AO MEU CARO PC ( e a mais alguns outros): Como tens tem TVI, a mesma TVI que te tem proporcionado a actividade viciante, decerto reparaste nas duas grandes penalidades não assinaladas a favor do Glorioso. Folgo em ver-te curado do vício, portanto. Aos grunhos do norte, que quando levaram 4 do Nacional no estádio do Dragão, conseguiram culpar a arbitragem ( como culpam Marte pelo atraso do Metro e da Casa da Música), demonstro-lhes porque é que o Benfica é o clube português: joga muito mal, é prejudicado, mete a viola no saco e vai a luta. Cumprimento-os também pela campanha montada nas últimas semanas: folgo em ver que abandonaram o método das putas & vinho verde, para passarem a adoptar a intensidade mediática. Modernizaram-se e colocaram-se ao abrigo de juizes e procuradores. Dito isto, é ganhar na Luz e pôr o champagne no gelo. Graças a Deus, temos um ponto de vantagem sobre aqueles que metem areia nos olhos do povo enquanto tiram as bolas de dentro das balizas.
Adenda: embora não tenha sido chamado à atenção, sublinho que, quando me refiro aos "grunhos do norte", descrevo apenas aqueles cujo comportamento caracterizo no post, não incluindo nesta categoria as pessoas do norte, de um modo geral, como é evidente.
posted by FNV on 11:10 da tarde
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BLOCO DE NOTAS: Vasco Pulido Valente escrevia em 2004 no Público, que o Bloco de Esquerda era uma agremiação folclórica sem qualquer peso ou representatividade políticas. Na altura rebati essa tese aqui no Mar Salgado. Agora ( na semana passada), VPV diz que o BE vai a caminho de se abastardar e de se tornar um partido igual ( leia-se, com peso e representatividade) aos outros. VPV anda há muito a perder qualidades de análise, e de caminho, a ganhar outras: a de ter razão contra os factos. O Expresso de hoje traz duas entrevistas a dois militantes ( aderentes, nãoé?) do BE que vale a pena ler. Gil Garcia queixa-se que existe "défice democrático" dentro do BE, e não percebe porque é que agora "se tem medo de falar em revoluções sociais", porque "está provado que não se alcança o socialismo pela via parlamentar". Já Helena Carmo, ex-activista da rede bombista/FUP, reclama maior "visibilidade pública" para a sua tendência, ao mesmo tempo que assume ainda "não ter uma leitura definitiva" sobre se o modelo socialista do Bloco é ou não compatível com a democracia parlamentar. É enternecedora a preocupação do Bloco-Adulto em esconder as crianças, ainda que estas revelem vagas parecenças com figuras da Revolução, como Chliapnikov ou Kollontai, que em 1921, puros e duros, se opuseram à NEP de Lenine. Mas estas crianças não fazem senão aquilo que os pais sempre lhe ensinaram. Resta saber se a outra metade, os tios do Bloco, por exemplo os universitários cinquentões, acharão piada às diatribes dos garotos.
posted by FNV on 3:57 da tarde
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HOJE ESTOU MAIS VELHO: Dizia o João dos Santos ter pena do homem que não conserva uma parte da sua garotice, da capacidade de se maravilhar ingénuamente com a as coisas do mundo. Os relatos radiofónicos de futebol são uma parcela dessa minha garotice: ainda hoje, muitas vezes, tiro o som à televisão para ouvir o relato e celebração do golo. Sobretudo se são feitos pelo Jorge Perestrello. Olha mulungo, hoje, quando o Benfica marcar o primeiro golo em Penafiel, é de ti que me vou lembrar.
TOLERÂNCIA: A proverbial, de esquerda, quando chega ao poder e se permite responder a uma interpelação de um deputado com um amável e dialogante "Parece que é parvo". Nem nos piores tempos do cavaquismo... E ainda agora começou.
posted by Neptuno on 4:44 da tarde
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O ABRUPTO faz dois anos e a malta, aqui da nau, envia uma salva de parabéns. E o JPP celebra a data condignamente: destrinçando e classificando uma montanha de livros velhos que lhe entraram pela casa dentro na véspera. (Nos dois anos do Mar Salgado, a Providência trar-me-á a tal truta de 5 kgs?)
posted by PC on 1:58 da tarde
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BONNE MINE AU MAUVAIS JEU: "Boa cara ao mau jogo", é o que Schopenhauer diz ser a única réstea de vulnerabilidade do estóico. Fora disso, diz o filho de Joahanna, "o estóico desconhece a energia, a sensibilidade, a vivacidade e fantasia necessárias para experimentar as penas do coração, por grandes que sejam". É curiosa a repetição, no tempo e nas páginas, da incompatibilidade crónica entre o estoicismo e o cristianismo. Mas bonne mine au mauvais jeu, não foi Schopenhauer capaz de fazer, quando regressado a Weimar no Outono de 1813, encontrou a mãe, viúva e feliz, amancebada com um jovem escritor que o tempo esqueceu. Coisas do coração.
MINISTRO DA JUSTIÇA V: Já aflorei que é mentira que alguém ligado à Justiça (provavelmente com excepção do Ministro) tenha dois meses e meio de férias. Convém explicar agora algumas das razões que justificam o nosso sistema actual, que não é muito diferente do que se passa no resto da Europa. Aliás, convirá esclarecer que em muitos dos países europeus existe exactamente aquilo que com rigor se poderia chamar férias dos juizes: na Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Finlândia, França, Holanda, Itália, Liechtenstein, Lituânia, Macedónia, Malta, Noruega, Polónia, República Checa, Roménia, Suécia e Suíça (dos que vi), os juizes têm um período de férias superior aos dos portugueses. Acontece que no nosso país os juizes, delegados e funcionários judiciais (a que eu acrescentaria os advogados) não podem fazer férias sem ser durante o período das chamadas "férias judiciais". Se estas se reduzem a um mês - o de Agosto, por exemplo - e se todos, como é seu direito, as fizerem na mesma altura, existirá necessariamente um mês em que os processos não andam: a senhora quer ir com os filhos para fora do país? Precisa de uma decisão judicial? - Não há quem lha dê! O senhor foi preso? - Terá de aguardar um mês pelo regresso do juiz!
Claro, dir-se-á (ou dirá o MJ), então que as pessoas ligadas à Justiça possam fazer férias quando quiserem, durante todo o ano, como qualquer ser normal. É fantástico! E como é que nunca ninguém se lembrou disto?!? Terá sido porque se cada juiz, se cada delegado, se cada funcionário ou se cada advogado decidirem fazer férias quando lhes apetecer nunca mais se conseguiria formar um colectivo e os tribunais se afundariam e se atrasariam ainda mais? E naqueles inúmeros tribunais onde só há um juiz?
Quando o MJ fala em alterar o que se designa por férias judiciais está a mexer com uma máquina imensa e terá de alterar muito mais do que simplesmente datas (ninguém se incomoda que o faça, mas é preciso fazê-lo). O facto do MJ não ter percebido isto é extremamente grave e revelador de que ele não sabe o que anda a fazer. Ele não percebeu que o facto de existirem dois meses por ano sem que corram os prazos judiciais ajuda os magistrados, os funcionários judiciais e os advogados a resolverem os problemas das populações. Ele não percebeu que esse período é importante para os diversos agentes judiciais - não para que cocem a barriga mas para que resolvam melhor os problemas da Justiça e das pessoas. Ele não percebeu nada!
posted by VLX on 11:53 da tarde
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FAVORES EM CADEIA: Na RTP, numa espécie de entrevista a Judite de Sousa, Valentim Loureiro explica-nos que existe uma diferença entre ameaçar irradiar um observador de arbitragem para que altere um relatório, e ameaçar irradiar o mesmo indivíduo para que ele não altere o referido relatório. Pelo meio vai dizendo que "tudo isto" - leia-se, a investigação da PJ, o trabalho do M.P. e da juíza - é uma "brincadeira" ( deve ser mais um que acha uma reinação pegada as férias judiciais), e que conhece "muitos juízes-conselheiros". Quanto mais falou, mais se enterrou. Este já está, venha o outro. À televisão, claro.
PS: Quanto a política, por entre os lugares comuns ( declarações de amor aos gondomarenses, ao partido e à pátria), ficámos a saber que o mundo do Sr. Major, como é de bom tom nestes meios, é um território de vendettas e favores recíprocos: a maneira como se referiu a Arlindo Cunha, por exemplo, deve ter deixado o "deputado-europeu-graças-ao-major", com vontade de ir para a cama sem lavar os dentes.
posted by FNV on 10:55 da tarde
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TÃO DEMOCRATAS QUE NÓS SOMOS...: De vez em quando, os comunistas e trotskistas do nosso Parlamento deixam cair a máscara e mostram o que realmente pensam sobre a democracia. O aborto, goste-se ou não e seja qual for a posição de cada um foi objecto de referendo nacional. A população, bem ou mal, manifestou-se MAIORITARIAMENTE pela manutenção da actual lei. Devido à forma trapalhona como o PS lidou com o agendamento de novo referendo, parece que o mesmo não poderá ocorrer nos próximos tempos. Qual é a solução para os nossos Brejnevs? É avançar e impor a despenalização via Parlamento, que o referendo não é preciso para nada. Se a população pensa ao contrário é porque é burra, mal informada ou influenciável e, por isso, tem que ser "educada" pelos donos da verdade colectiva. Este tipo de atitudes é triste, mas não surpreende. Não surpreende porque vem de pessoas que não escondem a sua admiração pela Coreia do Norte ou a sua nostalgia pelo totalitarismo soviético. Que nunca se chocaram com os respectivos crimes e que, por força da queda do Muro de Berlim, foram obrigados a mitigar (leia-se "esconder") as suas verdadeiras opiniões políticas - algumas, que até chegam ao governo, só bem mais tarde admitiram os inconvenientes do regime soviético. Para esta gente, a democracia só serve enquanto os servir. Para nós, não deve ser um dado adquirido. É bom estar atento.
posted by Neptuno on 5:28 da tarde
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MINISTRO DA JUSTIÇA IV: Chama-se "férias judiciais" e o povo (e, ao que parece, o actual governo) chama-lhe "férias dos juizes". Mas a maior parte da população já teve seguramente de se socorrer dos tribunais na época das ditas "férias" tendo obtido decisões e resoluções para os seus problemas. E encontrou igualmente juizes, delegados, advogados e funcionários judiciais para lhes tratarem dos problemas, mesmo que em instalações infectas. Existe sempre alguém nos tribunais para tratar dos problemas das pessoas. Porque existem turnos. Há sempre juizes, delegados, advogados e funcionários judiciais a trabalhar: à semana, ao Sábado, ao Domingo, nas ditas "férias judiciais". Os nossos tribunais funcionam todos os dias do ano e o interesse da nossa comunicação social pelos casos mais mediáticos mostra-nos (e até ao Ministro) que nos tribunais se trabalha igualmente pela noite fora. Há sempre gente a trabalhar nos processos urgentes, naqueles que correm sempre e em qualquer situação, mas também nos outros.
O MJ não pode desconhecer (a não ser que seja um ignaro total) que durante aquele período a que se chama "férias judiciais" a maior parte dos juizes, delegados e funcionários judiciais "limpa a casa", trata daqueles processos mais complicados ou menos urgentes para os quais não teve tempo durante o ano, por lhes ter sobreposto outros ou outras diligências. Não tendo esse período, aquilo que fazem durante o ano é que será afectado. Claro que existirão sempre alguns preguiçosos mas, na sua grande maioria (eu não conheço nenhum que não o faça), as pessoas ligadas à Justiça utilizam esse tempo em trabalho árduo em prol da comunidade e na tentativa de regularizar a situação dos tribunais. Isso é facilmente demonstrável pela enorme quantidade de processos que se resolvem ou desenvolvem todos os anos em Setembro: foi porque as pessoas estiveram a trabalhar nas chamadas "férias dos juizes". Tentar dizer à população que os juizes têm férias de dois meses e meio é, mais do que demagogia, mentira pura e indigna de um Ministro da Justiça!
posted by VLX on 1:33 da tarde
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MINISTRO DA JUSTIÇA III: A falta de seriedade do Ministro da Justiça advém de um outro factor. Em boa verdade, todos sabemos que esta ideia da limitação das chamadas "férias judiciais" deverá ter saído de uma qualquer reunião de café, de alguém que se lembrou da coisa sem saber nada sobre o assunto, até porque nada disso foi dito na campanha eleitoral. Deve ter sido na base do "e se fizéssemos isto?" E como, para cúmulo, a população apelida ignorantemente as "férias judiciais" de "férias dos juizes", o tema até seria popular. Terá sido, portanto, aquilo que os próprios socialistas chamariam, com o coro da comunicação social, uma "santanice" (isso mesmo nos foi revelado - a acreditar no que dizem alguns Deputados à AR - quando, interpelado por Odete Santos, o Primeiro-Ministro se socorreu de António Costa demonstrando não saber sequer quanto tempo durariam as chamadas "férias judiciais"...).
Contudo, de um Ministro da Justiça exige-se que saiba minimamente daquilo que trata e do que discute e não que defenda obstinadamente aquilo que alguém se lembra de deitar cá para fora, entre duas rodadas, mesmo que não faça o menor sentido.
Um Ministro da Justiça a sério deveria saber que não se deveria aproveitar da ignorância da população face ao modo de funcionamento das instituições para atacar - injustamente - as magistraturas que deveria apoiar e defender. Ao colocar o odioso de uma menor qualidade do funcionamento da Justiça na questão da chamadas "férias judiciais", o Ministro da Justiça está a (não só a mentir descaradamente como a) atraiçoar todos aqueles funcionários que, sete dias por semana e 365 por ano, se dedicam - uns melhor, outros pior - a fazer o seu melhor pela máquina da Justiça, muitas vezes em condições miseráveis.
Até há bem pouco tempo, os juizes que ficavam à noite a trabalhar nas Varas Cíveis do Porto tinham de se munir de lanternas para poderem circular pelos corredores do tribunal!!! Em muitos outros tribunais não há segurança que proteja um juiz, um procurador um advogado ou mesmo um funcionário judicial de ataques de terceiros. Alguns tribunais funcionam em prédios de apartamentos ou edifícios comerciais. Em inúmeros tribunais os juizes não têm bibliotecas, aquecimento, ar condicionado, computadores minimamente modernos, internet a funcionar, cadeiras, mesas, nada! E toda essa gente trabalha, desenvolve a sua actividade na medida do possível e sem se queixar. E o Ministro que tutela a área quer fazer crer à população que a panaceia, o princípio de todos os males, são as férias judiciais. Em qualquer sistema democrático decente, um Ministro assim era imediatamente chutado a pontapé. Sublinho: num "sistema democrático decente" e "a pontapé".
posted by VLX on 3:18 da manhã
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MINISTRO DA JUSTIÇA II: Ainda tendo em consideração o capítulo da falta de seriedade do MJ, socorro-me da sua alegação de que 97% dos processos estão parados em férias judiciais. Duvido dos números adiantados mas não tenho aqui meio de os rebater. Apenas digo que esse argumento demonstra mais uma falta de seriedade na discussão que se criou. Admito (sem conceder) que a estatística demonstre que apenas 3% dos processos são urgentes e correm em férias (devem ser todos meus...), embora me custe a acreditar que nesses 3% caibam todos os procedimentos cautelares, processos criminais de arguido preso, menores em perigo, interrogatórios judiciais, processos crime sumários, entre outros, que correm durante as férias. Mas, mesmo sendo verdadeiros esses números, o MJ ter-se-á esquecido (uma vez mais deliberadamente ou por ignorância) que durante esse período inúmeros juizes, delegados e funcionários judiciais aproveitam o tempo para tratarem da questões mais delicadas e demoradas, para as quais falta muitas vezes o tempo durante o ano (trabalho que seguramente não consta das "suas" estatísticas). Por outras palavras - e admitindo academicamente serem os números verdadeiros -, o MJ está a utilizar esses números de forma não séria, apenas para demagogicamente tentar fazer valer o seu absurdo ponto de vista. Está deliberadamente a esquecer o trabalho voluntarioso de vários funcionários públicos dedicados que durante o chamado período de "férias judiciais" se esfalfam para que a máquina da Justiça funcione minimamente. Esquece-se ainda de que todos sabem que seja num Sábado, num Domingo ou em pleno Agosto, seja onde for, todos têm acesso aos tribunais, a juizes, a procuradores, a advogados e a funcionários judiciais: pretende o Senhor Ministro enganar quem?
posted by VLX on 3:13 da manhã
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MINISTRO DA JUSTIÇA: O mínimo que se deve exigir a um Ministro da Justiça é um nadinha de seriedade na exposição das suas políticas ou das ideias que defende e um pouquinho de conhecimento da área que tutela. No caso do actual Ministro da Justiça, faltam-lhe em demasia estes dois atributos. Comecemos pelo da falta de seriedade, ao fim e ao cabo aquele que é mais melindroso e que mais rapidamente prenderá o incauto leitor.
Quando o MJ vem demagogicamente acusar os tribunais (e os juizes em particular) de estarem parados durante dois meses e meio por ano não está a ser sério nem verdadeiro no seu argumento porquanto durante um mês, durante um mês inteirinho, sempre os juizes (como qualquer ser normal) estariam - ou deveriam estar - de férias. De forma que ele mete tudo no mesmo saco mas, na verdade, ele só se pode queixar de um mês e meio de férias judiciais (rectius, de suspensão do normal decurso na vida dos tribunais).
Em segundo lugar, o MJ esquece-se deliberadamente de que parte do meio mês do período a que ele se refere se cinge à época de Natal e de Páscoa, a feriados e aos fins-de-semana que esses períodos compreendem. Ou seja, quando o MJ se vem queixar, em grandes parangonas, dos alegados dois meses e meio das chamadas "férias judiciais" e acusá-las das deficiências da máquina da justiça, ele está a ser falso ou ignorante e qualquer das coisas é grave num Ministro da Justiça. É que, na verdade, ele apenas se pode queixar dos últimos quinze dias de Julho e dos primeiros quinze de Setembro (mas nem desses, como adiante tentaremos explicar àqueles que não conhecem o funcionamento desta instituição - integrando nesses ignorantes, obviamente, o próprio Ministro da Justiça actual). (cont.)
DIZ-SE QUE... : Certo governante já deixa estalar o verniz com alguma frequência nas suas relações com a imprensa. Que certas perguntas sobre a (não) realização do referendo sobre o aborto já suscitaram a ferocidade do homem. Mesmo sabendo que se trata de um camarada, diz-se que o comportamento submisso de certa imprensa, perdão, o famigerado "estado de graça", poderá estar a acabar.
posted by Neptuno on 6:55 da tarde
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LER OU TEMER: O meu interesse sobre a China começou há alguns anos devido à investigação na área da história do tráfico de ópio. Esse interesse foi-se desenvolvendo, e alargou-se a outros períodos e categorias, sendo que sou hoje um mero projecto de aprendiz em matérias relacionadas com o assunto. Como qualquer português, tenho a facilidade de poder estudar muitos textos gerados a partir das missões portuguesas no Oriente, mesmo que alguns só tardiamente tenham sido reconhecidos em Portugal. Um deles, recomendo vivamente a quem só agora, e motivado pelo medo, se começou a interessar pelo Império do Meio: A Nova Relação da China ( Ed. Fundação Macau, 1997), do jesuíta Gabriel de Magalhães, composta em Pequim em 1668. Esta obra, inicialmente escrita em português, permaneceu quase trezentos anos indisponível na língua original, tendo sido os franceses que a divulgaram na língua de Montaigne. Em 1957, em Macau, o texto do padre Magalhães foi finalmente redisponibilizado na sua língua original. É um livro admirável, escrito por um homem que foi mecânico e astrónomo na corte de Pequim, bem como arquitecto-engenheiro: construiu em Pequim, em 1662 (em colaboração com Luís Buglio), a Igreja de São José - Dongtang, "A Igreja do Leste" - ainda hoje aberta, cautelosamente, ao culto
"SOBRE O DIREITO DE FORNICAR MENINOS": É sob esta epígrafe que os Blasfemos João Miranda e Carlos Loureiro comentam a decisão do Tribunal de Ponta Delgada, que recusou a aplicação, por inconstitucional, do art. 175º do Código Penal. A leitura que faço dos arts. 174º e 175º é diferente da que ali se propõe. Tal como vejo as coisas, a lei estabeleceu a idade dos 14 anos como limite mínimo geral da liberdade sexual positiva, congruentemente com o que se dispõe, em geral, sobre a idade do consentimento (art. 38º). A partir desse patamar, protege-se, no art. 174º, a inexperiência dos menores contra adultos que dela abusem, desde que tais actos se traduzam em cópula, coito anal ou coito oral. Para os efeitos deste artigo, não importa se se trata de actos heterossexuais ou homossexuais (embora fiquem dele excluídos os actos homossexuais entre duas pessoas do sexo feminino, porquanto não pode aí existir "cópula" nem "coito"; mas isso é matéria para outras núpcias: como se sabe, a tradição cultural portuguesa é a de que o lesbianismo nunca existiu, ou, se existe, não inclui o sacrilégio supremo da penetração). E, no art. 175º, punem-se todos os actos homossexuais de relevo (incluindo aqueles que estão descritos no art. 174º, e por isso discordo do Carlos Loureiro) praticados por adulto com menor entre 14 e 16 anos, mesmo que não exista inexperiência do menor (nem, consequentemente, abuso dessa inexperiência). Se esta discrepância viola ou não o princípio da igualdade e da não discriminação em função da orientação sexual, é outra questão, que não abordarei aqui. Por outro lado, é verdade que uma norma penal não tem por fim primeiro atribuir direitos. Mas também é verdade que a conduta que não seja proibida pela ordem jurídica não pode deixar de ser vista como lícita e, nesse sentido, juridicamente permitida. Assim, pode dizer-se que as relações (sexuais) heterossexuais de um adulto com um adolescente maior de 14 anos são lícitas, desde que não haja inexperiência e abuso da inexperiência, não o sendo porém as relações (sexuais) homossexuais homólogas. Enfim, o que mais me interessaria discutir é o ponto de vista de onde arranca a análise: por que razão se parte sempre dos direitos (ou não-direitos) dos adultos (logo vistos como monstros lúbricos, prontos a explorar a inocência dos "meninos"), e não dos direitos dos adolescentes? Se a proibição penal visa proteger os menores (e não as representações dos adultos sobre a sexualidade deles), não seria mais coerente discutir o assunto a partir da questão "quando devem os menores ter direito à liberdade sexual positiva plena"?
MERCADO NEGRO: Os bilhetes para o concerto de Laurie Anderson, no Teatro São João, no próximo dia 6 (sexta-feira), estão esgotados. Se alguém tiver dois ingressos que queira vender, é favor contactar lobosdomar@hotmail.com. Agradecido.
posted by PC on 3:21 da tarde
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CADELAS MAL-PARIDAS: A mulher tem vinte e tal anos anos, é desembaraçada, trabalha num escritório de contabilidade em Viseu, é solteira e solitária; conheço-a há mais ou menos um ano, no outro dia engravidou, o médico de família enviou-a para umas abortadeiras. Ela tem um bom nível de vida, sabe que o seu médico sabe que ela tem um bom nível de vida, achou estranho entrar numa garagem anexa a uma moradia manhosa e suburbana. Uma vez lá dentro, duas mulheres que se apresentaram como enfermeiras, deitaram-na numa velha marquesa, provavelmente surripiada do hospital, remendada com adesivos e com o revestimento castanho rasgado em várias zonas. Enquanto as enfermeiras, vestidas como se estivessem a fazer as limpezas de domingo, preparavam os instrumentos, falavam de vacinas para cães. E enquanto falavam, duas cadelas entraram na sala de cirurgia, abanando o rabo alegremente. A mulher, desesperada, deu um berro. No final do serviço pagou 500 euros pelo aborto e 250 pelos comprimidos. Apercebeu-se, durante o tempo que lá esteve, que as abortadeiras faziam uma média de 7 a 8 abortos por semana. Fez as contas e enraiveceu-se: Irra! Não dava para terem uma sala em condições? Como na toxicomania, são sempre ácidas as mais-valias que alguns fazem à custa da hipocrisia generalizada. A mulher ficou a pensar como seriam as salas, as macas e os cães, se estivesse desempregada e com filhos, se tivesse recorrido a abortadeiras mais baratas.
A PALAVRA MÁGICA*: Regularmente, surgem expressões na nossa comunicação quotidiana que tendem a replicar-se com uma frequência assustadora, passando a dominar, até à náusea, os processos comunicacionais nos mais diversos registos. A maior parte das vezes, trata-se de palavras ou expressões incomuns (em si mesmas, ou no contexto em que se inscrevem) utilizadas por "pessoas públicas" (actores, políticos, desportistas famosos, etc.): quem não se lembra, para dar só alguns exemplos, do "ópramim!", do "safa!", do "é da vida", do "este homem não é do Norte", do "eles falam, falam, falam"...? A generalidade destas palavras e expressões não possuem a propriedade específica de modificar a substância da conversa, ou a atitude dos conversantes: limitam-se a introduzir uma nota dissonante, normalmente de humor (tão mais eficaz quanto a referência for descontextualizada), no acto comunicacional. Porém, assistimos nestes dias ao nascimento de uma verdadeira palavra mágica, uma espécie de pedra filosofal da retórica, que transforma o próprio sentido do discurso: o "é complicado", acrescido de reticências ou sem elas. É comum deparar com dois sujeitos, que se encontram envolvidos na mais acesa discussão, até que um lança o olhar para o vazio e pronuncia o "é complicado...". Imediatamente, o contendor baixa os olhos, e acena com a cabeça, mais ou menos lentamente, consoante a gravidade posta pelo outro no seu "é complicado" (e não consoante a efectiva complexidade do assunto subjacente). Em casos extremos, o interlocutor, mesmerizado, repete, ritualmente: "é complicado..." (aqui, tem sempre reticências). A expressão possui, como se deixou implícito, grande poder de pacificação social. Alguns exemplos: o estudante a quem se pergunta, no fim da oral, a que se deve a má prestação que conduzirá ao chumbo: "já fiz três cadeiras, todas muito juntas, é complicado..."; o professor que explica ao estudante que vai chumbar: "o senhor não sabe isto, isto e aquilo... assim, é complicado..."; o polícia que redige o auto de contra-ordenação: "o senhor pisou um duplo risco contínuo; se fosse só um risco contínuo... assim... é complicado"; a casa de electrodomésticos que, contra o que apregoa, tenta não devolver o dinheiro ao cliente insatisfeito: "se quisesse trocar por outro artigo... mas devolver o dinheiro, é complicado"; o Presidente da República, em relação a um referendo que não quer convocar: "esta matéria é importantíssima; mas convocar um referendo para essa altura, é complicado"; o canalizador que se prepara para recusar uma chamada de urgência: "eu posso ir aí, mas hoje é complicado...". Em todos estes casos, há uma forte probabilidade de se alcançar, através da palavra mágica, um consenso milagroso em situações de tensão. A única classe a quem está vedado o uso da palavra mágica é a dos aprendizes de relojoeiro. Quando examinam as entranhas de um relógio, não lhes passa pela cabeça dizer ao mestre: "hummm... isto é complicado". E - ironia própria dos fenómenos místicos - são eles quem verdadeiramente trabalha com complicações. P. S. Outra das expressões místicas cujo abuso domina a comunicação contemporânea é o "politicamente correcto". A ela voltarei brevemente. * Para o Américo de Sousa
posted by PC on 1:30 da manhã
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NO MESMO PAÍS CHEIO DE SOL: Vivia um homem, que quando se candidatou a chefe do governo, era um holograma, um produto mediático, uma simples e mole boa-figura. Três meses depois, como se a seca continuasse, o povo das palavras passou a ver nele um chefe pragmático, duro e contido.
posted by FNV on 1:18 da manhã
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NUM PAÍS CHEIO DE SOL: Havia um presidente que gostava de ervilhas, um parlamento que gostava de ervilhas, um governo que gostava de ervilhas. Mas por alguma razão misteriosa, não conseguiam, todas estas instituições, legalizar o hábito de comer ervilhas. E assim, os habitantes continuavam a comer ervilhas às escondidas.
PRESIDENTE À PAISANA: Segundo parece, o Presidente Sampaio é apologista de mais viaturas dissimuladas com agentes da BT à paisana - para "apanhar" em flagrante os infractores - como medida principal para o combate à sinistralidade rodoviária. Defende, portanto, as medidas repressivas. Os agentes emboscados, na esperança de capturar o incauto infractor, que será então severamente punido. Embora a componente repressiva também tenha o seu papel, custa-me que se ignore em absoluto a componente preventiva. Releva do senso comum (que talvez possa ser cientificamente contrariado - tem a palavra o nosso PC) que as infracções rodoviárias - bem como o crime em geral - diminuem com a presença visível da BT, neste caso. Penso que será sempre mais produtiva - e menos consumidora de vítimas - uma política de presença efectiva de GNR nas estradas, prevenindo o cumprimento das regras, do que uma política de disfarce e castigo, que só opera uma vez ocorrida a infracção. Na reportagem que passou nas televisões do interior do carro da BT em que seguia o Presidente essa mesma realidade foi constatada pelo próprio, afirmando ter notado que os condutores reduziam a velocidade sempre que se apercebiam da viatura radar. O capitão chegou a afirmar que por vezes se formava uma "procissão" atrás da viatura. Se se deslocava no limite do permitido queixa-se de quê?
posted by Neptuno on 5:33 da tarde
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RÊVERIES A mulher condenada na Noruega a pena de prisão efectiva, por ter praticado sexo oral num homem quando este estava adormecido, bem poderia ter alegado sonambulismo: assim, teriam estado ambos a sonhar.
posted by FNV on 12:13 da tarde
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O SÁBIO CORNELIUS:Celsus, no seu De Medicina, livro terceiro, 18.18-21: Neque ignorare oportet leviorem esse morbum cum risu quam cum serio insanientium. Ou seja, não ignoremos que é preferível um louco bem disposto, a um louco grave e sério. Celsus apreciaria os tempos de hoje: é cada vez mais difícil toparmos com loucos comedidos, é muito mais frequente o contacto com alegres insanos.
ESTOU SOLIDÁRIO: Com o nosso P.C. e com o post anterior. Mas dispensava bem o vício: fiquei à beira de um ataque de nervos, em plena catedral, com o penaltie cometido sobre o Nuno Gomes, ainda na 1ª parte, e não assinalado pelo árbitro meu conterrâneo. Mais adianto que folgo em saber que o nosso P.C. já tem televisão outra vez, mas como onde reside não existe TV cabo, ficou a salvo da atitude viciante, com o golo do FCP obtido em off side pelo McCarthy . Mas lá está, quem não tem dinheiro, não tem vícios.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.