ou ainda aos vícios da Inglaterra vitoriana e ao Pharmacy Act de 1868; Ou a outra coisa qualquer. Por exemplo à extraordinária ideia de que foram os loucos anos 60 que "trouxeram " as drogas que Pinto Coelho se recusa a acreditar "que vieram para ficar" como a Toyota.
Estas coisas seriam cómicas se não resultassem depois num retrocesso trágico ( na redução de danos, no controlo do consumo, no combate à infecção por HIV, etc). A Suiça, país atrasado e como se sabe infestado de relativistas, já em 1999 apresentava os primeiros estudos conclusivos sobre programas de distribuição controlada de heroína: sempre que apresento estes estudos nas aulas, a cara de espanto dos meus alunos, muitos de mestrado e alguns já a trabalhar na área, é divertidíssima de observar.
Claro que se Pinto Coelho e a sua Associação conseguissem apagar séculos de cultura humana, conseguissem inventar novos neuroreceptores e neurotransmissores (despedissem com justa causa, por exemplo, a dopamina), e de caminho reinventassem a natureza humana, caminharíamos, estou certo, para um Portugal livre de drogas. Seríamos então um case-study internacional.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.