MITLEIDUNG: Cada tempo tem sua hora e esta é de respeito, justa ira e, sobretudo, de comunhão na dor. Quando esta hora passar, e vier o tempo da acção, convém lembrar a dor, em forma de memória tão intensa que nos leve a querer resolver mesmo os problemas, e não a abrigarmo-nos, com vagos arroubos de bravura e ódio, debaixo dos espantalhos que vendem por aí. Odiemos tudo o que tivermos a odiar na hora deste tempo; depois dele, memória viva e cabeça fria.
100 VÍRGULAS: Tanto fedor a resistência e continuaremos o nosso estilo de vida e não sei mais o quê. O Ocidente resiste a quê? Tiram-nos o ar condicionado e a água potável e enquanto um camelo esfrega um olho pestanudo estamos sentados com os novos beys a parlapatar. Mandamos o Soares o Rosas e o Zapatero como é mano andas pobre habla comigo. Eu gosto do diálogo. É melhor do que estar morto. Com o tempo a malta habitua-se já dizia o Sottomayor é a teoria dos jogos pensam que é mau porque não estiveram em Lepanto. E em Tsavo foi a mesma coisa os leões só começaram a chatear quando o caminho de ferro avançou e em vez de 4000 coolies ficaram só 300 na roleta. É fazer meninos é fazer meninos portanto que a carne não é só para o canhão dos outros.
posted by FNV on 10:52 da tarde
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A ESPERANÇA È UMA PUTA ALEIJADA: Os homens da justiça, em tempos de fronteiras - vide O Juiz do Meridiano de Sangue, o melhor livro de violência dos últimos anos - são sempre assim: podiam ser muito piores. Bastava que em vez de vários " engenhos explosivos" tivessem colocado um só, educadamente químico. A minha pergunta é assim, porquê tanta parcimónia? Porque acreditam na salvação e na conversão, combustíveis prenhes de piedade retardada. Ainda bem que são crédulos. O velho cabeça de dinamite ( 1872, O Nascimento da Tragédia) já a sabia toda:
"Imaginemos uma geração em crescimento com esse desassombro do olhar, com essa propensão heróica para o que é monstruoso, imaginemos o passo audaz desses matadores de dragões, a orgulhosa temeridade com a qual viram as costas a todas as doutrinas do optimismo, portadoras de debilidade, a fim de viver resolutamente em totalidade e plenitude."
posted by FNV on 9:24 da tarde
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BUSINESS AS USUAL: Hoje, até ao final do dia, estarão contabilizados os mortos do atentado de Londres. Até ao final do dia, teremos também a cáfila do costume a insinuar que tiveram o castigo previsível, atendendo ao apoio da Inglaterra à política imperialista norte americana.
NA MORTE DE SOLVSTÄG: Já tinha visto uma referência do Luís - excelente garimpeiro de (bons) blogues novos - mas ainda não conhecia. Hoje, fui ver. E gostei, gostei muito.
posted by PC on 1:13 da tarde
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PAGO PARA VER: Manuel Alegre admite candidatar-se à Presidência da República "enquanto poeta", segundo entrevista concedida ao JL e hoje reproduzida no Público. Se for entre Alegre e Cavaco, voto no primeiro. Mas se é para ser uma peleja das letras, Vasco Graça Moura deveria ser o adversário. Não aprecio o estilo poético de Alegre - acho-o demasiado gongórico - mas gostava de o ver como PR. Já o imagino a dizer, na sua voz de Winchester 570 Nitro: "Camaradas, enquanto poeta, dissolvo esta merda (a Assembleia da República)!
DA SÉRIE "FRASES QUE IMPÕEM RESPEITO":Uma coisa é o que ela quer, outra coisa é o que tem de ser (ouvida por fonte fidedigna a um homem acusado, em processo penal, de não se conformar com a separação).
A VER COMBOIOS...: No programa Prós e Contras da RTP desta semana, Belmiro de Azevedo lembrou um caso que ilustra bem a realidade portuguesa dos últimos vinte anos, e que ajuda a explicar a situação a que se chegou. Dizia o Engº que há vinte anos fazia a viagem de comboio entre Lisboa e Porto num Alfa que demorava cerca de duas horas e meia. Hoje em dia, a mesma viagem dura perto de três horas. Lembro-me que foram investidos milhões em estudos, em concursos, na compra de comboios pendulares, na conversão das linhas (em que se gastaram mais uns milhões em virtude das linhas não estarem aptas a receber os comboios que se compraram), etc., etc. Vinte anos depois, a viagem é mais lenta. Alguém se lembra de alguma responsabilidade civil ou criminal pelos milhões de contos que "desapareceram" de forma tão proveitosa para o país? Alguém se lembra de alguém ter sofrido a responsabilidade política pelas decisões tomadas?
posted by Neptuno on 5:53 da tarde
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EM ALEXANDRIA: São as notas de viagem, organizadas e publicadas 57 mais tarde, pelo filho, José Maria de Eça de Queiroz, sob o título, " O Egypto". Eça vai em 1869 assistir às cerimónias de abertura do canal do Suez, e em conversa com um engenheiro do canal, pergunta-lhe sobre essa immensa legião d'arabes que o Vice-Rei manda todos os annos estudar a Paris. O engenheiro tinha estado a explicar-lhe como a organização colonial do Egipto, articulada com a legislação árabe, dá cabo da vida do fellah, o camponês/proletário do delta do Nilo. Eça esperava mais da juventude, mas o engenheiro desilude-o:
"Ah! Que boa farça isso! Escolhem-n'os em cada aldeâ, entre os árabes que saibam soletrar o arabe. São esse os que vão. Vestem-n'os n'um alfaite d'Alexandria e mandam-n'os pelo paquete de Marselha. Em Paris, as criaturas são mandadas para as escolas, ao acaso. Precisam em primeiro lugar de apprender o francez; depois, começam a percorrer todas as escolas, todos os cursos. Fazem-n'os estudar alternadamente engenharia, direito, medecina, artilharia, architectura. No fim de 4 annos, teem barba e são profundamente imbecis. Mas viram os cafés de Paris, teem uma idéa do que seja uma lorette, a Marselheza e o Punch. Voltam ao Egypto. Se teem proteccções, se o Pachá symphatiza com a côr das calças que um d'elles trouxe de Paris, fal-o entrar nas funções civis, isto é, vai ser amanuense na alfandega ou empregado nas coudelarias do Pachá. Se não tem protecções, faz-se cicerone nos hoteis d'Alexandria."
Hoje é tudo muito diferente, não é?
Ao Vintage: Sou proctologista. Mas porque diabo quer ter a minha profissão? Um desejo (in)consciente tardio?
posted by FNV on 11:43 da manhã
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TENHO DE IR FAZER O TESTE:"Não detectamos consciência social na sua intervenção", acabou de dizer Luís Fazenda, do BE, ao ministro das Finanças, hoje no debate parlamentar. Esta gente tem radares e sonares para detectar se os outros têm "consciência social". Esta gente é que sabe, essa é que é essa.
posted by FNV on 11:16 da manhã
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OS VALENTES DE SOFÁ: O pretensiosismo e o snobismo de classe de alguma auto-intitulada esquerda (?), revela-se nestas histórias das cimeiras do G-8. Quando são patrulhas de vigilantes populares que querem perseguir traficantes, ou claques de futebol que partem estações de serviço, essa esquerda indigna-se e clama pelo estado de direito e pela autoridade; Quando são grupelhos de meninos-ricos que apedrejam a polícia nas manifestações " anti-globalização", chora-lhes as mazelas. Boaventura S. Santos resolve o problema muito mais elegantemente: assegura que estes hooligans são infiltrados provocadores, como o fez aos microfones da TSF, na altura da cimeira de Génova. Mas a inteligência não se aluga e o Prof. Boaventura não pode estar em todo a lado ( vai muito aos EUA, entre outras ocupações), tem muitas aulas para dar.
MUNDO EMPRESARIAL PORTUGUÊS: Ouvi mas não acreditei: quer a SIC Notícias quer a RTP-N, simpaticamente, afirmavam que os empresários portugueses estavam muito contentes com as propostas do governo socialista de construir o TGV e o Aeroporto da Ota. Estupefacto, resisti felizmente a mudar de canal das duas vezes e assim percebi das entrevistas que os únicos empresários satisfeitos eram Pina Moura e Murteira Nabo. Ah, bom... Só não percebi porque não quiseram também a opinião do empresário Fernando Gomes.
posted by VLX on 10:29 da tarde
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G-8 (II): Ainda em convalescença da crise de nervos provocada pela transmissão da RTP do Live 8, à medida que a memória recupera algumas das imagens do evento vou tendo algumas recaídas. Lembrei-me que as pequenas intervenções de personalidades como Kofi Annan, Bill Gates ou mesmo Bob Geldorf, juntas não ultrapassaram uns três ou quatro minutos. Obviamente e em benefício do espectáculo e, indirectamente, em beneficio da adesão a esse mesmo espectáculo e à causa que ele representa. Em Portugal, fomos obrigados a aturar um grupinho que teve quase tanto tempo de antena como os artistas, sobrepondo-se a largas partes do espectáculo. Mais do que a economia, é este tipo de terceiro mundismo - o qual, infeliz e necessariamente, terá que traduzir alguma coisa da mentalidade reinante - que me deixa deprimido e apreensivo quanto ao futuro do país.
posted by Neptuno on 1:03 da tarde
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SONDAS E METEORITOS: Fui perguntar a Simónides, que me respondeu:
Sem os deuses, ninguém, seja cidade ou homem mortal, atinge a excelência. É um deus quem tudo sabe. Entre os homens, nada se consegue sem dano.
Quem mo traduziu foi a minha querida Maria Helena Rocha Pereira, mas ainda hei-de perguntar-lhe se Simónides não quereria antes ter dito"sem engano". Se nenhum deles se ofender, claro.
posted by FNV on 12:47 da tarde
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INFANTILIDADES: No momento em que aos portugueses são exigidos inúmeros sacrifícios para tentar resolver o desgoverno das contas públicas, o mínimo que se pedia a este governo socialista era que não fosse a correr infantilmente gastar tudo em cromos e gelados. Fosse este governo socialista minimamente adulto e seria obrigado a considerar este dinheiro que exigiu dos contribuintes como se de um empréstimo se tratasse, um empréstimo que deveria servir unicamente para resolver o problema das contas públicas o mais rapidamente possível e que deveria ser - também o mais rapidamente possível - devolvido aos portugueses sob a forma de diminuição drástica dos impostos. Porque é disso que a economia portuguesa necessita: redução dos impostos e do peso do Estado. Arrecadar o dinheiro dos contribuintes e vir anunciar despesas em TGV's e Aeroportos é uma criancice. Porque é que desta vez Jorge Sampaio se cala?
posted by VLX on 11:29 da manhã
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MOELAS: Em Guantanamo, alguns exemplares do Corão foram deitados para a sanita e levantou-se um charivari dos diabos, também Portugal. Em 1979, em Kabul, por todo o lado ardiam fogueiras alimentadas por milhares de exemplares do Corão. Quem os queimava era o novo regime de Taraki, prontamente reconhecido pela URSS. Querem apostar que alguns dos que agora se indignam e escrevem longos textos sobre a diginidade cultural e religiosa do Islão, por essa altura já cá andavam, calados e sossegados? E o que é pior, com a goela aberta ou fechada, sempre com o mesmo tom de insuportável superioridade moral?
Caro Antonio: penso que para certas pessoas ( e não sempre para as mesmas), a dignidade cultural e religiosa do Islão é um valor altamente subjectivo e circunstancial, embora essas mesmas pessoas queiram apresentá-lo hoje como um valor absoluto. Era esse o meu ponto. Guantanamo foi citado como um exemplo recente. Apenas isso.
caro Antonio: também já percebi o seu ponto. O meu texto, julgo, deixa implícita a resposta: violência simbólica num plano de absoluta e contingente superioridade ( uma cadeia). Foi Freud que disse, quando os nazis queimaram os seus livros, que a humanidade estava a progredir, porque noutros tempos tinham-no queimado a ele. Não sou tão optimista, mas isso fica para outras andanças. Um abraço pela atenção e espero que para a próxima eu possa saber com quem estou a "falar".
posted by FNV on 2:00 da manhã
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OS TIGRES NÃO VOAM: Manda um provérbio hindu: não te queixes por Deus ter criado o tigre, antes agradece por não lhe ter dado asas. Alberto João Jardim, na sua recente boutade sobre chineses e indianos, presta um serviço inestimável a Portugal. Em primeiro lugar, porque ladra feio o que muitos portugueses rosnam de viés , oferecendo uma figura de identificação. Esta figura é importante para nivelar a espuma do debate: o lixo não pode ficar só nas ruas, os bons pensamentos não podem ter o exclusivo dos media. Porquê? Porque estamos todos no mesmo barco. Depois, é a este barco que Alberto João oferece os serviços de bom imediato. Em tempos de crise estratégica, a Europa deu sempre atenção ao discurso da autarcia racial e da homogeneidade étnica. Este discurso, esta configuração político-cultural diante de uma interpretação do mundo, exprime nestes tempos a sua evidente vacuidade: isolacionismo, fechamento, morte a prazo. Le Pen, Haider, Jardim, brindam com diferentes flutes mas com o mesmo mau champagne, aproveitando o refúgio de um humanismo de pacotilha. Lembram-se da Primeira Ministra Socialista nomeada por Miterrand, a Srª Edite Cresson, cuja primeira bravata visível foi fretar um avião em Orly para recambiar imigrantes ilegais? Que este discurso exista, que seja exarado pelas figuras que na cidade representam o medo, a desconfiança, a desordem. Tudo isto existe. É bom que também o tigre exista, que seja bem visível. Até porque não pode voar.
G-8: Ó senhores doutores do G-8! Por favor, perdoem a dívida e acabem com a fome no Mundo. Já agora, que são tão poderosos e se não causar muito incómodo, queiram ter a maçada de obrigar as televisões do terceiro mundo que, no futuro, transmitam certames do tipo do Live 8 a permitirem que os telespectadores vejam o espectáculo! O grupo de sábios que a RTP arranjou para comentar o evento (para quê?), que tanto gosta de se ouvir, sarrazinou ad nauseam a "mensagem" inerente ao evento. À conta de ouvir um grupo de secas a repetir setecentas vezes a mesma frase com prejuízo do visionamento da actuação de alguns dos maiores nomes da música rock mundial, espero que a causa não tenha ficado abalada. Compreendo que aquela malta tenha aproveitado o ensejo para brilhar, já que ninguém ligaria o televisor para os ver ou ouvir. Para se perceber bem o ridículo da coisa, imagine-se uma final do campeonato do mundo de futebol em que se interrompia consecutivamente o visionamento do jogo para que no estúdio algumas iluminárias discorressem sobre determinados lances, enquanto o jogo continuava.
posted by Neptuno on 5:05 da tarde
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COMO O TOLO NA PONTE: Por um lado, deveria comprar o kit de sócio do SLB, pois também quero um "Benfica campeão"; por outro, Luís Filipe Vieira disse que se demitia se não vendesse 200.000 kits. Que fazer?
QUERELLE: Os praças da marinha andam muito saídos da casca.
posted by FNV on 8:39 da tarde
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POLÍTICA À PORTUGUESA: confesso que nunca fui grande adepto de José António Saraiva, do Expresso; sempre o considerei ambíguo, dúbio, redondo, pouco esclarecedor e cinzento. A melhor caracterização que dele alguma vez vi foi no Independente, num número especial de uma revista publicada há muitos anos, em que se imaginava uma revolução comunista no país; perguntavam-lhe a opinião e a resposta final era.... talvez. Mas confesso que desta vez me impressionou. Para amostra do que pensa de MM Carrilho, JAS escolheu uma imagem que claramente põe à mostra tudo aquilo que queria demonstrar com o seu artigo.
Num segundo momento, e referindo-se a uma pequena picardia com o Presidente da República sobre o facto de ter escrito que este não tinha falado da necessidade dos emigrantes cumprirem a lei, retracta-se, citando Sampaio (e, muito provavelmente, por indignação deste último), dizendo que o PR o tinha feito. E esclarece: «Jorge Sampaio referiu-se de facto ao assunto, dizendo que encarar a "realidade" da emigração "é também punir quem se julga acima da lei ou quem a viola, sem derivas securitárias ou falsas soluções pretensamente patrióticas".» Quem consegue aproveitar uma curta coluna semanal para, em duas penadas, demonstrar tamanho sentido de humor, não pode ser má pessoa. Reconciliei-me com JAS, vinte e tal anos depois.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.