E AGORA? Alguns eurodeputados polacos, segundo informa o Expresso, organizaram uma exposição uma sala do parlamento europeu. Essa exposição comparava o holocausto ( usava fotografias de campos de extermínio) ao aborto. Ana Gomes conta que que se envolveu com os organizadores e que com a ajuda de alguns amigos e da lei ( a exposição não tinha sido autorizada) conseguiu cancelar a coisa. No sítio onde antes estava a exposição está agora uma faixa que diz: "Censurado por intolerância". Estou para ver se a propósito desta comparação imbecil e infame ( como a define Ana Gomes e muito bem) que vulgariza o holocausto, os adversários do "politicamente correcto" também se vão pôr aos berros, queixando-se dos pequenos ditadores relativistas que querem "mandar na nossa consciência".
PRIMOS: O sargento português que morreu no Afeganistão morreu sob a bandeira de um mandato internacional da ONU. Mas o Dr.Louçã, na SIC-N, claro, depois das condolências, teve de arengar que "Portugal não tem nada que lá estar". Em Malaca fomos imperialistas, em Tete colonialistas, em Kabul somos "desnecessários", não é a "nossa guerra". Nunca é. Esta esquerda é o que mais próximo existe, neste plano, da falange de Le Pen, do Stormfront ou de De Gucht: como eles, sentam-se quietinhos no seu canto cavalgando um populismo soez, nada querem com o mundo e o mundo nada quer com eles.
OS PEIXES DO MAR SALGADO - Nº 8: A BARRACUDA: A nossa colecção de peixes ficaria muito incompleta sem a barracuda (Sphyraena barracuda: Walbaum, 1792). Trata-se de um peixe escamoso, longilíneo, cinzento, de aspecto austero, com uma cabeça algo desproporcional em relação ao corpo, podendo chegar a medir 1,80 m. ou mais (imagem aqui). Bastante prógnata, este perciforme possui dentes compridos e acerados, que o tornam num predador temível, atacando tudo o que brilha. É um peixe de hábitos solitários: não gosta de se misturar com os da sua espécie, fazendo-o apenas, por necessidade, para caçar. Em geral, ataca com um único golpe, rápido e feroz. Ao contrário de outros peixes carnívoros de grande porte, nada silenciosamente para economizar energia, e raramente é visto a espadanar à superfície. As suas características fazem-no entrar com facilidade no imaginário popular; veja-se, a título de exemplo, o provérbio caribenho "Remenda bem as tuas redes: pelo buraco pequeno, passa a barracuda".
posted by PC on 6:08 da tarde
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PARELHAS: Maria Filomena Mónica publicou um livro de memórias que tem sido gongoricamente descrito como "fabuloso", "desconcertantemente honesto", "extraordinariamente necessário". Parece que MFM conta que perdeu a virgindade no Entrudo e cometeu adultério na noite do terramoto de 69. Vou comprar o livro porque gosto de coleccionar coisas destas, mas vou pô-lo ao lado das memórias da Condessa de Mangualde. Nunca se sabe.
posted by FNV on 3:42 da tarde
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EXIBICIONISMOS: Desde que a notícia saiu, salvo erro há 4 ou 5 dias, acompanhei a evolução. Refiro-me ao caso das miúdas que trocaram carícias numa escola e que foram "discriminadas" pelo director ( espero que não tenham sido lapidadas como na Nigéria). Tenho neste momento em psicoterapia duas mulheres que gostam de mulheres ( feitas e com profissões, digamos, de prestígio) e que têm um problema: sentem que não podem trocar um beijo com as suas namoradas nem levá-las a casamentos e baptizados. O mundo não é bem como Miguel Sousa Tavares ( hoje, no Público) diz que é. Mas num ponto - e essencial - ele tem razão, e passo a justificar porquê: Tinha eu 17 anos meti-me no CITAC, o grupo de teatro universitário de Coimbra que se podia frequentar sem ter o cartão do PCP ( o outro era o TEUC). Lá conheci a E., três anos mais velha, loura natural e inteligente. Quando estavamos em minha casa, numa divisão que era o meu espaço, ficavamos por vezes junto à janela. Ora, essa janela dava para o jardim de uma vizinha, velha e amarga, que um dia se foi queixar aos meus pais que eu e a E. exibiamos comportamentos menos próprios. Os meus pais falaram comigo ( julgo que foi a minha mãe só, não tenho a certeza) e eu resolvi o assunto. Passamos a fazer exactamente o mesmo , só que com a janela fechada. Devo dizer que até evoluímos, pois que a privacidade faz muito bem às relações pessoais.
"(...) E quando, enfim, puderam Fitar o sol bendito, a sensação Intensa e desejada se tornara Embrandecida e frouxa: Assim no homem sedento, que ao beber, Molha primeiro os lábios ressequidos, O prazer de matar a sede ardente Quase se desvanece."
Pascoaes, poeta da Stoa, no Regresso ao Paraíso, recolhe como poucos estas lembranças da Idade do Ouro.
posted by FNV on 9:08 da tarde
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RECTIFICAÇÃO:Aqui há tempos, o JPH do Glória Fácilofendeu-se porque escrevi que o blogue dele andava um bocadito "estilo mão na anca e canastro à cabeça", e porque também disse, esperançado, que devia ser um período. Na altura pedi desculpas a todos os membros do blogue, mesmo não tendo descortinado por que razão os teria ofendido. Hoje, consultando o Glória Fácil , reparei que a Fernanda Câncio utiliza em três posts consecutivos, entre outras subtilezas semânticas sexualmente fixadas ( como "tomates"), as palavras "merda", "foda-se" e "badamerda". Rectifico assim o que escrevi anteriormente: não é "um período", é um estado definitivo.
Nota: foi aqui colocado um comentário assinado por "betinha" que se imiscuia na vida privada de uma pessoa, por sinal nem sequer referida no post ( e mesmo que fosse ia dar ao mesmo). Como não consigo selecionar, tive de apagar todos os comentários. As minhas desculpas aos restantes comentadores.
O PROBLEMA DAS PARTES PODENGAS: Quem viveu em Coimbra no início dos anos 80 lembrar-se-á das extraordinárias emissões da Rádio Livre Internacional - rádio pirata, volta, meia volta, fechada pelas "autoridadezes". Há muitos anos que não me lembrava da RLI. Hoje, não sei porquê, foi a primeira coisa que me acorreu à cabeça quando li os posts torrenciais do Anarca, " a hora", "aqui no anarca", "eu peçualmente" e "mas". Não sei se o assunto é assim tão dramático - mas que é um dos momentos mais magnificamente* delirantes, mais superlativamente* hilariantes, mais inadjectivavelmente* grouchomarxianos da blogosfera, lá isso é. Ide ler, e não tardeis. *Isto é para justificar a manutenção do cargo de Presidente da Comissão para a Utilização do Gerúndio. A gente perdoa mas não esquece. Ó pá.
posted by PC on 2:29 da manhã
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VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO: Parece que a campanha presidencial girou ontem em torno das análises aos triglicerídeos e da rigidez muscular. Qualquer dia só votam os médicos.
MAY THE CAUSE BE WITH YOU: O que se está a passar no Blasfémias é atraente. A casa mais autoproclamadamente liberal da blogosfera resolveu, porque não gostou da entrevistadora de Cavaco Silva, elucidar a plebe acerca dos hábitos etílicos de Constança Cunha e Sá. Pecado mortal para um liberal. O Blasfémias é um bom blogue e até pode melhorar, já que talvez nos próximos tempos nos deixem de dar lições, a torto e a direito, sobre a causa.
posted by FNV on 11:57 da tarde
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O PRESIDENTE DO SÉCULO XX: Depois de assistir às primeiras actuações públicas dos candidatos a presidente, ficamos com a sensação de que, em qualquer caso, teremos sempre um presidente do século passado. Excluindo os candidatos sem hipóteses de vitória (que nos remeteriam para o século XIX), todos os restantes soam a déjà vu. Nenhum deles põe o dedo na ferida: reforma do sistema político e funcionamento da justiça e das instituições públicas, em geral. Todos se mexem dentro da partidocracia vigente, que nenhum ousa afrontar. Enquanto Cavaco apresenta os seus dotes de economista para potenciar a capacidade de influenciar a população na receptividade a determinadas opções governativas, Soares apresenta a agenda pessoal e os contactos com os seus amigos internacionais como forma de resolver problemas do país, tipo rainha de Inglaterra. Alegre era a esperança de um debate aberto e frontal sobre as chagas do país, mas não o será enquanto se comportar como uma ex-namorada que ainda tem esperanças de vir a casar com quem o rejeitou. Assim, parece-me que está assegurado aquilo que não se deseja: a continuidade.
posted by Neptuno on 4:58 da tarde
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D. MÁRIO II? Saltou desde o início aos olhos a contradição (que o candidato apartidário da esquerda salientou, ao negar quaisquer "donos da República") entre os valores republicanos pelos quais Soares sempre se afirmou (e que justificam, por ex., a limitação de mandatos) e um regresso ao cargo de Chefe de Estado que exerceu durante dez anos. Ora, se, realmente, agora o que se propõe é um "monarca" republicano (ou monarca "republicano"), ainda bem, em nome da transparência, que defraldou as bandeiras nos cartazes, com cores criteriosamente escolhidas para não esconder a alusão. O "Mar Salgado" pode, porém, saudar o bonito azul marinho.
'TÁ CALADINHO!: Quem assistiu à entrevista (interrogatório?) de ontem a Cavaco Silva na TVI logo percebeu o porquê de tanto silêncio. Mais meia-dúzia de entrevistas na Tv e a eleição fica renhida. No entanto, até ontem, sempre pensei que estas eleições seriam um passeio para CS. Os portugueses estão mesmo fartos de retórica e procuram alguém com uma imagem séria, trabalhadora, competente e entendida nos assuntos da economia do país. Independentemente de CS assumir ou não e de facto todas estas caracteristicas - por outras palavras, se o seu ataque à retórica política não for em si mesmo uma nova dose de retórica bem camuflada - é esta a sua imagem para a maioria dos portugueses. Neste contexto, Alegre e Soares não têm grandes hipóteses. Seriam candidatos fortíssimos em circunstâncias de prosperidade. Havendo dinheiro, os portugueses teriam a liberalidade de eleger um poeta ou alguém que, não percebendo muito de governação, sempre pega no telefone e fala com a rapaziada (sub-90) da imprensa parisiense. Não havendo, venha de lá o austero Cavaco. Assim se mantenha longe das câmaras e dos microfones...
posted by Neptuno on 5:51 da tarde
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SE O RIDÍCULO MATASSE...: Começo a compreender melhor esta ânsia de Mário Soares em pretender debates a todo o custo: é que o homem a falar sozinho só diz disparates. Para começar, Mário Soares não percebeu ainda que o facto de vir apregoar contra Salazar, que morreu há quase quarenta anos, não tem actualmente o menor cabimento e só demonstra que tem pouco a exibir no presente e para o futuro. Com efeito, uma candidatura para 2006-2111 que se apresenta com o que fez na década de sessenta do século passado não é, seguramente, uma candidatura de futuro e com futuro.
Em segundo lugar, o facto de Mário Soares (devidamente coadjuvado pelos seus mais fervorosos adeptos) invariavelmente recorrer ao insulto não lhe traz credibilidade e antes evidencia o seu desespero. Poucos compreenderão que na sua campanha Soares acuse o outro candidato de ser plebeu, inculto, provinciano, nascido pobre e outras coisas mais com que tem tentado arrastar pela lama Cavaco Silva. Se é isso que Soares tem para dizer a favor da sua própria candidatura, continua a ser muito pouco e não atinge sequer o seu eleitorado.
Para finalizar, Soares não percebe o ridículo que é andar a apregoar que na Europa o escutam, que pode telefonar aos amigos (sempre esta mania socialista dos telefones...), a dirigentes que contam (para quê?...), que tem conhecimentos e relações. Soares não percebe que elogio em boca própria é vitupério. E, obviamente, fica sempre mal.
posted by VLX on 3:54 da tarde
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CAMPEÃO DO MUNDO: o piloto português Ricardo Leal dos Santos sagrou-se campeão do mundo de TT, na categoria dos quads (moto 4). O feito é impressionante pois não é a cada passo que Portugal tem num dos seus patrícios o campeão do mundo neste meio (ou qualquer outro), e só por isso o facto deveria ter enorme divulgação, pelo menos internamente. Infelizmente, o mais provável é que o Presidente da República o não condecore pois, como é sabido, este Presidente da República gosta mais de homenagear lacrimoso quem perde finais e fica em segundo. Talvez para o ano.
posted by VLX on 3:17 da tarde
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DESCULPA: Não me tem sido possível fazer a revisão dos textos ( tenho de publicar pouco tempo depois de aceder à caixa de novo texto e a função draft ,em vez de esperar, publica logo), por isso peço desculpa aos eventuais leitores.
posted by FNV on 12:31 da tarde
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GET OUTTA HERE! Um livro sobre talking the talk? Get outta here! Recordam-se certamente da segunda série de Seinfeld, na qual a frase era usada e abusada. Leslie Savan, ex-colunista do Village Voice, acaba de publicar Slam Dunks and No-Brainers: Language in Your Life, The Media, Business, and, Like, Whatever ( Alter Net 2005). Já li o terceiro capítulo (e uma entrevista da autora) do livrinho da Leslie ( que fala de Seinfeld), que quer saber "what makes a word a pop word?". Leslie percorre o circuito essencial: linguagem da rua - media/publicidade - linguagem da rua. Por isso ela entende que as pop words são o corpo de elite dos clichês. Investiga a inspiração adolescencial (yeessss! ), afroamericana (stick to the Man!), pseudo-científica ( air rage), política ( o caso G.Tenet e as inexistentes ADM's no Iraque, daí a expressão "Slam Dunk"), acabando por atribuir à pop word o papel de cimento poroso das subculturas urbanas. A ler, sem dúvida. Duh?!?!?
O VAZIO POLITICAMENTE CORRECTO: Há já muito tempo que quero escrever uns posts sobre esse conceito fundamental da retórica contemporânea: o "politicamente correcto". Infelizmente ainda não me sinto preparado para tanto. Mas as três ideias essenciais são as seguintes: em primeiro lugar, a expressão tem sido tão abusada e adulterada que já não significa nada de substancial; em segundo lugar, e em consequência, qualifica-se de "politicamente correcto", com intuito crítico e depreciativo, aquilo que é, apenas, correcto, no plano ético ou político; por último, aqueles que mais vociferam contra o "politicamente correcto" não vêem que a sua crítica se institucionaliza e vulgariza de tal modo que se torna, ela própria, numa entidade politicamente correcta (Américo: vamos conversar sobre isto?). Um exemplo da última proposição pode encontrar-se no editorial de Vítor Rainho (revista Única desta semana), verdadeiro monumento à vacuidade politicamente correcta. Uma colagem de lugares-comuns que, se tivesse uma ideologia consistente a suportá-la, poderia chamar-se propaganda. Mas nem isso. Vejamos:
1. A abrir, o imprescindível momento do medo, corporizado nos elementos que nos remetem para os nossos temores bíblicos ancestrais - o fogo e a água: "O rastilho está aceso e ninguém sabe onde a bomba irá explodir e qual a sua intensidade. Mas parece evidente que os confrontos de França, nomeadamente nos arredores de Paris, poderão ser a ponta de um icebergue que se derreterá na Europa e causará graves (enchentes) danos". Destaque-se, desde logo, o sentido de oportunidade: num momento em que os confrontos começam a diminuir de intensidade, afiança-se que se trata apenas do "rastilho" de uma bomba que irá explodir - embora ninguém saiba exactamente onde, nem qual a sua intensidade. Mas tudo indica que será nos países nórdicos, pois fará certamente explodir o tal icebergue, que depois derreterá, etc. Notar-se-á também, não sem ternura, a pouca confiança do articulista na expressividade da metáfora do icebergue, ao colocar a consequência "enchentes" entre parêntesis, adicionando-lhe, pelo sim pelo não, o denotativo "danos".
2. Depois, vem o momento onde é que eles estão agora, hã?!, em que o editor narra a realidade, tal como a percebeu: "Há uma década, sempre que alguém levantava o problema da integração das comunidades estrangeiras, logo os politicamente correctos os conotavam como «fascistas» ou com um mimo menos pesado: extrema-direita". Na outra realidade, aquela a que Vítor Rainho não teve acesso, há vários partidos de esquerda e de extrema-esquerda, por toda a Europa, que, desde há muito, levantam o problema da integração das comunidades estrangeiras, das mais diversas maneiras - embora não exactamente da maneira pela qual Vítor Rainho talvez gostasse de o ver levantado. Nessa outra realidade, chamava-se «fascista», e de extrema-direita, àqueles que não queriam a integração das comunidades estrangeiras.
3. A seguir vem o momento a realidade é inexorável, e é pena (demasiado enfadonho para ser transcrito), onde se lamenta que as grandes cidades europeias tenham passado a ser cercadas por betão, diluindo-se nos subúrbios sem espaços verdes, cheios de desempregados, caldo perfeito, portanto, para a marginalidade. É bem verdade, Vítor Rainho, e é mesmo pena. Só não se percebe qual é a responsabilidade das comunidades estrangeiras nesse processo. Dominarão elas os organismos responsáveis pelo ordenamento do território e pelos planos urbanísticos? Terão elas invadido, manu militari, lugares tão aprazíveis? Teria sido melhor construir bairros sociais que os alojassem na Lapa, em Hampstead ou Primrose Hill, ou nos VIIème e VIIIème arrondissements?
4. Depois, há o momento da perplexidade perante o insondável: segundo Vítor Rainho, quem advoga a teoria de que a raiz dos males está no ambiente dos subúrbios "não conseguiu explicar por que razão não é generalizada essa tendência. Nos bairros onde vivem os jovens de origem magrebina que têm transformado a Cidade Luz na cidade do fogo, não são muitos - longe disso - os que entram neste jogo de espalhar o caos". Incrível, não? Como é possível que, nesses bairros, e contra todas as expectativas, não sejam muitos os jovens magrebinos que incendeiam carros? Eu também me espanto. Curiosamente, há registos de fenómenos análogos: nas favelas cariocas, por exemplo, e por motivos inexplicáveis, nem toda a gente trafica droga. Só podemos concluir que a nossa capacidade de compreensão do Homem é ainda muito limitada.
5. O 3º parágrafo do editorial contém o momento os bits não podem ser riscados, onde se fala, a propósito disto tudo, da facilidade de comunicação através da internet, telemóveis e outros instrumentos demoníacos que potenciam o Mal, de nada valendo aos governos "decretar a censura". Tempos terríveis.
6. O texto caminha para o fim com o momento quem te avisa...: "Aqueles que chamavam fascistas e «skinheads» aos que alertavam para o problema bem podem começar, de facto, a preocupar-se com confrontos entre a extrema-direita e os agitadores. Afinal, em casa que não há pão...". Este é o momento mais denso do texto e a sua interpretação não é evidente. Todos os que eram chamados de fascistas e de skinheads "alertavam para o problema"? Haveria, neles, diferentes, digamos, formas de "alertar para o problema"? Os homicídios motivados por ódio racial são uma forma de "alertar para o problema"? Quem chamava fascistas e skinheads àqueles que, professando de forma assumida ideologias nazis, incitam ao ódio racial e acreditam na superioridade de uma raça, deve deixar de o fazer? Se sim, para quê? Para "começar a preocupar-se com confrontos entre a extrema-direita e os agitadores"? Mas quem é a extrema-direita? Os fascistas e os skinheads? Estou confuso. E a parte da casa sem pão não me ajuda.
7. Enfim, o texto termina com o momento supra-hiper-politicamente-corrrecto dos tempos modernos, já anunciado com a primeira linha sobre o rastilho e a bomba: "Esperemos que a Europa consiga travar esta nova forma de terrorismo (...)". De facto, quem chama a estas insurreições uma "nova forma de terrorismo" passou ao lado da realidade dos últimos dez anos. Infelizmente, a frase vinha só no fim. De outra maneira, eu teria poupado cinco minutos da minha vida - e vós, cinco minutos da vossa.
DREIMAL HOCH!: Parabéns ao mais alemão dos bloggers portugueses, muito vizinho aqui da nau. E obrigado pelas linhas rectas que vai trazendo a uma blogosfera excessivamente curvilínea. E, com elas, duas provas: as diferenças culturais existem; na esmagadora maioria dos casos, só aumentam as pessoas de boa vontade.
posted by PC on 10:08 da tarde
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PARA LÁ DO MARÃO... Ainda a propósito do mesmo post de JPP, que contendo as declarações do Comissário e os comentários do próprio JPP é todo um programa, talvez valha a pena alinhar uma ou duas observações. De um lado temos a visão idílica segundo a qual os costumes culturais são inócuos ( e até divertidos), assim um pouco ao estilo do antropólogo de varanda do início do século passado. Esta visão, curiosamente, radica numa concepção ultrapassada, porque vista sob o prisma da elementar superioridade morfológica da cultura ocidental: se os outros são diferentes, é apenas porque ainda não os conseguimos ajudar a ser iguais ( a nós), logo, são divertidamente puros e ingénuos. Já JPP me parece ultimamente deslizar para uma confusão perigosa: os costumes culturais trazem no ventre a insídia do ataque aos valores essenciais do mundo que contruímos tão laboriosamente. JPP, como outros, tem dificuldades em encontrar a isabelina via média do acolhimento: até onde te podemos deixar ser diferente, sem que deixes de ficar igual a nós? Hierarquizar, categorizar, regulamentar a simbologia cultural do outro, é sobretudo uma confissão de impotência e receio. O diabo está nos detalhes, parece ouvir-se, a proposito da excisão do clitoris. Mas se os nossos valores são os melhores, por que razão têm de ser impostos? Por que razão o critério da força como correcção do velho Hegel ( que explicava a inferioridade e indolência dos habitantes dos trópicos pela temperatura excessiva) não consegue ser comprovado? A resposta, obviamente, só pode ser uma: "não serão talvez os melhores, mas são bons e são nossos, e em nossa casa mandamos nós". É preciso é ter a coragem de o dizer, contra a História e contra o nosso passado. Ou seja, contra a incerteza evolutiva dos sistemas de valores e contra uma peculiar ideia acerca da autonomia cultural...
posted by FNV on 11:35 da manhã
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MORO FINO COME TOCIÑO E BEBE VINHO: Nos bons tempos anti-multiculturalistas, ia-se a casa de um recém-convertido (suspeito) jantar e levava-se uma garrafa de tinto e um salpicão. Se o tipo declinasse o petisco alegando dieta, marcavamos encontro para o Pátio da Inquisição. Vem isto a propósito dos comentários do José Pacheco Pereira à entrevista do Alto Comissário para as Minorias Étnicas. JPP diverte-se com o multiculturalismo hard do Comissário, que acha muito bem almoçar com quem não usa talheres. Serpa Pinto e Stanley também não os dispensavam, nas suas incursões africanas. Mas também é certo que não almoçavam à mesma mesa dos habitantes locais.
FIDE: Razão tinha o velho Lucrécio, um costume parece-nos óptimo se não conhecemos outro mais agradável. Sou pois o super-homem, fumo um açoriano no meu parque natural, os miúdos, de barriga cheia, fortalecem lá em baixo futuras alianças, os meus amigos mimam-me e a minha mulher é a única do condomínio que ainda não enviuvou.
posted by FNV on 9:10 da tarde
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NESTE MÊS: De corpos castanhos e praias mansas, um pouco de estupidez, por favor. Já soube em tempos o sinal da angústia - um gelado derretido. Não há pior tormento: lambemos, lambemos, lambemos, e a coisa desaparece sob o cone. Assim como o pai vê a criança no meio da rua, o camião a aproximar-se, e corre, corre, corre. Estas gotas não são tudo o que há de importante na vida, são a vida. Quando pomos o corpo todo ao frio e o resto desaparece.
posted by FNV on 8:53 da tarde
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TU CROIS AU RETOUR SUR LES PAS? E tu Luisinho ( encontram-no no Eternuridade), acreditas? Bem tinha ficado com a ideia, quando conversamos no outro dia no Valado, que o teu Mallarmé era amigo dele, do genial Villiers de L'Isle Adam, autor dos Contes cruels. Ele, o Mallarmé, assim o conta, na carta autobiográfica a Verlaine.
OS MORDOMOS E OS SEUS ALIBIS*: Já está completamente instalada a ideia de que os "motins" ocorridos em França se devem à "imigração" e ao "multiculturalismo": é assim que se apresenta um programa de TV, é assim que reza o editorial da Única desta semana (que merece um post separado). Repare-se: não como opinião, mas como facto. Daí, já se conclui que as convulsões sociais (de que os motins são, assegura-se, apenas o começo) se devem ao estrangeiro (agora, o não-europeu), que não respeita o contrato social; nem poderia, aliás, fazê-lo - explica-se -, porque não o celebrou. Com efeito, a Europa sempre se caracterizou por ser um continente particularmente pacífico, no plano externo e interno, antes da vinda dos africanos e dos asiáticos. Um continente sempre contido no seu espaço geográfico, que nunca teve ambições expansionistas. E, sobretudo, um continente sempre amoroso da paz interna. A história está é mal estudada. Por falta de rigor, ainda não se identificou a ligação africana das jacqueries, a influência iraniana sobre Carlos I, o dedo magrebino na revolução francesa, o papel dos turcos na guerra civil espanhola. Mas lá chegaremos. Tantos séculos de paz, sossego e respeito pelo próximo antes dos imigrantes. A realidade é uma matéria fascinante, por infinitamente maleável. *Apesar de começar por "al", alibi é uma palavra latina e significa, literalmente, não estar ali.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.