FOGO QUE ARDE SEM SE VER O MINISTRO! O país continua a arder e o Ministro continua muito provavelmente a banhos. Este paradoxo entre o elemento água e o elemento fogo continua a incomodar-me. Aos outros, curiosamente, não. Noutros tempos, o Ministro da tutela era acusado como sendo o incendiário desta mata toda e incinerado em holocausto pelos jornalistas. Agora não, estará provavelmente numa cura de águas enquanto o país se queima todo. Bendita comunicação social. Com um pouco de sorte, os incêndios nem virão na revista anual do Expresso. Alguns têm falta de água para apagar os fogos, outros têm o fogo protector da água benta.
posted by VLX on 2:54 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA VII: Para finalizar, queridíssimo leitor de 6 anos, queria dizer-lhe que para implementar esta grande alteração pretendida pelo Ministro é proposta a criação de uma burocracia imensa. Era inevitável, não era? - Pois era. A questão é saber se isso resolve alguma coisa ou não, se torna o jogo mais rápido ou de melhor espectáculo ou não. Procurei demonstrar-lhe que não. Se no máximo se recuperarem dois dias no campeonato vai ser muito. Mas vai prejudicar a defesa das pessoas, dos particulares, em primeira linha. É também, muito provavelmente, uma medida inconstitucional. Tal como tem sido apresentada, não vai melhorar em nada a situação da justiça, muito pelo contrário. Tal como está prevista, não responde aos problemas nem resolve as questões que levanta. Trata-se apenas de mais uma operação populista própria apenas daqueles que julgam que as coisas se resolvem por decreto. Pelo meio, meteu tudo no mesmo saco: como em qualquer profissão, há gente boa e trabalhadora e gente mais preguiçosa. Este ministro tratou todas as pessoas da mesma forma vexatória mas os que não trabalhavam estão-se nas tintas e os que se esforçavam sentem-se naturalmente defraudados e injustiçados. O Ministro não separou o trigo do joio e, mais tarde ou mais cedo, irá perceber as implicações negativas desta atitude.
O Ministro da Justiça quis reduzir a qualidade e brio dos magistrados judiciais, do MP e dos funcionários judiciais à qualidade dos edifícios, instalações e meios que lhes oferece para o seu trabalho; e quis responsabilizar os primeiros pelos problemas que muito provavelmente apenas os segundos justificam. Até pode ser que o tenha feito por pura ignorância, mas a coisa não lhe poderá correr bem.
post scriptum: o leitor de 6 anos poderá estar a pensar que este matulão está para aqui a escrever tanto apenas porque está nas férias judiciais. Retiro-lhe desde já o argumento: eu não estou em férias judiciais, estou em férias funcionais: no princípio de Agosto cá estarei, de bexiga aliviada, a trabalhar arduamente. Em férias judiciais.
posted by VLX on 2:12 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA VI: A regra do Ministro é, de resto, facilmente demonstrável como absurda (estúpida, para um leitor de 6 anos) e de como foi feita sobre o joelho. Nesses 15 dias de Julho, diz o parecer do CS do MP, é impossível os jogadores do Estado estarem a fazer mais do que simplesmente realizar os jogos urgentes. O que quer dizer que durante esse período e do outro lado da mesa estão os outros jogadores a lançar bolas sem resposta; jogam as bolas para o campo do adversário e este anda a tratar dos feridos. Sendo assim, o que acontecerá é que retomados os jogos em clima normal a 1 de Setembro, os jogadores do Estado andarão a ripostar e a devolver as bolas acumuladas, muito provavelmente durante os 15 dias seguintes, o que anulará o espírito das regras do Ministro.
Por outro lado, custa-me a crer que este Ministro respeite as regras fundamentais do jogo (vulgo constituição). Uma regra que determina que o jogo esteja em funcionamento para uns - advogados, arguidos, réus - e que não está para outros - juizes, magistrados do MP e funcionários judiciais - não me parece que respeite um clima de igualdade que deveria prevalecer entre os jogadores. O facto de uns poderem ir beber e verter águas e os outros não não pode estar bem. E se os adeptos - público em geral - se deixassem de clubices, perceberiam que o que está em causa é a possibilidade de terem menos chance na vitória pois os que os defendem terão menos tempo para preparar as jogadas. Ao fim e ao cabo, o que irá acontecer é que os defensores estarão ainda em jogo e de bexiga apertada quando, do outro lado, já se aliviam os outros jogadores. Convinha que os grandes regradores do jogo (vulgo, Juizes do Tribunal Constitucional) analisassem a questão. É bem certo que o Ministro, alertado para o facto e demonstrando uma vez mais ter feito as coisas em cima do joelho, já veio anunciar pretender rever a situação dos grandes regradores mas, mesmo assim, devemos confiar mais neles do que em quem aterrou sem se saber como no Ministério da Justiça.
posted by VLX on 1:38 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA V: Alguns dos jogadores (chamam-lhes juizes) tentaram explicar isso àquele que queria alterar as regras - o tal Ministro da Justiça - mas ele não percebeu e, com aquele ar arguto e à frente de todo o público, chamou-lhes preguiçosos, mesmo aos que mais se esforçavam por ganhar jogos, o campeonato, a taça, aqueles que se esforçavam para oferecer às estatísticas desportivas do Ministro bons resultados. Mesmo assim, tentou-se ainda pacientemente explicar uma regra óbvia ao Ministro, julgo até que com recurso a desenhos: o jogo tem de estar em funcionamento para todos ao mesmo tempo, e parado para todos ao mesmo tempo. As coisas não funcionam se estiver a funcionar para uns e, ao mesmo tempo, parado para outros. Nem faz sentido, isso.
Qualquer leitor de 6 anos já teve esta experiência, a do colega batoteiro que perante uma sucessão terrível de bolas pára o jogo clamando "pára, pára, tenho de ir ao quarto de banho!" ou "não podias começar já, ainda não estava preparado!" Num jogo de ping pong, este tipo de coisas ainda se pode aceitar mas na Justiça não. Há uma altura em que todos têm de estar preparados, haja o que houver; há uma altura em que se pode respirar e ir fazer o tal xi-xi.
Como os desenhos não tinham funcionado, o Conselho Superior do MP elaborou um parecer escrito e em linguagem simples onde tentava explicar ao Ministro que era impossível que todos os jogadores (e nem incluía nesse grupo a selecção dos advogados) fossem ao mesmo tempo fazer xi-xi no mês de Agosto. Para que houvesse sempre jogos na arena durante os 365 dias do ano - e em particular no mês de Agosto - seria sempre necessário, no mínimo, que os jogadores dependentes do Estado fizessem as férias entre o dia 15 de Julho e o dia 31 de Agosto. E, mesmo assim, só se conseguiriam ocupar as mesas de ping pong mais urgentes, por turnos, nunca aquelas que o Ministro pretendia.
Este último, na altura já completamente desembastado e confundido com o emaranhado de regras, ainda sem perceber bem onde tinha ido meter a colherada, disparou furiosamente dizendo que os jogadores (os dependentes do Estado, recorde-se) poderiam então ir fazer as suas férias e os xi-xizitos que quisessem a partir de 15 de Julho, mas que os jogos continuariam a realizar-se até 31 do mesmo mês. Nesta fase começou a pensar-se se haveria juízo no Ministério da Justiça: poderão fazer-se os jogos se uns quantos jogadores estão de férias e os outros não? Como é que é? Jogo contra quem? E porque é que aquele menino tem mais tempo do que eu? Também quero ir fazer xi-xi!
posted by VLX on 1:32 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA IV: Aqui chegados, pressupõe-se que o jovem leitor já assimilou algumas das regras do jogo, a saber: ele não pára, funciona durante todos os 365 dias do ano - com excepção de algumas jogadas -, existem inúmeros jogadores, cada um na sua especialidade, os espectadores (utentes), principalmente os mais necessitados, nunca deixam de assistir e de intervir no espectáculo. E grande parte da dificuldade do jogo está no tempo disponibilizado para se jogar, o qual nunca tem intervalos que não estejam previamente definidos, regulamentados, sendo necessariamente iguais para todos. Acrescento algumas regras, estas iguais a todos, jogadores ou não deste jogo, e destaco esta: toda a gente tem direito ao seu xi-xizinho. Seja ele de 22, 25 ou 28 dias, toda a gente tem direito a passar esses dias sem nada fazer, sem jogar, sem trabalhar, a coçar a barriga, em plenas férias, e contínuas se isso lhe aprouver. Pois estes jogadores de ping pong também: eles têm de poder estar esse período sem nada fazer. Mas o nosso Ministro da Justiça, que nunca leu - ou se leu não percebeu - as regras do jogo, veio dar um murro na mesa e dizer que os 31 dias de Agosto chegavam para o xi-xi, apenas porque o partido dele o tinha prometido (se eu estiver a ir depressa demais, o leitor de 6 anos que me avise).
Acontece que não chegava: se fossem todos os milhares de jogadores fazer xi-xi ao mesmo tempo, no mês de Agosto e só nesse mês, seguidinho como é seu direito, o jogo parava, o espectáculo parava. As pessoas, mesmo com bilhete, ainda que com bilhete vip como costumam ter os ministros e certos deputados, chegavam ao auditório e não havia nada, estava tudo vazio, não havia jogo, não havia jogadores, não havia árbitros, auxiliares, apanha-bolas, nada! Não havia jogo nesse mês de Agosto e, cumprindo-se todas as regras do fabricante, não havia jogo ainda para lá desse mês. (cont.)
posted by VLX on 1:22 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA III: A justiça movimenta milhares de pessoas, entre juizes, ministério público, funcionários judiciais (estes, ligados ao Estado) e advogados (geralmente independentes). Ao mesmo tempo, o sistema está fortemente arreigado à questão dos prazos. As pessoas têm prazos para praticar os actos a que são obrigadas e esses prazos não são meramente indicativos, são para se cumprirem sem possibilidade de se poderem praticar fora dos prazos determinados (a coisa mais parecida com um prazo judicial é talvez apenas a data marcada para a abertura de um grande centro comercial...). Neste jogo, não vale vir dizer-se que se estava de férias, doente, que se perdeu a notificação ou que não se conseguiu: segundo as regras do jogo, enquanto se está em jogo, presume-se que as cartas expedidas foram recebidas após determinado prazo a partir do qual se conta o prazo para se agir, para se jogar, seja ele de 3, de 5, de 10, 15, 20 ou 30 dias. Se jogar, jogou. Se não jogar, jogasse. Perde a vez. Sai fora. Sai fora sem mexer nos indicadores, como sancionava um antigo jogo da minha infância. E as regras tendem a ser iguais para todos: o leitor perceberá certamente que seria batota o jogador A (ministério público, por exemplo) poder ter mais tempo para jogar que o jogador B (o arguido, mesmo que por intermédio do seu advogado).
Imagine então o leitor de seis anos um jogo de ping pong, com a bola sempre de um lado para o outro, com vários intervenientes e a realizar-se em várias mesas, durante todo o ano e durante o qual não se pode ir fazer um xi-xi. A bexiga é apenas aliviada 5 dias na Páscoa, 6 ou 7 pelo Natal, e parcialmente durante dois meses no verão. A questão anda a pôr-se no seguinte: porque são necessários dois meses de verão para aliviar a bexiga num jogo de ping pong? - Já lá vamos.
posted by VLX on 1:18 da manhã
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA II: Infelizmente raramente tenho tempo para intervir nas discussões que em comentários se formam nos meus posts, e quase nunca interfiro com anónimos. Mas não será esta a primeira nem a última excepção e vou tentar explicar duas ou três coisas para crianças de seis anos (cfr. comentários ao post aí em baixo). Estas, terão de acreditar numa premissa e aceitar outra. A primeira é que não me incomoda nada que se acabem as férias judiciais: acho apenas que se é isso que se pretende, devia o assunto ser estudado de forma séria, perceber-se primeiro para que servem, debater-se como deveriam ser substituídas, avaliar de que forma essa alteração beneficiaria ou aceleraria o funcionamento da justiça e, por fim, agir-se em conformidade. Ao contrário, o que me parece é que existe um Primeiro-Ministro e um Ministro da Justiça que não percebem nada do seu funcionamento mas que, mesmo assim, foram em frente com uma medida impensada decidida num qualquer sótão, já tarde, que julgam popular, sustentando-a na ignorância das pessoas, defendendo-a sem o mínimo fundamento, apresentando-a apenas como uma ofensa vexatória e injusta para imensas pessoas que têm sacrificado a sua vida pessoal para defesa daqueles que se socorrem dos tribunais e do sistema. O facto do Ministro da Justiça ter acusado de forma infame as magistraturas, sem distinguir o trigo do joio, constitui, a meu ver, a mais ignóbil forma de fazer política já vista e não se admite, mesmo num ignorante da área que tutela. Ao mesmo tempo, deviam os portugueses indignar-se contra os que fazem política barata, achando que os problemas se resolvem por decreto - se assim fosse, já não havia barracas em Lisboa, o Porto não passava barracas e todos os portugueses teriam casa própria e digna. Abram os olhos. A premissa que o leitor terá de aceitar é que as férias judiciais não se confundem com as férias dos juizes. Sem perceber isto não vale a pena continuar a ler o texto e poderá manter-se na ignorância. Pelo contrário, se quiser discutir seriamente o assunto, o leitor terá de aceitar isto (o que não será difícil, se se lembrar daquele verão em que foi apanhado na 125 com álcool e em pleno Agosto foi ao Tribunal, onde estavam um juiz, funcionários, um delegado do MP e até um advogado para o defender. E era sábado. Ou então se se recordar destes julgamentos mais mediáticos que continuam a realizar-se nas férias judiciais. Ou ainda daquela situação em que em pleno verão se teve de socorrer dos tribunais para que o ex-marido ou a ex-mulher fossem obrigados a deixá-lo/a ir a Badajoz com as crianças). Acreditando e aceitando estas premissas, o leitor poderá talvez compreender o que se passa com o que tentarei descrever a seguir, acrescentando alguns exemplos (nunca suficientes), e perdoando-me as minhas naturais e conhecidas dificuldades. (cont.)
O QUE É A "INTEGRAÇÃO"? E O QUE É O "OCIDENTE"?: Tenho seguido com atenção a discussão que o nosso FNV tem mantido com vários bloggers e comentadores acerca do Islão, da negociação, etc. Tenho aprendido muito. Porém, não o suficiente para entender este post de Pedro Picoito, onde se questiona "o que falhou" na "integração" dos bombistas de nacionalidade britânica e origem (ou fé, ou seja lá o que for) muçulmana. Essa é, do meu ponto de vista, a direcção que a polémica não deveria tomar. Porque a pergunta seguinte é óbvia: "o que falhou" na "integração" dos bascos da ETA, dos separatistas corsos do FLNC , dos italianos das Brigate Rosse, dos irlandeses do IRA, dos alemães do Baader-Meinhof...? E a resposta não pode deixar de ser: o que falhou foi o Ocidente.
OS FRANGOS: Lembrando-me do post do nosso FNV, aqui há uns tempos, sobre o cobiçado Ricardo, fiz hoje uma pequena investigação no supermercado. O que torna um frango apetecível? Bem, quem compra um frango chamado Kilom, não pode queixar-se de nada. O nome lembra logo rações (com químicos, antibióticos, pesticidas, hormonas, eu sei lá). Já o frango Brudy, com a sua embalagem colorida e aquela fotografia da família sorridente colada no lombo pelado, provoca uma sensação estranha no cliente - parece algo fabricado com técnicas sofisticadas, como no filme do Louis de Funès. As dúvidas desvanecem-se quando lemos o tipo de alimentação a que o bicho foi submetido: cereais e algas algatrium. Desculpem, mas não lembra ao diabo alimentar um frango com algas, mesmo que sejam muito saudáveis. Se tiver de ser, mais vale não fazer reclame. O pior foi ver o frango da Campoaves. É um frango mais sóbrio, alimentado com 80% de cereais, apresentado no seu semi-caixãozinho preto, com cor de cadáver natural. Mas que raio leva alguém a conceber a ideia de atar, por baixo dos restos mortais do galináceo, uma t-shirt grátis? Haverá algo que me escapa? Existirá mesmo uma clientela-alvo? E se sim, como se chama ele(a)? Comprei um tamboril.
JÁ AGORA: Sabendo que a chamada direita nunca elegeu um Presidente da República, seria interessante saber quem a chamada direita prefere para próximo Presidente da República: Manuel Alegre, Freitas do Amaral ou Mário Soares. Afinal, será Presidente de todos os portugueses.
posted by PC on 9:09 da tarde
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COISAS QUE NUNCA EXISTIRAM ( ou o uniculturalismo explicado às criancinhas*):
"(...) Não estamos, contudo, a tratar de europeus: estamos a tratar de condenados pertencentes a uma raça de psicologia absolutamente diferente da nossa.(...)Ora, não estamos a legislar para europeus, mas para indivíduos representantes de uma civilização muito atrazada. Em princípio, o que se deveria fazer era que, tanto aos indígenas como a outros indivíduos da raça diferente da nossa, se aplicassem as penas que para nós eram aplicadas na Idade Média, penas cruéis, penas severas, mas que correspondiam ao criminoso."
Acta do Conselho Legislativo de Macau, 1 de Maio de 1923. O orador é o Secretário do Governo, bacharel Alfredo Rodrigues dos Santos, vice-presidente do Conselho. As actas estão coligidas na edição de 1924 da Imprensa Nacional de Macau, 858 páginas, sob o título "Conselho Legislativo - Actas de 1923".
*Pequena tricherie infligida ao Pedro Picoito do Mão Invisível: vão lá, que o debate com o Augusto M. Seabra está interessante, a coisa ainda vai durar; eu tenciono reentrar mas com um texto mais longo.
FREITAS E OS IMPOSTOS ESCONDIDOS: Muito se tem falado da entrevista de Freitas do Amaral (que era o que ele queria, aliás, deve estar aborrecidíssimo com esta última demissão), mas falam sobre aspectos acessórios, pequenas tricas, os disparates que ele disse, a vaidade flagrante, etc., etc. Para mim, toda aquela entrevista se poderia resumir, para não dar atenção desnecessária ao homem, à sua posição sobre os impostos. E, sobre isso, apenas vi José Manuel Fernandes, do Público, a referir-se ao assunto E, mesmo assim, JMF perde o cerne da questão e põe-se a dissecar os ditos de Freitas como se eles merecessem alguma discussão ou atenção. Meu caro JMF: aqueles bizarrias com que Freitas do Amaral tenta desenvolver a sua peregrina ideia relativamente à política fiscal não merecem que se perca com elas dois segundos. O que importa reter é que este homem acha que não deve ser discutida em campanha eleitoral a questão dos impostos. Isto basta para não se dar mais relevância a qualquer coisa que ele diga. Em qualquer país decente, em qualquer sociedade civilizada, a questão dos impostos é exactamente aquilo que as pessoas querem ver discutido. Saber quanto vai gastar o governo, como, em quê, onde irá buscar as receitas e como.
Freitas do Amaral, do alto daquele pedestal que ele vai laboriosamente aumentando todos os dias, acha que basta dizer à populaça: votem em nós, pacóvios, e depois logo se vê quanta massa a gente irá precisar para torrar e quanta lhes iremos retirar do bolso. Isto é de alguém com juízo?
posted by VLX on 7:24 da tarde
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AMIGOS, AMIGOS...: Há uma maioria estável no parlamento, um governo de maioria - mesmo que desgovernadinho de todo e incapaz de resolver a questão das finanças -, ministros à solta a falarem do que lhes dá na real gana (geralmente contra os seus pares), verifica-se uma enorme agitação social e alvoroço nas ruas, num clima de descontentamento geral e, para finalizar, um ministro demitiu-se apenas após quatro meses de governo. Perante este cenário, e à semelhança do que tem feito, imaginar-se-ia que Jorge Sampaio iria anunciar de imediato a dissolução da AR (após atenta audição de 173 pessoas), mas este, estranhamente, não o fez. Como os portugueses não querem imaginar que Jorge Sampaio seja um protector dos seus amigos no poder, a única razão plausível para se compreender que não vá a correr dissolver a AR é considerar que Jorge Sampaio entende que é menos importante para o país a demissão do Ministro das Finanças, Campos e Cunha, do que a demissão do Ministro do Desporto (como é que ele se chamava?...).
INTERLÚDIO: O tom provocatório dos meus textos sobre terrorismo, ocidente/oriente e representação, levou alguns comentários a extremos. Não no plano pesssoal, naturalmente, mas na qualificação das minhas teses. O tom levemente provocatório que utilizei, destinou-se a atrair a atenção de leitores, bloggers e amigos, sobre alguns pontos que considero essenciais. Considero essencial que se compreenda que existe um confronto entre concepções distintas do mundo, no qual a religião volta a ter um papel determinante. Considero essencial que se compreenda que as questões religiosas estão embebidas na tintura política, cultural e histórica: ligam-se à forma como as pessoas vivem diáriamente, como se vestem, o que comem, quando e por que rezam. Considero essencial que se entenda que a velha dicotomia ocidente/ Islão não sobrevive à realidade de 20 milhões de muçulmanos no espaço europeu. Considero necessário que um europeu, justamente indignado com a violência cobarde do terror, seja capaz de fazer o luto pela representação do seu papel no mundo: há gente que não quer viver como nós, há gente que dispensa a MTV. Por fim, considero crucial que se aceite o facto de as redes/células terroristas se suportarem num mais vasto cenário de identificação; Problemas novos requerem soluções novas. Deixo-vos em paz por agora.
Interlúdio ( e breve), meus amigos, e apenas quanto a este assunto.
posted by FNV on 12:37 da tarde
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BRINCADEIRAS DE CRIANÇA: Qualquer criança de dois anos compreende, ao fim de poucos minutos de tentativas, que não consegue colocar uma caixa dentro de outra mais pequena. Foi isso que o parecer do Conselho Superior do Ministério Público tentou explicar ao Ministro da Justiça. Nesse parecer esclarecia-se que as pessoas ligadas aos meios judiciais têm, como quaisquer outras, o direito de gozar as suas férias (chamou-se-lhe férias funcionais, para ver se o Ministro conseguia alcançar a diferença para as férias judiciais, que nada têm a ver com "férias") e de forma contínua. E isso não é realizável para toda aquela gente no espaço do mês de Agosto, seria sempre necessário utilizar ainda quinze dias (em Julho ou em Setembro), sem sobrar tempo para mais nada. Embora tenha certamente mais do que dois anos, aparentemente o Ministro da Justiça não percebeu que a caixa grande não cabe na pequena e continua a tentar enfiá-la lá dentro.
Da série "O QUE É O TEMPO?": A luz de uma lucerna que o Senhor ilumina. A de S. Agostinho, nas Confissões, claro: Daí que me tenha parecido que o tempo não é outra coisa senão distensão; mas distensão de que coisa, não sei, e será surpreendente se não for uma distensão do próprio espírito. Agostinho desespera porque mede o tempo, mas não mede os noivos nem o padre: o passado, o presente e o futuro. Pos é Agostinho, já devias saber que só medimos o que nos cabe medir.
posted by FNV on 10:04 da tarde
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BLANCHOT (outra vez, em tradução livre): Na "L'Écriture du désastre", narra a chegada do Messias às portas de Roma, por entre leprosos e mendigos; Chega incógnito e alguém lhe pergunta: "Quando vens?". O Messias responde: Hoje.
posted by FNV on 9:47 da tarde
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QUANTOS SÃO? Quantos destes valentes estão dispostos a sacrificar-se sob o comando de Tibério na gruta de Capri? Quantos destes meninos valentes irão suar feitos novos cruzados, a sítios onde o ar condicionado é um projecto? Quantos destes heróis de pena solta oferecerão as entranhas a barbudos para quem a sodomia é um predicado? Quantos corajosos se despedirão contristados dos seus cartões de crédito, para defender os "valores do Ocidente"?
PS: a Zazie e o Lucklucky, claro. Eu não, que sou um cobarde relativista à moda dos homens de letras ( um elogio, dado o iletrado que sou). Mais quantos?
Zazie: ne me quitte pas...
posted by FNV on 9:27 da tarde
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DELENDA CARTHAGO: Há uma espécie de obstáculo passional-semântico em torno da palavra negociar. O Ocidente, tolerante e democrático, não negoceia com terroristas, ponto final. Perdão: não negoceia com estes terroristas ( com todos os outros já o fizemos). Cum granum salis:
a) Quem são estes terroristas? b) Não negociamos com eles porque não sabemos onde estão os chefes ou porque os serviçais morrem no local? c) O que é o "Ocidente"? Rumsfeld ou Zapatero? Nietzsche ou a Madre Teresa de Calcutá? d) Há quanto tempo começou o "Ocidente" a ser tolerante e democrático? Antes ou depois de Auschwitz? e) Não querendo negociar, quem estará disposto a varrer do mapa todo e qualquer ninho de baratas, à dentada, se for necessário? f) Irá organizar-se um Corpo Expedicionário? Vão todos ou só os adultos? g) Quantas vezes se reerguerá a nova Gomorra? Voltaremos a tempo de ver os netos ou somos todos herdeiros de Ulisses?
posted by FNV on 4:46 da tarde
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E NÃO ME ARRANJAS ESSA CENA PARA O PAULO ALMEIDA? Segundo Dias Ferreira, ilustre advogado, Miguel estava em período experimental no Benfica.
Mano: eheheh....
posted by FNV on 1:45 da tarde
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NEGOCIAR ( outra vez): Se continuarmos a imaginar os esquadrões da morte como orgãos independentes, não faz sentido negociar. Se tivermos a coragem de compreender que eles são estruturas articuladas com os poderes árabes, já faz. Em Setembro de 2004, Al-Zarqawi publicava um textinho de 4000 palavras, no qual a páginas tantas avisa os governantes árabes que eles são coniventes com o infiel: "you will go to".
posted by FNV on 12:09 da tarde
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ONE GOOD LEG: Um número antigo da Foreign Affairs ( Maio/Junho de 2002) é um programa completo. Um "estratega", O'Hanlon, diz que a Operação Liberdade Duradoura no Afeganistão foi uma masterpiece of military creativity and finesse . Mas mais: não importa que Bin-Laden, al-Zahari e outros se tenham evadido, porque a al-Qaeda ficou diminuida, mas por outro lado reconhece que a sua fuga é um major setback. Mas a cereja vem de Rumsfeld, que descrevendo o ataque a Mazar-i-Sharif, nos conta que os americanos fizeram a 1ª carga de cavalaria do século XX, ajudados por um afegão perneta ( só tinha one good leg). Rumsfeld conclui: That day, on the plains of Afghanistan, the nineteenh century met the twenty-first century". É significativo o salto de um século, na alegoria de Rumsfeld: é o que eu chamo negociar com a História. Esse século é o da oportunidade perdida pela civilização iluminada, é o século da substituição do jogo colonial pelo jogo do petróleo. O tempo não volta para trás, nem mesmo nas planícies do Afeganistão.
posted by FNV on 11:48 da manhã
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PALAVRAS PARA QUÊ? Segundo percebi do que ouvi na TSF, Freitas do Amaral acha mal que em campanha eleitoral Sócrates tenha garantido que não iria aumentar os impostos. Mais: Freitas do Amaral considera mesmo completamente errado que o tema do aumento ou diminuição dos impostos seja tratado ou usado durante as campanhas eleitorais. Isto porque, ainda segundo a eminência, o aumento ou diminuição dos impostos não depende da boa ou má vontade dos governantes mas sim das necessidades do país, pelo que nem se deveria falar de impostos nas campanhas eleitorais. Palavras para quê? - É um político português no seu melhor estilo!
posted by VLX on 11:40 da manhã
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GUERRAS II: Não se trata de saber o que se pode oferecer a um homem que quer ser um terrorista, trata-se de saber o que se lhe pode tirar para evitar que ele se torne num. Parece-me que o trabalho armado não lhe tira a vontade de combater, pois que lhe dá o suplemento de coragem que eventualmente lhe possa faltar. Os fanáticos religiosos, como a Europa bem sabe, são algo recalcitrantes: querem salvar, e a luta que lhes damos ensina-os a lutar. Novas coisas terão de ser inventadas, novos são os mundos, inclusive os da imaginação dos assassinos...
posted by FNV on 3:18 da manhã
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GUERRAS ( I) : O paroquialismo e o provincianismo são as formas europeias da jihad: resistência da periferia contra o centro e contra o cosmopolitismo, estou de acordo com Benjamin Barber, pois que bebemos na mesma fonte, Eisenstadt. E curiosamente foram duas formas de resistência à Modernidade, fosse esta a dos direitos das mulheres ou do lobo ibérico. Qual a linguagem desta jihad europeia? Ódio, temor, em alguns casos extremos ( ETA, IRA, Córsega), violência activa. Quer se queira quer não, existiu nos casos citados, uma ligação ao território inscrita numa critica da cultura. O outro caso, o islâmico, apresenta uma novidade: um fundamento religioso, por sua vez enroupado num território distante, tornado próximo não pela TV, mas pela presença dos cadáveres em solo europeu. Tanto bastou para que se tivessem por certas duas premissas: a) O ( único?) Islão bom é o Islão moderado. b) Há muçulmanos bons e muçulmanos maus, sendo os primeiros claramente mais frequentáveis. Lamento dizê-lo, mas esta é uma abordagem claramente neo-colonial, reservando o termo pós-colonial para o corpo de estudos gerado a partir das descolonizações. É uma abordagem neo-colonial porque pretende representar o oriente próximo ( de nós) como devendo-ser: moderado, secular, democrático. Durante todo o século XIX ( basta ler o Divan de Goethe ou o Livro da Selva de Kipling), o Oriente foi representado como outra coisa, como algo de diferente, e por isso devendo ser conquistado. Até Marx disse, a propósito dos indianos, e malgré o aparelho colonial britânico : não se sabem representar, têm de ser representados. Esta é a cartilha pós-colonial. Mas se assim o pensamos, assim o fizemos, como se sabe, Pois bem, duas partes de guerra depois, a segunda metade do século XX assistiu à exportação da laicização sobre um espaço desfigurado. O resultado, no Irão, foi emblemático: regresso às origens, aquelas origens que administração colonial, apesar de tudo, nunca removeu: Deus, tradição, recusa da Modernidade. Era disto que Massignon falava, quando preconizou um duelo final. A blogosfera iraniana - até porque afastada da militância sunita - é um campo elucidativo para compreender o embaraço: que fazer? Um dos pontos é este: estando em curso uma guerra, como relembrou Pacheco Pereira ( e agora parece que já há gente a concordar com isto), é uma guerra de quem contra quem? Do Ocidente civilizado com um grupelho de fanáticos, dizem alguns, muito sérios. Mas desde quando é que uma cultura inteira, uma civilização, chamem-lhe o que quiserem , guerreia um grupelho de fanáticos, ou vice-versa? Tomar estas acções unicamente pelo seu tenebroso valor facial - mortos e destruição - é o que nos leva a não compreender como pode um inglês, Mr Khan, empregado numa creche, tornar-se um bombista suicida. Há uma guerra, sim. Uma guerra surda, viela a viela, na qual os terroristas são apenas um dos esquadrões mortais. Negociar nesta guerra, significa negociar viela a viela, letra a letra, homem a homem. Significa estar disposto a ceder na exportação da tradição iluminista ocidental, nas representações do muçulmano como-ele-deve-ser. A Europa, noutro tempo, e já no da secularização e do primado da Razão, aceitou negociar o mundo, mudando-o apenas o quanto baste para se poder servir dele. Agora, terá de aprender a negociar para sobreviver a ele. Enquanto os muçulmanos que vivem em Montpellier ou em Leeds, puderem viver pela Fiqh, em ilhas "culturalmente diversas" como dizem os humanistas, os que ainda vivem em Bassorá ou em Kabul serão apenas náufragos-orfãos: têm a Fiqh, mas não a ilha (da segurança social). A verdade da linguagem é uma colecção de metáforas e de repetições funcionais: negociemos com tudo o que se mexa, negociemos com líderes islâmicos de madrassas europeias, negociemos com oulemas desavindos da ortodoxia, negociemos com alguém que esteja disposto a deixar de ser terrorista. Mas para além do terror assassino, há uma coisa com a qual não se negoceia; com a História. Pretender que o mundo começou em 1948 é um péssimo começo; pretender que se está em guerra apenas com um bando armado, um péssimo fim.
ARAME FARPADO: 2 - POR UMA EUROPA VERDADEIRAMENTE SEGURA: Pensando bem, M. Sarkozy pode ter descoberto o remédio para rejeter tous les vices, repousser tous les mals. Bote-se-lhe arame à volta do território (ahhhh... o território, o território...). E depois, farpem-se as divisas dos distritos, isolem-se os concelhos. As cidades: utilizem-se de novo as portas, o velho ao serviço do novo para resolver problemas velhos - cada Barbacã, seu guarda, cada Raimundo, seu vigia, cada Traição, seu patriota. E nos bairros extensos: cancelas. Com fio eléctrico e cacos de vidro nos limites. Estimule-se a delação: filho, o teu Pai é o Estado. Exibição obrigatória do BI na compra de um isqueiro. Certificado de registo criminal para as férias de neve em Baqueira. Registo obrigatório dos fiéis de todas (égalité) as crenças. Eh oui, c'est la folie.
ARAME FARPADO: 1 - POEIRA PARA OS OLHOS: Já se sabe que os tempos não estão para liberdades. Ainda assim, surpreende-me que ninguém esteja muito ralado com a suspensão dos Acordos de Schengen pela França. Por várias razões. Em primeiro lugar, porque não devemos olhar para aquela decisão como meros observadores externos, que comentam actos alheios: Portugal é Parte na Convenção de Aplicação do Acordo de Schengen. Uma convenção cria direitos e obrigações e, até ao momento, os cidadãos portugueses tinham direito a entrar em França sem estar sujeitos a controlos fronteiriços (obviamente, desde que não viessem de fora do Espaço Schengen). O que significa que a decisão da França afecta a liberdade de circulação dos cidadãos portugueses. Seguidamente, há que saber se ela foi tomada de acordo com o que se prevê na Convenção de Aplicação (art. 2º, nº 2), onde, de facto, se permite a reintrodução temporária dos controlos fronteiriços por razões de "ordem pública ou de segurança nacional". A este propósito, é elucidativo o soundbyte emitido por Sarkozy: "se não reforçarmos os controlos nas fronteiras quando cerca de 50 pessoas são mortas em Londres, não sei quando o faremos". Sim, esta justificação é muito apelativa na sua manhosa simplicidade. Mas se a olharmos mais detidamente, vemos que: 1) a França não reintroduziu os controlos fronteiriços no 11 de Março, onde morreu mais gente, mais perto, e não parece que isso lhe tenha trazido grandes problemas; 2) o problema da França com as bombas de Londres não parece ser maior do que o (ou diferente do) dos restantes países europeus - pode até ser menor, atendendo à sua política externa relativamente ao Iraque e ao conflito israelo-palestiniano; 3) é uma manipulação levantar o medo contra o que vem de fora a propósito de atentados cometidos por quem era de dentro; 4) ninguém no seu perfeito juízo acredita que os controlos fronteiriços sejam um meio eficaz de evitar a entrada de terroristas daquele calibre. De maneira que a França, dando rédea solta ao pior da sua tradicional pulsão isolacionista, acaba de violar, com o beneplácito dos restantes Países, os deveres que assumiu na Convenção de Aplicação de Schengen. Claro, há sempre quem se sinta mais seguro por ter de mostrar o passaporte quando vai comprar caramelos a Fuentes d'Oñoro.
PS: A suspensão da liberdade de circulação não implica a suspensão do Sistema de Informação Schengen (SIS), que continua a funcionar em pleno. Obviamente.
posted by PC on 8:25 da tarde
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NEG-OTIUM: Quanto mais não seja, negar o ócio do pensamento; por exemplo, o das simplificações estribadas em certezas de pacotilha. No assunto do novo terror, claro, mas sobretudo no assunto da representação do mundo. Boa altura ( a necessária?), sem dúvida.. Para breve mais um par de textos, em volta da coisa. Para continuar o debate com o Afonso Bivar, do Bombyx, com o Paulo Gorjão, com o Pacheco Pereira, com o João Morgado Fernandes, com o Luís do Mal, com os leitores/participantes ( a Ccnvc, o lucklucky, etc), com todos os os que não cederem ao ócio.
PS: O meu Mac não faz links, e hoje são demasiados para pedir ao PC que mos faça. As minhas desculpas a todos.
Cara Zazie: tudo isso já foi tentado, e pelo nosso PC, mais competente do que eu. Népias, Zero. Niet. A todos os outros: obrigado pela ajuda.
posted by FNV on 1:35 da tarde
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Da série "O QUE É O TEMPO?": É uma mania. Na mania psicótica, é aquilo que é distorcido incessantemente; é o que um linguista francês ( Gustave Guillaume) nomeia, no sistema verbal, de tema da inversão infinita. Para o maníaco, o tempo vem do futuro. No outro dia, dizia-me um mulher nesse estado, que ia abrir um bar, que já tinha falado com dois sócios. Claro que nada disso tinha ocorrido, a ideia acabara de lhe surgir durante a conversa comigo. Mas ela já estava a contar-me um passado acabadinho de vir do futuro.
posted by FNV on 12:18 da tarde
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Da série "O QUE É O TEMPO?": É uma bala. Walter Benjamim conta que no primeiro dia de combate da Revolução, verificou-se que em vários locais de Paris, independentemente e no mesmo momento, se tinha disparado contra os vários relógios murais: Atiravam sobre os quadrantes para parar o dia.
Da série "O QUE É O TEMPO?": É um advérbio. Os hopi não dizem do Verão que "está quente", porque "Verão" é a qualidade "quente", exactamente como uma maçã tem a qualidade "vermelha". Créditos do Edward T. Hall, claro.
posted by FNV on 9:15 da tarde
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Da série "O QUE É O TEMPO ?" : É o de Borges, recordando Boileau: O tempo passa no momento em que uma coisa já está longe de mim.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.