A "SACRISTOA" DO RABAÇAL: Hoje é o Dia Internacional do Comércio Justo, o que associo vagamente à defesa dos produtos dos países menos desenvolvidos, logo, contra a malfadada globalização. Há por aí colóquios, exposições e venda de arroz biológico da Tailândia ou cacau solúvel do Gana. Pela minha parte, como sempre faço duas vezes por ano, rumei ao Rabaçal, em demanda do autêntico. Do queijo.
Sai-se de Coimbra pela velhinha Nacional-1, no mesmo sentido dos peregrinos, a pé e agora vestidos com uns coletes verdes fluorescentes que nos fazem crer estarmos no meio de uma manif de funcionários da Brisa. Passada Condeixa-a-Nova, dormitório coimbrão, aponta-se a viatura na direcção da acastelada Penela, e antes de lá chegarmos vira-se à direita. O passeio é um bálsamo, por entre prados, habitat do chibinho de leite e de sua mãe dona cabra, olivais e vinhas, estas dando origem ao Terras de Sicó tinto, um amigo de bom preço para todos os dias, não mais. Na vila do Rabaçal, encaixada entre serranias baixas, estaciono ao pé da Igreja e vou directo à casa da minha queijeira preferida ( também lá há uma holandesa que abastece Coimbra, mas prefiro os meus). O marido, um velho que comete a proeza de falar sem dentes, informa-me que a patroa está num casamento, porque é ela que puxa o sino: " assim uma sacristoa, compreende?". Compreendido, faz-se tempo na esplanda do Ruínas, outrora bom restaurante, que fechou entretanto porque o comércio justo não chegou a estas bandas. Passado um bocado já os tenho na mala do carro, os preciosos quando autênticos, queijos do Rabaçal.
José Quitério, no seu Livro de Bem Comer, presta-lhes a devida homenagem, citando referências técnicas do século XIX e inícios de XX, porque são de facto extraordinários; tanto quanto são impunemente falsificados por esse país fora, muitas vezes por culpa dos próprios produtores. Bem, a bem dizer, o país mal conhece o Rabaçal e o seu queijo, feito de leite cru de ovelha e de cabra ( 3 para 1), em pequena produção genuinamente artesanal. Faz lembrar um bom chevre misturado com Terrincho de ovelha churra e uns pózinhos de Serpa ( esta heresia é só para dar uma ideia a quem não conheça o queijo).
E assim cumpri o meu Dia Internacional do Comércio Justo, gastando tempo e gasolina devidamente globalizados. Agora se me dão licença, vou cortar umas fatias de pão de centeio e uma talhadas de Rabaçal, abrir uma garrafa de Quinta da Pellada e ver uma das últimas prestações de Carlos Queiroz à frente dos merengues.
posted by FNV on 8:54 da tarde
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MERCI BEAUCOUP: A very special vieler dank para los seguientes amici naviganti (por ordem cronológica de referência):
- Rua da Judiaria (para o Nuno Guerreiro, um farol de equilíbrio e justo juízo, eloquente divulgador da cultura judaica)
- A Bordo - Almocreve das Petas (para o masson, erudito e enciclopédico fiscalizador das excitações bloguísticas que nos honrou com a sua dedicatória)
- Memória Virtual (para o Leonel Vicente a quem devemos o facto de comemorar o nosso aniversário no dia correcto. De atenta memória e generoso critério.)
- Tugir (São rosas, Senhor ! Com espinhos, mas bem cheirosas.)
- Deadalus (Soubesse o meu amigo quão encapelado este mar por vezes fica...)
- Lápis de Cor (Eduardo, para quando um encontro de blogueiros exilados ?)
- Causa Nossa (para VM, que nos embaraça pelo exagero das suas amáveis referências)
- Glória Fácil (para a ASL que, como diria a Vanessa, é uma querida ! Já o que a Margarida Dutra diria mantem-se um mistério açoriano...)
- A vida dos meus dias - Jaquinzinhos (O farol da Liberdade de Tavira)
- Bomba Inteligente alias Alma Gémea
- Analiticamente Incorrecto - Blasfémias - Causa Liberal - Retorica e Persuasão - Foguetabraze - A Natureza do Mal - Klepsydra - Faccioso - Albergue dos Danados - Abrupto - Aviz - O Acidental - Bloguitica - Impensável - Terras do Nunca (meu caro JMF, agora que imita os defeitos do nosso FNV e não linka o Mar Salgado demoramos a perceber que nos felicitou muito gentilmente. Muito obrigado pela atenção e por este ano de trocas de impressões e piropos leais e espirituosos
- No Quinto dos Imperios (em especial para o DBH)
- O Projecto - A Tasca (no hard feelings, foi por uma boa causa!)
- Impensavel - Manos Metralha (esse covil de bandidos que até Churchill cita para nos felicitar, ou quem sabe, ameaçar)
مُراجَعَة , نَظَر (que é como quem diz, ou escreve, em árabe, em permanente actualização)
posted by NMP on 7:04 da manhã
#HIPÓTESE DE REDENÇÃO: O preço do petróleo continua a subir, tendo atingido mais de 40 dólares por barril em alguns mercados.
Há dias, a propósito do livro de Bob Woodward, uma cacofónica teoria da conspiração foi montada a propósito das relações entre sauditas e a Administração Bush. Agora que o preço do petróleo sobe, a esquerda blogosférica está silenciosa. Não tira a conclusão simetricamente lógica das suas teorias conspirativas: como bem sugere o Liberdade de Expressão, se calhar os sauditas querem que Bush perca.
Há no entanto uma hipótese que traz alguma esperança. Como quem cala consente, será que os nossos esquerdistas anti-americanos, anti-imperialistas e rendidos (que não convencidos) ao capitalismo começam a acreditar finalmente nos mecanismos da economia de mercado ?
posted by NMP on 6:55 da manhã
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NAVEGAR É PRECISO, VIVER...: também é preciso. Em boa companhia e por muitos anos, navegando por toda a parte, se a tanto nos ajudar o engenho e a arte (obrigado Luís).
posted by Neptuno on 1:48 da manhã
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QUEIMA: Começou hoje em Coimbra A Queima das Fitas. Durante e após os respectivos cursos esta tripulação sulcou as águas do Mondego, entrou na queima delas, brilhou em inúmeras fitas e empinou muito barril. Sempre pensei que só algo de muito estranho me afastaria de tamanha festa. E assim foi. Sequestrado pelos serviços secretos japoneses (DIETA), tornei-me um servo de tão tenebrosa organização. Não me deixam sair do navio. Só poderei assistir de longe.
Ainda haverá rum no porão?
E ASSIM HONRAMOS O COMANDANTE: O post do nosso Comandante, fora de tempo, sobre o primeiro aniversário do Mar Salgado tem um extraordinário valor simbólico: nada poderia ilustrar com mais fidelidade a anarquia de memórias, o torvelinho de confusões, enfim, a magnífica diferença que se vive a bordo desta nau.
Nada de melhor, portanto, do que uma refregazita para comemorar o evento (à cautela, procuro escrever entre o dia 7 e o dia 8).
Tem razão o nosso FNV quando protesta que não se aplica aos seus posts o síndroma dos telhados de vidro. Aplica-se, com efeito, a outros que pretendem comparar a tortura dos prisioneiros iraquianos com a repressão institucionalizada, de Estado. Mas, ainda assim:
1) Não deixo de lamentar que as primeiras impressões publicadas neste blogue sobre o assunto (confesso que estava muito curioso para ver se se diria alguma coisa, e o que se diria) se centrem sobre a grande vantagem de se poder saber dos factos, em contraposição ao que acontecia na União Soviética e acontece em Cuba.
2) Quem exalta, justamente, a grande diferença entre actos mais ou menos individuais e a repressão oficial, de Estado, não deveria ficar calado perante as comparações imbecis entre os desmandos do PREC e a infâmia da PIDE. Nem deveria admitir, em consequência, que a liberdade só chegou a Portugal no 25 de Novembro.
3) É preocupante que a glorificação da liberdade de imprensa, como instrumento de controle do abuso, faça esquecer que os factos só se souberam graças à imprensa - e não através dos meios oficiais normais que se esperariam do poder num Estado de direito - e que a CBS foi fortemente pressionada pelo Pentágono para não difundir as imagens, de acordo com as declarações da própria. Tudo oque ficou convenientemente silenciado nos comentários dos meus companheiros.
4) Por fim, e decisivamente, tanto o nosso FNV como o Comandante parecem esquecer que a liberdade de imprensa não é um fim em si. A liberdade de imprensa é um bem instrumental para que o poder se sinta efectivamente debaixo de escrutínio. Por isso, não basta que as coisas se saibam para que nos congratulemos com a democracia: o passo seguinte, necessário, é que o poder se sinta obrigado a tirar as consequências das coisas que ficaram a saber-se.
E por isso, quando vejo Bush exprimir a sua "repugnância" pelos factos cometidos, ou Blair a dizer-se "appalled", não posso deixar de me lembrar dos versos de Orlando de Carvalho,
desmanchamos os gestos em palavras
e eles súplices e dúplices
alisam as espadas
Parabéns, Comandante. Como nos convidaste para ser livres aqui, vê neste post uma homenagem ao jeito dos tecelães de Kuyan-Bulak.
E agora que, também desse lado do mar, o sol já passou o lais da verga, one scotch, one bourbon, one beer.
posted by PC on 10:51 da tarde
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PENSAR ANTES DE FALAR: O comportamento de Rumsfeld no caso dos abusos dos soldados americanos no Iraque esteve longe de ser correcto. Tendo tomado conhecimento do assunto em Janeiro não lhe terá atribuído a importância devida nem comunicado as verdadeiras implicações do caso a George W. Bush. Foi um enorme erro político.
Mas o futuro de Rumsfeld é o que menos importa nesta história. O sistema de checks and balances de uma democracia madura e aberta como a americana leva a que membros do poder executivo sejam confrontados com perguntas delicadas e investigações rigorosas, mesmo de companheiros de partido. Hoje, na comissão no Congresso, Rumsfeld submeteu-se a uma bateria de perguntas e acusações, com particular destaque para as do republicano John McCain. Os congressistas sentem-se tão furiosos como o Presidente por terem sido mantidos na ignorância durante tanto tempo. A democracia americana está de boa saúde.
Alguma esquerda blogosférica, em resposta ao post Americansky de FNV, afirma que a comparação entre a divulgação do que se passou no Iraque e outras realidades silenciadas durante décadas não faz sentido. Esta é apenas mais uma manifestação da arrogância e má-fé intelectuais que o anti-americanismo confere.
Tanto mais estranhas quanto surgidas num país (Portugal) em que, por exemplo, um comandante de um massacre bárbaro durante a Guerra colonial se passou, de um dia para o outro, de zeloso e cruel capataz do Antigo Regime para destacado dirigente de um partido de extrema-esquerda, sem lhe ter sido perguntado nada àcerca dos seus excessos em actividades militares. Nem uma entrevistazinha, nem uma comissãozita parlamentar. Nada. Tudo na paz do Senhor, que a culpa era do Regime ou da sociedade capitalista.
Eu sei que não nos devemos comparar com exemplos infelizes, nossos, nos ex-países de Leste ou nos países árabes à volta do Iraque onde a tortura é um exercício diário patrocinado pelo Estado. Devemos almejar os mais altos standards de prática democrática e de respeito dos direitos humanos. Devemos perceber que as torturas são um mal absoluto que não se compara ou relativiza.
Mas o que está em causa nesta discussão não são os lamentáveis actos, que serão devida e severamente punidos, mas sim a forma transparente e aberta como factos destes são livremente divulgados e discutidos e um responsável político pode ser chamado à pedra pelas suas eventuais responsabilidades no encobrimento de factos graves. E isso, como acima foi dito, não acontece em muitos sítios do mundo, a começar pelo nosso país.
De vez em quando, convinha que parássemos para pensar e para olhar para a nossa história recente, antes de nos lançarmos em acusações descabidas a sociedades que nos dão diariamente lições de cultura democrática.
posted by NMP on 9:49 da tarde
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LONGE DA VISTA, LONGE DO CORAÇÃO:: O meu post Americansky suscitou uma ou outra reacção, talvez valha a pena discutir um pouco. A tortura de presos iraquianos tem imagens e essas imagens correram mundo, e o Irreflexões (link directo só disponível na coluna ao lado), ao contrário do Tugir (idem) que pretendeu não perceber o post, diz e com razão, que o ideal é que uma tortura não substitua outra.
Aqui julgo que se aplica o conselho sobre a pobreza argumentativa dos telhados de vidro do nosso marujo PC, ou seja, pas question de dizer "vocês falam agora mas não falaram antes". Nada disso. O problema é outro. Um acto soez ou alguns actos soezes, praticados por uma dúzia de idiotas, ao arrepio do que é a prática comum de um exército ocidental ( hoje como na II Guerra) são uma coisa. Outra é a prática continuada, durante décadas, de tortura, sevícias, fuzilamentos, perseguições, por vários regimes no século passado e já neste. Pretender colocar no mesmo plano estas duas realidades, o famoso livrinho de F. Gil e P. Tunhas, chama-lhe má fé. Não me parece. Perigosamente, parece-me que já não é uma questão de fé, antes uma vontade racional e livre de viver num mundo irreal. E por isso muito mais temível.
Até porque não é possível deixar de apalpar a indignação, a cólera dos justos dos que olham para estas imagens. Esta cólera excede em muito a simples apreciação política ou filosófica. Parece uma indignação sentida, exacerbada por meia-dúzia de fotografias de desgraçados acorrentados e com sacos de plástico enfiados na cabeça. É portanto, um sentimento humano. Pergunto-me se este bom povo encolerizado necessita sempre de uma imagem, de um filme, de uma fotografia, para experimentar a cólera e a compaixão. Recordo-me bem de massacres indizíveis, já no século das imagens-que-não-existem, não terem alterado o horário do passeio matinal, a milhões de almas sensíveis. Primo Levi também se interrogava sobre o assunto.
posted by FNV on 9:32 da tarde
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EFEMÉRIDE CORRIGIDA: Quem me manda a mim, com esta traiçoeira memória, referir-me a datas comemorativas. O amigo e sempre atento especialista na memória blogosférica, Leonel Vicente, alertou-nos para o facto de o Mar Salgado só comemorar um ano a 8 de Maio. Tem toda a razão. Fomos traídos por esta indomável vontade de fazer um festim de rum. Marinheiros, fica para amanhã.
posted by NMP on 3:01 da manhã
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AMERICANSKY: O ocidente descobriu a tortura no Iraque, o BE, o PCP, parte do PS, a TSF, a SIC-Notícias, descobriram a tortura no Iraque. Por isso tenho pena que os americanos e os seus sargentos Rambo, não tenham aterrado em Praga, Bucareste, Tirana, eu sei lá que sítios mais, há vinte ou trinta anos atrás; ou que não estejam já há outros vinte ou trinta, em Havana.
É por isso que eu gosto dos americanos: onde eles estão, faz-se luz.
posted by FNV on 1:31 da manhã
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QUEM DIRIA ? O Mar Salgado faz um ano. Se há um ano atrás quando, com a divina ajuda de Neptuno, comecei esta aventura me dissessem que o blogue iria durar mais de um mês, eu diria que tinha mais que fazer. Um ano depois, continuo com mais que fazer, mas graças ao esforço de uma dedicada tripulação chegámos a este bom porto sem problemas de maior.
Houve muitas mudanças. A tripulação foi reforçada e, maravilhas das modernas tecnologias, o Comandante comanda esta nau à distância de um oceano, directamente da capital do Mundo Livre (capital do Império para os mais conspirativos).
Esperemos conseguir manter esta nau à tona por mais um ano, para gáudio e contentamento dos amigos e despeito e irritação dos inimigos. Para todos os que nos têm lido, evocado, elogiado e insultado, um abraço comemorativo.
30 ANOS: O PPD/PSD faz 30 anos. Sendo o partido em que a direita vota, prefiro largamente a expressão partido reformista a partido de direita. Não por qualquer espécie de complexo de esquerda (que não tenho), mas porque a expressão partido de direita não apanha a verdadeira dimensão da coisa.
Fruto do génio de Sá Carneiro e restantes fundadores e da sua prática política, o PPD/PSD cedo se tornou o partido dos que pretendem transformar a sociedade portuguesa numa sociedade mais livre (politica, economica e socialmente). Dos que recusam o imobilismo a que o sectarismo ideológico leva. Dos que compreendem que o desenvolvimento só é económico para vir a ser social, mas que este sem aquele é uma receita certa para o empobrecimento de todos.
O PPD/PSD é o partido da direita (uma vez que esta maioritariamente nele se revê) mas não é apenas isso. Ao contrário de outros, que são apenas partidos de esquerda e de direita, dogmáticos e conservadores.
É essa a sua força, que lhe permite renovar-se, reinventar-se, superar crises, divergências, cisões, momentos trágicos. Como todas as pessoas e todas as organizações terá certamente na sua curta história momentos gloriosos e momentos mais apagados. Mas é o partido que mais contribuiu para a evolução de Portugal nos últimos 30 anos.
Várias vezes, nestas três décadas, se previu a separação do PPD/PSD, a propósito dos mais diversos contextos. Quem o faz, não conhece o animal. Por muitas divergências que haja (e por vezes há bastantes) nasceu ali, naquele espaço político, uma cultura e história comuns. Feitas de combates externos e divisões internas, de encontros e desencontros, de gloriosas vitórias, amargas derrotas e mortes trágicas.
O PPD/PSD foi e é o partido reformista português, que mais assume a vontade de liberalizar a economia e a sociedade portuguesa, mas que transporta no seu código genético a sensibilidade social da sua herança social-democrata e do personalismo cristão.
Mas é a praxis política que é a marca de água do PPD/PSD. A sua composição - feito de muitos pequenos e médios empresários e comerciantes, profissionais liberais e tecnocratas - transmitiu ao partido o inconformismo individualista dos que ambicionam subir na vida, dos que não se conformam com o seu destino. Por não sofrer, pelo menos no mesmo grau que outros, dos espartilhos da influência de sindicatos e outros grupos corporativos é o partido das "reformas estruturais", da abertura da actividade económica ao sector privado, da liberalização dos media. Se algum dia, nos aproximarmos em Portugal da popperiana sociedade aberta, muito se deverá certamente ao PPD/PSD.
posted by NMP on 11:59 da tarde
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"É A LOUCURA!": Foi com estas palavras que a jornalista (não me lembro de que canal) de serviço à porta de casa de Carlos Cruz comentou a chegada daquele, perante o tumulto mediático que se gerou. A palavra "loucura", que foi usada no sentido de "confusão", teria sido ajustada se usada no verdadeiro sentido do termo.
posted by Neptuno on 5:39 da tarde
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ANIVERSÁRIOS: É um costume actual, não só português, desdenhar o reconhecimento e o elogio a alguém, pois que tal revelará tão só um proselitismo juvenil pouco frequentável. É sempre mais cool (e verdadeiramente adolescencial) olhar de esguelha afirmando independência enquanto sobranceiramente se larga uma ou outra palavra amável. Como sou pouco jovem e pouco português nesta matéria, aproveito a ocasião para juntar duas calorosas felicitações, a Pacheco Pereira e ao 1º aniversário do seu Abrupto e a Sigmund Freud e às suas 148 Primaveras. ( Foi o Francisco José Viegas que lembrou ao psicólogo desmemoriado a coincidência). Felicito mais JPP do que o Abrupto, porque o que acho que devo a JPP ( os seus textos, algumas orientações, partilha de uma visão desencantada da natureza humana mas racional e pontualmente optimista), devo-o mais noutros escritos, mas de qualquer modo o aniversariante tem a primazia. Freud, mal tratado por gerações inteiras de psicanalistas e psicólogos insanes, poupado por poucos, deixa à cultura ocidental um texto absoluto, O Mal Estar na Civilização.*
Freud, numa carta a Thomas Mann, em Junho de 1935, cumprimenta-o pelos seus sessenta anos e diz-lhe que não lhe deseja uma vida larga e feliz, "porque desejar não custa nada", e além disso, tal significaria "um retrocesso aos tempos nos quais se acreditava na omnipotência mágica dos pensamentos". Isto é um bocado do velho Freud do Mal Estar: pessimista quanto à natureza humana - muitos matariam através do simples enunciar do desejo - mas confiante em que os instintos e os pensamentos têm de passar pela realidade trituradora da cultura. Ainda bem.
* Freud, no seu original, utiliza "Cultura" e não "Civilização": fica para outra ocasião, que merece a pena.
QUEIMA DAS FITAS NO PORTO: Prosseguindo o ciclo de festividades que habitual e anualmente no Porto ocupam os meses de Maio e Junho, hoje festejou-se a Queima das Fitas nesta cidade nortenha. Dado a situação financeira do país não ser das melhores e uma vez que a Câmara Municipal do Porto é avessa a despesas com o fogo de artifício (consideradas desnecessárias), foi decidido fazer-se esta grande festa dos estudantes exactamente no dia da passagem de um grande emblema da cidade à final dos grandes, dos maiores, dos melhores.
Não se veja nisto uma crítica à CMP: esta teve em tão grande consideração a imagem dos verdadeiramente grandes da sua cidade que foi até fazer propaganda séria no estrangeiro (só para citar um exemplo, divulgou enormemente o Porto e as suas gentes no país vizinho, engalanando com as cores certas o Ayuntamento da bela cidade da Corunha, em Espanha, aproveitando para isso o dia em que essa cidade era visitada por Sua Alteza, El-Rei D. Juan Carlos – era aquele senhor alto que na televisão se via sentado perto do Jorge Nuno).
É bem certo que o Porto é tão grande que precisa pouco da divulgação feita pela CMP, mas é bonito ver os seus esforços preciosos nesse sentido.
No mais, foi também muito bonita a festa dos estudantes e da cidade. Eu não sei muito bem de que faculdade são os daquelas cores azuis e brancas, que tão animados iam pelas ruas de bandeiras, cachecóis e chapéus diversos, mas a verdade é que estavam todos muito alegres e expansivos e devem pertencer a uma faculdade enorme, pois eram imensos. Claro que, uma vez mais, os meus petizes me obrigaram a ir para os Aliados ver a grande festa (isto, para eles, não obstante o mais velho ter apenas sete anos, vai-se tornando um velho hábito difícil de travar). Eles adoram agitar as cores azuis e brancas da fantástica agremiação e eu não posso negar-lhes essa alegria pois sei bem que há muitas crianças portuguesas de 10, 15, 30 ou mais anos, bastante menos afortunadas do que as minhas e que não fazem a mais pequena ideia do encantamento, do regozijo maravilhoso destas festas jubilosas.
Dir-se-á que esta não é a última festa desta classe, este ano. Talvez não seja; mas era uma cadeira bem difícil de passar, principalmente com a distinção que se viu, e não foi preciso sequer ir à oral! Seja como for, para os exames finais (quer se trate do menos importante, quer do mais gratificante), a verdade é que sabemos que estes maravilhosos alunos se apresentarão com brio, esforçados, e com a matéria bem estudada, prontos para passar.
Adoro a Queima das Fitas, o que se deve certamente à intensa vivência que dela fiz em Coimbra. Agora, mais velho, longe da vida de estudante, vivendo e trabalhando no Porto, confesso que isto que aconteceu hoje no Porto e ao Porto é a nossa alegria. A nossa grande alegria!
Só não percebo porque estranho motivo na capital quase nunca festejam assim tão alegre e constantemente estas efemérides... Que sistema estranho. Será que não gostam de festejar?
posted by VLX on 2:17 da manhã
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O NOME DAS COISAS: O nosso FNV acaba de escrever um post muito sensato. Tudo o que ali está é verdade. Nos últimos 25 anos, não me lembro de uma equipa portuguesa estar a ganhar "fora" nas taças europeias e acabar o jogo a atacar.
Mas faltou ao FNV (e eu compreendo muito bem essa falta) pôr um nome ao fabbro do estofo, da atitude, da frieza, do profissionalismo. Chama-se José Mourinho, o tal que.
Ao fim de dois anos, já não pega a tese do acaso. Ficava bem a muita gente reconhecer o óbvio e, por uma vez, desbarretar-se.
posted by PC on 1:12 da manhã
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UMA VIRTUDE POUCO PORTUGUESA II: Complementando o post de FNV, li no jornal espanhol Marca as declarações do jogador galego (argentino) Scaloni, que afirmou "...nos pasaran por encima en actitud." Num país em que, perante o estrangeiro, demasiadas vezes prevalece a atitude (ou mesmo a apologia) do "coitadinho", é um orgulho assistir a tamanha demonstração de personalidade, de crer e de raça. Oxalá o país pudesse não só copiar o exemplo de profissionalismo mas também - usando a pavorosa linguagem da bola - perder o medo de ser feliz.
UMA VIRTUDE POUCO PORTUGUESA: O que distingue este FC Porto não é a qualidade técnica, física ou táctica: há por aí igual ou melhor. A marca d'água desta equipa é algo a que eu sou particularmente sensível, e que é pouco comum no registo histérico português. Falo da resistência, do estofo, do cabedal psicológico, emocional, moral, chamem-lhe o que quiserem. Este estofo não faz só campeões, faz homens. A coisa é tanto mais interessante quando é conseguida num conjunto variadíssimo de pessoas. Há ali muito trabalhinho psicológico, no (infelizmente raro) verdadeiro sentido da palavra.
JÁ DESCONFIAVA: A ladainha psico-jurídica dos factores criminógenos chegou em força ao futebol. Ao que parece, a claque do Sporting invadiu a relva virgem de derrotas (para a Liga) de Alvalade porque foi ostensivamente provocada pelos jogadores suplentes do SLB. Eu sempre suspeitei que dezenas de empregados das estações de serviço das auto-estradas, que ano após ano são vandalizadas, na ida e na volta dos jogos, não passam de uns provocadores: "queres esta sande de lagartixa, queres?"
posted by FNV on 11:39 da tarde
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ESTAMOS CÁ PARA ISSO: Um nosso leitor simpático e dedicado, o CAA, do também simpático Blasfémias (link directo só disponível na coluna da direita), diz que "há muito desistiu" de nos "compreender", a nós, O Mar Salgado "da direita bem comportadinha". Não desista, amigo CAA, insista, que nós ajudamos toda a gente com dificuldades, provisórias ou definitivas. Vai ver que consegue, afinal o bom comportamento não é assim tão difícil de compreender.
JOSÉ FILIPE DA SILVA MOREIRA: Nasceu no Porto ( não se pode ser perfeito), mede 1,84m e pesa 79kg. É um ser cujo habitat natural mede 7,32m de largura por 2,44m de altura, e atrás do qual está uma rede, à frente a sedução. Moreira é um digno aprendiz de Sacher Masoch, sendo a suspensão do gesto flagelador, o remate-quase-golo, a fonte do prazer: o ritual da suspensão do gesto que aflige (em Masoch, a mulher-vestida-de-pele é quem o inflige) no terreno de Moreira, é o adiar do remate; a fonte de supremo gozo espiritual e físico, obrigar o adversário a repeti-lo eternamente, qual suplício de Tantâlo. Não existe prazer mais sublime.
Hoje, um aspecto lateral, neste post demencial-analítico: a claque do Sporting invade o terreno de jogo após o golo do adversário. Um tapete de relva verde e virgem, é pisado por hilotas de tronco nu e varas na mão. Que pretendem? Quem sabe, reféns de uma mecânica da solidariedade orgástica - deste-me (um golo) devolvo-te ( a penetração no relvado) - iludem a graça final do êxtase: há sempre um fim, o retorno é uma miragem onanística. Os hilotas só conseguiram suspender o jogo por alguns minutos, Moreira suspendeu-o para a eternidade.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.