MISS LUANDA: É Jamila Fortes. Ganhou um telemóvel, uma bolsa de estudos e uma viagem para Lisboa. Deseja-se à feliz contemplada, expoente máximo da beleza ultramarina, uma agradável estadia na metrópole.
SOBRE COMENTÁRIOS E CENSURAS: Nos comentários que se fizeram a um post meu sobre o Ministro da Justiça criticou-se o facto de eu ter solicitado aos meus colegas de blog, mais experientes com estas coisas dos computadores, que apagassem um acórdão do STA sobre o actual Ministro da Justiça que lá tinha sido colocado.
Urge explicar: eu critico vivamente este Ministro da Justiça, eu acho que ele não tem a mais pequena ideia do que anda a fazer e entendo que é o pior MJ que alguma vez se passeou pelo nosso país. Considero ainda que Alberto Costa vai ficar para a Historia como o Ministro que conseguiu definitivamente destruir a Justiça em Portugal, disso não tenho a menor dúvida.
Que se queira comentar, positiva ou negativamente as minhas posições, acho perfeitamente natural e possibilito-o admitindo os comentários aos meus textos. Pretender-se descarregar propaganda na caixa dos comentários, como se tem feito, ou utilizar a minha caixa para descarregar um acórdão sobre uma determinada pessoa, mesmo que eu não a considere minimamente, desculpem-me, mas por vício ou defeito profissional, não acho bem e portanto decidi apagar o acórdão.
Quisessem os "comentadores" (chapar acórdãos não é comentar) fazer coisa com graça e, ao invés do acórdão, tinham coisas bem melhores, como este maravilhoso naco de prosa retirado de um discurso de Alberto Costa, deputado à AR, num debate parlamentar em 18 de Março de 1993:
«Contudo, mais grave, Sr. Primeiro-Ministro, é que V. Exª veio falar de obra nacional, mas previamente fez rodear toda esta matéria, com a ajuda do seu Ministro da Justiça, de um intolerável clima de tensão institucional: com o Ministério Público e o Procurador-Geral da República, com os magistrados judiciais (quem o negará?), com a Ordem dos Advogados, que se sente marginalizada (...)! E mais, Sr. Primeiro-Ministro, como é que é possível fazer crer que o Governo interpreta esta obra como uma obra nacional quando fez preceder esta restrita iniciativa (...) da criação de um clima institucional de afrontamento e suspeição em relação aos órgãos independentes de fiscalização do Estado na sociedade portuguesa, nomeadamente a Procuradoria Geral da República e o Tribunal de Contas? Sr. Primeiro-Ministro, qual é a racionalidade política (...) de um comportamento que faz preceder um apelo à cooperação institucional da abertura de um clima de guerra em relação a órgãos independentes, próprio de quem não suporta o controlo prático da democracia?»
Digam lá que não está giro? Este trecho faz parte de um discurso de Alberto Costa de uma época em que ele, ao que parece, não tinha comportamentos irracionais como os de hoje. Politicamente irracionais, claro.
posted by VLX on 6:57 da tarde
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HOJE: Não morreu nenhum pato no Piemonte. É pena, como o velho buldogue da clínica de Cocteau, já começava a habituar-me.
posted by FNV on 12:32 da tarde
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FORERINDRING: Kierkgaard forja esta palavra num jogo dinamarquês entre forord, prelúdio, e erindring, relembrar, a "dupla recordação". A simples recordação é mecânica, radiosa como uma moçoila, o erindring é de outra natureza. Tomemos como exemplo o velho viúvo, que sozinho na sua sala, se recorda, por qualquer motivo, do dia do funeral da mulher. A dupla recordação será outra coisa: a de um dia particularmente feliz em que ela quase lhe dizia um importante segredo. O velho viúvo vagueia assim, entre a memória e a imaginação. Kierkgaard, magistral, chama a este território um lugar de trânsito para mercadorias avariadas.
A FILA É LÁ AO FUNDO, sff: O presidente iraniano quer "erradicar Israel do mapa" e o mundo ( ou a parte ajuizada que resta) espanta-se. É de bom tom recordar que o senhor apenas disse alto o que muitos vizinhos ( e outros, e outros...) pensam baixinho. Mas também manda a prudência estudar o Irão pós-Katami ( a blogosfera iraniana, o blogestan é um bom local), e perceber que este tipo de declarações destinam-se, sobretudo, a ouvidos internos.
posted by FNV on 9:12 da tarde
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O NOITIBÓ: No Livro das Aves* ( O De auibus, livro primeiro do De bestiis et aliis rebus) leio sobre o noitibó, o nycticorax. Este passarão nocturno habita as ruínas das paredes e foge da luz, como Cristo, que quis nascer do povo dos judeus. O noitibó alimenta-se de noite, porque, pregando, converte os pecadores ao corpo da Igreja - tirar-se-á a sua luz aos ímpios ( Job 38,15). O noitibó vigia de noite, enquanto evita os seus erros, pensando nos pecados, no fracasso do mundo. Aguarda a destruição. Sábio noitibó.
*tradução e texto original em latim sob direcção de Maria Isabel R.Gonçalves, Colibri, 1999
posted by FNV on 8:47 da tarde
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NUM ÁPICE: Passamos dos incêndios tardios de Outubro às inundações precoces de Outubro. O que eu gosto neste país, meninos, é da flexibilidade. Da flexibilidade.
posted by FNV on 7:04 da tarde
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CALIBRES: Perguntava-me ela como se pode estar apaixonado por alguém durante 30 anos. O José Pardal, o último grande caçador moçambicano ( talvez na companhia do Adelino Serras Pereira), apesar de apaixonado pela balística, entediava-se com a discussão sobre o calibre ideal para a caça ao elefante: 275', 375' ( da Winchester, que usava o Henrique Galvão), 450' ou 570'? Pardal resolveu um dia a questão, num congresso organizado pela Associação dos Caçadores Sul-Africanos: o que toda a arma precisa é de um caçador atrás dela. Foi um sucesso.
posted by FNV on 6:57 da tarde
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AGORA VAI A CHICOTE! A reacção do Ministro da Justiça e o comunicado do seu Ministério mostram aquilo que eu já tinha percebido: este Ministro ainda não compreendeu nada do que se está a passar à sua volta e, à boa maneira socialista - que tem confundido boa gestão com arrogância e prepotência -, investe cegamente e em frente, ofendendo uma vez mais os visados.
O desnorte total do Ministro ficou evidenciado pelo facto de ontem ter começado por dizer que a independência dos juízes e tribunais só fica em causa quando, entre outras coisas, o poder político os pode punir e, logo a seguir, ter vindo com a ameaça de se estudar a alteração da Constituição para que resulte clara a impossibilidade dos magistrados judiciais fazerem greve. Isto, claro, dizia o Ministro, seria para ser visto mais tarde, já com a cabeça fria.
Julgo que para as declarações que o Ministro proferiu ontem já se exigia igualmente a cabeça fria. Ou, pelo menos, minimamente ordenada.
Adenda: Aos meus caros colegas de blog, vocês que sabem tão bem mexer nestas engenhocas, saberão também aquilo que deverão retirar nos comentários a este post. Agradeço-lhes a ajuda e o tempo gasto. vlx
posted by VLX on 1:57 da tarde
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AVISO À NAVEGAÇÃO: Até Janeiro não escreverei uma linha sobre política nacional. Não me custa muito, porque de qualquer modo, sobre esse tema só costumava afixar pequenas notas, quase sempre colaterais. A coisa da moda - a eleição presidencial - não me atrai: pouca renovação, demasiada vaidade pessoal, demasiada infiltração pimba. Adicionalmente, a recente discussão que mantive aqui no Mar Salgado, sobre o facto de existir gente que está disposta a entupir as caixas de comentários com propaganda eleitoral, fez-me compreender que a batalha está perdida. Não estou com disposição para estar permanentemente a negociar o apagamento de supostos "comentários", não estou para me chatear. Gosto de perder batalhas, sobretudo estas. Assim, se em posts sobre a morte, sobre a chuva ácida, sobre Pascoaes, os sociais-fascistas do costume afixarem propaganda, estarei absolutamente à vontade para a fazer desaparecer e os posts serão reeditados sem caixa de comentários. Há muito para escrever, e se assim o quiserem, para ler e comentar.
MANIFESTO: Da leitura do que foi publicado nos jornais do manifesto de Mário Soares, fica a certeza de que o único motivo da sua candidatura é mesmo... impedir Cavaco de ganhar. Infelizmente, nos tempos que correm, é um motivo politicamente tão bom como outro qualquer.
posted by Neptuno on 7:24 da tarde
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A VERDADEIRA QUESTÃO DE EUSÉBIO: Tem sido confrangedor reparar que os apoiantes de Mário Soares, mesmo os mais destacados dirigentes do Partido Socialista, não conseguem esgrimir um único bom argumento a favor do seu candidato presidencial. Nada vai para além de se dizer que a candidatura de Soares se justifica porque ele já foi um bom Presidente da República. António Costa, que se sente mais esperto do que os companheiros, resolveu aprimorar a ideia e veio dizer que para a discussão presidencial não interessa se Cavaco foi ou não um bom Primeiro-Ministro, rematando o elaborado raciocínio com esta pequena maravilha Gabriel-Alvesiana: "teria valido a pena ver Eusébio jogar a guarda-redes?..."
Acontece que a questão não é bem essa, Dr. António Costa, a verdadeira questão ésaber se valerá a pena ver Eusébio a jogar hoje no lugar do Nuno Gomes.
posted by VLX on 5:51 da tarde
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A VISITAR: Dois blogues: o Regresso a Veneza, do Corvo, e a nova casa da Sofia, o Daily Make-Up. A "linkar" quando puderes, comandante.
posted by FNV on 2:23 da manhã
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ACONSELHO VIVAMENTE: Os leitores do Mar Salgado a lerem a troca de opiniões que está na caixa de comentários ao post do Neptuno ATENÇÃO PATRULHA ROSA (II), da passada segunda-feira. É todo um programa.
posted by FNV on 2:10 da manhã
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O GESTO É TUDO: Porque Soares diz, referindo-se a Manuel Alegre, "isso é um problema entre ele e o PS", sendo que estica sua mão esquerda para a frente, enquanto recolhe a direita na direcção do seu próprio peito.
posted by FNV on 1:14 da manhã
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ALGUÉM QUE OS AVISE: Se o grupo de anciãos e de menos velhos que sabujamente acompanha Mário Soares em todas as suas cerimónias de candidatura persistir naquele ar grave, preocupado e até assustado com as declarações, erros, omissões e esquecimentos do candidato, talvez fosse melhor alguém lhes dizer para não comparecerem. Quem vos avisa...
posted by VLX on 12:53 da manhã
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MAIS UMA ASSESSORA: Vejo nas notícias que o Ministro da Justiça recrutou mais uma assessora para a imprensa e para tratar de um site do Ministério da Justiça. Parece que a dita contratada, seguramente muito competente, ganha mais do que muitos magistrados judiciais e do MP. A referência ao facto é seguramente tão populista como tem sido a política do governo socialista sobre as questões da justiça, mas é o estado a que as coisas chegaram por força do governo, é o tabuleiro em que este quis jogar o jogo e é portanto assim que o mesmo se joga. Pelo preço de um magistrado, o Ministro da Justiça contratou alguém para lhe tratar da propaganda junto da imprensa e nos sites do Ministério. Isto diz muito sobre muita coisa.
NA MORTE DE ROSA PARKS: A costureira negra que há quase 50 anos se recusou a ceder o seu lugar a um branco, num autocarro americano. É só para lembrar que a tradição não é um valor objectivo e universal. Quando tiverem dúvidas, leiam como Sócrates entalou o amigo Êutifron.
Adenda: O argumento que temos de aturar textos de propaganda eleitoral nas caixas de comentários aos nosso post em nome da liberdade de expressão, devolvo-o a quem o defende: digam-me onde moram e eu vou lá pintar, nos muros, nas paredes e nas janelas das vosssas casas os nomes que compõem o actual plantel do Benfica; em nome da liberdade de expressão, claro. Entretanto continuarei a apagar a porcaria que me meterem debaixo da porta. Sempre, até que a mão me doa.
posted by FNV on 9:38 da tarde
#GREVE: Acreditar na TSF, José Sócrates está indignado e considera "absurda" a greve dos juízes e magistrados do MP. E aproveita o microfone para reduzir os magistrados a funcionários públicos, comparando-os ao engenheiro da câmara municipal e ao arquitecto já não sei de onde. Perante isto, não sei como se espanta o Primeiro-Ministro com a greve dos magistrados. O espantoso é ele não ter aprendido nada com as argoladas do Ministro da Justiça.
É sabido que uma das coisas que mais incomodou os magistrados foi a forma infame como foram tratados pelo poder político, a acusação de que eles eram praticamente os únicos culpados do estado deplorável da justiça e, por fim, a acusação de que eram preguiçosos e tinham férias a mais.
Quando o governo socialista fez sem aviso este ataque traiçoeiro ao poder judicial, apunhalando-o pelas costas, contra magistrados que abnegadamente trabalham geralmente para lá do que é normal, em condições infectas, sempre sujeitos à falta de material, de livros, computadores, papel, canetas, toner, ventilação (já para não dizer ar condicionado), estava à espera de quê?
O resultado não poderia ser outro. E a coisa tomou proporções quase pessoais, foi vista como uma ofensa injusta para os (e pelos) muitos que são cumpridores, esforçados e tentam, com alguma carolice e esforço próprio, desempenhar a missão que lhes foi destinada sem que lhes atribuíssem os meios necessários.
Qualquer magistrado cumpridor se sente desta infâmia, do modo como o Ministro da Justiça o tratou na praça pública e da forma desprimorosa como o Primeiro-Ministro continua a tratar a globalidade dos magistrados (já referida no primeiro parágrafo deste post). Do ponto de vista da análise política, as afirmações de hoje do Primeiro-Ministro só se conseguem explicar se tiverem sido proferidas sem pensar e numa daquelas reacções violentas às perguntas dos jornalistas (a que o PM nos tem habituado) ou por pretender que a greve dos magistrados atinja os 100 por cento.
Com efeito, perante mais estas pedradas atiradas pelo governo, sente-se da parte de muitos magistrados, mesmo daqueles que são visceralmente contra qualquer greve, mesmo daqueles que não se sentem bem fazendo greve, mesmo daqueles que nunca imaginaram fazer greve alguma vez na vida, a resignação e a consciência de que desta feita não há outro caminho a seguir. Pois se o engenheiro da câmara pode...
posted by VLX on 7:16 da tarde
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CAIXA DAS ENCÓSPIAS (I): A primeira a entrar é "pôr o dedo na ferida". Por estranho que pareça, esta expressão é utilizada para elogiar alguém. Por exemplo, "o Dr. Soares pôs o dedo na ferida", referindo-se o jornalista ao momento em que Soares apontou Manuel Alegre numa fotografia antiga. É uma expressão profundamente séptica e infecciosa, não conheço ninguém que queira ver o dedo de outrem espetado na sua ferida. É uma expressão cujo uso que só pode ter uma conotação elogiosa num país de fadistas.
posted by FNV on 3:30 da tarde
#O COMISSÁRIO: Ramalho Eanes é o Presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco Silva. Não sei quem foi o micrógnato que teve a ideia, mas quando Soares for acusado de pertencer ao passado, vai certamente responder que se candidatou para fazer companhia ao General.
posted by FNV on 12:40 da manhã
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A CAMINHO DE CASA: A maldição dos quarenta aproxima-se: duas lesões musculares em três meses. Para mais, o calcâneo e o peronial anterior já não suportam a dureza dos chapéus-de-couro, o psoas ofende-se com as séries de abdominais cruzados, o coraco-braquial demitiu-se desde a última série de presses militares. O último futebol, é certo, pouco amigável, jogado num dos campinhos do Santana ( Lopes) da Figueira, com uma matilha de jovens efebos, avisa-me que o contrato está no fim. Resta-me a reconversão dos pescadores: passear na avenida, junto ao mar.
posted by FNV on 12:15 da manhã
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O DORSO ALVO DOS COMBOIOS: Na praia da Consolação, a sul de Peniche (bem bonita por sinal), encontraram hoje gansos-patolas mortos. Se quiserem saber porquê, perguntem ao Ruy Belo, que lá sentado, talvez em meados de 50, escreveu alguns dos seus poemas e fez muito bem. Um bicho com esse nome morre bem na Consolação, diria o Ruy.
Ó TEMPO, VOLTA PARA TRÁS: Uma das muitas coisas que a tarimba de um psicoterapeuta acrescenta à vida de bom rapaz, é a digestibilidade do tempo. Tantas vezes temos de mergulhar na história das pessoas, que nos habituamos a tratar de assuntos que ocorreram há dezenas de anos como se tivessem ferrado ontem. É assim que ando às voltas há meses com uma mulher que emigrou para França, deixando para trás uma filha de três anos; regressou já a rapariga era uma pré-adolescente, tendo crescido com a avó materna. Agora, no dia da mãe, no seu aniversário, no Natal, a pequena vai a casa da mãe1 dar uma prendinha, mas guarda os beijos e os bolos para a mãe2. A emigrante chora, gostava "de explicar". Eu bem lhe digo que o problema não é esse: somos aquilo que fazemos, não as razões por que o fizemos.
posted by FNV on 11:46 da tarde
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O RAPAZ DO TAMBOR: Rui Nereu.
posted by FNV on 11:44 da tarde
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ALEGRE CONTRIBUTO: Embora não tenha poderes governativos, o PR tem uma série de poderes importantes e, sobretudo, um capital político que lhe advem do sufrágio directo e também da popularidade que, bem ou mal, anda associada ao exercício do cargo independentemente do desempenho. Seria essencial que esse capital fosse utilizado na discussão, moralização e modificação do nosso sistema político. A "partidocracia" em que vivemos nas últimas décadas - em que os "aparelhos" dos principais partidos são, de facto, quem manda no país - conduziu-nos a um estado de total degradação da vida política. A imagem de toda a classe política nunca foi tão negativa desde que vivemos em democracia. As pessoas já não acreditam, não têm vontade de votar e já aceitam como mentira quaisquer declarações proferidas por responsáveis políticos. Episódios como o do negócio parlamentar do queijo limiano foram reflexos de um sistema em que a política e, sobretudo, o poder que lhe anda associado, se tornou uma coutada de alguns em prejuízo do debate de ideias e da representatividade da população. Hoje em dia, não se descortinam grandes diferenças, de "aparelho" para "aparelho", se exceptuarmos os "boys". E não se ouve qualquer análise por parte do actual PR, o qual fica claramente associado - por complacência - à involução verificada. Espero que os candidatos não se fiquem pelas ideias vagas do costume e que este tema seja objeto de debate. É que, tem que ser o PR a lidar com este assunto porque os beneficiários do actual sistema nunca o farão. Nem que caia podre. Até agora, Manuel Alegre foi o único candidato que, ainda que de forma ligeira e discreta, lançou este tema para o debate. Sendo um homem de convicções mas também um homem de partido (embora neste momento o partido não esteja com o homem...), espero que aquelas prevaleçam e que não deixe morrer o assunto.
posted by Neptuno on 5:51 da tarde
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TRAÇOS DE UNIÃO: Convinha que alguém avisasse José Sócrates de que já não faz qualquer sentido andar por aí a apregoar que a candidatura de Mário Soares é importante porque "une os portugueses". É que ninguém acredita, os dados das sondagens desmentem a alegação e sempre que ele diz isso as pessoas, unanimemente, riem-se até mais não. Mas, claro, se calhar o objectivo de Sócrates é só animar a malta.
posted by VLX on 2:41 da tarde
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PERMANENTE: Ao contrário das avaliações morais, episódicas e imbricadas em cultos de personalidade ( ver post anterior) , as actuais relações dos portugueses com a autoridade são mais estáveis. O português obedece não porque entenda que dessa obediência resulte algo de positivo, mas por que é obrigado a obedecer. Calculo que 48 anos de Estado Novo e 3 ou 4 de anarquia tenham contribuido para isso. Mas estamos em 2005. Existe, é certo, um útero psico-social mais elástico e produtivo, que tem sido aliás incansavelmente referido: a pequenez do território, a ausência de diferenças sangrantes entre nós, a falta de comparência a todas as fases da industrialização. Seja como for, a relação com a autoridade é baseada num triplo eixo : desconfiar sempre, desobedecer muitas vezes, respeitar quando for inevitável. A autoridade é sentida pelo português como um abuso exterior, quase sempre perpetrado por "eles", essa entidade misteriosa oculta algures no Estado. Já na esfera privada, entendemos perfeitamente a autoridade: é a do mais forte. A do pai, do padre, do assaltante de faca na mão. Evidentemente, isto significa uma lacuna de sentido social, de politeia, e reforça o espírito comunitário, de aldeia. Da combinação do triplo eixo motivacional com a estruturação colectiva, resulta um relacionamento com a autoridade que o comportamento ao volante ilustra bem. Não ultrapassamos traços contínuos nem estacionamos em cima das passadeiras, porque tal seja objectivamente errado, mas porque um polícia nos está a observar. Assim, a autoridade é continuamente empurrada para a periferia da nossa zona comportamental, a ela se entregando a única réstea de laço social. Não admira que não gostemos da autoridade: ela recorda-nos, com frequência assinalável, que estamos sozinhos.
posted by FNV on 12:22 da tarde
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ATENÇÃO, PATRULHA ROSA (II): No respeito pela ala politicamente correcta desta embarcação decidi aceitar toda a espécie de comentários às "postas", mesmo aquelas que mais não sejam do que longos textos preparados pelo "aparelho" sem relação directa com as mensagens comentadas e mesmo que sejam repetidas.
posted by Neptuno on 12:08 da tarde
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CONJUNTURAS: Não li ainda o famoso livro de José Gil, sobre o lusitano medo de existir, mas calculo que ele não se tenha ocupado dos detalhes que aqui vou referir. Em tempos que já lá vão, o Eng. Guterres negociou o orçamento de estado com um deputado do PP. Este deputado, ao arrepio da orientação do seu grupo parlamentar, possibiltou a passagem do orçamento em troco de um qualquer benefício relacionado com uma fábrica de queijo, para a sua localidade, Ponte de Lima. Na altura, nem os deputados da maioria socialista nem o Presidente da República rasgaram as vestes, antes pelo contrário, nem os deputados da oposição abandonaram em bloco o hemiciclo, em sinal de protesto. Este ano, a propósito das eleições autárquicas, todos se indignaram com o populismo e com o caciquismo regional. Hoje, todos reflectem sobre "a crise do sistema político", na altura, apenas alguns - sem autoridade real - levantaram a voz. Por outro lado, no tempo do Dr.Cavaco, assistiu-se em Portugal a uma das maiores fraudes da jovem democracia portuguesa: a dos dinheiros do Fundo Social Europeu. Foi uma fraude tentacularmente nutrida e com consequências desastrosas para a modernização e reconversão do tecido produtivo português: é certo que permitiu o enriquecimento de alguns indivíduos e criou uma boa escola de corrupção, mas não estou seguro que estes que tenham sido aspectos positivos. Li as memórias governativas do Dr. Cavaco e, como era de esperar, não encontrei um capítulo ou um parágrafo dedicado ao tema. Estes episódios exprimem uma evidência recorrente: as avaliações morais sobre o "sistema político" são meramente conjunturais. Não admira que os portugueses não acreditem nelas.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.