-Exp.:Se você for neste momento ao Porto precisa de levar quatro ou cinco seguranças.
-Mourinho:Preciso.
-Exp.: Isso não significa alguma coisa?
-Mourinho: Se você for a Palermo se calhar também precisa.
Um case-study, esta habilidade para arranjar inimigos em todo o lado.
posted by PC on 3:54 da tarde
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AINDA SOBRE OS ANJOS CAÍDOS ANTES DAS NOTÍCIAS DA NOSSA MORTE: Acho que a maioria dos leitores deste blog já se habituou a ver no meu velho amigo PC (Pedro Caeiro) o meu próprio CP (Crítico Pessoal). Desenvolve com indisfarçável gosto essa função e, geralmente, com um enorme sentido de humor com o qual tenta esconder discretamente as posições que seriamente pretende divulgar.
O problema é que o estilo utilizado o leva invariavelmente a afastar-se do cerne da questão. Este era, recorde-se, o facto do CDS não ter problemas (como nunca teve) de concorrer sozinho às eleições legislativas de 2006.
Acrescentava eu qualquer coisa de óbvio, mesmo que isso incomodasse muita gente: se o CDS concorresse em coligação, seria o alvo privilegiado das críticas da oposição; se o CDS viesse a concorrer isolado, a oposição apontaria as suas principais baterias ao PSD. Isto, o ponto fulcral do que escrevi, é de tal maneira evidente que não merece qualquer discussão e deve ter sido por isso que o meu querido PC, na costumeira CP que me oferece, preferiu cingir-se ao acessório, de todo irrelevante para o assunto.
Não me importo. Quando tenho tempo livre até gosto de discutir banalidades, vamos a elas! Convém iniciar o debate pela consciencialização de que, relativamente ao conhecimento que os membros ou simpatizantes do CDS possam ter dos seus líderes, há uma grande diferença (a nível do sujeito e significado da frase) entre o terem sido enganados e o terem-se enganado.
Por outra via, é importante frisar que talvez nenhuma das hipóteses possa ter ocorrido, pelo menos na forma como PC a descreve. Bem vistas as coisas, nos últimos cerca de trinta anos, mudaram menos os valores e as posições que o CDS defende e sempre defendeu do que mudaram os valores e as posições daqueles que o lideraram.
No caso de Freitas do Amaral, a diferença é de tal forma evidente que mereceria um estudo clínico exaustivo e, muito provavelmente, pouco esclarecedor. No que a Lucas Pires diz respeito, a verdade é que infelizmente não podemos avaliar hoje o que seria o seu pensamento (podemos no entanto supor que não estaria tão perto daquilo que o CDS sempre defendeu). No singular caso de Manuel Monteiro, o problema principal é que não conseguimos sequer aquilatar qual seja o seu pensamento actual, admitindo academicamente que exista. De todo o modo, seja ele qual for, não é seguramente o pensamento do CDS.
Dir-me-á, ufano, conhecedor e triunfante, em futura e previsível CP, o PC: "mas tu apoiaste-os a todos!..." Pois apoiei. Na altura pareciam-me os melhores. Na altura eram provavelmente os melhores. Se descontar aquele disparate da equidistância de Freitas do Amaral (com a qual nunca consegui conviver convenientemente), a fuga de Lucas Pires para o sossego das listas mais convenientes (que me decepcionou mortalmente) e o episódio burlesco e infantil da caneta do Manuel Monteiro (que me fez virar-lhe definitivamente as costas), essas eram as pessoas que lideravam o partido com que eu me identificava e com as quais me identificava. Acontece que nem eu sinto que tenha mudado nem me parece que os valores e as posições essenciais do CDS tenham mudado. Contudo, não posso dizer o mesmo dessas pessoas. Mudaram e muito. E, na minha modestíssima opinião, para pior, para muito pior.
Ter-me-ei enganado ou terei sido enganado? Julgo que nenhuma das hipóteses é verdadeira: quero crer que aquelas pessoas defenderam com seriedade e honestidade as posições e os valores do CDS na altura em que o fizeram como líderes do partido. Mais tarde, por motivos ou interesses pessoais, resolveram defender outra coisa qualquer (no caso de Lucas Pires não podemos saber qual seria e, nos casos de Freitas do Amaral e de Manuel Monteiro, curiosamente, também não conseguimos descortinar qual seja).
O que podemos ter a certeza é de que o CDS continua a defender os mesmos valores e posições e esses anteriores líderes não.
E temos uma outra certeza: é a de que esses líderes, admitindo hipoteticamente que em alguma altura tenham sido anjos, não caíram - eles limitaram-se a voar para outras bandas que lhes pareciam mais confortáveis e agradáveis. Nós não.
Post Scriptum: se PC é o meu CP generalista, João Amaral não consente qualquer crítica minha a Mário Soares. Infelizmente, João Amaral, uma vez mais, só se refere nas suas críticas ao acessório. Quanto ao essencial das minhas posições face aos disparates proferidos pelo criticado relativas às revoltas militares, João Amaral nada diz. Provavelmente porque não pode ou porque tem vergonha. Eu compreendo-o e não lhe levo a mal.
posted by VLX on 1:28 da manhã
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A OUVIR (OUTRA VEZ) ANTES QUE NOVEMBRO ACABE:Al Berto, dos Wordsong, quase tão bom como
é no silêncio
que melhor ludibrio a morte
não
já não me prendo a nada
mantenho-me suspenso neste fim de século
reaprendo os dias para a eternidade
porque onde termina o corpo deve começar
outra coisa outro corpo
ouço o rumor do vento
vai
alma vai
até onde quiseres ir
, quase tão bom como a fotografia caravaggiana de Paulo Nozolino na capa de O Medo.
PARABÉNS: "Portugal lidera taxa de SIDA em UDIV'S" ( em utilizadores de drogas por via intravenosa) foi a notícia de hoje. É o resultado de quase vinte anos de existência de uma CNLCS burocrática e incompetente, acoplada a uma estrutura admnistrativa de "combate à droga" paroquial e aldrabona. Em breve voltarei a este assunto e com refrescos de memória. Muitos, meus amigos, muitos refrescos...
posted by FNV on 10:34 da tarde
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RANCOR: Helena Roseta dá hoje uma entrevista ao Independente que é um bom exemplo do discurso da suposta ala esquerda do PS, derrotada nas recentes eleições. Diz, como arquitecta e urbanista, que Lisboa precisa de alguém que domine os dossiês com competência e que tenha uma ideia para a cidade e sugere...Carrilho, professor, tradutor e impulsionador de muitas edições em Portugal sobre retórica e filosofia da linguagem. Mas acrescenta que "parece que o PS está a fazer tudo para encontrar um candidato que não seja Carrilho". Sobre Sócrates repete a ladainha que foi eleito por se lhe atribuir a capacidade de ser o anti-Santana, rematando com a ideia que este PS não está pronto para governar porque "há muitos debates que ainda não foram feitos".
Suponhamos que Alegre tinha ganho: o PS já estaria nesta altura pronto para governar? Já tinha debatido tudo? Imaginemos que o PS escolhe outro candidato a Lisboa que não Carrilho: mais uma vitória do neo-conservadores infiltrados no Rato?
Resumindo: mau perder. O que me faz sorrir é este discurso ser regularmente apresentado como o dos defensores absolutos da democracia, sempre de sobrolhos carregados e narinas dilatadas: ou seja, ela, a democracia, existe se eu ganho, ela não existe se eu perco.
posted by FNV on 5:21 da tarde
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MORALIDADE EUROPEIA: Buttiglione foi impedido de pertencer à Comissão Europeia devido às suas opiniões de índole moral sobre temas como o casamento ou a homossexualidade. Mais recentemente, descobre-se que o novel Comissário Barrot teve problemas com a justiça devido a umas felgueirices com dinheiros do partido. No entanto e tal como Barrot, muitos dos parlamentares europeus que tão solícitos foram a crucificar Buttiglione, beneficiaram da mesma amnistia que aquele, dessa forma limpando o respectivo cadastro.
Assim e como uma mão lava a outra, Barrot poderá dormir descansado e pacificamente ocupar o seu assento na grande manjedoura euopeia, onde estará entre iguais. Mas ai de quem apareça com opiniões sobre a família ou a homossexualidade que não alinhem pela cartilha do politicamente correcto, com a qual aqueles senhores iludem o eleitorado e se perpetuam, quiça imoralmente, no poder.
posted by Neptuno on 2:35 da tarde
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À ATENÇÃO DA RTP (A PROPÓSITO DA TRANSMISSÃO DO BENFICA - DÍNAMO DE ZAGREB): 1) Seria possível pedir aos locutores de serviço que, durante as transmissões de jogos de futebol, desligassem os respectivos telemóveis, para não termos de ouvir, amplificados, os t-t-t-teeee, t-t-t-teeee, t-t-t-teeee que os demoníacos aparelhos produzem quando recebem mensagens?
2) Seria possível designar para os relatos de jogos de futebol, ou só homens, ou só mulheres, para que os espectadores não tenham que assistir, constrangidos, às conversas charmosas que a natureza propicia, entremeadas de graçolas apenas susceptíveis de divertir os participantes de um processo de engate?
Antecipadamente grato, um utente da televisão pública.
Actualização: O food-i-do linka o texto acima com a frase "Há gente assim". E explica: "Vêem uma coisa diferente e desatam a reclamar". Julgo que o post é suficientemente claro, mas, de qualquer modo, aqui vai: não é a diferença que me leva a reclamar, é a falta de profissionalismo do que ouvi ontem. Exemplificando: se a RTP contratasse a Gaby Logan, da ITV, para comentar jogos de futebol e fazer entrevistas desportivas, seria uma diferença que eu muito apreciaria. A Gaby Logan não costuma fazer graças sobre os "dínamos" e os "problemas de mecânica". E sabe bastante de futebol.
A não ser que a diferença a que o food-i-do se refere seja precisamente a introdução das trocas de chistes com a "cachopa" nos relatos dos jogos de futebol. Essa é uma diferença que, de facto, me irrita. Posso?
posted by PC on 2:18 da manhã
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REGISTO:O blogue do queque-rato-de-sacristia-anónimo que em tempos tentou vir aqui ensinar sobre as citações de Cícero e sobre a hora da véspera, esqueceu-se de assinalar o aniversário do 25 de Novembro de 1975. Dos outros membros do blogue não sei, mas nele era de esperar: nesse dia, de um e lado e do outro, só estavam Homens .
BORIS VIAN: O Magazine Litteráire acaba de publicar o seu 6º número fora-de-série, dedicado a Vian. Bons textos, fotografias deliciosas, como a de Vian e Michelle, com Sartre e Simone no Procope, tirada em 1952. Fiquem com este pedaço de uma crónica, publicada em 1958 no Le canard enchaîné, na qual defende o na altura estreante Serge Gainsbourg:
(...)Vous viendrez me dire aussi que ce garçon est un sceptique, qu'il a tort de voir les choses en noir, que c'est pas "constructif""...(si, si, vous dites des choses comme ça)
À quoi je répoindrai qu'un sceptique qui construit les paroles et des musiques comme ça, faudrait peut-être y regarder à deux fois avant de le classer parmi les désenchantés de la nouvelle vague...c'est tout de même plus intéressant qu'on bon crétin d'enthousiaste avide de démolir ce qu'il n'aime pas.
O Grande Vian, um dos primeiros adolescentes, nem por acaso morreu num cinema. Aos 39 anos, no Marbeuf.
posted by FNV on 9:32 da tarde
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LIBERDADE: O 25 de Novembro "foi o fim da desfilada em que estávamos a correr para o abismo. Foi um recomeço ; um regresso à pureza inicial do 25 de Abril(...)". Quem o diz é Mário Soares, na última página do segundo volume entrevista/biografia escrito com Maria João Avillez.
Espero que para o ano, no trigésimo aniversário "do regresso à pureza inicial", o facto seja devidamente assinalado ( o deste ano é para esquecer, no paso nada): Não mais do que o do ponto de partida, mas também não menos do que o trigésimo aniversário de uma colectividade popular de berlinde.
posted by FNV on 7:14 da tarde
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O JULGAMENTO: Alexandre captura os dez gimnosofistas acusados de serem os instigadores da rebelião de Sabbas e leva-os a julgamento. A cada um faz uma pergunta e a pena de morte é certa por cada resposta errada. A um deles, o terceiro, Alexandre pergunta se ele sabe qual é o mais nocivo animal existente à superfície da terra. O gimnosofista responde: "um animal ainda não descoberto pelo Homem".
Tivesse Alexandre visto os telejornais hoje em Portugal e matava o gimnosofista.
PS: Um vazadouro de trambolhos, esta RTP do serviço público. No final do BenficaxZagreb, o prestamista de serviço anuncia esvoaçante: "não perca já a seguir no telejornal o Caso Casa Pia". Ao que replica a parceira de regabofe, uma qualquer balhastreira de serviço: " E o José Alberto de Carvalho é o nosso ponta-de-lança".
CISÃO? Já aqui dei conta da divergência da Patrística (de S. Agostinho, mas também dos escolásticos de uma forma geral) com a escola estóica. Mas essa divergência tem muitas pontas, algumas negando o nó original. Se não fosse pela causa da alegria, essa divergência quase que não existia: "aquele que ama a Deus que esteja sempre alegre, ore sem cessar, de tudo dê graças "( S.Paulo, 1 Aos Tessalonicenses 5, 16-18).
TELEPATIA: O artigo de hoje de Pedro Mexia no DN sobre o CDS/PP é assinalavelmente parecido com o excelente texto do nosso Pedro Caeiro ontem aqui publicado ( "Os Anjos Caídos"). Parabéns ao Pedro ; Mexia, claro.
posted by FNV on 4:07 da tarde
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ETERNO RETORNO: Hoje voltei lá, à casa do Luís ( da Natureza do Mal), não ao blogue, ao Hospital Pediátrico de Coimbra. A criança mais nova tinha um ouvido em apuros, fomos atendidos com gentileza e prontidão. Já lá não ia há seis anos, o espaço continua o mesmo, há mais luxo num m2 do novo Estádio Municipal que no hospital inteiro. Enquanto esperava, os meus olhos disseram-me adeus e deixaram-me como Édipo em Colono. Foram sózinhos reconhecer arestas e marquesas, guichets e cartazes nas paredes. Regressaram pensativos e com uma declaração assinada : desta vez não deixas cá uma parte de ti.
posted by FNV on 10:22 da manhã
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OS FISIÓLOGOS: Foram muitos e incertos , compilados talvez por Hugo de S.Vítor: Isidoro de Sevilha, S.Jerónimo, S.Gregório Magno, Rabano Mauro. Entre os autores do Livro das Aves ( existem cópias no Mosteiro do Lorvão e no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra*), Rabano Mauro ( de Hraban=Rabe "corvo") acaba por ter no De Bestiis et aliis rebus uma consagração à ave que lhe deu o nome. No Livro se diz que o corvo é o Diabo pois que procura primeiro no cadáver o olho, e "assim extrai o cérebro por um olho, porque confunde a compreensão da mente, destruindo o sentido da discrição" ( per oculum cerebrum extrahit, quia extincto discretionis intellectu, sensu mentis euertit.)
Bicho difícil, o corvo. No dilúvio não voltou à arca ( Génesis,8,7) ou porque se afogou ( estranho, sendo alado) ou porque ficou a alimentar-se dos cadáveres. Uma (possível) moral da história para os Fisiólogos: de igual modo o pecador que se alimenta dos desejos carnais ocupa-se com preocupações exteriores, e, tal como o corvo, não volta à arca.
Existem outras interpretações, outras morais, no De Bestiis, como a do negrume que reveste as penas do corvo: o da humildade que convém assumir contra a glória deste mundo, eam quam sumi oportet contra huius mundi gloriam humilitatis nigredinem non ostendunt. Gosto mais desta.
* utilizo a estupenda edição da Colibri (1999) da Maria Isabel Rebelo Gonçalves.
posted by FNV on 1:47 da manhã
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HUMOR: Pinto da Costa disse hoje que "o futebol tem coisas engraçadas, porque o Benfica anteontem marcou dois golos mas empatou a três". Pois é, tem piada. No outro dia marcamos um golo e perdemos um a zero. Todo um mundo de riso.
OS ANJOS CAÍDOS DO CDS/PP: Num post lugubremente intitulado "Notícias da nossa morte II", nada condizente com a sua habitual jovialidade, o nosso VLX afirma que "pensar-se que o CDS possa ter medo de ir sozinho a eleições é não conhecer o CDS nem Paulo Portas". Esta frase, na parte que me toca, é inteiramente correcta: acho que o CDS/PP (faltou o PP, Vasco, faltou o PP...) tem medo de ir a eleições sozinho e não conheço Paulo Portas.
Mas a questão é: alguém pode afirmar com segurança que conhece verdadeiramente Paulo Portas? E mais ainda: algum militante ou simpatizante do CDS/PP pode afirmar que conhece verdadeiramente os seus líderes?
A história do Partido não é famosa a este respeito. Senão vejamos:
Freitas do Amaral, fundador e primeiro chefe do CDS, teve uma liderança sólida durante largos anos e foi promovido pelos centristas até quase vencer as eleições presidenciais contra Soares. Hoje, é odiado pelo Partido, riscado da sua história e os seus apoiantes de outrora não perdem a oportunidade de o execrar. Afinal, estavam enganados.
Lucas Pires, visto durante um tempo como uma hipótese de renovação do CDS, conseguiu congregar à sua volta uma "direita arejada", mas acabou por abandonar o Partido na altura da palhaçada anti-europeísta de Manuel Monteiro, fazendo-se eleger nas listas do PSD. Paulo Portas, nesse tempo, ainda era anti-euro-frenético, e alguns de nós ainda se lembram do que então (e já antes...) ia escrevendo no Independente sobre Lucas Pires. Muitos acompanharam o director do Independente e o banimento de Lucas Pires só é hoje suavizado pela sua morte prematura. De qualquer forma, estavam enganados.
Manuel Monteiro era a direita descomplexada do 25 de Abril, próxima do povo do Portugal profundo e Ó-oliveira-da-serra. Marcou uma etapa importante do CDS/PP, ocupou um espaço político. Foi considerado hábil e corajoso. Promissor, promissor. Hoje, basta dar uma volta pelos blogues próximos do Partido Popular para ver o que dele aí se diz. Estavam, mais uma vez, enganados.
De modo que, dos líderes passados do CDS/PP, só Adriano Moreira não foi renegado pelos seus apoiantes de então. Ora, quando os simpatizantes do CDS/PP me dizem que não conheço Paulo Portas, têm toda a razão. Mas também não estou inteiramente seguro de que eles o conheçam. Quem sabe se, mais dia menos dia, vêem outra vez A Luz - e dão guia de marcha a Paulo Portas para a coorte dos anjos caídos.
posted by PC on 11:01 da tarde
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ROAD TO PERDITION: O inacreditável número de vítimas nas estradas portuguesas é apenas mais um reflexo do ambiente de pro(re)gressiva degradação social em que vivemos. Numa sociedade em que a justiça não fuciona, em que a democracia está doente e em que a "governação" é o que é , o comportamento na estrada é apenas um dos reflexos dessa mesma realidade, que estimula o chico-espertismo, a ultrapassagem pela direita e o individualismo feroz que se manifesta no desprespeito pelos outros. Em suma, é um reflexo da realidade que estimula a indiferença generalizada perante as regras e que premeia os mais espertos.
A diferença está no facto de que, na estrada, os efeitos dessa realidade são imediatamente visíveis. E terrivelmente dolorosos.
posted by Neptuno on 1:56 da tarde
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PARABÉNS À CAUSA: Calhou chegar o dia 22 de Novembro no meio de uma polémica sobre uns textos de Ana Gomes e do FNV. Razão dobrada para as felicitações que são devidas ao Causa Nossa que, no espaço de um ano, se impôs como um dos mais importantes blogues de comentário político da blogosfera portuguesa. Saúde!
posted by PC on 1:20 da tarde
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FRANGO ASSADO: Ontem na SIC-Mulher passava uma entrevista de Carlos Vaz Marques ( que o Luís da Natureza do mal alcunhou em tempos, se bem me lembro, de forma deliciosa) a Zita Seabra. Diz Zita a páginas tantas que hoje não pode ver nem cheirar frango assado. Tal fastio deve-se ao facto de ter comido quantidades industriais do galináceo quando vivia na clandestinidade: "era o que toda a gente trazia para as reuniões".
Calculo que a monotonia gastronómica desse tempos fosse tramada, mas tanto fastio fez-me arrebitar as orelhas: quem não tem um pedacinho de carinho que seja, por aquilo que comeu, bebeu ou leu nos tempos de juventude? Bom, mas o fastio de Zita , percebi depois, não estiola apenas no prato: "eles, quando uma pessoa sai do partido, nem nos cumprimentam na rua; eu sei, já o fiz."
Também Zita, que hoje vai ao cabeleireiro e é (foi?) veradora do PSD, quando passa pelo frango assado nem lhe diz olá. Não vá o bicho reconhecê-la.
posted by FNV on 1:10 da tarde
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A MINHA CASA É A TUA CASA: TOLERÂNCIA E HOSPITALIDADE: Giovanna Borradori, professora de filosofia no Vassar College, publicou no ano passado um livro, interessantíssimo a vários títulos, chamado Philosophy in a Time of Terror. Dialogues with Jürgen Habermas and Jacques Derrida.
Para além das reflexões sobre o problema do terrorismo e das suas implicações (culturais, políticas, filosóficas, etc.), é particularmente estimulante o diálogo com Derrida a propósito da noção de tolerância. Partindo das guerras religiosas entre católicos e protestantes, ou entre cristãos e não-cristãos, Derrida mostra como a tolerância tem, antes de mais, a natureza de virtude cristã (em rigor: católica), destinada a possibilitar a convivência pacífica entre a comunidade que detém o poder e os outros, "os infiéis", e que, por isso mesmo, é "uma marca suplementar de soberania": "deixo-te um lugar na minha casa, mas não te esqueças que é a minha casa".
A este substrato religioso junta-se a conotação biológica, ou organicista, que aponta para a mesma ideia de limite para lá do qual o organismo "tolerante" reage, "naturalmente", sob a forma de rejeição do organismo intruso.
Ambos os registos permitem com facilidade a apropriação política do conceito numa certa direcção: a "tolerância" como concessão, como privilégio outorgado por uma comunidade ao estrangeiro - o seu direito a ser deixado em paz enquanto se mantiver dentro dos limites que lhe são fixados.
Tudo o que leva Derrida a considerar que a tolerância é uma hospitalidade "condicional, circunspecta, cuidadosa"(e, por isso mesmo, Kant fazia assentar o "direito de hospitalidade" na verificação de que os homens, por possuirem a terra em comum, têm obrigatoriamente de se "tolerar" (dulden) uns aos outros). Assim, propõe, em sua substituição, um outro conceito de hospitalidade, a hospitalidade incondicional, que não deriva sequer de um convite, mas que está antecipadamente aberta àquele que não é convidado nem esperado, o "visitante absolutamente estrangeiro". Claro que, como o filósofo reconhece, essa hospitalidade não pode ter um estatuto político ou jurídico, até porque não pode, por definição, ser organizada - mas deve ser uma pré-condição, uma inspiração da outra hospitalidade condicional, nas suas concretas formas jurídico-políticas.
A preocupação de Derrida é pertinente e pode até aceitar-se a maneira como desconstrói o conceito de tolerância, sobretudo porque denuncia uma certa forma de apropriação política (em rigor: ideológica) do conceito. Mas a ideia de "hospitalidade incondicional", ainda que entendida como pré-compreensão e não como projecto exequível, dificilmente pode substituir a de "tolerância".
É que o problema maior dos nossos dias não é o da hospitalidade ligada ao "direito de visita" (Besuchsrecht) de que falava Kant, mas antes o da con-vivência e, em último termo, da integração (algo mais, até, do que o Gastrecht para o qual Kant já exigia expressamente um instrumento político-jurídico específico). Ora, o conceito de hospitalidade é demasiado exíguo para abranger as pretensões que dali derivam. Ao hóspede garante-se a preservação total da sua identidade (até, por vezes, a isenção das leis locais) exactamente porque é hóspede: alguém que está de visita, consciente também dos seus deveres enquanto tal, que o impedem de interferir na esfera sócio-política do anfitrião. Esta situação é muito diferente do acolhimento do estrangeiro cuja pretensão é precisamente inter-agir com o anfitrião, criando laços e atritos, reivindicando outros valores ao participar activamente no quotidiano da polis: esse não é um hóspede, na exacta medida em que nos propomos partilhar, não o espaço da casa, mas o próprio domínio sobre a casa.
O problema é então o modo da partilha (a con-vivência). E, porque esse modo (não necessariamente a partilha) se define, antes de mais, pela cultura da comunidade que recebe, é determinante o grau de tolerância (isto é: a abertura à diversidade) que ela exibe. Claro que, enquanto houver verdadeira diversidade, haverá limites para a tolerância: ela só deixará de ser necessária perante a uniformidade. Em consequência, a manutenção da ideia de tolerância no centro da questão torna a tarefa muito mais complexa, porque exige um exame aturado do que sejam, caso a caso, tais limites, denunciando, quando existam, o preconceito, a estupidez e a vacuidade das representações dominantes.
Ser hospitaleiro é fácil. Difícil é ser tolerante.
O TIROLIROLIRO E O TIROLIROLÓ: A acreditar em Luís Nazaré (Causa Nossa, link aí à direita), Vasco Lourenço alinhou pelo diapasão de Soares no Porto e foi para A Capital com a mesma cantilena, garantindo que se não fosse a destruição sistemática das forças armadas e a UE já teríamos tido um golpe de estado militar. Que dois que se juntaram à esquina...
posted by VLX on 11:48 da tarde
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PENITÊNCIA: Ofereço-me ao gozo do Vasco Lobo Xavier e do Carlos Abreu Amorim ( do Blasfémias), com o qual troco mensagens futebolisticamente cifradas. Uma equipa que está a ganhar dois a zero em casa ao Rio Ave e que por só sorte não leva uma cabazada, não pode aspirar a título nenhum.
posted by FNV on 9:56 da tarde
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BOA VISTA: Da minha varanda, nestes dias de sol, gozo do prazer de desfrutar uma boa vista. Ali ao fundo vejo uns rapazes a perseguirem o Lucílio, um moço de outro bairro. Perseguem-no porque acham que ele lhes roubou a boa vista que tinham das suas casas. Mas como disse esta semana o presidente da Junta do bairro deles , quem se preocupa com as vistas dos outros fá-lo apenas para esconder as infiltrações que tem na sua própria casa. E está de sol. Imagine-se se estivesse de chuva. Ou de neve.
PS: aproveitando a ideia de outros bloggers ( recordo-me de um post memorável sobre Estugarda e outro sobre a Madeira), tenciono esta semana fazer o elogio da bela cidade de Moscovo.
posted by FNV on 1:58 da tarde
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RESPOSTA AO ANDRÉ: O André Belo fez um comentário ao meu post "Vergonha" ( está aí a seguir aos do VLX) que ajuda a perceber o que escrevi. Diz o André que a alusão de Ana Gomes à costela judeu/cristão novo da comissária Kroes é inocente e que a blogger/eurodeputada até acrescenta "o que nós perdemos".
Lamento caro André, mas não consigo perceber onde cabe a alusão à costela de judeu quando queremos criticar alguém por estar ligado a multinacionais ( a comissária "esqueceu-se" de declarar a sua ligação à Lockeehd). A Ana Gomes tem no caso Kroes muito por onde pegar, porque raio vai buscar a "costela judeu/cristão-novo"? Porque, e essa parte também não citei, Ana Gomes diz que "não há multinacional que não tenha recorrido aos serviços dessa senhora". Ou seja, a comissária Kroes é uma mulher a dias da alta finança, e por acaso, Ana Gomes alude à sua costela judia. Não é preciso fazer um desenho porque o André Belo, se é o André do Barnabé que costumo ler, é inteligente e informado.
Resta que não insinuei nada sobre Ana Gomes, nem fiz qualquer juízo de carácter: escrevi que o que ela escreveu é uma vergonha. Apenas isso.
posted by FNV on 11:57 da manhã
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NOTÍCIAS DA NOSSA MORTE (II): Subsiste no entanto um problema que em política não se pode escamotear: as dificuldades naturais criadas às pessoas pelo governo, por qualquer governo, serão sempre imputadas ao partido maior, ao mais importante, ou seja, ao PSD (não porque o CDS renegue as suas responsabilidades mas apenas porque as coisas são assim mesmo). Será o PSD, acaso a população queira criticar o governo em 2006, aquele que ficará ferido nas eleições.
Por seu turno, ao CDS ser-lhe-á permitido chamar a si as responsabilidades positivas da governação. Por outro lado, concorrendo separados, o CDS terá sempre o apoio (interesseiro, claro) do PS, que fará seguramente a separação das águas para afastar o eleitorado do PSD para o CDS (o PS pretende apenas ter mais um voto do que o PSD para formar governo pelo que todos os votos que conseguir fazer passar do PSD para o CDS serão importantes para o PS).
Ou seja: esta coisa que se quer fazer crer de que o facto dos partidos do governo concorrerem coligados em 2006 aproveita o CDS não é inteiramente verdade. Não é sequer verdade: aproveita a ambos os partidos. Aproveita - ou, melhor, aproveitará - ou não aproveitará; mas é do interesse de ambos concorrerem coligados como é do interesse de ambos concorrerem separados: ambas as situações têm vantagens e inconvenientes para ambos e a decisão que tomarem deverá ter em conta muito mais do que aqui se diz. Não querer ver isto é não querer discutir política e apenas pretender-se dar azo aos pequenos ódiozinhos. E pensar-se que o CDS possa ter medo de ir sozinho a eleições é não conhecer o CDS nem Paulo Portas.
posted by VLX on 1:52 da manhã
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NOTÍCIAS DA NOSSA MORTE (I): Tenho-me habituado desde pequeno a ouvir os ensaios do elogio fúnebre do CDS. O refrão costuma indicar que será nas eleições seguintes que se dará a tragédia mas elas passam e voltam a passar sem que a ocorrência se dê, mesmo com muita gente a tentar desligar a máquina, outros a perorarem pela eutanásia e alguns, até, pelo suicídio. Nos últimos anos, já adulto, familiarizei-me também com a morte de Paulo Portas, tantas vezes anunciada pelos que doentiamente a desejam que deve até haver gente que pense que ele já morreu.
Contudo, quer o CDS quer Paulo Portas têm demonstrado um apego à vida e um gosto por ela que quase tornam vulgares mentirosos aqueles que apregoam os seus funestos desejos interiores.
José António Lima, do Expresso, nunca conseguiu esconder os desejos de estar presente nas exéquias de Paulo Portas e do CDS. Na última edição do dito semanário afirmava que Paulo Portas, indo sozinho a votos em 2006, correria o risco de desaparecer. Meu caro JAL: isso já foi dito por diversas vezes e em inúmeras ocasiões embora nunca tenha acontecido. O meu caro JAL não traz novidade nenhuma e, ao invés de publicar as suas pequenas animosidades carregadinhas de intenções e rancor, deveria antes fazer análise política (deve ser para isso que lhe pagam, presumo).
Ora, falando de análise política, as coisas são como são e são assim: existe um governo de coligação que se apresentará a eleições legislativas em 2006. Nessa altura, concorrerão coligados os partidos que hoje governam ou concorrerão separados. Se concorrerem coligados, aparecerão ao eleitorado com a obra que juntos conseguiram fazer, responsabilizando-se ambos pelo que globalmente fizeram e o eleitorado julgá-los-á da maneira que entender.
Concorrendo separados, cada um puxará a brasa para a sua sardinha. E sem querer agora (apenas por existir no presente momento um governo de coligação) avaliar as capacidades governativas de cada um, a verdade é que cada um dos partidos da coligação fará apelo às qualidades por si demonstradas. (cont.)
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.