AS VIRGENS PÚDICAS: Este é um post que eu não gostava de ter de escrever.
Uma das boas características da blogosfera é podermos discutir com quem admiramos. Para com o Carlos Vaz Marques terei sempre uma dávida eterna: as suas brilhantes entrevistas iluminaram e iluminam muitos dos meus fins de tarde. Mas quando toca a defender a classe, CVM perde toda a capacidade de encaixe e de apreciar uma ironia.
Ontem no post Outra Vez ? o nosso FNV (que rapidamente se tornou o ódio de estimação dos jornalistas bloguistas) escreveu duas linhas irónicas e inconclusivas sobre o caso da filha do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Pode não se gostar do estilo ou nem sequer apreciar a ironia, mas concluir o que lá não está escrito é que é, no mínimo, um abuso. Pois, CVM concluiu que nós (vá-se lá saber a quem é que ele se referia) não queríamos ver que se tratava de uma notícia. Aqui vai o seguinte esclarecimento:
1 - O Mar Salgado é um blogue colectivo, onde os posts são assinados. A responsabilidade dos posts é apenas de quem o assina.
2 - O post de ontem poderia ser lido da seguinte maneira: uma ironia ou gozo aos jornalistas ou até à filha do senhor ministro. CVM pavlovianamente concluiu que era uma crítica à sua classe. Com este comportamento acabou apenas por dar razão a quem acha que os jornalistas são a classe mais corporativa que existe em Portugal.
3 - O caso era e é uma boa notícia, de tal forma que levou à demissão do ministro do Ensino Superior (numa atitude digna, refira-se).
4 - Não há nada pior do que vermos uma pessoa inteligente, informada, experiente e capaz de momentos radiofónicos brilhantes a fazer de virgem púdica com o único intuito de defender despropositadamente a sua classe profissional. Ainda por cima de um ataque inexistente.
5 - Temos esperança, no entanto, que CVM mantenha o mesmo zelo classificativo quanto a outras notícias que vão saindo todos os dias. Para nos iluminar ácerca do que é ou não uma notícia. Cá estaremos para o apoiar ou discordar dele se assim o entendermos.
Em suma, CVM perdeu uma boa oportunidade de dar descanso aos seus dedinhos.
posted by NMP on 3:28 da tarde
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ENTÃO, ATÉ SEGUNDA!: Pois é. Como já escreveu o nosso FNV, a tripulação está a aparelhar afanosamente o Mar Salgado para rumar ao Grande Sul durante o fim de semana. Há já muito tempo que não se via uma tão elevada concentração de lobos do mar por metro quadrado.
Conhecemos os perigos da jornada, mas confiamos na assistência do divino Neptuno para nos levar a porto seguro. Partimos para presenciar um acontecimento inédito e transcendente, cuja antevisão se pode encontrar aqui e aqui (ao centro, em primeiro plano, deitado de borco sobre o seu lado esquerdo, o nosso Comandante; à direita, ao fundo, soprando num corno, o nosso FNV).
Suspeito que, no fim da missão, não haverá loot onde quinhoar.
posted by PC on 12:25 da manhã
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OUTRA VEZ??!!Eu, filha de diplomata, peço o favor de não ser seguida por repórteres da investigação.
CHUIFF... Nos próximos dias, toda a tripulação deste junco desloca-se ao Al-Tâge, em missão profética. Um de nós vai em busca do graal, qual Parsifal. Os outros tentarão manter a sobriedade.
posted by FNV on 11:58 da tarde
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MALDIÇÃO: A propósito de um aforisma do Reflexo de Azul Eléctrico (link na coluna da direita), sobre os vidros que se partem primeiro nas revoluções e nos terramotos, lembrei-me de Walter Benjamin e das suas Teses sobre a Filosofia da História: Na tarde do primeiro dia de combate da revolução de Julho, em vários locais de Paris, disparou-se independentemente e ao mesmo tempo, contra os relógios murais. Benjamin relata os dotes divinatórios e de rima de um observador ocular:
Quem o acreditaria? Diz-se que irritados contra a hora
Novos Josués, ao pé da torre,
Atiravam, sobre os quadrantes para parar o dia.
posted by FNV on 10:08 da tarde
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SE DER, DÁ... Ó Luis, ( da Natureza do Mal, link no lugar habitual) não fique tão amofinado só porque o instei a espraiar a sua indignação vaticana à interdição do livre uso das máquinas de escrever em Cuba: no fundo, trata-se de duas liturgias que tentam controlar a palavra. Só lhe digo isto assim, porque não consigo aceder ao correio da Natureza.
Mas também aproveito para lhe agradecer as palavras amáveis. Se um dia o encontrar, e você já não estiver tão amofinado, convidá-lo-ei, cautelosamente, para uma obsessiva cerveja.
Pela minha parte, continuarei a ler os seus escritos, com renovado interesse. De onde eu venho, ideias atraem ideias.
posted by FNV on 9:30 da tarde
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JOUISSONS SANS ENTRAVES: Não sei o que me diverte mais: se o estupor em que mergulham os educadores nacionais, se o sorriso maroto dos ex-saneadores de 75. Um professor com ar atoleimado balbuciava que se os estudantes invadem o Senado de cada vez que não gostam das decisões aí tomadas, um Senado não serve para nada. Nas mesas dos cafés, velhos, coroneis e juízes, rosnam contra o estado em que isto está. Noutros cafés, antigos admiradores de Danny Le Rouge pensam rever-se nesta turba de espectadores do Big Brother, que adaptam os cânticos dos Super Dragões ou da Juve Leo às suas palavras de ordem.
Eu não sei o que me diverte mais, mas eles sabem.
posted by FNV on 8:51 da tarde
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CONCLUSÃO: A única conclusão que se pode tirar do debate de hoje na Assembleia da República é que o PS ainda não interiorizou que deixou, quando fugiu, o país mergulhado numa profunda e evitável crise financeira. Como os exemplos da Espanha e da Irlanda mostram, uma gestão mais cuidada das finanças públicas entre 1998 e 2001 teria permitido a Portugal atenuar os efeitos da recessão económica europeia que se iniciou na segunda metade de 2000.
A verdade, no entanto, é que apesar de encherem a boca com expressões como competitividade, de reconhecerem a necessidade do país aumentar a sua produtividade, de defenderem oficialmente o Pacto de Estabilidade e Crescimento, os socialistas no seu íntimo não acreditam na disciplina financeira do Estado como necessária para a promoção destas alterações. Enquanto isto não mudar, a principal marca de qualquer governação PS será a da irresponsabilidade.
posted by NMP on 8:43 da tarde
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AGRADECIMENTO ao Fórum Cidade, que incluiu o Mar Salgado nos seus dois links inaugurais. Tenho a certeza de que o resto da tripulação concordará comigo: só pode ser gente de bom gosto.
posted by PC on 7:52 da tarde
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PORQUÊ, MEU DEUS! Debate na AR, interpelação ao governo sobre política económica, hoje. Ouve-se e vê-se Lino de Carvalho, e, goste-se ou não, registamos ideias, oratória razoável, português bem falado. Depois vem Isabel de Castro, desse extraordinário fantasma que é o partido "Os Verdes", e ouvindo-a, apetece-nos fugir. Depois, pensando melhor, dada a bancada que ela habita, apetece-nos ficar. Antes ali do que noutro lugar qualquer.
posted by FNV on 4:29 da tarde
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HASTA LA VISTA, BABY!: Com um abraço para todos e até ao meu regresso (dia 16) aqui vão as famous last words:
Percorri montes e vales (cliché nº1), conquistei castelos em boa companhia, bebi rios de conversa (cliché nº 2?) e aqui estou, limpinho e renascido. Bendita aspirina! Curvo-me perante as famílias (de sangue e outras) que nunca me faltaram. E agora vou, a correr, para ti!
PS: a posta anterior é da responsabilidade do nosso Elói Cardoso.
posted by Neptuno on 3:08 da tarde
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QUANDO AS GALINHAS TIVEREM DENTES, Vargas Llosa ganha o Nobel. A crítica cerrada à moralidade ocidental de Coetzee, vale mais do que a desmistificação das utopias criminosas. É a vida, como diria o Eng. Guterres.
posted by FNV on 12:10 da tarde
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TER UM FILHO (OU DOIS):Dom João VI teve dois filhos que deram muita vida e muito sangue à História de Portugal: Dom Pedro e Dom Miguel. Ter filhos é uma grande responsabilidade, principalmente quando a Mãe se pode afastar do Pai como D. Carlota Joaquina se afastou do pobre D. João. D. Miguel sempre esteve perto de sua mãe e sob sua influência conduziu Portugal para um dos mais terríveis episódios da sua História - o reinado do cacete e do fanatismo apostólico...
posted by Neptuno on 8:32 da manhã
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ALMANAQUE DAS INTOXICAÇÕES II: De um canto de camponesas ucranianas do século XIX, sobre a cannabis:
Andrei, Andrei,
em ti plantei uma semente de canhâmo.
Vai Deus permitir-me saber
com quem me deitarei esta noite?
posted by FNV on 2:16 da manhã
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UM BLOGUE PARA O PRESIDENTE II: Quando escrevi a primeira parte deste post ao fim da manhã, tinha apenas visto a primeira página do Público num quiosque, sem ler o propriamente dito. Fi-lo agora.
Para minha grande estupefacção, os dirigentes da ASJP e do SMMP (como, aliás, o bastonário da OA) não vislumbraram no discurso do PR qualquer crítica às decisões tomadas no processo Casa Pia; o primeiro mostrou-se "de acordo" com o PR e o segundo terá até afirmado que Sampaio "seria incapaz disso, é um homem muito sensato".
Vistas as coisas assim, os receios que manifestei em relação às reacções dos sindicatos dos magistrados mostram-se completamente infundados. Tudo está bem quando acaba bem e regozijo-me com este vasto consenso institucional sobre os temas de que falou, em abstracto, o PR.
De facto, devo estar a ensandecer - eu, o amigo Causídico e os jornalistas do Público. Deixarei a minha mente maquinosa e conspirativa persistir só mais uma linha e pergunto: para onde vamos quando os dirigentes das associações profissionais da justiça mostram mais sentido de Estado do que o PR?
PS: A. Balbino Caldeira também comentou o discurso do PR em dois posts, embora em perspectiva de que eu não partilho.
posted by PC on 1:10 da manhã
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TERNURA II: O NRA do Muro Sem Vergonha (link na coluna da direita) comenta um post meu sobre um prefácio de 1945 de Jorge Amado, a um Prémio Estaline. Deve estar a amolecer, o nosso NRA, pois que não me crisma de cavalgadura ou quebra-bilhas, embora ache que eu confundo Engels com um dos irmãos Marx. Antes levanta uma interessante questão: a responsabilidade dos intelectuais é um pano branco, ou tem manchas?
Céline ou Pound, podem ou não, ser classificados como fascistas e geniais. Como Maiakowsky pode ser classificado como colaboracionista. Do estalinismo.
A diferença subsistirá: não se trata de saber se a santidade cauciona a boa literatura, antes do grau de envolvimento e de identificação de um intelectual com um regime. Um arquitecto como Albert Speer esteve directamente envolvido, Céline não. O nosso NRA ignora a subtil diferença entre a realidade e o desejo. Curioso, para quem vem das terras da utopia.
ESTAMOS TODOS DE PARABÉNS: O Pedro Lomba, na minha modesta opinião o melhor escriba da blogosfera lusa, está de volta e em forma. De tanto citar uma máxima de Conrad (he who wants to persuade should put his trust not in the right argument, but in the right word), cumpriu-a: no seu blogue encontramos sempre a palavra certa, a expressão mais adequada, a imagem mais feliz.
Com a sua volta, estamos todos de parabéns.
posted by NMP on 6:58 da tarde
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INTERACTIVIDADE: Apesar de não termos a função de comentários agradecemos opiniões, ideias, sugestões e insultos. Para lobosdomar@hotmail.com
posted by NMP on 6:38 da tarde
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QUESTÃO DE ESTRATÉGIA:Excelente artigo que não contesta as opções políticas de fundo da Administração americana, mas sim a estratégia de abordagem às opiniões públicas árabes.
Normalmente as opiniões públicas árabes são vistas do Ocidente como monolíticas, respeitadoras da autoridade política e religiosas, pan-arabistas e impenetráveis. A tese deste artigo é que é possível, através de uma série de media independentes e das classes médias cada vez mais sofisticadas, conquistar a opinião pública do Médio Oriente para os valores da democracia e para a renúncia a guerras santas e ataques terroristas.
Tendo estado recentemente no Dubai devo confirmar que fiquei agradavelmente surpreendido com a ponderação e relativa imparcialidade da maior parte dos media da região relativamente à questão do Iraque.
posted by NMP on 6:33 da tarde
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BENDITA HORA: A tentação é muita mas, quanto mais se sabe do caso Casa Pia mais abençoamos a hora em que aqui no Mar Salgado decidimos não comentar incidências específicas deste caso.
posted by NMP on 5:53 da tarde
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A HARMONIA é muito bonita, sobretudo numa embarcação tão diversa como a nossa. O post anterior do PC é brilhante (como se esperava), oportuno e certeiro (como se necessitava). Concordo com todas as linhas a partir do início do segundo parágrafo.
Eu também não tenho este dever mas aproveito para dizer que nunca votei no Presidente Jorge Sampaio. Talvez por isso a crítica vinda do nosso PC se torne ainda mais honesta intelectualmente.
posted by NMP on 5:45 da tarde
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UM BLOGUE PARA O PRESIDENTE: Não tenho propriamente esse dever, mas quero esclarecer que votei uma vez em Jorge Sampaio contra alguém (como sucede quase sempre que voto). Também quero dizer que não estou arrependido.
Vem isto a propósito do discurso do PR ontem em Braga, que me impressionou muito negativamente. Por uma vez, as palavras de Sampaio foram suficientemente concretas para que as pessoas as entendessem: e era justamente desta vez que se lhe pedia abstracção, quando não abstenção. Na verdade, o PR não pronunciou expressamente o nome do processo Casa Pia porque não era preciso: todos compreenderam que falava das decisões judiciais concretas que nele se têm tomado. E a invocação de que clama por uma reforma da justiça há vários anos é, neste contexto, irrelevante. Que me lembre, Sampaio nunca falou dos temas que agora se mostram controversos; falou, sim - e aí, no pleno respeito pelos limites das suas competências -, da morosidade da justiça, das condições das prisões, do excesso de presos preventivos. Mas não do regime das famigeradas escutas, nem da interpretação mais adequada (!) do Código de Processo Penal.
Ora, o que Sampaio fez ontem, foi dar voz a uma certa opinião pública sobre as vicissitudes do processo Casa Pia. E, obviamente, o PR quis que as coisas fossem lidas dessa forma - como efectivamente foram: basta ver a manchete do Público de hoje. E não podia fazê-lo. A legítima vontade de não ser uma figura ornamental não pode levá-lo a criticar decisões tomadas em processos judiciais, muito menos quando eles se encontram em curso.
O problema não está naquilo que o PR disse - estarei até de acordo com ele em boa parte das críticas - mas sim em ter sido o PR a dizê-lo. Quem age assim, não pode depois apelar à serenidade dos outros. Agora, Sampaio expõe-se à situação de ver o Sr. Presidente da Associação Sindical dos Juízes, ou do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, virem a terreno criticar a actuação do mais alto Magistrado da Nação (bem sei que, não se tratando de matéria sindical, aqueles corpos não têm legitimidade para tanto; mas a verdade é que o fazem, e isso é assunto para outro post). O que é, evidentemente, inaceitável.
Mas, para além disso, chocou-me o carácter banal das declarações. Já que tinha decidido falar sobre o tema, pedia-se ao PR que, pelo menos, fosse criativo, tivesse imaginação, rasgasse outras perspectivas. Ora, Sampaio limitou-se a reproduzir as ideias que correm por aí, nas mesas de café, nas colunas de opinião. Na blogosfera. É verdade: o discurso parecia uma colagem de textos de blogues, a que nem faltou o "como eu já venho dizendo há algum tempo...".
De modo que a solução para prevenir casos análogos no futuro é, afinal, bastante simples: há que dar um blogue ao Presidente, onde ele possa partilhar connosco as trivialidades do pensamento quotidiano. O Mar Salgado sugere até aos serviços da Presidência da República que reservem já o seguinte domínio: uma-bica-com-o-pr.blogspot.com.
posted by PC on 12:12 da tarde
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TO BE OR NOT TO BE: Dos tabloides: vários jornalistas vão ser processados pelos arguidos do caso Casa Pia. Interrogo-me se um ou dois blogues de jornalistas cá do burgo, vão voltar a escrever posts indignados sobre moda de atacar jornalistas.
posted by FNV on 11:17 da manhã
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WELCOME: No mar da blogosfera encontrámos uns Intrusos que são muito bem vindos. A primeira semana de textos já permitiu encontrar muitos profícuos textos para ler. Parece vislumbrar-se uma pluralidade de opiniões bem saudável e rara na blogosfera (a maior parte dos blogues colectivos são de gente com opiniões semelhantes entre elas).
Por falar em pluralidade de ideias aqui vai uma saudação para o Fórum Cidade, um blogue da estrutura concelhia de Lisboa do PS onde escreverão alguns dos bons cronistas da praça.
Encontrámos também o Geopolítica, onde algumas opiniões bem estruturadas são emitidas e uma boa selecção de artigos generalistas se encontra.
Por manifesta incompetência só agora linkamos uma das referências da blogosfera (uhhh, o vento lá fora) do jornalista Paulo Querido.
Quando pensávamos que tudo estava escrito e pensado eis que surje o Impensável para perturbar o nosso sossego mental, com acutilantes dúvidas e inquietações.
Foram actualizadas as moradas do imperdível Fumaças e acrescentado o link da versão melhorada (que excelente grafismo e disposição da informação) do Socio(B)logue versão 2.0.
Para todos votos de boas vindas.
posted by NMP on 1:53 da manhã
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TERNURA: Muito me enterneceu, passando em revista alguma blogosfera, a preocupação que dezenas de bloggers ateus, agnósticos, maoístas, trotskystas, ex-albaneses, estalinistas e outros, exprimiram quanto às pretensões misóginas e musicofóbicas do Vaticano. Sempre atentos à casa dos outros. E para a recentíssima interdição do livre uso de máquinas de escrever em Cuba, nem uma palavrita? Não se acanhem, podem cantar, não estamos na missa.
ALMANAQUE DAS INTOXICAÇÕES I: Neste jornal de bordo que é o Mar Salgado, e com a anuência do nosso Comandante, iniciarei hoje, tão infrequentemente quanto possível, um vol de oiseau sobre factos e curiosidades das histórias das intoxicações. Pode descansar o meu companheiro de bordo P.C., não é a minha tese de doutoramento em fascículos. Hoje temos esta:
Durante a Prohibition que vigorou entre 1919 e 1933, mais conhecida como Lei Seca, no ano de 1926, todos os meses eram vendidos 660.000 galões ( 1 galão= 3,78 litros) de metanol ( álcool industrial) à indústria farmacêutica e de cosméticos. Estima-se que cerca de 50% deste álcool acabava nas mãos dos bootleggers ( destilarias ilegais) para fabrico de whiskey clandestino.
posted by FNV on 9:47 da tarde
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TALVEZ SIM, TALVEZ NÃO: O rigoroso e independente Miguel Sousa Tavares, num telejornal de relevante audiência, acabou de dizer que foi uma vergonha o desfecho do processo FP-25. Mais: adiantou, resvalando para o processo Casa-Pia, que se vierem a existir arrependidos neste caso, eles deverão acautelar os seus interesses. Muito interessante. Cheio de rigor.
posted by FNV on 8:55 da tarde
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OUTONO: As nuvens apoderam-se da cidade de uma forma sorrateira. É um exército fantasmagórico, de várias formas, feitios e sentidos. A brisa incómoda já nos arrefeceu e a chuva, ameaçada, não tardará. Todos dormem. Todos? Não! O Super-Héli, herói mítico nado em Lamego, orfão incendiário mas filho adoptivo da respectiva câmara zela. Ao serviço do Zé Bombeiro, família e amigos chegados, este herói da charneca (outrora bosques frondosos) já provou resistir ao desgaste dos anos com a chama de sempre. Imune a políticos e políticas ou mesmo à sua proverbial incompetência ou ausência. Aponte-se-lhe apenas uma pequena alergia a sic-tonyte, que mais não fará do que substituir com aparato os seus espertíssimos passageiros. A onda de crime continuará a contar com ele, ano após ano, após ano, após ano...
posted by Neptuno on 2:05 da manhã
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EPC: A TSF, às 2h da manhã, acabou de anunciar um vendaval com chuva, e um novo blogue do PS sob a batuta de Eduardo Prado Coelho. Boas vindas, à chuva e ao frio ventoso, que já cá faziam falta, e ao EPC, que passa a fazer.
Se EPC escreveu há um par de meses, que nunca lhe passaria pela cabeça ter um blogue, agora alguma coisa lhe passa, lá pela sua cabeça, o que é sempre bom sinal. Só não percebi, na TSF, o estatuto editorial do blogue; Disse EPC, que a maior parte dos blogues são colunas de opinião, o que é verdade, e que portanto o dele vai ser de informação, de debate político. De caminho, deu como mau exemplo o Abrupto, de JPP.
Mas se o blogue de EPC é um blogue do PS, intitulado Camâra Municipal, porque é que terá de ser um blogue informativo? Será que EPC e Sócrates vão editar posts do estilo: Olá! Não sei se repararam, mas Levinas desnuda a meta-corporalidade bem melhor do que Derrida, não acha? Que EPC não se ofenda. Apesar do seu estilo napoleónico, aprendi com ele. Acho sobretudo que tem toda a razão, quando diz que João C. Espada não pesca patavina de Nietzsche. Um abraço e bonne chance.
posted by FNV on 2:04 da manhã
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OS NAVEGADORES:
Eles habitam entre um mastro e o vento.
Têm as mãos brancas de sal
E os ombros vermelhos de sol.
Os espantados peixes se aproximam
Com olhos de gelatina.
O mar manda florir seus roseirais de espuma.
No oceano infinito
Estão detidos num barco
E o barco tem um destino
Que os astros altos indicam.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar Novo, Guimarães Editores, 1958
posted by NMP on 1:38 da manhã
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SEM FALTA: De que fala uma mulher, sózinha, quando o imbecil que a espancou durante anos se sumiu nos meandros das estufas suiças, súbitamente assaltado pelas delícias da emigração?
Entre outras coisas, fala do que sabe, e do que não vê nas novelas que tresvê. Os seus filhos não são louros nem espertos, a sua casa em Currais-de Baixo não é como as da TV. Não sabe cantar nem representar, profissionalmente. Nenhum Valentino da Musgueira se interessa por ela, por volta dos trinta apercebe-se enfim, que a sua vida não vem na revista Maria.
Os 400 euros que ganha no Lar de velhos onde trabalha, não lhe dão alento para conhecer Séneca, nem para ouvir Marcelo na SIC. Tudo o que se fala, no cimento e no autocarro, é-lhe finalmente familiar: não lhe diz nada. Os dois garotos que o marido lhe deixou, ranhosos e refilões, têm pouco a ver com as crianças apetecíveis da revista Pais-e -Filhos.
Não é gay nem cigana, tão pouco morre à fome. Nenhuma associação a defende, pertence à maioria silenciosa dos que venceram a vida à custa de ultra-congelados, champô Kitoso e fluoxetina.
É no entanto, um dos melhores emblemas da esquizofrenia ocidental ( isto sem cedências a Guattari): vive no limbo que dela se alimenta.
BACK ON THE BLOG!: A tempo de dar aquele abraço a toda a restante tripulação, que em breve vai testemunhar uma nova e transcendente viagem deste Neptuno, sucumbido a encantos mil. Tinha saudades de verdadeiras postas de bacalhau palmeta, como a de Margarida Gil no Público de Sábado, sobre o concerto dos Stones: "Hoje era completamente provinciano ir ao concerto." Esta senhora sofre de "possidonite"! Ninguém lhe paga uma voltinha de héli?
ATÉ QUE ENFIM! Foi preciso Pacheco Pereira para se ver na TV a doce face da Prof. Maria Helena Rocha Pereira. A tradução que eu tinha de Píndaro era de Agustín Esclasans, contarei a partir agora com outra. Mas é pena que outros grandes intelectuais ainda estejam na sombra dos antigos. Homenageio Mário de Santiago Carvalho, da UC, tradutor de Duns Escoto, de Henrique de Gand e de Boécio, Maria de Fátima Sousa e Silva, também da UC, tradutora de Menandro e Aristófanes, Manuel de Oliveira Pulquério, tradutor de Ésquilo, e José Ribeiro Ferreira, divulgador helenístico maior.
Devemos-lhes muito mais do que lhes podemos pagar.
posted by FNV on 9:18 da tarde
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BEM VINDO À FAMÍLIA: O Luís Gouveia Monteiro, com quem aqui ontem nos metemos, lançou dois blogues, o Cimêncio (cimêncio, s.m. (do lat. coementu por aglutinação com do lat. silentiu). Estado calcário de pessoa ou cidade que revela uma calma fortísssima.|| Mistura de cal, segredo e mistério, impenatrável ao tempo. || União íntima; pausa fundamental.|| Suspensão de base ou fundamento.|| Sono profundo dos arredores.|| Construção imaginária; matéria-prima do espírito.||) e o Eternuridade (eternuridade, s.f. (do lat. aeternitate por aglutinação com do lat. ternu). Qualidade efémera do que é terno.|| O que hé de eterno no transitório.|| Afecto muito longo; tristeza suave e demorada.||). As definições são transcritas dos blogues.
Depois de ontem o termos mencionado pela expressão terna com que nos tinha linkado, ele respondeu com uma calma fortíssima. É chegada a hora de lhe darmos as boas vindas à família bloguística. Certos que, a medir pelos primeiros textos, os seus blogues farão jus aos nomes, que a sua leitura será uma pausa fudamental nos nossos dias e que se afirmarão como eternos no que é transitório. Saudações de todos os velhos lobos do mar.
posted by NMP on 6:59 da tarde
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OS DOIS 28 de SETEMBRO: O de 1974 e o de 1975, foram igualmentes decisivos. No primeiro caiu Spínola, no segundo caiu a máscara do PCP e amici.
Quando a FUR, ( Frente de Unidade Revolucionária) no seu Manifesto de Agosto de 1975, deixou bem claro que não confiava em eleições burguesas e o PCP convidou o MDP/CDE, o MES, a LCI, a FSP, a LUAR, o PRP/BR e o Grupo 1º de Maio, a coisa engrenou. Que queriam? Entre a habitual vulgata das nacionalizações e similares, a imediata dissolução da Assembleia Constituinte e a denúncia do seu carácter burguês. Em harmonia com os gloriosos SUV (Soldados Unidos Vencerão) pôs em prática a táctica de Petrograd primeiro: isolar o poder até que ele caísse de podre. Como não resultou, passou-se à táctica de Moscovo, o assalto directo às estruturas do poder: governo, rádios, TV, imprensa. Tudo claro, em nome do golpe fascista que aí vinha.
São Bento é cercado a 27, a RTP ocupada na noite de 28, Pinheiro de Azevedo e o Conselho de Ministros são sequestrados de 28 para 29. Mas Otelo deu uma mão ao Almirante, os Comandos limparam a desordem, e o golpe falhou.
Logo a seguir ao outro 28 de Setembro, o primeiro, o de 1974 e do apoio da maioria silenciosa a Spínola, Mário Soares preside a uma reunião da Comissão Política do PS, onde propõe um pacto de regime com o PPD, para espanto de Gama e Zenha. Soares diria mais tarde a Maria João Avillez, que pretendia
"...tomar o pulso à situação e contrariar uma tendência, muito generalizada no PS, de fazer alianças à esquerda, ou com o PCP ou, passando por cima do PCP, com a extrema esquerda".
Pois ainda bem que o fez. Se não o tivesse feito na primeira Setembrada, talvez a segunda tivesse resultado.
posted by FNV on 4:15 da tarde
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A NOITE DAS FACAS LONGAS: Uma das singularidades do processo Casa Pia é ter posto jornalistas a ajustar contas uns com os outros. Quem como eu, julgava que existia corporativismo na classe, teve de tirar o cavalinho da chuva. Só esta semana temos no Público e no Glória Fácil, (link na coluna da direita) dois exemplos com a mesma protagonista, Ana Sá Lopes. No sábado, no seu blogue, desfaz-se em salamaleques a Constança Cunha e Sá, porque esta arrasa o Expresso, na sua crónica do Independente. Hoje, no seu jornal, desmonta a suposta agressão de que Sofia Pinto Coelho terá sido alvo por um juiz enfurecido.
O Independente a dar lições de deontologia, e uma jornalista a ridicularizar maus-tratos sofridos por uma colega? A pasta medicinal Couto regressou em força.
posted by FNV on 3:48 da tarde
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DOES IT RING A BELL? Quem não foi ver os Stones pertence a uma minoria que não se alegra com a sua cidade, mais coisa menos coisa, lê-se na Natureza do Mal (link na coluna da direita). Agora digam-me cá, se estavam à espera de encontrar na Natureza, um herdeiro espiritual da mui salazarenta alegria no trabalho, propagada pela extinta FNAT?
posted by FNV on 1:12 da tarde
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EDWARD SAID & WOLF LEPENIES: Cruzam-se a certa altura por causa da velha discussão sobre o papel dos intelectuais. Said mais à esquerda, Lepenies mais à direita, ninguém nos extremos.
Said, que desconsiderava Arafat, porque o achava um anti-democrata, explicava parte do fanatismo da extrema direita pelas suas raízes na extrema esquerda: os ex-convertidos são sempre violentos e dogmáticos. Membro do Conselho Nacional Palestiniano, criticou os acordos de Oslo de 1993 porque entendeu que a OLP capitulou face a Israel. Desprezava igualmente o olhar apaixonado que o ocidente lançava à democracia israelita, porque nos territórios, Israel comportava-se como o mais fanático dos regimes.
Como se percebe, a vida de Said não foi fácil, e aqui se discute o papel do intelectual. Como calar-se ante o McCarthysmo e falar sobre Shakarov? Said não pretendia vestir a pele do intelectual superior e moralmente equidistante, antes defendia o empenho nas causas. O problema, é que as causas têm cores, a política torna-se um entusiasmo religioso, dizia.
Lepenies acerta o passo com Said quando propõe ao intelectual europeu de hoje, o estatuto de céptico nómada, recuperado de Kant. Recordando os gritos da populaça quando Lavoisier era executado - a Républica não precisa de cientistas - Lepenies desconfia mais dos modelos utópicos-criminosos, Said esburaca os podres do triunfo capitalista-ocidental.
Nenhum deles, porém, ao contrário de outros, se lembraria de se vestir de democrata em Lisboa e despir-se em Havana. Ou de chorar as Torres e ignorar Allende. É que como dizia Plessner, há sempre tempo de chegar atrasado.
posted by FNV on 12:22 da tarde
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In articulo mortis: de José Manuel Casqueiro, que já em plenos anos oitenta, era apelidado de fascista porque não queria para o Alentejo os planos quinquenais soviéticos de desenvolvimento agrícola. A História deu-lhe razão, as calúnias ficaram.
posted by FNV on 11:44 da manhã
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O TRAÇO AZUL JÁ ENTROU NO FUTURO: Estou certo de que, hoje, fomos muitos aqui. Os mapas complicaram-se - agora mudam com tanta rapidez - , mas a IF já está no seu caminho, leaving for home. Tonight.
posted by PC on 3:39 da manhã
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A ÁRVORE E A FLORESTA: Outros blogues têm participado da discussão, caso do Mata Mouros e do Liberdade de Expressão (links na coluna da direita). Estou de acordo com eles, o caso Elisa é muito mais importante no seu início do que no seu final. Início é princípio, e por isso não é crucial se Elisa sofre disto ou daquilo; Ou se acabou colocada aqui ou acoli. Serão aspectos relevantes, mas não decisivos.
E o início é o aproveitamento soez de figuras da rádio ou da TV, ou da bola e do berlinde, para levar o povo às urnas certas. A lei só por si não faz bons cidadãos, ensinava Aristóteles; Mesmo que o governo a cumprisse, e não nomeasse Elisa para conselheira cultural como se fosse conselheira de imprensa, tal não apagava a vergonhosa conclusão da comissão de Ética. Escudada na interpretação do regimento da Assembleia, concluiu que a floresta pode dormir sossegada. Não convém que um disparate esbraceje demasiado.
E assim se fica a discutir se Elisa pode ou não ser nomeada para aqui ou para ali, se foi ou não respeitada a norma legal 13234 ou não. Assim se vigia uma árvore enquanto a floresta arde.
posted by FNV on 1:55 da manhã
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PARA ELISA II: Depois de ler a nota do FNV (Olhe que não), temo não ter sido suficientemente claro. Não é a D. Maria Elisa que está agora em jogo, nem o Sr. Ribeiro Cristóvão. É o descaramento do Governo Português. E sobre isso o FNV não escreveu, porque não podia ter escrito - a não ser que tivesse dotes de predição.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.