COLHERADA: Não sei se o Paulo Gorjão do Bloguítica se vai zangar por eu também meter a colher na discussão entre ele e o Daniel Oliveira do Barnabé ( links directos indisponíveis), mas arrisco, até por causa de um detalhe. O crime do Paulo teria sido entender como mau o silêncio de Ferro como líder da oposição a Durão e como bom o silêncio de Sócrates diante das diabruras de Santana. De estratégia e coerência partidárias não percebo nada, mas uma coisa é certa: o silêncio não tem sempre o mesmo significado. Assim, existe o silêncio desesperado ou comprometido da impala acossada e escondida no capim alto, e existe o silêncio de veludo e de concentração do leopardo amoitado. Não se pode criticar o leopardo, parece-me.
posted by FNV on 7:36 da tarde
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O EXPRESSO: É um jornal fascinante, e não só por ter João Pereira Coutinho, o braço armado de João Carlos Espada com o qual partilha uma geminada incapacidade em ler filosofia ( recordo-me de uma antológica tresleitura de Isaiah Berlin) nas suas colunas. O Expresso é fascinante também pela sua ingenuidade. Hoje descobriu que o moço que invadiu todas as reuniões do Senado da Universidade de Coimbra é do Bloco de Esquerda e vai de Porsche para as aulas. Extraordinário por dois motivos: o assinalar gongórico da mais absoluta trivialidade e o facto de o jornal dar a entender que se o rapaz fosse de bicleta para a Universidade as suas birras seriam mais aceitáveis.
posted by FNV on 2:08 da tarde
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A MANIA DO BIVALVE: O que me surpreende é o alastramento compulsivo da tese das campanhas e "cabalas" na vida social, política e desportiva portuguesa. Lembro-me do tempo das campanhas organizadas, como a do extinto Diário que estava para o PCP como o Barnabé está para o BE, e que deve ter feito para aí umas trinta capas a chamar bígamo a Sá Carneiro. Mas campanhas dessas eram limpas, claras, desnudadas.
Este sentimento infeccioso de se ser alvo de uma conspiração terá algo a ver com a alma portuguesa? Não sei. Releio Pascoaes, António Quadros, Camões, mas não encontro explicação suficiente. Na clínica, a mania permanente de se ser alvo de uma conspiração é coutada rigorosa do delírio paranóide, nunca encontrei histéricos ou neuróticos que se queixassem da coisa. Talvez uma pista para explicar esta mania lusa da perseguição resida no registo comunicacional. Temos por herança salazarista um temor muito particular à discussão, temor esse engordado por anos de crescimento convulsivo, o que talvez não nos tenha permitido acariciar o plano franco do confronto. Existem pessoas muito tímidas que se queixam de ficar a remoer ofensas. Essas pessoas são muitas vezes brutalmente agressivas e de certo modo receiam que se puserem cá fora o que lhes vai na alma, o mundo desaba. Até certo ponto, as meias-palavras, as insinuações, o rosnar baixinho a que assistimos cada vez mais, temperados com o lamento de estarmos a ser vtítimas de uma urdidura, correspondem um pedaço a este perfil.
Frequentemente, sermos claros e duros nas nossas críticas ou réplicas implica deixarmos de lado o cálculo subterrâneo acerca das vantagens que perdemos com essa clareza. Em Portugal, no povo da rua, esse cálculo não existe no futebol ou às portas dos tribunais. Mas quando já não estamos protegidos pelo relativo anonimato da maralha recolhemo-nos como bivalves disciplinados. A lamúria da "cabala" , acrescida da insinuação ou da meia-palavra, assenta como a uma luva a uma elite temerosa, habitante de um espaço pequeno em que todos se conhecem e em que todos se temem, mas no qual verdadeiramente ninguém se respeita.
A VOZINHA: Ana Drago, deputada rotativa do BE não deixa de nos pôr a cabeça a rodar com a sua sapiência. Aqui há tempos ficou célebre por ter determinado com exactidão, num debate televisivo com obstetras e neurologistas, o início da vida humana intra-uterina. Hoje, nos corredores do Parlamento, já sabia com mística certeza que o problema do túnel do Rossio está relacionado com as obras do túnel do Marquês. Não sei se há coisa que a moça não saiba, que não nos possa elucidar naquela vozinha sussurante e soluçante de quem pede desculpa por ser tão brilhante.
posted by FNV on 7:45 da tarde
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AINDA BUTTIGLIONE: Não ignoro o que se convencionou designar como a agenda do politicamente correcto, muita pancada já aqui levei por a ter contestado. Mas também não é por desta vez essa agenda estar circunstancialmente a defender uma opinião semelhante à minha que vou assobiar para o ar. Vamos aos factos:
1)Buttiglione tem concepções da vida bebidas directamente no cumprimento estrito do código moral mais conservador da Igreja Católica.
2)Essas concepções são quase ou totalmente dissonantes das opções assumidas pela maioria ou totalidade dos estados da UE.
3)Buttiglione e os seus defensores dizem que não existe nenhum problema nessa dissonância: uma coisa é o que o senhor pensa, outra é o que o senhor fará.
Não irei aqui dissertar sobre esse Tristão e Isolda que é a relação entre moral e política, apenas focar um ponto. Se o que Buttiglione pensa é irrelevante para o desempenho do cargo que ocupa, então porque foi escolhido? Já aqui escrevi que o personagem não está na lista dos 50 maiores filósofos italianos vivos, nem muito menos na dos 100 maiores filósofos europeus acordados. Como bem recorda a imprensa portuguesa hoje, ele declarou ao Corriere há uns meses que pode não ser ninguém em Itália mas será ampio na Europa. Ou seja, se era um vulgar académico ultra especializado em abrilhantar as teses filosóficas do Vaticano, porque foi escolhido para uma pasta que (também) mexe com a vida sexual, familiar, conjugal de milhões de europeus? Tenho sobre o assunto uma ou outra tese, mas aguardarei o andar da carruagem.
posted by FNV on 5:33 da tarde
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A TEORIA DOS CHAPÉUS: A propósito de Buttiglione desenterraram-na, a ela, à teoria dos chapéus. Vasco Rato assina hoje no Independente um artigo equilibrado mas desliza no entanto para uma distracção pouco comum num politólogo. Diz Rato que não passaria pela cabeça a ninguém indignar-se com um governante socialista numa sociedade de mercado, aludindo às concepções particulares do Sr. Buttiglione sobre a "vida" versus a realidade social europeia. Rato sabe muito bem que governantes socialistas na Europa são adeptos do mercado. Por outro lado, que diria Rato se o próximo Ministro da Economia de Sócrates fosse Jerónimo de Sousa? Que não haveria problema nenhum em termos à frente da economia de mercado lusitana, alguém que identifica a propriedade privada como a origem dos males do mundo? Que Jerónimo teria dois chapéus? Então pergunto eu: para que servem as convicções dos políticos? Já sei que me vão falar das diferenças entre convicções morais e práticas políticas: fica para os posts seguintes.
PS: Também terá sido uma "interpretação jornalística de um metáfora" a tese de Buttiglione segundo a qual teria de ser feito um levantamento cadastral-comportamental-psico-social da origem dos imigrantes que chegam a Itália, por forma a determinar quais os países (!) mais propensos ao crime e à sedição? É, deve ter sido mais uma "cabala" ( duplamente mal tratada, a coitada) da imprensa montada contra o senhor.
posted by FNV on 5:24 da tarde
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TOM WAITS: A revista norte-americana Vanity Fair tem sempre uma rubrica denominada "Proust Questionnaire", que consta de diversas perguntas do foro íntimo a personalidades conhecidas (mesmo!). No seu (excelente) número de Novembro, a star de serviço é Tom Waits, que larga algumas pérolas dignas de serem transcritas:
"What is your idea of perfect happiness? - Happiness is never perfect. What do you consider the most overrated virtue? - Honesty. On what occasion do you lie? - Who needs an occasion? Which words or phrases do you most overuse? - Do as I say and no one will get hurt. What is your most marked characteristic? - My ability to discuss, in depth, a book I've never read. Who is your favorite hero of fiction? - Frankenstein. And Dumbo. How would you like to die? - I don't think I would like it very much at all."
Já que estamos em maré de música, sugiro os Libertines para o fim-de-semana, a minha melhor descoberta no mundo do rock nos últimos tempos.
posted by Neptuno on 3:53 da tarde
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A TEIA: Miguel Sousa Tavares (MST), na sua crónica de hoje no Público, escreve sobre a alegada tentativa de controlo dos media pelo Governo, afirmando que "... a teia vai-se tecendo e não dispensa coisas tão rasteiras como o suborno de jornalistas e de chefias, os "avisos de amigos" ou as soluções finais de silenciamento e afastamento, quando nada mais resulta. Acreditem: sei do que falo, conheço esta gente e os seus métodos, sei o que os move e aquilo de que são capazes." Ao produzir afirmações tão graves - susceptiveis de acção judicial - MST deveria aplicar a si próprio algumas das ideias que sempre defendeu relativamente a pessoas que, ao longo dos anos, questionaram a corrupção do futebol português e, nomeadamente, a conquista de alguns títulos pelo F.C. Porto - à sombra de histórias de "quinhentinhas", Cosmos, Calheiros, Guímaros, Ribeiros, etc.
A todos os que sempre questionaram em público a transparência do futebol português, MST sempre recomendou que avançassem com factos ou então que se calassem dado não terem qualquer credibilidade, sendo meros papagaios ao serviço de outros clubes, produzindo atoardas na comunicação social para baralhar e esconder insucessos.
Ficamos à espera.
PONTO DE ORDEM: Antes que a discussão entre Neptuno e FNV sobre o desastrado comissário Buttiglione continue, um artigo que tenta efectuar um ponto de situação nesta controvérsia.
posted by NMP on 7:52 da tarde
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O TRIGO E O JOIO: No meio da cacofonia geral de discussões sobre o ensino em geral e o universitário em particular, surgem inesperadas vozes lúcidas. Este artigo sobre a (ausência de) avaliação de professores universitários é estimulante e desafiador.
A menção no artigo de inesquecíveis exemplos de excelência, dedicação e profissionalismo (dos quais afortunadamente também beneficiei) separa com clareza o minoritário trigo do joio esmagador. Para lá da incontornável dimensão pessoal (para mim), esta interessante análise deixa-nos a pensar nos bons e maus professores, que ao longo da vida fomos conhecendo.
P.S. - Associando-me às justíssimas menções do artigo, não ficaria bem comigo se não acrescentasse à lista o Prof. Júdice de Análise Matemática I, senhor de contagiante gozo e paixão pelo manuseamento da mais exacta das ciências. Ou o intelectualmente provocante Dr. Joaquim Feio.
posted by NMP on 4:17 da tarde
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A CORAGEM DOS ESTUDANTES: Achei mal que a polícia tenha impedido as três dezenas de estudantes de boicotarem a aprovação das propinas pelo Senado da Universidade de Coimbra. Esta luta de alguns estudantes é muito mal vista pelas pessoas que habitam em cidades universitárias e que sabem como a generalidade dos estudantes vive, gasta e se diverte. Esta percepção, injusta porque existe de facto uma fatia significativa da população estudantil para a qual o valor das propinas representa um peso difícil de suportar, é perversamente alimentada pelo estilo da luta e dos métodos agora propostos: mas os lutadores, para isto, estão-se nas tintas. É também uma luta que deixa indiferente a esmagadora maioria dos estudantes, e é por isso que avisadamente estes corajosos lutadores deixaram de tentar reunir manifestações, passando a optar por acções que não exigem mais do que um punhado de intrépidos voluntários, suficientes no entanto para intimidar um grupo de velhos e barrigudos professores. Um dos alvos em Coimbra têm sido cerimónias e actos mais ou menos solenes: são garantidos, começam a horas e a imprensa não falta à chamada.
Acho por tudo isto que foi uma imbecilidade a polícia ter impedido o boicote que os estudantes pretendiam. O acto democrático e tolerante de arrombar portas a pontapé e interromper o funcionamento da Universidade deveria ter sido pacíficamente filmado, os corajosos protagonistas deveriam ter sido entrevistados para poderem dizer de sua justiça. Já basta haver pouco pão nestes tempos difíceis, ainda nos querem tirar o circo.
BUTTIGLIONE II: Não me lembro qual o autor que disse (erro socrático?) que a moral é como a estricnina: vive na carne de porco. Isto para dizer que não nutro grande simpatia por Buttiglione, pelas suas opiniões ou pelas falanges ultra-conservadoras da Igreja que, segundo FNV, Buttiglione representa.
Mas, a questão é exactamente essa. Desde que respeite os direitos dos outros - como manifestou que faria relativamente aos direitos dos homossexuais - Buttiglione, que foi democraticamente eleito, tem que ter o direito e a liberdade de emitir as suas opiniões. Certamente que não se baterá especialmente pelos direitos dos homossexuais, mas também não terá sido essa a sua base de apoio eleitoral.
Parece-me que será mais grave - no que respeita a riscos para a democracia - a existência de organizações políticas que, confessadamente, se afirmam tributárias de regimes totalitários - dos entretanto desaparecidos e dos mediaticamente emergentes, como a Coreia do Norte. O seu projecto de sociedade é totalitário e, no entanto, elegem deputados e têm a possibilidade fáctica de usar (e deitar fora...) a democracia para chegar ao poder.
Outro aspecto da questão é a forma como Buttiglione é tratado pela imprensa, em geral: obviamente, como um monstro conservador e fascista. Oxalá a mesma bitola fosse usada para qualificar quem acredita que a Coreia do Norte é uma democracia ou certos meninos que ainda gritam pela morte de determinado ministro.
Objectivamente, não me parece que Buttiglione tenha grande futuro na Comissão Europeia (felizmente - pelas opiniões emitidas - e infelizmente - pela forma como será afastado, no triturador do politicamente correcto). Já foi posto a circular que Buttiglione condena as mães solteiras e que considera que as mesmas não têm capacidade para educar os filhos. Segundo o próprio, trata-se de uma interpretação jornalística de uma metáfora por ele usada a propósito do casamento da Europa com os EUA e da "orfandade" das acções políticas que não saiam desse "casamento"...
Enfim, já está política e correctamente "encomendado".
(P.S.: este post é um comentário ao post com o mesmo nome publicado pelo nosso marujo FNV na passada Quinta-feira - que comentava um post meu sobre o assunto - que entretanto não me foi possível comentar)
posted by Neptuno on 6:26 da tarde
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OIL FOR FOOD: Este oportuno artigo do Economist ilustra as incógnitas e os perigos desconhecidos que o aumento do preço do petróleo transporta para as economias mundiais. O preço do petróleo entrou num nível tal que as suas repercussões no crescimento da economia mundial são tudo menos claras.
posted by NMP on 4:51 da manhã
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"UMA PRÈMIERE": O post com este título desapareceu devido a problemas técnicos: as minhas desculpas aos leitores que assinaram comentários e ao leitor que motivou o post em si. Se puder, vou tentar resgatá-lo, caso contrário voltarei ao tema Buttiglione.
posted by FNV on 1:52 da manhã
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DESCULPE? Ouço Morais Sarmento sobre o papel do Governo na informação televisiva e de facto um de nós deve ser muito distraído: ou sou eu que não o percebo, ou é ele que deveria lembrar-se da réplica de Cortadillo a Monipódio, no Rinconete y Cortadillo de Cervantes: "No somos tan ignorantes que se no nos alcance que lo que dice la lengua paga la gorja".
Se lerem o diálogo que antecede a réplica, não deixarão de sorrir.
A VERDADE: Como é que Eça continua a ser tão actual?
"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."
Como?
posted by TRM on 9:45 da tarde
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EXCÊNTRICOS: Já terão reparado nos anúncios do novo concurso do totoloto europeu Euromilhões. Terão assim reparado que pode-se ganhar tanto dinheiro que nos tornaremos ( os felizardos) excêntricos, o que é verdade, pois sairemos de facto do centro, se ganharmos. Mas revelador é o que os anúncios mostram que um tipo excêntrico faz com tanto dinheiro: chega a casa de avião, tem uma orquestra privada ( que interrompe sobranceiramente para comer uma pizza) a tocar para ele, e por aí fora.
Não se lembraram os publicitários de nos mostrar um excêntrico que agarrasse na pipa de massa e a fosse gastar nos Médicos Sem Fronteiras ou em 100 fogos de habitação social. E porque o haveriam de fazer? Só nos mostram as "excentricidades" que somos capazes de imaginar. Qual é o "excêntrico" que preenche um boletim para distribuir o dinheiro do prémio?
posted by FNV on 1:35 da tarde
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SIESTA: Agora que pela primeira vez eu começava a ter um ponto em comum com o nosso Primeiro-Ministro, ele desmente. O rídiculo não tem limite, e como dizia o grande La Rochefoucauld, se não o encontraram num homem é porque não procuraram bem. Nesta investigação da Polícia Anti-Santana o rídiculo é exuberante. Então o homem não pode fazer uma sesta? Porquê? É proibido?
Aderi ao hábito da sesta por alturas de 1998, porque nessa altura acontecimentos da minha vida privada me passaram a privar de um sono nocturno regular. Desde aí habituei-me, e todos os dias - todos - faço após o almoço uma sesta de duração variável: entre 40 a 60 minutos. Não vejo que venha mal ao mundo que o homem faça sesta. Por outro lado parece-me que alguns inspectores da Polícia Anti-Santana andam a fazer horas extraordinárias em excesso e talvez beneficiassem de descanso. Ou de umas sestas.
BÊÊÊEEEEHHH: O BE desceu de 1,3% para 0,9% nos Açores. Está visto que em terras de verdes pastagens há uma incompatibilidade natural.
posted by FNV on 11:51 da tarde
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O QUE ESTÁ EM JOGO: No próximo dia 2 de Novembro os americanos não escolherão apenas um novo Presidente. Haverá eleições para a Câara dos Representantes e para alguns lugares do Senado.
Uma das razões para a crispação actual da vida política americana prende-se com o facto, inédito nos últimos 60 anos, do mesmo partido deter a Casa Branca e maiorias na Câmara de Representantes e no Senado, depois da retumbante vitória dos republicanos nas eleições para estes orgãos há dois anos. A 2 de Novembro, independentemente do Presidente eleito, a situação actual pode sofrer alterações, voltando a haver uma situação de checks and balances mais clara.
Este interessante artigo do Economist explica o que está em causa nesse dia. Se a confirmação do domínio americano e a progressiva marginalização do Partido Democrata (que foi recorde-se o maior partido no Congresso durante quase todo o século XX) se a reposição do equilíbrio entre diferentes maiorias no poder executivo e legislativo.
O poder nos Estados Unidos está muito diluído entre o Congresso e a Presidência. Para se ter uma boa noção dos efeitos internos e externos das eleições de 2 de Novembro, será necessário ter em conta muito mais do que apenas a escolha presidencial.
posted by NMP on 11:36 da tarde
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O MAR SALGADO é uma nau caótico-pluralista que navega quotidianamente na blogosfera lusa. É tripulada por velhos lobos do mar com visões e opiniões dos mais diversos quadrantes e fidelidades clubístico-futebolísiticas variadas. Mensagens e contributos para lobosdomar@hotmail.com
posted by NMP on 11:32 da tarde
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EU, O PAMONHA: Me confesso. O Comandante Nuno Mota Pinto que me despeça, que me mande ir fazer tijolo, que me deporte para a Gronelândia, este post é sobre futebol. Não ando aqui só para escrever textos sobre a morte ou sobre a História das drogas. Também há espaço para uma (estupidamente) patética declaração: hei-de ter quinhentos anos, o cabelo verde e três cabeças, antes de ver o Benfica sair vitorioso das Antas ( num ambiente equitativamente escaldante) com uma vitória conseguida à custa de um penaltie não assinalado e um golo limpo ( precedido de um frango) invalidado. Havia de ser lindo: era o massacre.
PS: em defesa deste post, esta frase de Pinto da Costa, o maior ilusionista do futebol português, após o jogo: "Não sou um especialista de arbitragem". Está tudo dito.
posted by FNV on 9:54 da tarde
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"CHEIRA A PUM!..." Já não sei bem a propósito de quê, recordava há dias com um velho amigo episódios antigos da escola. Na turma de então havia um aluno fantástico, inteligente e espertíssimo que todos, dos professores aos colegas passando pelos contínuos (não sei se ainda se os designam assim) escutavam com atenção reverente. Pois o Marcelino (acho que assim se chamava o rapaz) era também um enorme brincalhão, sempre pronto a pregar partidas, principalmente aos menos avisados ou recém-chegados.
Uma das suas preferidas era a de se levantar da sua cadeira com enorme estardalhaço e berrar muito alto para o lado, com ar enojado: "cheira a pum!..." O colega da carteira, completamente inocente, ficava logo aflitíssimo, encarnado, a tremer, suado e as professoras perguntavam imediatamente, incrédulas: "cheira a quê, Marcelino?..." Aí o Marcelino, já conveniente e teatralmente afastado do infeliz colega, muito direito, punha uma pose séria, enchia o peito de ar e dizia com ar seráfico que pretendia mudar para uma carteira lá do fundo da sala, ficando sozinho. Que a senhora dra. (ainda não se tinha enraizado completamente o setôra) lhe perdoasse mas ele não podia explicar os motivos reais da mudança, do corte com o colega: eram questões pessoais. Dava timidamente a entender que o colega com os olhos lhe pedia que nada dissesse, embrulhava-se em explicações complicadas como a de que o colega era de relações familiares ou equivalentes ou coisa do género, que as famílias se conheciam, que razões de consciência o levavam a ficar calado, pelo menos enquanto isso fosse possível (devia pretender referir-se a uma potencial ida ao gabinete do presidente do conselho directivo...), multiplicava-se em explicações para o mutismo a que se votava mas tinha de mudar de carteira, o que geralmente sucedia, voltando a aula a uma normalidade aparente.
Com uma pequena diferença: Marcelino, isolado e calado na carteira lá do fundo, ria-se sozinho, para dentro, felicíssimo com o sucesso da sua brincadeira e imaginando já novas partidas.
O seu antigo companheiro de carteira, ainda vermelho, suado, vexado, sujeito à maledicência, às inquirições, às suspeitas, ao falatório, aos olhares, ficava provavelmente destroçado com tudo isso mas principalmente com a espatifada convicção de que alguma vez teria existido alguma amizade e respeito entre os dois.
As professoras, por seu turno, sorriam e lá ficavam com a ideia errada de que o pobre e inocente colega de carteira do Marcelino efectivamente se teria descuidado com qualquer pressão excessiva que o organismo, cruel, lhe teria provocado, em plena aula, e acreditavam mesmo que estranhos (embora inexistentes) odores povoavam a sala.
Mas os restantes alunos da turma sabiam bem que o real odor pestilento e nauseabundo que, curiosamente, saltava à vista ao invés de entrar pelas narinas, provinha do fundo da sala e tinha origem não numa qualquer pressão do organismo do infeliz ainda ruborizado mas antes numa questão de atitude do alegre brincalhão para com o antigo colega de carteira, Miguelito.
Post Scriptum: o episódio relatado é pura realidade ocorrida há mais de vinte anos no Liceu José Falcão, em Coimbra. Qualquer semelhança com factos mais ou menos actuais é mera coincidência pela qual não nos responsabilizamos nem concedemos contraditório.
posted by VLX on 7:25 da tarde
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DIAS FELIZES:O homem não conseguia perceber: pensava nela todos os dias mas demorou três anos até conseguir voltar ao cemitério. E o que não conseguia perceber era porque é que a ida ao acampamento dos mortos lhe custava tanto, quando todos os dias em que metia a chave na porta a mulher morta o acompanhava. Quem não fez este curso julga que recordamos por secções, como quem reza à noite antes de ir dormir. O homem não recordava nada. Ela é que o chamava sempre que a filha sorria igualzinho, sempre que fazia a barba e reparava na borda do lavatório, no imenso espaço vago deixado pelos boiões de cremes e frascos de bolas de algodão. Trocou de cama e de carro o que lhe aliviou o cheiro do rasto, mas cada centímetro da casa era uma fotografia.
Assim, porque raio a ida ao cemitério nas ocasiões oficiais o incomodava tanto? Só ele saberá. Suspeito que esse incómodo, comum, diga-se, desliza de uma marca temporal: recorda-nos não quem perdemos, mas o primeiro dia do calvário. Obriga-nos a imaginar como era boa ( e não o sabíamos) a vida antes desse dia.
posted by FNV on 1:30 da tarde
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UMA RELATIVÍSSIMA JUSTIÇA: Até posso estar de acordo - já aqui o escrevi - com o princípio que sustenta a eliminação dos benefícios fiscais dos PPR e outras siglas cujo significado nunca fui capaz de decifrar. Mas esse princípio só é aceitável no quadro de uma outra política fiscal, onde a redistribuição efectiva se faça através de uma verdadeira afectação social da despesa.
Como não é o caso, a minha ignorância interroga-se:
1) Julgava eu que esses benefícios se destinavam a estimular a adesão a planos de poupança-reforma privados, para aliviar um pouco a pressão que se adivinha, no futuro, sobre a segurança social. A ameaça deixou de existir, ou o Estado deixou de querer saber?
2) Ficamos muito reconfortados por saber que o acréscimo da receita não visa cumprir um princípio, mas sim financiar a diminuição das taxas dos escalões mais baixos do IRS. Sorrimos, com feliz beatitude, perante a promoção da justiça social através da redistribuição da carga fiscal. Entre os que pagam. Entre os que pagam? Claro, entre os que pagam. Os contribuintes efectivos, os tais que declaram o que ganham, passaram a ser, oficialmente, o universo onde o Estado se propõe estabelecer uma maior justiça relativa. O resto é um imenso buraco negro, um mundo de pecado e vileza, do qual se deve guardar vista. Até porque, no fim dos tempos, o Círculo Oitavo lá os espera.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.