ACONTECEU HOJE, NO PORTO: Se bem percebi a notícia da rádio (estava muito ruído na emissão), hoje, no Porto, nas imediações da Avenida da Boavista, certamente fugido de um circo qualquer apareceu um leão à solta fazendo imenso barulho e incomodando as pessoas. De imediato as forças da ordem intervieram e cercaram o bicho, dominando-o e evitando males maiores. Contactado o Sub-Chefe Pacheco, que liderou a força de intervenção de onze valorosos agentes, o mesmo disse que a acção terá sido relativamente fácil uma vez que o leão estava fraco, sem ânimo, e não ofereceu grande resistência. Desta vez tudo se passou sem camisolas rasgadas mas, como é evidente, elas podem aparecer a qualquer altura, imaginando-se que na próxima terça ou quarta-feira tal possa suceder.
Também não apareceu ninguém a reclamar o leão nem a assumir a sua responsabilidade pelo que o mesmo, já amansado, deverá ser entregue ao sistema para que esta organização dele cuide devidamente.
Não obstante, na zona da Boavista, um responsável (que não se quis identificar) dizia antes que «uma vez dominado, o rei da selva irá ser recambiado para onde veio e aí que se entenda com o resto da passarada, no ambiente natural deles e para os lugares disponíveis». Imagino que se referisse ao magnífico Jardim Zoológico mas, como disse atrás, o rádio ouvia-se muito mal e posso estar completamente enganado.
posted by VLX on 11:50 da tarde
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AUGUSTO CID: É, apenas, e como eu sempre disse, o melhor cartoonista português e dotado de um humor finíssimo. Desde pequeno que o sigo, com o Bicas e o Bocas do Diabo (sim, eu lia o Diabo, já em miúdo, e depois?...), o Eanito, mais tarde o Cão Traste e agora também a última página do Indy. A de hoje é genial: mostra-nos, ao lado de alguns terroristas, três portuguesíssimos - certamente destacados para dialogar com os primeiros - a relatar, por telefone móvel, ao nosso Primeiro Ministro, as últimas reivindicações dos terroristas: já não querem a retirada da GNR; exigem antes ficarem com o Luís Figo e o José Mourinho. Embora não seja muito agradável para a nossa corajosa força e colaboração no conflito, de uma só pincelada e de mestre Augusto Cid demonstra-nos não só a volubilidade das exigências dos terroristas como a inutilidade de dialogar com eles. Excelente cartoon.
posted by VLX on 2:23 da manhã
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SEMPRE O DIÁLOGO: Bin Laden propôs-se deixar de fazer atentados nos países europeus que vierem a retirar as tropas do Iraque e do Afeganistão e que rompam com os norte-americanos. Esta proposta mantém-se por três meses mas, em relação aos EUA, dirigentes da sua esfera, grandes instituições mediáticas e às Nações Unidas, a luta prosseguirá.
Imagino que grande parte da esquerda, cega de velhos ódios e de vergonhosas derrotas políticas, veja aqui uma possibilidade de pressionar a opinião pública contra os EUA (esquecendo-se deliberadamente de que se os americanos estão no Iraque e no Afeganistão é porque foram antes visitados em New York pelos terroristas) e de mais uma vez defender o diálogo com Bin Laden (provavelmente para apreender os problemas sociais de que o homem padecerá...).
Mas é preciso ser-se muito tapado para não se perceber que o homem é doido e que está carregado de um ódio perfeitamente injustificado. A esquerda (ou parte dela) poderá compreender a sua fúria contra os EUA mas como explicarão a manutenção dos ataques contra as “grandes instituições mediáticas” e as “Nações Unidas”? Imagine-se que a gente dialogava, aceitava romper com os EUA (que nos andaram – e andam - a defender estes anos todos) e, no dia seguinte, caía uma bomba na sede da ONU, matando gente de todas as nacionalidades? O tipo hoje quer que a gente rompa com os EUA, e amanhã? Pretenderá que a gente rompa com quem? Que lhe dê o quê? E se não dermos? Risca-nos o carro? Mata-nos os familiares? Proíbe-nos a feijoada? Mas está tudo doido?
É preciso não confundir a civilização muçulmana, tão sedenta de paz e de prosperidade como a ocidental, com este tipo ou com este grupo minoritário de fanáticos que põem em perigo a paz mundial: com os muçulmanos, devemos dialogar civilizada, cordial e humanamente em prol de um futuro melhor para todos; com os doidos, devemos proteger-nos e ajudar quem nos protege.
Quando andava no Liceu havia por lá um grandalhão que nos roubava os livros, extorquia dinheiro, nos amedrontava, sempre ameaçando pancada. Depois lá ia para o bar atafulhar-se de patas de veado e de bolas de Berlim com o nosso dinheiro, ou jogar nas máquinas para o Avenida. Alguns tentavam dialogar com ele mas não se livravam de levar caldaças na cabeçona ou de lhe pagar as lambarices. Até que um dia um grupo de tipos bem mais pequenos do que ele se encheu de coragem e decidiu acertar-lhe o passo arrebentando-lhe as trombas de uma vez. A partir daí nunca mais houve problemas nem mais ninguém cedeu às chantagens do tipo, que até tinha uma semanada considerável para a época e não precisava nada daquilo. Foi bom remédio.
AINDA O DIÁLOGO: Ommar B. Mohammed, considerado um teórico da Al-Qaeda na Europa, sobre a "proposta de paz" de Bin Laden: "...não é uma proposta de diálogo de espécie nenhuma. A Al-Qaeda não dialoga com estados. É uma oferta unilateral. (...) Isso nunca será possível. A AQ não é interlocutor para Governos. (...) Espalha o terror como resposta ao terror do Ocidente contra os muçulmanos. É essa a sua linguagem, o seu diálogo." Condenado o "diálogo diplomático", resta o diálogo possível nas salas de interrogatório de Guantanamo.
BICHAS PRÓ-LEITE: Leio e oiço com costumeira atenção os artigos e as intervenções de José Manuel Fernandes, director do PÚBLICO, e identifico-me até com muitas das suas opiniões e ideias. Uma delas é a do editorial de hoje, naquele jornal, pelo menos na parte em que defende que é necessário fazer pedagogia e explicar aos mais novos as vantagens do país que temos hoje face ao anterior regime - o que, no fundo, podemos traduzir e resumir em mais liberdade, por um lado, e democracia plena, por outro. Percebendo os mais novos as dificuldades de se viver sem total liberdade e num regime não democrático, estou certo de que viverão melhor e mais civilizadamente a liberdade e a democracia de hoje pelo que concordo que as coisas sejam contadas aos jovens.
Acho é que elas devem ser explicadas com particular cuidado, para não se correrem riscos de se deturpar a mensagem e de se estragar uma boa ideia.
Na verdade, se vamos dizer às crianças que o actual regime é excelente porque no anterior “as barracas entravam pelas cidades dentro” e “as empresas só medravam com autorização do Estado”, corremos o risco dessas crianças, ao olharem para o estado actual das suas próprias cidades (com Lisboa e Porto à cabeça) ou para empresas como a PT ou a Galp, desvalorizarem seriamente as vantagens do regime em que vivemos ou de pensarem que estamos a gozar com elas.
Por outro lado, se lhes deixamos subentendido que o regime anterior é que impunha as “fronteiras” ou impedia a existência de ”auto-estradas e telemóveis”, embora admita que um grande número de jovens demasiado crédulos passe a acreditar que se deve também ao antigo regime não existirem, na altura, televisões a cores, play-stations, computadores pessoais ou mesmo o noivado do príncipe Filipe, a grande maioria dos jovens, avisada e inteligente, não nos levará a sério e falhará, também por aí, a bondade da pedagogia.
Da mesma forma que nenhum adulto pode levar a sério JMF quando este diz que “se fazia fila para comprar leite”. Ou JMF estava a pensar numa outra coisa qualquer quando escreveu esta frase ou confundiu o antigo regime com alguma das ditaduras do proletariado de outras partes do globo, pois dizer-se que se fazia fila para comprar leite antes do 25/4 é coisa que não lembra sequer ao pai da democracia! Ou então – hipótese mais provável – teve azar quando foi comprar leite e a loja estava cheia.
Confesso que isso me aconteceu, por vezes, quando era miúdo e ia buscar leite à mercearia do Sr. Mário, lá perto de casa. A coisa era particularmente irritante quando era a mulher dele a fazer os trocos, pois demorava imenso a dar-me o troco, preferindo ficar a trocar paleio com as freguesas. Estas iam enchendo a atarracada e sombria mercearia mas não ficavam em fila, à espera do leite, como aconteceu com o JMF: preferiam escarrapachar-se no balcão, alinhadas, com a mão que segurava o porta-moedas a apoiar, ao mesmo tempo, a cabeça cansada, enquanto a outra coçava a barriga, na doce conversa com a mulher do Sr. Mário e fazendo-a enganar-se, pela terceira vez, no troco que me devia dar. Embora, como disse, não estivessem em fila, foi a única coisa parecida com bichas para comprar leite que me recordo de ver no antigo regime. Diz-se por aí que hoje há muito mais bichas. Para comprar leite, claro. Basta olhar para um hipermercado num sábado à tarde.
posted by VLX on 11:42 da tarde
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PONTO DE ORDEM: Recebi do Dr.Nuno Freitas, vereador da C.M. de Coimbra, responsável pelo Desporto, um mail no qual o vereador responde cabalmente às críticas que aqui lhe tenho feito. Básicamente, confrontei diversas vezes as suas declarações feitas em Janeiro deste ano, na altura da morte de Féher, segundo as quais o INEM nem sabia entrar no estádio Cidade de Coimbra, com o facto do estádio estar operacional (óbviamente também sob o prisma da cabal assistência médica) sob sua tutela, desde Setembro. Voltei ao assunto, porque ainda ontem ouvi o Sr.Vereador na TSF afirmar exactamente isso.
No texto que gentilmente me enviou, o Dr.Nuno Freitas explica que de facto, "o INEM continua sem entrar no Estádio excepção feita aos jogos recentes da selecção". Diz-me igualmente que não conseguiu ainda, depreendo que para, por exemplo, jogos da Académica, "a colaboração das entidades públicas de saúde que detêm a competência da emergência médica hospitalar no nosso País." Pelo que percebo, os jogos do Euro-2004 contarão com a tal colaboração, outros eventos é que não. O Dr. Nuno Freitas explica que as camâras municipais e os clubes podem ser afectados por esta situação.
Tudo registado e compreendido. Mantenho parte da crítica inicial que lhe fiz, ou seja, porque esteve públicamente calado de Setembro a Janeiro, se só falou com amplitude pública, quando morreu Féher. Mas admito perfeitamente que sem ser nos media, o Dr. Nuno Freitas tenha atempadamente feito os avisos que julgou necessários. Resta que a situação me parece caricata: porque diabo o INEM não colabora com as camâras e com os clubes? O Dr. Nuno Freitas não me diz, mas qualquer cidadão gostaria de saber.
posted by FNV on 11:15 da tarde
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ATÉ OS COMIAMOS: O onze nacional que garantiria a Scolari a paz desejada: V.Baía, N.Valente, J.Costa, R.Carvalho, P.Ferreira, Costinha, Maniche, Deco, Alenitchev, McCarthy, Maciel. Suplentes: Nuno, P.Emanuel, C.Alberto, Jankauskas, Derlei. Treinador: José Mourinho. Presidente da F.P.F. e responsável pelo timing das convocatórias: J.N. Pinto da Costa.
posted by FNV on 11:15 da tarde
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MAS DE FACTO, um país que teve como governante um Sousa Lara, também não pode ser lá muito lúcido. Vi-o hoje, na SIC, a elencar as opções de Saramago ( o que escreve, onde vive, etc) e a rematar com um capcioso e enfadado "enfim, em democracia temos de aceitar estas coisas". Este "temos" causa-me arrepios na espinha. Em democracia, não "temos", com mal disfarçado rancor, que aceitar opções estéticas ou literárias de outrém: elas fazem parte do nosso mundo, e esse mundo só o é, diverso e plural, porque elas existem.
posted by FNV on 9:28 da tarde
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A LUCIDEZ SEGUNDO SARAMAGO: Primeiro zango-me, depois emigro, a seguir digo que os quero ver ao longe, e finalmente almoço com eles.
posted by FNV on 7:44 da tarde
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ALFA, TANGO, BRAVO, DAQUI POSTO DE COMANDO: O shôr Bin Laden acabou de transmitir as últimas instruções: em síntese, isto ( a situação mundial) só está assim porque os europeus e os americanos andam a meter-se com o admirável mundo árabe; se não ganham juízo, serão novamente admoestados, como no 11 de Março.
Em Portugal, quem não tiver percebido bem, faça o favor de ler a Drª Ana Gomes, o Dr. Miguel Portas ou o Dr.Soares. Eles explicam.
posted by FNV on 4:00 da tarde
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ARREPIOS: Sentidos por Ricardo D. Felner - conforme nos conta na rubrica "Visto", do Público de ontem - pelo facto de Judite de Sousa, na RTP 1, ter referido "a nossa selecção..." numa peça sobre o Euro 2004. Segundo o autor, estamos perante uma "infelicidade jornalística" de índole patrioteira, em desrespeito pelas regras do jornalismo de referência, atendendo a que a RTP não se dirige apenas aos portugueses mas também aos imigrantes ucranianos, africanos, brasileiros, etc.
Penso que esta análise estaria correcta se tivesse por objecto o conteúdo de certas peças sobre o desempenho da selecção, nas quais se nota sempre uma certa falta de objectividade, nomeadamente, na análise das suas capacidades e do seu desempenho perante os adversários. Ou na forma como ainda hoje se refere sempre Figo como o melhor jogador do mundo, sempre que este é mencionado.
No entanto, perante o caso específico da "nossa selecção", parece-me que aquela análise é manifestamente exagerada, roçando o cúmulo do politicamente correcto. Mais ainda perante o argumento da RTP também se destinar aos imigrantes. Estes terão, naturalmente, direito ao seu espaço televisivo. Coisa diferente é exigir que uma televisão portuguesa destinada ao público português actue como se fosse a televisão da ONU. Trata-se, de facto, de uma referência à selecção portuguesa, na televisão portuguesa, por jornalistas portugueses, para um público português. Não me parece legítimo, nestas circunstâncias, exigir uma objectividade extrema no tratamento de representações nacionais que levaria a que as mesmas fossem mencionadas como se fossem representações de outro país qualquer. E muito menos na RTP.
posted by Neptuno on 3:04 da tarde
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AINDA OS MUROS: Este excelente post do nosso TRM fez-me recordar uma cantilena que cresci a ouvir: o muro de Berlim não só era necessário para proteger a sociedade socialista, como a ele apenas se opunham os lacaios do imperialismo. Durou muito tempo, este muro, e caiu de súbito. Não foi derrubado pelos estudantes, intelectuais ou artistas ( não vi por lá Louçã, Saramago ou Jane Fonda), mas pelos milhares de pessoas que nesse Novembro de 1989 se tinham refugiado, dentro, e nas imediações, das embaixadas polaca e checoslovaca. Somos o povo, gritavam.
Curiosamente, os intelectuais e artistas ocidentais, nas décadas anteriores, não os ouviam, ao povo. Alguns andavam demasiado ocupados a gritar contra a aventura americana no Vietnam, outros entretidos com o apartheid, outros ainda, a ler Marx.
Sabem quantos muros há em Cuba? Saberão quando o povo, afinal, os derrubar.
posted by FNV on 12:37 da tarde
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OS MUROS: Se há algo que me fascina são os muros. Altos, pequenos, gordos, cinzentos, em ruínas, cobertos de vegetação...todos são bons muros! E gosto porque escondem um apelo irresistível. É que apetece transpo-los, passar por cima, saltá-los. Todos falam a mesma língua franca e o apelo é universal.
O engraçado é que o Homem os constrói há séculos. Desde a muralha de Adriano à grande muralha da China, passando pelo muro de Berlim e pelo de Nicósia, o homem persiste na sua vã tentativa de limitar dois mundos.
Ultimamente assistimos à construção de mais dois muros. Um em Israel separando judeus e palestinianos e outro na Rocinha separando ricos e pobres. Em ambos os casos, aqueles que se sentirem “do mau lado do muro” vão arranjar mil e uma maneiras de o saltar, acabando em mais ou menos tempo com um projecto.
Mas o que mais me intriga é que no meio de tanta confusão e de uma já longa história o Homem ainda não se tenha apercebido que só há uma forma da humanidade atingir o bem-estar geral. Derrubando os muros existentes....
O MELHOR BUSH: A conferência de Imprensa de ontem de George W. Bush foi uma excelente oportunidade para o Presidente americano tentar alterar uma tendência, que desde Janeiro se vem manifestando, de queda da sua popularidade.
E ontem Bush esteve no seu melhor. Fazendo uso das características que lhe granjearam popularidade. O que os americanos apreciam em George W. é a imagem de franqueza e a linguagem directa sem rodeios (e que, diga-se, passa muitas vezes por falta de articulação e sofisticação). Os eleitores americanos apreciam a sensação que transmite de estarmos perante um homem comum. No entanto, esta linguagem directa e brusca pode transmitir com frequência uma imagem de arrogância. Ontem, Bush conseguiu acrescentar-lhe um rosto humano. Voltou a ser o George W. Bush com que, a fazer fé nas sondagens, os americanos gostariam de passar um tempo a beber uma cerveja.
Surgiu um Presidente determinado, portador de um projecto de libertação e democratização do mundo árabe - "Temos uma oportunidade de ouro de melhorar o mundo". Consciente dos sacríficios necessários, mas partilhando com as famílias americanas a dor da perda dos seus familiares. Totalmente concentrado e empenhado no combate aos extremistas islâmicos.
Bush conseguiu ainda passar uma imagem de quem está acima do debate político quotidiano. Respondendo a várias perguntas sobre se estaria disposto a pedir desculpas pelo 11 de Setembro (uma ideia bizarra, introduzida no debate público pela cacofonia mediático-política quotidiana gerada pelas sessões da Comissão de investigação do 11 de Setembro), Bush limitou-se a afirmar: "O responsável pelo 11 de Setembro é Osama Bin Laden". Bush contrariou assim, clara e decisivamente, um clima intelectual perverso e de auto-flagelação, que se instalou nas últimas semanas, a propósito das investigações das falhas dos serviços de informações no 11 de Setembro em plena campanha eleitoral. Um clima que é um exemplo típico da lapidar constatação de Jean-François Revel que a civilização ocidental é a primeira na história que, após ter sido atacada, se auto-culpabiliza e pede desculpa.
Se Bush quer ganhar as eleições deve comportar-se até Novembro no registo de ontem. O de um homem que é a antítese do político slick, esse espécime com muitos talentos oratórios mas useiro e vezeiro em truques de linguagem e exclusivamente guiado por sondagens e pelo império da imagem. Por muito que isso custe a alguns europeus e aos admiradores da sofisticação e truques em política, a força de Bush, aos olhos dos eleitores americanos, está na sua autenticidade (what you see is what you get).
posted by NMP on 5:33 da tarde
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DAQUILO QUE VEM SEMPRE AO DE CIMA: Digo muitas vezes ao meu caro NMP que a blogosfera é a apenas a blogosfera, ou seja, a coisa não é para dramas ou tragédias. No entanto, aprecio em qualquer território comunicacional, um mínimo de honestidade intelectual. Nos finais de Janeiro, confrontei aqui o vereador responsável pelo pelouro do Desporto da Camâra Municipal de Coimbra, com a discrepância entre as suas palavras e a realidade, a propósito do seu brilharete mediático na altura da morte de Miklos Féher. O Sr. Vererador disse e repetiu na altura, que "o INEM nem sabia entrar no estádio Cidade de Coimbra" ( confirmável em registos mediáticos da altura), o que era de facto grave, e os media, na ressaca da lodosa discussão ( cortesia do nosso P.C.) sobre desfibrilhadores e demoras de ambulâncias, deram-lhe toda a cobertura. Aqui no Mar Salgado, estranhei que assim sendo, os Stones cá tivessem tocado, e vários jogos, desde Setembro até Janeiro, data das declarações do Sr.Vereador, se tivessem realizado, aparentemente em condições perigosissímas.
Na altura o blogue Monstrengos, onde escrevem entre outros, o Sr. Vereador Dr. Nuno Freitas, despejou em cima de mim todo o tipo de insultos, curiosamente mantendo a ideia de que tudo tinha corrido bem no concerto dos Stones. Ora, a minha perplexidade era natural: se em Janeiro o INEM ainda nem sequer sabia entrar no estádio, como é que as coisas correram bem até à data do brilharete mediático de Nuno Freitas? Hoje, na TSF ( quem quiser que confirme com a gravação) Nuno Freitas afirmou que desde Setembro o estádio está completamente operacional, inclusive sob o ponto de vista das estruturas de apoio médico/sanitário, naturalmente.
Interessa-me muito pouco a razão que levou então o Sr.Vereador a fazer, em cima da morte de Féher, as declarações alarmistas que fez: se tudo estava bem, porquê na altura, em fins de Janeiro, vir dizer que o INEM nem sabia entrar no estádio? Interessa-me mais recordar ao meu caro NMP, que não foi o meu luto benfiquista da altura, que me levou a confrontar a palavra do edil com a suposta realidade de um estádio, pelos vistos, operacional desde Setembro. Apenas me moveu o registo de uma atitude político-mediática ( cuja qualificação deixo ao critério do leitor), aproveitadora da excitação causada pela morte de um atleta. Dizia na altura o meu caro NMP que "não se pode atacar os políticos quando alertam a tempo para coisas que estão mal". Hoje, 14 de Abril, o Sr. Vereador diz que tudo está bem desde Setembro, em Janeiro o INEM nem sequer sabia entrar no estádio. O meu caro NMP que entenda como quiser.
posted by FNV on 11:49 da manhã
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O FOLCLORE DE CADA DIA NOS DAI HOJE: O nosso Comandante já se divertiu aqui com as buscas Google detectadas pelo radar do Mar Salgado. Creio que algumas delas são maquinadas por espíritos brincalhões. Continuem, que a malta sempre se ri um bocado.
Desta vez, com um intervalo de 9 minutos, fomos atingidos pelas almas que buscam "acólitos + não ordenados" e "insensibilidade do pénis". O Mar Salgado esclarece que não pode informar os pesquisadores acerca dos efeitos da ordenação em matéria tão delicada.
posted by PC on 2:43 da manhã
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CORRUPÇÃO: Os recentes casos de corrupção investigados na PGR são ainda mais uma machadada no nosso sistema político e mais um irreparável rombo na (des)confiança dos portugueses nas instituições que, teoricamente, seriam suas garantes. Maus governos, não funcionamento da justiça e casos de corrupção nas instituições do estado "legitimam" (e fomentam) uma sociedade amoral, do "cada um por si" ou mesmo do "salve-se quem puder".
O que irá acontecer quando a generalidade das pessoas interiorizar que não tem nada a esperar de governo nenhum, que nunca poderá contar com os tribunais para ver reconhecidos os seus direitos e que será melhor evitar certas instituições minadas pela corrupção?
posted by Neptuno on 12:52 da manhã
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VIA VERDETE: A Via Verde é reconhecidamente um produto nacional de sucesso, sendo das poucas tecnologias que exportamos para países do "primeiro mundo". E de facto, na sua essência, melhora o escoamento do tráfego e contribui para desanuviar certas vias rodoviárias mais congestionadas. Sendo um produto tão bom, sempre me espantou que não houvesse um qualquer burocrata a estragar tudo, como é costume acontecer neste país.
Este fim de semana, ao passar pela Ponte Vasco da Gama, pude verificar que o corredor desta via verde tem uma cancela que está fechada e que apenas se abre caso um veículo obtenha sinal verde, quando não será forçado a desviar-se para uma portagem normal. Ao ritmo a que a coisa é feita - sobe cancela, baixa cancela - a via verde (de raiva) estende-se em fila superior à das restantes portagens, não apresentando qualquer vantagem para os seus subscritores.
Parece-me que encontrei o tal "burocrata". Tudo como dantes...
NÃO HÁ BELA SEM SENÃO: É bem louvável a iniciativa do Barnabé de colocar uma imagem por dia dos tempos revolucionários. Dá-nos uma boa conta da explosão de liberdade que se viveu em Portugal nesses tempos.
No entanto, não há bela sem senão. Um comentário completamente descabido ao cartaz do CDS publicado serviu para nos lembrar que por detrás daquela estética radical-chic está o espírito intolerantemente revolucionário de sempre: o dos donos da verdade, dos bons sentimentos, dos monopolistas do coração.
posted by NMP on 5:26 da manhã
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A DIFERENÇA entre o que temos de fazer e aquilo que estamos dispostos a deixar fazer é a grande responsável pela onda de resultados negativos que os governos europeus têm obtido em eleições. Na Grécia, em Espanha e em França os partidos no poder foram castigados eleitoralmente. Independentemente de serem socialistas ou de direita, de terem apoiado a guerra do Iraque ou não. Porque o problema que enfrentamos tem raízes mais fundas.
A evolução demográfica da Europa e a sua capacidade limitada de crescimento económico são uma mistura explosiva. Há dias foi publicado um estudo da Standard & Poor's que revelava que se não se efectuarem sérias reformas na estrutura da despesa pública (ou seja no Estado-Social), o défice orçamental e a divida pública dos países europeus subirão para valores astronómicos e incomportáveis. Em Portugal, que tem uma evolução demográfica prevista com um envelhecimento acentuado e rápido e perspectivas de crescimento econámico timídas, a situação é ainda mais grave.
Quando estas questões são explicadas à população, a maioria concorda com a inevitabilidade de reformas estruturais nas nossas economias. Quando os seus direitos adquiridos são beliscados, ninguém esté disponível para ceder (o que é, aliás, uma reacção bem natural). Sendo muito claros, as economias europeias e sobretudo a portuguesa, precisam, de reformas liberalizadoras, por forma a permitir a redução de despesa pública e a sua concentração nos que realmente dela necessitam e aumentar a capacidade de crescimento econámico.
Isto é essencialmente um programa liberal, mesmo que por pruridos ideológicos não o queiramos referir. E é o programa que qualquer governo está condenado a tentar prosseguir.
Sabem-no os governos de direita e de esquerda. Os partidos de oposição conservadores e socialistas. Acontece que a maior parte dos partidos socialistas europeus, devido á composição social da sua base de apoio, á permeabilidade ás pressões de sindicatos (e nalguns casos nossos conhecidos, sempre que estão no governo, ao deslumbramento embevecido com o patronato), não está em condições de liderar esta agenda de reformas. Um bom exemplo desta impossibilidade foi a retirada de Schroeder da liderança do SPD, numa desesperada tentativa de ter as mãos livres para efectuar reformas sem ter de ouvir permanentemente queixas de militantes enfurecidos.
Este cenário de fundo assusta. Significa que muito provavelmente entraremos num período de alternâncias aceleradas de poder que impedirão qualquer espécie de reformas de fundo. Numa altura em que a Europa sofre ameaças sérias à sua segurança.
É nestes momentos que se impõe dizer a verdade aos eleitores. Não efectuar falsas promessas, não insinuar meias verdades para obter benefícios eleitorais de curto prazo. Manter um rumo firme e reformista.
posted by NMP on 4:34 da manhã
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ALL APOLOGIES: Duas semanas sem postar foi uma nova experiência desde que este tamagoshi virtual tomou conta da minha vida há quase um ano. Por triste coincidência, estas duas semanas viram passar a data dos dez anos da morte do único músico rock de que fui verdadeiramente fã: Kurt Cobain.
Como o Pedro refere neste brilhante e comovente post, também eu recordo vivamente o dia em que ele morreu, ou melhor dito, saiu de cena em grande com a ajuda do seu céu da boca e de uma espingarda de canos serrados. O dia em que a MTV esteve ininterruptamente durante 24 horas aconselhando calma aos seus tele-espectadores, para não tentarem nada de parecido, nem desistirem da vida.
Continua também na minha memória íntima, como um dos pontos altos da minha existência, aquele 8 de Fevereiro de 2004 em que num Pavilhão do Dramático de Cascais a abarrotar tive o privilégio de ver e ouvir os mestres. Num cenário sobre-lotado - havia tanta gente cá fora como lá dentro - apenas a presença esmagadora dos Nirvana impediu um desastre e conduziu tanta energia à fruição da música.
A rebeldia inconsequente, a pureza estética sem concessões, a fúria eléctrica e a energia indomável dos Nirvana criaram a música mais explosiva que alguma vez nos foi dado ouvir. Depois de uma década de 80 que parecia condenar toda a música popular (sobretudo o rock) ao império do marketing e à colonização por critérios comerciais, os Nirvana de Cobain provaram que o rock ainda era o lugar da raiva e da energia criativa. Houve depois muitos clones e seguidores mas nenhuns com o talento para escrever canções com aquela beleza, simplicidade e tristeza. A audição do Nirvana Unplugged é a esse respeito reveladora. Por detrás dos instrumentos partidos, do stage diving, do uso e abuso das drogas de toda a espécie estão canções inigualáveis.
Deixei passar esta triste data sem a assinalar. Resta-me penitenciar-me citando as palavras do mestre:
What else should I be
All apologies
What else could I say
Everyone is gay
What else could I write
I don't have the right
What else should I be
All apologies
In the sun
In the sun I feel as one
In the sun
In the sun
I'm married
buried
I wish I was like you
Easily amused
Find my nest of salt
Everything is my fault
I'll take all the blame
Aqua seafoam shame
Sunburn with freezerburn
Choking on the ashes of her enemy
All in all is all we all are
AINDA OS BÁRBAROS: Esta tribo é contudo um território interessante para o psicólogo clínico. Os nativos, particularmente os do "norte", revelam amiúde um grau espectacular de paranóia litigante, inscrita numa ideação obsessiva de carácter compulsivo. Vem isto a propósito de (mais) um sururu, ocorrido na mui nortenha partida Varzim X Penafiel. O Presidente do Varzim "revoltado" com um penaltie marcado a favor do Penafiel no final do jogo, diz que tal apenas ocorreu para facilitar a subida de divisão ao dito Penafiel. O culpado foi o árbitro, "porque os árbitros do Sul é que estão contra o Varzim". O "Sul", cristaliza assim, frequentemente, a dissociação psicótica, em clivagem projectiva, da ideia obsessiva. Sempre se aproveita qualquer coisa.
posted by FNV on 12:43 da tarde
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O CONGRESSO DOS BÁRBAROS: Faltam dois meses para o mesmo, vulgo o Euro-2004. Entre participantes e acompanhantes, teremos doses industriais de Helvécios, Tigurinos, Trinoblantes, Sugambros, Suevos, Éduos, Queruscos, Macedónios, Germanos, Astúrios, etc. Fui desde o início, na minha anónima condição, adversário feroz do congresso, mas agora só espero que tudo corra bem e acabe melhor: depressa.
Pretendo abastecer-me convenientemente nos dias anteriores ás pelejas que se realizarão na minha cidade, Coimbra. Água, vinho, farinha, víveres frescos (legumes, peixes, fruta, carne mertolenga, leite) e medicamentos, abastecerão a tempo a minha habitação. Filhas e sobrinhas em idade susceptível de desencadear lascívia serão prudentemente aferrolhadas.
Pelos fins de Junho, depois dos nativos devidamente excitados, a normalidade regressará à província: manifestações contra as propinas, greves, Casa Pia, remodelação dos optimae. Depois, a praia.
READER'S DIGEST: Agora que o saber é muito caro (porque leva muito tempo e tempo é dinheiro), os piores patifes da blogosfera oferecem-nos, gratuitamente, resumos da literatura universal. Aguarda-se ansiosamente pela continuação.
posted by PC on 7:31 da tarde
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UMA ASSINATURA E UMA DIVAGAÇÃO: Assino por baixo, o último e extenso parágrafo do artigo de hoje de António Barreto. Por isso, embora sedutora, sempre me pareceu torcida a fórmula de Eduardo Lourenço, a esquerda é o lugar sobrenatural do homem. Para E. Lourenço, a direita seria o lugar natural, o lugar da defesa do privilégio, do que está, do que é naturalmente bom de manter, da triste realidade. Mas a esquerda como lugar sobrenatural, ou seja significando o salto para lá da nossa freudiana e hobbesiana condição de bestas, colide com o optimismo antropológico de Rosseau. Na Dernière Réponse incluida no Discours sur les sciences et les arts, Rousseau diz que se os primeiros homens se tornaram maus, as Ciências tornaram-nos piores. Se, pois Rosseau reafirma a sua crença original: o homem é bom por natureza. Ora, se é bom naturalmente, não necessita de saltos para o sobrenatural. O que me faz crer que Lourenço não acredita lá muito em Rosseau.
posted by FNV on 4:39 da tarde
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A ENXAQUECA DE PILATOS: As personagens aparentemente menores, sobretudo as ambíguas, que acabam por desempenhar papeis cruciais, são interessantíssimas. O caso de Pilatos sempre me fascinou, e foi por isso com agrado, que vi Pacheco Pereira sublinhar a densidade da personagem, ontem, na Quadratura do Círculo. Pilatos, como Rommel, Dreyfus, e tantos outros, entram na História em rodapé, castigados por uma simplificação exigida pela narrativa digerível. Pilatos "teve a possibilidade da justiça e lavou as mãos", assim descendendo ao limbo dos sub-mitos.
É curioso como a própria origem do personagem permanece amarrada à incerteza. Já o nasceram em Sevilha - na Plaza de Arguelles existe ainda um palácio, outrora residência dos Duques de Alcalá, onde terá nascido Pilatos, daí se chamar, Casa de Pilatos - e em Tarragona, onde o pai, Marco Pôncio, ajudou o Império a combater os astúrios. Há quem assegure que era germano, nascido em Forscheim, à beira do Reno, e há, claro, a mais ou menos certificada origem romana. Herda do seu pai o nome - Pôncio - da sua tribo dos Pontii, tribo sâmnica, outrora mal vista, mas que por volta de 82 a.C. já possuia cidadania romana. Pilatos advirá de pilum, o que tanto se poderá atribuir à sua habilidade pessoal no manejo da arma, como da proverbialmente atribuida destreza desse manejo aos sâmnitas. O seu aspecto físico é mais variado do que o seu papel historico: obscuro indivíduo envolto num manto, nas placas de marfim do cristianismo primitivo, barba negra num fresco de Giotto do século XIII, barbeado e de sandálias nos codex medievais.
O Pilatos de Bulgakov, na Margarida e o Mestre, é um homem atormentado por terríveis enxaquecas ( como o Pilatos de São Paulo), tal como sua mulher, e que recorre às mais variadas poções e mezinhas ( foi por aí, nas minhas deambulações pela História das drogas, que o interesse pelo personagem amadureceu, valha a verdade). Bulgakov é atraído de forma peculiar pelo célebre diálogo: à pergunta quid veritas, Jesus responde "a verdade é que a tua cabeça está doente e por tal não fazes mais nada do que pensar cobardemente na morte". Pilatos indaga depois, como se sabe, se Jesus é como dizem, um grande médico, mas a resposta - "não" - desilude-o amargamente.
Pilatos utilizava, entre outros remédios, o betel, como alívio da patologia associada às cefaleias de origem migranosa de que padecia. Não propriamente o betel, como muitas vezes se diz, mas a noz de areca ( Areca catechu) misturada com lima e envolta em folha de betel. A noz de areca contem arecaidina, uma substância psicoactiva estimulante, com 7.500 a 9000 anos de uso, e propriedades não muito diferentes da cannabis, que ainda hoje, nos EUA, por exemplo , é utilizada legalmente em doentes com enxaqueca crónica.
Celso, no seu De Medecina, representando a súmula da prática romana, com influência alexandrina, não recomenda o betel, ou a areca. No Livro II, entre sangrias e purgas, o método de Celso não recorre a drogas indígenas e tão orientais, como o betel ou a areca. Mas Celso sabe o que Jesus sabe, a dor espalha-se e torna muito díficil o tratamento: Omnius etiam dolor minus medecinae patet, quim sursum procedit ( II.8.40-43).
Fosse Jesus um bom médico, Pilatos poupar-lhe-ia a vida? Tivesse Pilatos curado a enxaqueca, e interessar-se-ia pelo Filho de Deus?
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