FREITAS DO AMARAL: Tenho de confessar que é um pouco desgostoso que vou assistindo à triste figurinha de quem tão entusiasticamente apoiei em 1986 e até depois. É confrangedor ver tão ilustre jurista sempre em biquinhos dos pés e ouvir as suas declarações insensatas, tentando alcançar não sei bem o quê mas que todos sabemos não estar ao seu alcance. A última rezava assim: «(...) se a direita fosse muito inteligente ficaria muito honrada e orgulhosa de que um dos seus elementos fosse respeitado pela esquerda.» A frase é um monumento ao completo disparate.
Se a dissecarmos, ela começa por dizer que a direita não é muito inteligente, não é inteligente ou será mesmo burra; logo a seguir, integra-se FA nesse mesmo grupo por ele definido, afirmando-se ser um desses elementos de direita (coisa que me abstenho de comentar dentro das considerações anteriormente feitas pelo Professor); por fim, acha que a esquerda o respeita.
Não é bem assim; respeito não é realmente o melhor termo: a esquerda gosta de FA. Não o respeita: gosta. E gosta por motivos bem simples: é que as posições de FA têm-se aproximado das posições de esquerda e não há nada melhor para esta do que uma pessoa catalogada de direita andar por aí a arvorar as bandeiras vermelhas. Recordemos apenas que Mário Soares já apelidou FA de fascista; a FA, Álvaro Cunhal preferiu Mário Soares (a quem chamou na altura, delicadamente, “o sapo”, pedindo no entanto aos camaradas que o deglutissem).
Os epítetos eram injustos mas o que acontece agora é que FA aparenta-se com a esquerda, assume as suas posições, defende as suas ideias, escolta os seus interesse, adere aos seus programas, caminha as suas marchas.
A direita não o apoia? É claro que não. Mas não é por não ser muito inteligente: é por ter olhos na cara, que é quanto basta. Só mesmo FA é que pode achar que a direita não é inteligente mas isso é um problema dele e só dele.
POLÍTICA VIRTUAL: Recupero a expressão usada por Eurico de Figueiredo para caracterizar o guterrismo e a actual direcção socialista, sua discípula, a propósito da crónica de Pacheco Pereira hoje publicada no Público. A referida crónica, entre outros aspectos, diaboliza o excesso de futebol na sociedade portuguesa e também critica o facto desse excesso se traduzir, principalmente, no destaque e na exagerada cobertura televisiva - e não só - de tudo o que possa estar relacionado com o futebol.
Concordo em absoluto e penso mesmo que é terceiro mundista que os telejornais abram com notícias de jogadores, de despedimentos de treinadores ou de eleições em clubes, entre outras novelas da bola.
No entanto, voltando à dita crónica, penso que faltou alguma reflexão sobre as causas deste fenómeno. Parece-me que o futebol foi ocupando um espaço mediático que antes pertencia à política. A discussão política séria, entre pessoas sérias que discutem projectos e que os tentam pôr em prática merece credibilidade e desperta a atenção dos cidadãos, já que sentem que se discute o seu futuro em sociedade. Se estes "descobrem" que estão perante "política virtual", que só discute lugares, que se esgota na conquista de votos e que vive em permanente maquilhagem televisiva sem substrato e que não tem outro projecto que não o perpetuar-se no poder, custe o que custar, então os cidadãos deixam de acreditar na política com algo sério. Passamos a ter a famigerada "política espectáculo", que mais não é do que isso mesmo: um (triste) espectáculo sem tradução substantiva. E que merece a mesma atenção que é dispensada a qualquer outro espectáculo.
E o futebol tem uma grande vantagem sobre a política como fenómeno de entretenimento: é apenas um desporto e... tem, sem dúvida, melhores artistas.
posted by Neptuno on 11:20 da tarde
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O SEXO DO FILHO: O Dr.Luís Villas-Boas provocou o terramoto esperado, com as suas ideias sobre a a adopção em casais homossexuais. Desprezo o patrulhamento ideológico que se seguiu ( só faltou quererem queimar o homem), mas agradeço-lhe ter demonstrado, uma vez mais, que é da boca dos psicólogos, sobretudo os clínicos, que sai a maior quantidade de asneiras "científicas". Como colega dele ( em part-time), talvez possa contribuir com uma ou duas pequenas notas.
Metade da minha vida profissional passo-a, há cerca de doze anos, com a cabeça enfiada nas histórias das vidas das pessoas, e devo uma boa parte dos charutos e livros que compro, ao produto da educação heterossexual biparental. Muitos do que me procuram fazem-no porque foram criados em ambiente certificadamente heterossexual: violento, egoísta, desinteressado, narcisista, histérico, frio. Nada me diz que um par de lésbicas ou de homossexuais não possa educar crianças tão bem ou tão mal, como qualquer outro casal heterossexual. Da minha pequena janela para alma humana, esperma e óvulo não garantem a qualidade da dança.
Outra questão, é a influência de um ambiente familiar homossexual sobre a futura orientação sexual do infante. Todos os doentes, homossexuais e lésbicas que ajudei, foram criados em ambiente heterossexual: tal não os impediu, au contraire, de desenvolverem uma orientação sexual alternativa. Então qual pode ser o problema? Apenas a velocidade dos processos de inovação. Antes de se permitir a adopção a casais homossexuais, deve-se avançar na concessão de direitos iguais a estes casais: em termos conjugais, fiscais, de tutela educativa, etc. O objectivo seria dotar as famílias homossexuais das mesmas armas do que as outras. Uma criança educada por homossexuais, terá nos primeiros tempos, algumas dificuldades de aceitação, na escola, na rua, no clube de bola local. Sempre foi assim nos processos de inovação, como qualquer aprendiz de psicologia social saberá: a pressão para a uniformização, exercida pelos códigos culturais maioritários não é brincadeira nenhuma, faz parte do proprio processo. Protegidas legalmente, sem concessões, lésbicas e homossexuais poderão contrabalançar as naturais dificuldades de aceitação, que as suas crianças sofrerão numa primeira fase do processo. Óbviamente que os critérios para a adopção devem ser idênticos, qualquer que seja a sexualidade do casal adoptante: não se entregam crianças a quem quer brincar aos papás e mamãs.
Resta um último grão de areia, que muitas vezes vem ter comigo em forma de pergunta de um ou outro aluno curioso: "Pode gente que rompeu com o modelo educacional/familiar no qual foi criado, oferecer um ambiente familiar confortável alternativo?" Pode, pode: como dizia João dos Santos, estamos cá para fazer falhar a educação que recebemos. Sosseguem as boas almas, tal não significa nenhuma deriva demencial pós-moderna, habitualmente monótona no seu ressentido processo de desconstrução. O que João dos Santos queria dizer, é que ser pai ou mãe, implica uma revisão criativa do que foi nos legado nesse campo, implica a capacidade de (voltar a) escolher o que queremos passar aos nossos filhos, de acertarmos o passo com a capacidade de estarmos sós. Uma mulher que não quis ter um marido, mas que quis ter um filho com outra mulher, lá terá as suas razões. Nós é que não temos nada a ver com isso.
posted by FNV on 4:50 da tarde
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TIRO E QUEDA: Pacheco Pereira espirra (sobre a blogosfera), o Barnabé constipa-se.
posted by FNV on 4:50 da tarde
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RIR DE QUÊ?: É-me difícil imaginar uma configuração de candidatos presidenciais tal que me levasse a votar em Santana Lopes. Mas fico perplexo com a galhofa que vai por aí nos blogues da esquerda lisboeta por causa da sua eventual candidatura. Acham mesmo graça? Eu não me fio tanto.
posted by PC on 2:30 da manhã
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ESQUERDA LÚCIDA: Aquela que, pontualmente, se recusa a ser enganada com paixões platónicas ou hiperemotividades estéreis e consegue ver as coisas como elas são. Desta vez falamos de Eurico de Figueiredo, que constatou algo que, por esta altura, já deveria ser um dado adquirido para toda a população: que "Guterres não serve para Presidente" - o próprio Guterres constatou em tempos que também não servia para PM, acrescento eu - e que o maior defeito da actual direcção socialista é o facto de ser excessivamente guterrista, sendo o guterrismo "política virtual".
Se os próprios socialistas pensam assim...
CHEERS: Aquele bar. Voltou a dar, agora na Sic Gold. Acabo de fazer as pazes com aquele canal.
posted by VLX on 11:50 da tarde
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ECOS: É fantástico como não tendo estado aqui ninguém a tocar a campainha ainda haja por aí quem salive abundantemente e ferre nervosamente o teclado com disparates. Dado que infelizmente me falta o tempo para responder como gostaria a mensagens bastante interessantes e para participar em discussões construtivas, tenho por bom o hábito de nem sequer comentar aquelas que apenas pretendem ser ofensivas ou mesmo aquelas que constituem infundadas chalaças ou larachas. Resolvi abrir uma única excepção a propósito dos ditos de JPH, do Glória Fácil (link aí à direita, por dificuldades minhas já conhecidas), não obstante ser evidente que temos diferentes ideias sobre o que é democracia ou, mais propriamente, liberdade de expressão em democracia (enquanto eu acho que se pode dizer o que se entende, encontrando-nos apenas limitados pelos direitos dos outros; JPH parece achar que se pode dizer o que se quiser, desde que limitados ao que ele próprio entende).
E a JPH digo apenas que quando me quiser citar, cite à vontade. Mas correcta e completamente, a frase toda, pois de outra forma poderá fazê-lo mal e com um sentido diferente (como aconteceu) e, com isso, dar a triste (e certamente errada) impressão de que tem manifestas dificuldades na leitura e interpretação de textos. (Desculpem, não resisti).
posted by VLX on 11:34 da tarde
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DEPOIS QUEIXEM-SE: Estive a ver a primeira hora do debate na SIC-Notícias sobre o aborto. Se vier aí referendo sobre o aborto, virão debates, e os da TV serão os mais importantes, do ponto de vista da decisão do povo urbano ( o outro lá estará firme e hirto, como da outra vez). Se querem alterar a lei, se querem que vença o SIM, fechem Ana Gomes e Ilda Figueiredo em casa (de preferência não na mesma, a menos que o quarteirão seja habitado apenas por deficientes auditivos). Quem vos avisa, amigo é...
posted by FNV on 11:03 da tarde
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PATRICK O’BRIAN: Confesso que até há bem pouco tempo este nome me dizia pouco ou nada, até que pessoa amiga e conhecedora me aconselhou os seus livros. Rapidamente - talvez mesmo avidamente - comprei e tenho devorado a triologia com enorme agrado. Para quem gosta de romances históricos devidamente fundamentados, dizem os conhecedores que este é um dos maiores escritores do género, dando-nos uma excelente perspectiva da vida no mar, a bordo de navios de guerra britânicos, no princípio do séc. XIX. Não sendo um conhecedor, limito-me a dizer que os achei excelentes. Muito recentemente foi produzido um filme baseado nos livros, protagonizado por Russell Crowe. Diz-se que o filme é bastante bom mas, mesmo tendo tido conhecimento de que ele não segue literalmente o enredo dos livros, vou acabar de lê-los primeiro antes de o ver, sistema que prefiro de longe. Acho que não há nada como formarmos, ou irmos formando as personagens, os cenários e as paisagens na mente, embrenhados num bom livro, ao invés de elas nos aparecerem comodamente aos olhos num écran. Por muito bom que seja o filme, ou a transposição de um livro para o cinema, esta última forma de arte não substitui o prazer da leitura ou a cumplicidade que se forma entre o leitor e o livro. Por muito bom que seja o filme, se o livro for bom a fita irá sempre aparecer-nos como uma decepção, ou meia decepção. E eu prefiro decepcionar-me no cinema do que com um livro, pelo que prefiro ler os livros primeiro antes de os ver transpostos para o cinema.
Imagino a maioria dos leitores (compulsivos ou não) pense o mesmo, ou coisa semelhante. Mas, quando vejo as crianças de agora conhecerem do vídeo simples personagens de banda desenhada como o Astérix ou o Tintim, ou até o famoso Harry Potter sem nunca terem aberto ou lido algum dos seus livros, penso com alguma tristeza que daqui a algumas gerações toda a informação chegará pela imagem e que os nossos bisnetos ou trinetos nunca sentirão o prazer de se afundarem num bom livro. Talvez nunca venham a saber sequer o que perdem.
posted by VLX on 11:01 da tarde
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COMO É? Devo ser estúpido, por isso fiquei baralhado: o Tribunal de Aveiro declarou como não provado que as sete mulheres tivessem cometido crime de aborto. Cá fora, os manifestantes, como Miguel Portas, por exemplo, diziam que "isto só mostra como a lei tem de ser alterada". O que tem a dificuldade da prova a ver com a necessidade da alteração da lei?
posted by FNV on 9:07 da tarde
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PROSELITISMO AO CUBO: Se não leram a A Capital, ou leram, mas querem recordar um aroma queirosiano, então compulsem a edição de hoje do Diário as Beiras, mais propriamente a página cinco. Já não se trata das desventuras do Melchior ou do Arthur, trata-se de nos divertirmos com a cobertura isenta e objectiva do autor da peça. O tema é uma interpelação do vereador Luís Vilar, do PS, sobre o aterro de Taveiro. Pobre Luís: Bush seria mais bem tratado num qualquer pasquim oficial da Coreia do Norte.
posted by FNV on 7:04 da tarde
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USAR A LUPA: 4500 padres católicos norte-americanos terão, nos últimos cinquenta anos, abusado sexualmente de menores de idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos de idade, é a notícia de hoje. Estes números terão de ser vistos com cautela, antes de se cruxificar os sacerdotes. Se lermos a série de posts do nosso P.C. sobre a Lei Quadro da União Europeia, podemos bem imaginar que muitos destes casos não são o que parecem. Antes de se afiar o machado, compreenda-se que este número gigantesco pode muito bem incluir centenas de relações carnais (fora de um quadro de institucionalização), entre jovens (ou não, pouco importa) sacerdotes recém-ordenados e acólitos ou raparigas da catequese de 15 anos e 10 meses ou de 16 anos e onze meses. Pedofilia????
posted by FNV on 3:21 da tarde
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SERENIDADE, CARAMBA! Precisa-se, como diria o nosso PR. O Nuno Sá Lourenço, do Público dá-nos hoje conta de agressões e intervenção da PSP nas eleições para a direccção da distrital de Setúbal da Juventude Socialista, realizadas (?) ontem. Até aqui, tudo normal na alcateia ( quem não se recorda do espectáculo protagonizado por Jamila Madeira e a sua oponente, nas eleições nacionais da JS de há dois anos?). O que já é mais engraçado é o slogan gritado pelos delegados de uma das facções contra a outra ( não me perguntem qual, não percebi patavina): "Fascistas para a rua, a JS continua".
Ó rapazes: se gastam assim o adjectivo, o que é vão chamar ao Santana em 2005, ou ao Durão em 2006? Nazis? Inquisidores?
posted by FNV on 11:43 da manhã
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E AGORA BRAGANÇA?: Fecharam a última indústria próspera da cidade. Vem aí a depressão. As "mães" lá estarão para aparar e queda e mostrar que são a verdadeira alma da cidade. As reuniões dos homens passarão a ser até mais tarde. Mais longe... Mas, tudo bem, desde que seja longe.
Fechar os bares de alterne em Bragança tem o mesmo impacto que teria o encerramento dos hipermercados em Lisboa. É a desorientação. As pessoas habituam-se a tudo e, depois, têm mais dificuldades em largar. Como as de Felgueiras, por exemplo, que se habituaram a ser vigarizadas e que, por isso mesmo, pedem o regresso da trambiqueira Fátinha. Que talvez volte no mesmo avião que as "primas"de Bragança.
No fundo, resta-nos rezar para que se tenha eliminado uma causa e não um efeito, e que a próxima capa de revista internacional com Bragança não seja sobre as suas ruínas, na National Geographic.
posted by Neptuno on 12:44 da manhã
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O COMPLEXO DE PETER PAN (IV DE IV):Infantilizar para controlar. Não é difícil perceber quais serão os resultados da adopção das novas regras. As cifras negras serão monstruosas, mas haverá sempre, tal como no aborto, dois ou três bodes anuais, descobertos de modo fortuito ou pior que isso, a justificar a existência da lei. Antigamente, quando surgiam leis feitas com os pés, tínhamos a escapatória romântica: “um dia destes emigro”. Hoje, nem isso. Começa a só restar Pasargada.
posted by PC on 12:16 da manhã
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O COMPLEXO DE PETER PAN (III DE IV): Mas para além dos alargamentos da punibilidade provocados pelas proibições analisadas nos posts precedentes, que são mais ou menos discutíveis, mais ou menos susceptíveis de acomodamento racional, há outros dois que são inaceitáveis – e que, na verdade, provocaram estes posts.
O primeiro diz respeito ao material pornográfico produzido com “pessoas reais com aspecto de crianças” (sic). Dirá o leitor recto: então, o que se protege não é o menor de 18 anos, mas a aparência de menoridade. E o direito não serve para proteger aparências, nem uma ou outra moralidade.
Só que os Governos da Europa não são totalmente estúpidos e, antecipando esta crítica óbvia, permitem que os Estados criem uma “isenção de responsabilidade criminal” do agente (sic) se se provar que a “vítima” tem mais de 18 anos. Não perceberam? É simples: até aqui, havia que provar que o menor era menor. O que faz sentido, quando se quer proteger a autodeterminação sexual na menoridade. Com a transposição da Decisão-Quadro, bastará que não se prove que o suposto menor é maior. Na dúvida: é crime. Ora, num momento em que o grosso da pornografia é adquirida por consumidores que estão a dezenas de milhares de quilómetros de distância do local onde o material foi produzido, bem se sabe que será virtualmente impossível ao arguido provar, na esmagadora maioria dos casos, que os(as) retratados(as) são maiores. O que leva a exigir ao acusado a ignominiosa “prova impossível” da sua inocência.
O segundo diz respeito à divulgação de “imagens realistas de crianças não existentes”, expressão que, se não tivesse consequências funestas, seria hilariante. Isto significa, muito simplesmente, que passará a ser crime a divulgação e a posse (prevê-se a possibilidade de os Estados Membros isentarem de responsabilidade criminal o produtor – e só ele – que produz as imagens para seu uso pessoal, e só quando não houver risco de divulgação do material) de imagens montadas, ou fabricadas por computador e talvez até os desenhos “realistas”. Como é evidente, não está aqui em causa a protecção de menor algum – por definição, inexistente –, mas apenas a vergonhosa repressão penal de alguns estilos de vida.
“Crianças” aqui não há; ou melhor, crianças somos nós, que votamos em quem decide assim e que pagamos os ordenados a quem nos proíbe isto e mais aquilo "porque sim". É a Europa a menorizar-se, a recolher-se medrosa nos braços paternais de quem promete mais segurança em troca de novos interditos. É a Europa a acriançar-se, a não questionar, a não examinar, a calar-se porque "destas coisas não se fala".
posted by PC on 12:14 da manhã
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O COMPLEXO DE PETER PAN (II DE IV): Começarei por dizer que, embora discutível, pode aceitar-se, no contexto da sociedade portuguesa, a imposição de criminalização dos actos sexuais com prostituto(a) menor de 18 anos, na perspectiva da protecção da autodeterminação sexual (artigo 2º, al. c), ii, da Decisão-Quadro). Se, no rigor dos princípios, a irrelevância criminal dos actos sexuais com maior de 14 anos (ou de 16, tratando-se de actos homossexuais, na inconstitucional distinção da nossa lei) prevista no direito actual deveria ser de aplicação geral, independentemente da motivação lucrativa por parte do(a) menor, a verdade é que a experiência pragmática nacional tem mostrado que a prostituição abaixo dos 18 anos é exercida, em regra, por menores em situação de carência económica suficientemente grave para que se exclua, de forma genérica, a genuinidade do consentimento. Trata-se, repito, de uma opção discutível, que não é necessariamente adequada a outras culturas, mas que não escandaliza em Portugal.
De todo o modo, espera-se que, quando transpuser a norma europeia, o legislador português se recorde de que a imputabilidade penal começa, aqui, aos 16 anos, e que, em consequência, seria aconselhável limitar o tipo de crime aos agentes maiores de 18 anos (“Quem, sendo maior,...” etc.), sob pena de vir a praticar o crime de exploração sexual de menor o rapaz de 16 anos e um dia que tem sexo pago com uma prostituta de 17 anos e 11 meses – resultado, conceder-se-á, pouco menos que absurdo.
Em segundo lugar, e embora a liberdade sexual positiva se adquira, como se disse, em princípio, aos 14 anos e, em qualquer caso, aos 16 (por isso não é crime manter relações sexuais com cidadãos dessa idade), a Decisão-Quadro manda que se criminalize a produção, aquisição e posse de material pornográfico onde intervenham menores de 18 anos. É verdade que o legislador português pode evitar este paradoxo, consagrando a excepção permitida na Decisão-Quadro, segundo a qual os Estados podem “isentar de responsabilidade criminal” (sic) os ditos comportamentos quando se mostre que os adolescentes em causa já alcançaram a “maioridade sexual”. Mas será possível que a lei considere que se é “sexualmente maior” aos 14 ou, no limite, aos 16 anos, para efeitos da prática de relações sexuais – e admita simultaneamente que não se atingiu ainda a “maioridade sexual” necessária para consentir no registo de imagens de natureza pornográfica? Note-se que não se requer aqui, necessariamente, o móbil económico que permite duvidar da genuinidade do consentimento no caso da prostituição. Assim, não parece adequado condenar criminalmente a Francisca, de 19 anos, que procede ao registo fílmico ou fotográfico dos seus folguedos sexuais com o Bernardo, de 17 anos, com o consentimento deste. O que mostra que a incriminação de produção, aquisição e posse de material pornográfico onde intervenham menores de 18 anos, imposta pela Decisão-Quadro, quando alargue os limites da punibilidade postos pela lei portuguesa actual, só pode ser materialmente justificada – e com as mesmas reticências que para eles valem – quando se trate de actos análogos à prostituição, sc., com móbil lucrativo.
posted by PC on 12:11 da manhã
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O COMPLEXO DE PETER PAN (I DE IV): Há uns anos atrás, li, numa colectânea organizada por Pat O’Malley (Crime and the Risk Society, Ashgate, 1998), um artigo de C. Shearing e P. Stenning que se intitulava “From Panopticon to Disneyland: the development of discipline” (1985). O desenvolvimento do legado foucaultiano gira à volta da ideia de que a obsessão contemporânea com a segurança leva a uma disciplina imposta de forma cada vez mais invisível e doce (de que é exemplo paradigmático a organização das visitas à Disneilândia). O que daí me interessa para estes posts é a ideia da progressiva infantilização da sociedade pelo poder. Com efeito, quem lida com os problemas das instituições detentivas (prisões, hospitais psiquiátricos, etc.), sabe que uma das tácticas preferenciais usadas no controle de quem está preso é a infantilização dos residentes: os complexos procedimentos de autorização, os prémios e castigos, os horários estritos e, nos casos patológicos, o uso obrigatório de roupa interior cor-de-rosa e a decoração das celas com motivos infantis, como sucedia na tristemente célebre prisão do Arizona (há para aí, nos arquivos, um post sobre isso).
Ora, esta táctica começa a ser adoptada noutros níveis. Com efeito, no dia 20 de Janeiro passado, foi publicada no Jornal Oficial a Decisão-Quadro 2004/68/JAI, do Conselho de Ministros da União Europeia, relativa à luta contra a exploração sexual de crianças e a pornografia infantil.
Um blogue inteiro não chegava para mostrar a demagogia, a hipocrisia e a péssima qualidade técnica deste diploma. Limito-me ao que aqui me trouxe: infantilizar para controlar.
GOMOMUS?: Acabo de escrever o post abaixo e ouço que hoje se apresenta pela primeira vez ao vivo o Gomo (o Ponte Sonora providencia mais pormenores e um link para a transmissão aqui). O nome não vos faz lembrar ninguém? Não? Nem este? A única faixa que ouvi vai lá buscar alguma inspiração... Esperemos pelo CD.
posted by PC on 7:21 da tarde
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GIBBONS DAS BEIRAS: As Beiras não produzem apenas Bin-Ladens, mas também vocalistas urbano-depressivas, assim ao jeito desta. Ouvi na Rádio, um destes dias, um tema em que uma senhora se arrastava assim: "Agora tu pôujas a cabecha", e por aí fora. Pôujas a cabecha?! E Alésia? Será que ela sabe onde fica Alésia?
De qualquer maneira, o resultado tem graça.
posted by PC on 6:55 da tarde
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E NÃO PODEMOS APAGAR ESSE ANO? Em 1999 não há americanos em Cabul, o Afeganistão produz 4.600 toneladas de ópio. Os americanos chegam a Cabul em 2001. A colheita de ópio desse ano, devido à pressão taliban do ano agrícola anterior, foi de apenas 185 toneladas. Já em 2002, com os americanos lá instalados, a colheita subiu para 3400 toneladas. Conclusão do Daniel, do Barnabé (link só disponível na coluna da direita), a quem eu disse ser um disparate afirmar que o "Afeganistão produz nove vezes mais ópio do que antes da chegada dos americanos": pois é, tem razão não é nove, é dezanove vezes mais.
Ou seja, 1999 - apenas dois anos antes da invasão americana - é ano que não conta, porque não dá jeito ao argumento.
Agradeço ao Daniel o mail que me enviou e que não recebi por deficiência da minha caixa pessoal, mas julgo já ter percebido que fontes e números, para ele, neste assunto, não contam para nada. Não é portanto, como injustamente o acusei, uma questão de parlapatanice.
PARLAPATÃO: na passada 4ªfeira, o Daniel do Barnabé (link directo só disponível na coluna da direita por incapacidade do meu Mac), repetiu a aleivosia do Dr.Louçã, a saber, "hoje o Afeganistão produz nove vezes mais ópio do que antes da chegada dos americanos", sem dizer como executou tão brilhante cálculo. Rebati aqui, no dia seguinte, no Mar Salgado, esta afirmação, contrapondo os meus números e as fontes respectivas. Enviei ao Daniel um mail, explicando a situação e solicitando-lhe que, se insistisse na sua afirmação, me enviasse ou assinalasse as fontes que utilizou.
Hoje é Domingo, muitos dias passaram. É claro que o leitor pode achar que o Daniel se está marimbando para as minhas interpelações. E acha muito bem. E eu posso achar que, no anti-americanismo primário vale tudo, incluindo papaguear supostas informações sopradas por supostas especialistas. Aliás, já sobre a questão do uso terapêutico da cannabis, o Daniel tinha metido a pata na poça, tendo sido corrigido pelo nosso TRM.
É estranho e preocupante: em matéria de drogas, o Barnabé exibe tanta consistência e rigor como um blogue do Partido Popular. E de um parido à pressa.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.