A PORTUGUESA: Aqui há uns tempos, a esquerda, sempre a reboque do bloco da mesma, fez chacota e ridicularizou até à exaustão a ideia de se cantar o hino nacional nas escolas. Como sempre, para a esquerda, isso parecia-lhe uma ideia de direita que obrigava ao ululante protesto e barulho ensurdecedor para que não se pudesse ouvir mais nada, nem mesmo o hino. Para a esquerda, por qualquer motivo que nunca compreenderei, cantar o hino nas escolas soa-lhe a antigo regime, ecoa-lhe como a campainha de Pavlov e fá-la salivar, não de fome mas de raiva.
O resultado foi-nos dado por uma reportagem da TVI: o entrevistador perguntava às pessoas se conheciam a letra de A Portuguesa, se a sabiam cantar. Aquilo que nos mostraram é confrangedor: as pessoas não sabem o hino, não conhecem a melodia nem a letra. Tentam lá chegar por sons aproximados, sem sequer se preocuparem em saber se o que estão a dizer faz algum sentido. Uma miséria. Uma tristeza. Mais uma que podemos agradecer à esquerda.
posted by VLX on 6:24 da tarde
#
(2) comments
UM COLEGA MEU: Esta é para o JMF do Terras do Nunca ( link directo só disponível na coluna da direita) com carinho: " A UDP e o PSR já eram europeístas", declarou Miguel Portas ao Expresso. É melhor não aprofundar o que "eram" desde "quando". No outro dia o JMF arrumou-me na gaveta dos "pândegos": há lugar para mais um?
posted by FNV on 12:57 da tarde
#
(0) comments
O "MOURINHO" DA ENOLOGIA: Já bebi todos os seus vinhos, do Marquês de Borba ao Vila Santa, passando pelo interessantíssimo e ribatejano Conde de Vimioso. Falo de João Portugal Ramos, que, soube através do Público ( o melhor jornal português em matéria de crítica vínicola), foi distinguido este ano pelo Finantial Times via Jancis Robinson ( que muito tem feito pelo vinho português em Inglaterra), como um dos 25 melhores enólogos europeus. Já este ano JPR tinha ganho na Alemanha o prémio de melhor enólogo estrangeiro de 2004, entregue pela Wein Gourmet.
Há outros consagrados, como Luís Pato e Francisco Soares Franco, ou um que conheci de raspão, na altura na Quinta da Lagoalva, Rui Reguinga, que está agora a dar poder aos vinhos da Quinta dos Roques, mas JPR tem características especiais. Já nem falo das histórias malandras, que se contam do tempo em que era mero segunda linha de muitas casas com as quais tinha avenças, histórias de inveja e traição. Falo da qualidade dos seus vinhos, sobretudo em dois aspectos. Primeiro, o mérito de fazer grandes vinhos em quantidades descomunais para a realidade portuguesa: uma coisa é encher 2000 garrafas de um extraordinário varietal de Touriga ou Baga, ou de uma deliciosa assemblage de Alicante com Trincadeira ( o chamado "vinho de garagem") outra é produzir 30000 ou 60000 garrafas de Vila Santa ou Conde de Vimioso. Depois, o preço: qualidade em troca de bom e justo dinheiro, torna feliz o bebedor e o produtor.
Isto da relação qualidade preço tem muito que se lhe diga, e no mundo do vinho nem se fala. Em Bordéus, as coisas entornaram devido à especulação idiota dos últimos 10 anos, Portugal tem de ter cuidado. O mercado nacional tem peso específico, e o perfil do consumidor português é algo esquizóide: despreza os brancos e o Vinho do Porto, não cuida do vinho do dia a dia, embora esgote por vezes colheitas caríssimas. Os restaurantes, os enólogos fartam-se de o dizer, têm responabilidades pesadas na matéria: na sua maioria tratam péssimamente os vinhos, as cartas, as temperaturas e os copos de serviço, e vendem o néctar a preços infames. Muitos potenciais consumidores de vinho de qualidade ficam convencidos que um vinho mau é bom porque é caro, um vinho mediano é para ocasiões especiais, e que um grande vinho é para milionários. A crítica especializada também não ajuda à festa: descobre tanto em zurrapas como em garrafas de eleição as mesmas qualidades: "notas de baunilha e frutos vermelhos" e outras que tais. Por isso, venham mais JPR's e outros como ele.
posted by FNV on 11:30 da manhã
#
(1) comments
DO CARÁCTER: Estou-me bem nas tintas para os que pensem que este post se deve aos laços de amizade que me ligam ao Nuno Mota Pinto, admnistrador deste blogue. O Expresso de hoje antecipa declarações feitas por Ramalho Eanes a Freire Antunes, no âmbito de um livro que este escreveu e vai publicar, sobre um obscuro personagem ligado ao "eanismo". Diz Ramalho Eanes que se arrependeu de ter convidado Mota Pinto em 1978 para primeiro-ministro porque este defendia certas ideias antes de ser convidado, e passou a defender outras depois; isto aludindo a uma conversa que manteve com Mota Pinto, na altura do convite.
Mota Pinto não está cá para se defender, Eanes pode dizer o que quiser sobre as conversas que com ele manteve em privado. Isto, como se sabe, tem um nome.
PRECE AO PADRE BROWN: O Dr.Louçã está chocado com o facto de umas cervejolas serem distribuídas aos jogadores da selecção nacional, pois que "um golo de Pauleta não pode ser comemorado com uma bebedeira". E uma algia no hipocôndrio esquerdo do Pauleta, vulgo a popular "dor de burro", poderá receber as propriedades terapêuticas da cannabis? A questão é inovadora e eu, pela minha parte, não me "choco" ( raio de palavra o Dr.Louçã me obriga a utilizar) nada com o estilo neo-calvinista e post-puritano ( portanto que digamos assim, arminiano) do Dr. Louçã. Já agora, poderia o deputado debruçar-se sobre a discutível supremacia do capoeirista pontapé "chapéu-de-couro" do aluno no professor, relativamente à simples cabeçada daquele, neste? A gerência agradece.
posted by FNV on 9:35 da tarde
#
(1) comments
OS ESTUDANTES A TREINAR (MAL): Na passada terça-feira a Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra incluiu tal sessão de pancadaria que o presidente da Mesa, Cláudio Schultz, desabafou ao Diário as Beiras: " É vergonhoso andar à pancada numa Assembleia Magna". Também acho: rabos ao léu e calhaus pelos ares, não houve porquê, hã ? Andam a brincar ou quê, cambada de preguiçosos?????
posted by FNV on 11:40 da manhã
#
(0) comments
A PROPÓSITO DA GREVE DO SEF: O rinoceronte branco Ceratotherium Simum, ao contrário do seu irmão negro Diceros bicornis ( a cor não é para aqui chamada, resulta de um erro de observação dos primeiros europeus) ainda hoje é caçado. O problema com eles, bem como com os seus primos de Samatra, Índia e Java é terem a mais longa ejaculação do mundo animal, o que fez atribuir aos seus cornos propriedades afrodísiacas. Esta atribuição, como todas as atribuições ( as de patriotismo ou de responsabilidade, por exemplo) tem por base um inferência particular e causal. Os antigos marajás indianos e mandarins chineses, ao ingerirem o pó feito do chifre sentiam no pénis um formigueiro que os faziam crer estar a assimilar as capacidades do bruto. Mas o que de facto acontecia, e acontece, infelizmente, é outra coisa: o chifre, como toda a gente sabe, não ósseo, mas uma aglomerado compacto de queratina; esta, ao ser ingerida e não digerida, é expulsa através da uretra, sob a forma d epequenos cristais, e daí a sensação de formigueiro e a subsequente erecção extemporânea.
O rinoceronte negro está virtualmente extinto ( o recorde do Safari Club Internacional é um troféu de 1955 com 89 pontos) como o juízo em certos homens, porque é mais exigente na alimentação ( vivia em matas fechadas, e a dieta era mais variada). Henrique Galvão e Abel Pratas, entre 1930 e 1940 ainda o bispavam nas matas angolanas do Cuando, no Capelongo, no Vícuar. José Pardal e Serras Pires caçaram-no raramente, mais tarde, por volta dos anos sessenta, em Moçambique, no Alto-Zambeze, no Missingir e no Páfuri. O branco, mais dócil de carácter, alimenta-se como um cavalo e tem sido reproduzido com relativo sucesso, em parque fechado. Alguns milionários podem ainda hoje abater um exemplar por 30.000 euros, 6.000 contos. Outros, e é aqui que a história se torna interessante, podem adoptar a modalidade de darting: o "caçador" dispara um dardo com tranquilizante sobre o bicho e pode fotografar-se em cima dele com a carabina ao lado. Também pode pôr-se ao fresco depressinha antes que o animal acorde, operação que é monitorizada por uma eqipa de game-rangers, biólogos e veterinários. Tudo por 6.000 euros, mil e duzentos contos.
Ou seja, no darting, tudo se passa como nada se passasse: o caçador caça mas não caça, o bicho morre mas não morre, o corno vai para a sala de troféus mas o rinoceronte fica com ele. Does it ring a bell?
CONGRATULATIONS: Ao FCP, pois claro, que começa a caminhar para se tornar um clube querido de todos os portugueses: toda a grande caminhada começa por um pequeno passo, como dizia o camarada Mao, oxalá o clube saiba capitalizar em simpatia o ouro branco da taça. Por falar em Mao, parabéns ( atrasados) ao Barnabé ( link directo só disponível na coluna da direita), que atingiu a 25 de Maio, as 400.000 visitas. O Rui Tavares, diz-se "um bocado aparvalhado" com a proeza. Não sei porquê. Tal como no 24 Horas ou no Correio da Manhã, se há coisa para a qual eles trabalham (e bem) é para as audiências, neste caso, do seu segmento específico. Chegarão num ápice ao meio milhão.
posted by FNV on 7:29 da tarde
#
(0) comments
TUDO AZUL III: O mundo inteiro fala do Futebol Clube do Porto. E de Portugal. Só temos de ficar felizes. Viva o FCP! Viva Portugal!
TUDO AZUL II: Entendamo-nos: a visita ao México é seguramente importante. Mas pode ser adiada e é até compreensível que o seja (não o digo por se tratar do FCP, se fosse com qualquer outro clube achava o mesmo; acontece que hoje, tal como o Benfica fez há 42 anos atrás, é o FCP quem leva bem longe o futebol português e o nome de Portugal).
Quem duvida disso, atente nas audiências televisivas de logo à noite.
E além de ser importante a divulgação de Portugal no mundo (principalmente se atendermos ao facto de organizarmos o Euro 2004), esta participação do FCP na final da CL é importantíssima para o povo português e deveria unir-nos - e não separar-nos como tenta a oposição. Repare-se no que neste momento passa na televisão: da Alemanha vêm imagens de emigrantes portugueses na Itália, na própria Alemanha, França, Noruega, Bélgica e outros países; muitos adeptos do FCP, alguns do Benfica, outros do Boavista, mas todos unidos e orgulhosos de poderem estar ali, naquele estádio, pelo FCP e por Portugal. O melhor presente para os nossos compatriotas emigrantes que sozinhos se esfalfam diariamente em países estranhos, será amanhã regressarem aos países ricos, poderosos e grandes onde trabalham com (espero) a alegria de uma brilhante vitória no bolso.
Estes nossos compatriotas, que passam o ano todo longe do seu país, vão querer ver hoje no estádio aquela equipa maravilha, vão bulhar por poder contemplar Jorge Nuno Pinto da Costa, um ou outro achará graça a avistar Maria José Ritta (um punhado deles gostaria até, certamente, de ver o PR), os Príncipes do Mónaco, mas todos, todos eles gostarão de poder encontrar ali, junto deles, num momento grande da nação, o PM do seu país. O PM deve isso aos nossos emigrantes e também por isso fez bem em ir. Agora só falta o FCP ganhar.
posted by VLX on 6:47 da tarde
#
(4) comments
TUDO AZUL: Tudo azul, hoje, mas a oposição não resistiu, é superior às suas forças. Já ontem uma representante do Bloco de Esquerda vociferava contra o PM na Dois. Em vão Diogo Feyo lhe tentou fazer ver a importância do acontecimento e que, quanto à visita ao México, não só a mesma tinha sido devidamente tratada pelos meios diplomáticos próprios como não tinha sido cancelada, mas apenas adiada. A bloquista acusava ainda o PM de se juntar à onda ganhadora do FCP (por qualquer motivo estranho que só aquelas cabecinhas compreenderão, isso deve ser crime. Para esta gente, apoiar quem defende o nome de Portugal no mundo deve ser coisa proibida. De resto, a bloquista parece esquecer-se de que o FCP ainda não ganhou; vindo de quem vem, imagino que os bloquistas estejam já a torcer por uma derrota só para poderem atacar o PM).
Ferro Rodrigues também não resistiu: leu na AR um bilhetinho (certamente passado por um assessor ou colaborador que não o grama) queixando-se pelo facto do PM ir à Alemanha, coisa que só serviu para fazer má figura e para Durão Barroso brilhar. Excelente, foi (mais) um bónus do PS com que o PM seguramente não contava.
posted by VLX on 6:44 da tarde
#
(0) comments
RESOLVER "À PORTUGUESA": A contratação milionária para a direcção da DGCI efectuada pela Ministra da Finanças vem mais uma vez demonstrar o problema da disparidade entre os salários praticados no sector público e no sector privado. Hoje em dia, por muito sedutor que seja o prestígio que se retira do serviço prestado à causa pública, torna-se cada vez mais difícil ao Estado captar os melhores, aos quais não é exigível que ganhem cinco e dez vezes menos do que ganhariam no sector privado. E é um problema que tende a agravar-se uma vez que, por motivos eleitorais, nunca foi frontalmente assumido pelos nossos governantes. Existe uma espécie de acordo tácito entre os maiores partidos para a nomeação de ex-ministros para a administração das várias empresas públicas (ou para outros cargos igualmente generosos), como que a título de "indemnização" pelo dinheiro perdido enquanto em funções governativas. A resolução do problema vai sendo adiada com recurso a medidas de excepção, como a referida contratação.
No entanto e, mais grave, é que as dificuldades de "recrutamento" já são evidentes ao nível do próprio governo.
posted by Neptuno on 5:19 da tarde
#
(0) comments
QUE GANHE O MELHOR! Hoje, em Gelsenkirchen, estarão cerca de 500 jornalistas, centenas de fotógrafos, repórteres de rádio, quase uma centena de estações de televisão transmitirão em directo uma final da mais afamada competição do mais divulgado e apreciado desporto. Nessa final, que decidirá quem é o melhor dos melhores em 2004, participa uma equipa que dizem ser de um pequeno clube, com um minúsculo orçamento, oriunda de um país de reduzida dimensão, que dizem estar deprimido. Nesse país não há empresa, agremiação, associação, equipa, atleta, empresário, líder - o que seja - que permita dar semelhante divulgação mundial do que por cá se faz bem. É natural que o PM desse povo, dessa nação que o dito pequeno clube representa e vai mostrar ao mundo, esteja presente nessa final, aliando-se ao grupo de homens cheios de raça e vigor que tal serviço prestam ao país.
Dado o excepcional valor dessa equipa de jogadores, estou certo de que todos os portugueses, hoje, a bem de Portugal, querem que vença o melhor. E não que aconteça taça, como há dez dias atrás...
AINDA RAFAH: "Temos de ser humanos e judeus e não apenas fanáticos da segurança", são as palavras de Yosef Lapin, líder do Partido Shinui, parceiro da coligação que sustenta Sharon. Lapin foi mais longe, porventura demasiado longe, ao comparar a ravage do exército do israelita em Rafah com a Shoa, "o indizível", o holocausto de assinatura nazi. Veio do Ministro da Saúde, ironia da circunstância, Dan Naveh, a indignação perante a analogia. Terreno minado este, a velha Arte da Prudência de Baltazar Gracian, desesperadamente nos convocando.
Mas o que se passou em Rafha, sobretudo em Brasil e em Tel Sultan, bairros miseráveis, ultrapassou a minha compreensão e pelos vistos a dos espectadores e (involuntários) actores próximos. Já aqui o tinha dito, não sendo eu militar nem especialista de segurança, ainda assim não consegui bispar ponta de lógica na destruição sistemática de habitações civis e no assassínio de inocentes. Em Israel, segundo a Associated Press que cita fontes do exército e do Governo, a perplexidade não é incomum. Para quê? Dizem alguns analistas que foi uma vingança pela morte recente de 13 soldados israelitas na Faixa de Gaza ( e não foram pedras que os mataram, apesar da manhosa propaganda palestiniana), dizem outros que Sharon quer mostrar-se duro à direita do Likud antes de retirar. A versão oficial assenta na procura de terroristas e respectivas rotas de escapatória. Seja o que for. Se tiver sido por vingança, o acto é terrorista porque penaliza civis. Se o que motivou a imbecilidade de Rafah foi uma mensagem política, o velho princípio kantiano de encarar os homens como fins e não como meios, jaz morto e arrefece em terras de David.
A obsessão securitária, que percebo a menos que fosse descerebrado, estará naquela zona do globo a retomar um velho refrão anterior à cultura: o outro é, antes de ser, meu inimigo. A prazo, o resultado desta lógica implacável será o de não ser mais possível distinguir o homem da besta. A esperança residirá talvez nos tormentos da viagem, e por isso as palavras de um sábio judeu, que há muito leio, batem-me à porta:
"We were, we remain nomads across time" ( George Steiner, Through That Glass Darkly, 1991)
posted by FNV on 9:14 da tarde
#
(0) comments
EPÍLOGO: Julgo ter chegado a uma razoável plataforma de acordo com o JMF do Terras do Nunca ( link directo só disponível na coluna da direita) sobre a situação dos media na Venzuela de Chávez. O JMF acentua a manipulação mediática pelos carteis de empresários do ramo ligados aos EUA, o que não ponho em dúvida, eu limitei-me a sublinhar o outro lado: a violência do regime, que pretende silenciar vozes desagradáveis para o amigo de Fidel. Será com gosto que lerei a opinião profissional e conhecedora do JMF sobre o panorama mediático na Venezuela.
posted by FNV on 12:30 da tarde
#
(0) comments
BLOGUICES DE PRAIA: Há uma conjugação de situações que adoro, que é quando a um julgamento que acaba mais cedo se alia um fim de tarde admirável e soalheiro. Geralmente marcho logo para um dos sítios onde mais gosto de estar, a praia. Foi o que me aconteceu há dias.
Encontrava-me lá confortavelmente sentado, sacudindo incomodado três irritantes grãos de areia que tinham logrado arranhar o cabedal do meu sapato direito, enquanto esperava um retemperador Tanqueray. A meu lado, um velho amigo que tinha descoberto recentemente o fenómeno dos blogs não parava de me oferecer as suas opiniões sobre o assunto. Gostava imenso destas coisas, percorria todos os blogs. Um deles era considerado bastante bom pelo meu amigo. Continha no entanto, dizia-me, uma particularidade extremamente bizarra e original: um dos postadores desse blog dedicava-se a escalpelar os posts dos colegas, dissecando-os, interpretando-os à sua maneira, por vezes alterando-os, encontrando intenções nos posts, segundas, terceiras e por vezes quartas intenções, lendo nas entrelinhas, imaginando estar sempre certo, julgando-se o rei dos hermeneutas, dono da verdade e paladino da moral.
Parece que invariavelmente o dito postador passava o tempo à procura do que lhe parecia a melhor interpretação de cada post e depois martelava furiosa mas alegremente o teclado com expressões do tipo "ah ah, apanhei-te!...", "ah ah, o que fulano quis dizer foi aquilo!..." Não interessava se na maioria das vezes estava enganado ou não, o meu velho amigo achava aquilo uma situação insólita, desagradável e mesmo incómoda. Perguntou-me se não acharia o mesmo.
Depois de pensar trinta segundos (enquanto me serviam o segundo Tanqueray) respondi-lhe que não, que não achava. Pela parte que me tocava e em abstracto, desde que a pessoa em causa estivesse feliz e contente e não mexesse em fósforos ou em facas afiadas, a questão era-me totalmente indiferente.
posted by VLX on 1:23 da manhã
#
(0) comments
CLARINHO: Uma das vantagens da blogosfera, quando os jornalistas dão troco a anónimos bloggers como eu, é podermos ver as coisas com maior clareza. Convido eventuais leitores a seguirem o diálogo entre mim e o JMF do Terras do Nunca (link directo só disponível na coluna da direita) a propósito da violência sobre jornalistas na Venezuela de Chávez. Qualquer leitor medianamente dotado percebe o núcleo da discussão, mas sobretudo a clareza meridiana da atitude de muitos jornalistas portugueses. Organizações que são absolutamente credíveis, se estiverem a denunciar excessos de sargentos americanos no Iraque ou de polícias italianos em manifestações anti-globalização, transformam-se na pena de JMF num curioso " O FNV acha que o problema da Venezuela é a liberdade de expressão". Não, não é o "FNV que acha", quem "acha" que os jornalistas venezuelanos são espancados, ameaçados, e presos, são a Human Rights Watch e a Reporters sans Frontiéres. Mais clara ainda é a opinião de JMF sobre o livre mercado da informação: na Venezuela, o sacrossanto valor ( para um jornalista) da liberdade da expressão é reduzido a uma conspiração de magnatas da comunicação social vendidos aos EUA "que incitam o povo contra o Presidente Chávez". Gosto particularmente das reminiscências que esta expressão me provoca, e não me espanto nada que o meu caro JMF se "esteja nas tintas para os jornalistas venezuelanos": têm sido precisamente os desprezos e os amores selectivos do "pessoal da indignação" que me têm feito escrever muitos posts nesta nau. Mas é sempre bom lê-lo com a clareza e com a autoridade que emanam do teclado de um conhecido jornalista como o João Morgado Fernandes.
PS:Com o JMF troco ideias ( apesar de em tempos ele ter expressado sérias dúvidas sobre a utilidade da coisa), mas apenas quando discordamos. Uma forma de estar. Mas ao menos o JMF quando acha que não, escreve, cita-me e rebate-me, eu idem. Mas existe um blogger que adoptou uma curiosa forma de comunicar comigo: depois de ter em tempos declarado que "não cá voltava" ( ao FNV do Mar Salgado), o Luís, da Natureza do Mal ( link directo com o problema acima citado) desde aí, sempre que alguém me dá na cabeçorra, posta mensagens de apoio ao autor de tais marretadas. Ou seja, lê o que escrevo, lê o que outros respondem, mas resguarda-se prudentemente. Uma ( outra) forma de estar, que registo divertido e enternecido.
O BIGODE: A "colagem" ao futebol, por parte de certos políticos, sempre me pareceu inadequada. Embora não duvide do eventual retorno eleitoralista de certas associações, o certo é que me parece degradante não só a "colagem" pessoal a estrelas ou clubes de futebol mas também a (infelizmente) pacífica invasão do discurso político pelo "futebolês", por obra e (des)graça dos próprios políticos. Acresce que também me parece inadequada a análise política ou social recorrendo a personagens da bola. O futebol - como a maioria dos desportos - é um mundo à parte, com regras próprias - algumas até ocultas - e, acima de tudo, é um desporto, sujeito às contingências próprias de qualquer modalidade, como por exemplo a sorte.
Há alguns meses, o editorial do Expresso debruçava-se sobre Carlos Queiroz, usando-o como exemplo de triunfo de portugueses no estrangeiro, indo ao pormenor de Queiroz ter "modernizado" a sua imagem rapando o bigode. Eleva-se a auto estima nacional colando-a a um sucesso desportivo.
O perigo desta prática parece-me óbvio. Queiroz foi hoje despedido do Real Madrid, alegadamente, por falta de carácter e de autoridade. A sua contratação foi rotulada de "equívoco".
Perante isto, podemos deixar crescer novamente o bigode...
posted by Neptuno on 6:30 da tarde
#
(0) comments
IDEOLOGIA E SEMÂNTICA, OU O "PESO SECRETO" DAS PALAVRAS: Abre-se hoje aqui uma secção de reflexão sobre problemas universais, que atormentam o Homem desde o início dos tempos.
Logo a seguir a questionar-se sobre o sentido da vida, o Homem procurou determinar a relação existente entre os termos "substituição" e "demissão". Tentando contribuir, ainda que humildemente, para tão momentosa discussão, eis o que eu diria se fosse um hermeneuta:
Dificilmente poderemos admitir uma relação de sinonímia entre substituição e demissão, mesmo que a segunda possa implicar (o que não é necessariamente certo) a primeira.
Substituição remete-nos para uma neutralidade do acto, uma acção formal que não desvela imediatamente as suas razões nem as motivações do autor, ou, se quisermos retomar as dicotomias heraclitianas, uma "leveza" que abstrai daquelas razões e motivações, centrando a intencionalidade do acto num sentido prospectivo, que por aí se torna essencialmente em expectativa e abertura. Os juízos que possam recair sobre a substituição tomarão como referente principal a performance (esperada ou já actual, consoante o momento em que se façam) da entidade substituinte, e a entidade substituída servirá apenas, se tanto, de termo de comparação.
Diversamente, a demissão (seja por iniciativa do próprio, seja por determinação do seu superior), na medida em que significa sempre uma patente inadequação do titular ao cargo, é já carregada de sentido autónomo, de uma dramaticidade que reivindica razões e motivações (as quais podem ser as mais diversas), ou, no esquema de Heraclito, do "peso" inerente a todo o olhar presente que se debruça sobre o passado, em retrospectiva absolutamente livre de qualquer futuro e, por isso, insusceptível de redenção.
Daí que se compreenda, neste contexto, a frase de Humberto Delgado, a quem certamente nunca passaria pela cabeça dizer, de Salazar, "obviamente, substituo-o".
A mostrar a leveza do conceito de substituição está também aquela história engraçada do rapazinho que, perguntado pela professora da escola primária acerca da profissão da mãe, insistia em responder (com inteira razão, aliás, como se viria a verificar) que a mãe era substituta. Mas isso fica para uma próxima.
posted by PC on 1:02 da tarde
#
(0) comments
ESCLARECIMENTO: Consigo aceder à caixa de comentários da própria nau em que estou engajado, mas não consigo responder ao que quer que me peçam lá. É triste, esta inépcia, mas é uma realidade. Tentarei resolver o problema.
posted by FNV on 12:40 da tarde
#
(0) comments
CECI N'EST PAS UNE PIPE: O livrinho de Foucault com ilustrações de René Magritte, hei-de oferecê-lo ( se já o tem, ficará com dois) um dia destes ao meu caro JMF do Terras do Nunca (link directo só disponível na coluna da direita). A propósito do meu post sobre a série negra de perseguições, prisões e agressões a jornalistas na Venezuela, e sobre o silêncio dos seus colegas portugueses, que me diz o JMF?
Primeiro qualifica-me como um pândego ( é sempre mais suave para comigo, do que para com outros bloggers a quem resolve açoitar) que definiu a Venezuela como uma ditadura, depois que vejo o mundo a preto e branco. Quem ler o meu post não encontra a definição da Venezuela como uma ditadura, embora o JMF tenha estabelecido um novo padrão em teoria política: se um líder for eleito democráticamente ( como Hitler) o regime nunca descamba. Mas o mais estranho, como bem me lembra um leitor, é que foi o JMF que proclamou no seu blogue que o "indignam" muito mais os actos de tortura, e violência "cometidos em democracia" do que os "cometidos em ditadura". Pois então indigne-se à vontade já que Chávez foi eleito democráticamente.
O essencial é que JMF não aborda nada do que escrevi sustentado na Human Rights Watch e na Reporters sans Frontiéres: a lei da rolha que proíbe críticas a Chávez nos media, a violência sobre os jornalistas. O que me leva a pensar que a utilização desta táctica velha e relha se deve ao facto o meu post o ter incomodado; acusou o toque, mas como o texto não era "sobre Cuba a propósito do Iraque" atrapalhou-se ligeiramente no açoite. O meu objectivo foi atingido : expôr, ainda que ligeiramente, a situação venezuelana no que respeita à liberdade de imprensa, e o absoluto desinteresse da esmagadora maioria dos jornalistas portugueses pela sorte dos seus colegas venezuelanos .
A discussão fica por aqui já que o JMF me mandou ler ( está a tornar-se uma mania, isto de me mandarem ler coisas) a Economist, condição essencial "para talvez um dia falarmos": eternamente agradecido pela magnanimidade educacional do JMF, farei os possíveis por preencher os pré-requisitos. Em retribuição, sobre o mundo a preto a branco, um pedacinho do livrinho de Foucault & Magritte, sobre o par corps/rideau:
" Ce qui est à droite est à gauche, ce qui est à gauche est à droite; ce qui est caché ici est visible là; ce qui est découpé est en relief; ce qui est plaqué s'étend au loin".
MALES QUE VÊM POR BEM: Com a Operação Sirene Dourada da GNR em curso, que já resultou na detenção de dois ex-autarcas socialistas de Salvaterra de Magos ( entre outros detidos), ao menos livrar-nos-emos de voltar a ver a nossa blogosférica companheira, Ana Gomes, a percorrer as ruas e a apitar apitos. Dourados.
Nota: pedem-me para vincar que o nome da operação é "Sirene Oculta", o que faço em prejuízo do jogo de palavras com o "dourado" de outras apitadelas. Resta o essencial: que políticos profissionais não se comportem como arruaceiros de café.
posted by FNV on 9:21 da tarde
#
(0) comments
HELLFIRE: A actividade criminosa de Israel em Rafah não foi comentada pelos adversários intelectuais do cruzada anti-Bush esta semana, seja nos jornais seja na blogosfera. E é uma pena. Independentemente dos objectivos - aniquilação de terroristas - utilizar máquinas de guerra como os helicópteros Super Cobra e os AH 64 Apache, na destruição de casas e barracas de civis, é uma monstruosidade. O Super Cobra utiliza misseís TOW e AIM-9L Sidewinder, o AH 64 Apache utiliza os FFAR 70mm ( Folding Fire Aerial Rockets). Ambos disparam no entanto o sistemas de misseís Hellfire: exacto, "Fogo do Inferno", em tradução consensual.
posted by FNV on 8:54 da tarde
#
(0) comments
SURPRISE, SURPRISE! Com Tarantino a presidir ao júri, o copo de fel anti-Bush de Micahel Moore venceu Cannes. A Disney não quer distribuir a coisa, Tarantino e Moore aranjarão decerto outra distribuidora: qualquer das partes faz o seu papel. Aguardo, divertido, as reacções, especialmente uma, reciclada dos gloriosos tempos que já não voltam: a que sustentará que o governo americano, porque eleito numa democracia, deveria comprar os direitos de distribuição do filme e obrigar os súbditos do Tio Sam a verem o filme ( e Moore a comprar o último modelo da Mercedes). Quer queiram quer não. Afinal, é o mínimo que se pode exigir a uma democracia, não é assim?
posted by FNV on 7:47 da tarde
#
(3) comments
ÚTERO REAL: O JPH do Glória Fácil ( link directo só disponível na coluna da direita) surpreende-me com uma análise curiosa da boda real. A novel princesa engravida, o Príncipe é um bonito macho que se irá desenrascar sexualmente noutras paragens; o casamento continua, mas por via da maternidade a princesa nunca mais voltará a ser a mesma sexualmente falando, o divórcio anuncia-se, e ela fica sem a custódia dos filhos, porque assim foi acordado pré-nupcialmente. Interessa-me a primeira parte, ou seja, o suposto deserto sexual durante a gravidez bem como a também suposta modificação defintiva do apetite sexual feminino após a primeira experiência maternal.
O útero de uma mulher adulta não grávida pesa cerca de 56 gramas, passa a pesar quase um quilo no final da gravidez ( sendo o miométrio quem mais trabalha), talvez por isso os Masai acreditem que na barriga da mulher grávida existe o bapuka, uma entidade divina que alimenta o bébé e que morde o pénis do homem que quiser ter relações sexuais com a futura mamã. Hipócrates por sua vez acreditava que o útero vagava, ou seja, vagueava pelo corpo, até ao externo ou mesmo até ao pescoço, tornando-se histérico se não fosse convenientemente alimentado com sémen. O ponto é que este orgão é fabuloso ao ponto de se saber hoje, que tal como certas áreas do cérebro, é capaz de produzir beta-endorfinas e dinorfinas, vulgo opiáceos endógenos. Também produz anandamida, uma molécula similar ao princípio activo da cannabis, o THC. O embrião, mais propriamente o blastócito, ainda descerebrado, na altura de se acoplar ao útero, atira-se às proteínas canabinóides ( cabeça-no-ar, é o que é). Ou seja, durante a gravidez, a mulher produz as suas proprias drogas para tolerar tanto inchaço, o filho consome-as para suportar a vida ( Freud bem avisava que a vida é lixada) e juntos curtem uma agradável sessão sauvage.
Não espanta que durante a gestação, a princesa se esteja nas tintas para o príncipe. Já a suposta diminuição do apetite sexual da mulher depois de ser mãe não passa de um mito: porte-se o parceiro como deve ser, resista ou dissimule a tentação, fique por casa, trabalhe e ganhe dinheiro ( pois pois...), faça-a rir, que tudo rápidamente volta a ser o que era. O útero está lá, pronto a começar tudo de novo.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.