FORÇA PORTUGAL II: Se o que escrevi é líquido para qualquer um, para qualquer treinador de bancada, para qualquer amador como eu, a verdade é que tenho de acreditar nas escolhas de quem sabe do assunto, de quem foi contratado para gerir a vitória, de quem é bastante bem pago para o fazer. Dado que o seleccionador nacional escolheu a equipa que quis, uma vez que certamente não o fez por birras pessoais, por quotas de clubes ou por contratos futuros mas antes por profissionalismo e bom saber, eu tenho de acreditar nele e na sua escolha e apoiá-la. Ele deve saber o que faz, porque o faz e os motivos pelos quais mescla uma equipa quando tem um grupo praticamente feito, organizado e treinado de graça por Mourinho, vitorioso e campeão europeu: o homem é que sabe. E Scolari tem de saber que com a equipa que escolheu vai ter de nos dar o campeonato europeu, não lhe podemos exigir menos. Uma pessoa que escolhe para a selecção alguém que na primeira conferência de imprensa confessa expressamente estar em má forma e que teve um ano mau quando tem outro jogador que está em excelente forma, é campeão europeu, é um dos jogadores mais bem sucedidos de todos os tempos e foi quem sofreu menos golos no campeonato deste ano, deve saber o que faz. Quem prefere Rui Costa a Deco, sabe o que faz. Quem deixa Ricardo Carvalho no banco, sabe bem o que faz.
Daí que tenhamos de acreditar em Scolari e apoiá-lo: o homem, que tem jogadores deste calibre à sua total e livre disposição, o homem, que é pago para nos levar à vitória com este material de qualidade, só nos pode levar efectivamente à vitória! Por isso a vitória é uma certeza científica, motivo pelo qual já mandei pôr umas quantas Taittinger a gelar para as comemorações (tal como faço sempre nas finais europeias do meu clube).
Mas, como sou precavido e desconfiado, para o caso de ser necessário despedirmo-nos condignamente do seleccionador, desta vez mandei também colocar protectores novos e limpar e ensebar os meus sólidos e reconfortantes botins de inverno...
posted by VLX on 1:09 da tarde
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FORÇA PORTUGAL! O Comandante não vai muito à bola com o assunto mas a verdade é que vai começar o Euro 2004, acontecimento que merece que dele se fale com entusiasmo, tanto mais que este ano temos tudo para ganhar e os portugueses têm a certeza científica de que vamos vencer esta competição.
Vítor Baía, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade (atentas as posições pessoais de Jorge Costa face à selecção nacional), Nuno Valente, Costinha, Maniche, Deco, Figo, Cristiano Ronaldo e Pauleta fariam as delícias de qualquer treinador ou seleccionador. Tanto mais que neste grupo se incluem sete jogadores que foram treinados por um dos mais considerados, conceituados e vitoriosos treinadores da actualidade, José Mourinho. São jogadores que estão habituados a jogar entre si e bastante bem, completamente entrosados e enturmados, acostumados a jogar com os grandes e entre os grandes, familiarizados com a pressão dos grandes jogos, de semi-finais e finais propriamente ditas. E habituados a ganhar: não precisam de mais treino nem de estágios. Ganharam, para além dos campeonatos e taças nacionais, a Taça UEFA e a Liga dos Campeões. Recentemente estiveram muito bem perante equipas gregas (Panathinaikos, no ano passado, a quem ganharam) e espanholas (Corunha, outra vitória, e Real Madrid, um real empate), pertencentes a dois dos países que vão disputar connosco a primeira fase do Euro. Por outras palavras, um clube português campeão europeu de clubes pode permitir que todo o país se alie a ele na alegria da vitória europeia, agora na taça entre nações. O que se pode pedir, com um seleccionador normal, a jogadores deste gabarito? Apenas a vitória!
(cont.)
DESCONSTRUÇÃO: Uma tecnologia recentemente desenvolvida para DVDs lançou um interessante debate nos Estados Unidos (ver notícia). Uma empresa de Salt Lake City criou um aparelho de DVD que permite editar os conteúdos, ou seja, cortar cenas violentas, de sexo ou partes de filmes, concertos, videoclips, reportagens, documentários ou debates que, pura e simplesmente, não nos agradem e que não queiramos ver.
Esta tecnologia tem vindo a ser usada por empresas para editar obras, que posteriormente alugam ou vendem, o que deu início a uma batalha legal. Em disputa estão a defensável possibilidade de estender a liberdade de escolha dos consumidores e a legítima protecção dos direitos de autor, como se depreende desta outra notícia. As associações de criadores e produtores de Hollywood revoltaram-se contra este novo aparelho de DVD, usando como pretexto o facto de algumas empresas adulterarem sem autorização obras de arte que posteriormente distribuem comercialmente.
Gostava de ver alguns dos brilhantes juristas que há espalhados pela blogsofera a comentar este episódio. O avanço tecnológico todos os dias coloca novos desafios ao Direito !
NASCEU, MORREU, E PELO MEIO, NADA: Este texto não é sobre combate político, nem sobre miseráveis querelas bloguísticas. É sobre respeito.
O Acidental escreve que lamenta a morte trágica do Prof. Sousa Franco, respeita a sua memória e, por isso, removeu todos os textos a ele referentes, os quais, ainda de acordo com os autores, escritos embora sem violar as regras da ética e da boa-educação, deixaram de fazer qualquer sentido neste momento.
É, a meu ver, uma decisão profundamente infeliz.
Admito que tenha sido animada das melhores intenções, mas resulta, objectivamente, na última desconsideração ao político: a memória dos homens públicos também se faz dos textos que os criticaram.
O Acidental é agora uma pequena parcela do mundo onde Sousa Franco estava, embora através de uma perspectiva nada elogiosa, e deixou de estar, pelo simples facto de ter falecido. Do mesmo passo, os autores retiram ao auditório a possibilidade de saber o que disseram de Sousa Franco, impedindo-o, doravante, de formar a sua opinião acerca da justeza das críticas que lhe haviam dirigido.
A não ser que O Acidental considere que, de facto, os textos que publicou nem sempre se contiveram nos limites da ética e da boa educação, parecendo agora chocantes quando referidos a um morto. Mas mesmo que assim fosse. Hoje, mais do que nunca, haveria que ter a coragem e a humildade de os manter.
Esta é a minha homenagem ao Prof. António Sousa Franco.
posted by PC on 4:51 da tarde
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A ÚLTIMA LIÇÃO: Curvamo-nos perante a memória do universitário de excepção, do político sério e empenhado e do cidadão exemplar que foi António de Sousa Franco.
O seu exemplo, nestas últimas semanas, deveria fazer pensar muitos portugueses que parecem ter optado definitivamente por viver num estádio de dormência cívica e política.
O empenho, paixão, alegria e determinação que revelou nesta sua derradeira etapa de actividade pública são uma última inestimável lição sobre o direito e dever de todos contribuírem, de uma forma ou de outra, para o futuro comum da Polis. Uma lição com sacrifício da própria vida.
O Prof. Sousa Franco era já merecedor das nossas homenagens pelo seu exemplo e vida, passou hoje também a ser credor da nossa admiração pela nobre e generosa forma como nos deixou.
posted by NMP on 3:26 da tarde
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SOUSA FRANCO: Não tivesse esta nau tantos leitores ( números privados...) e eu não escreveria este post. De início meti-me com ele, continuei a meter-me, pelo meio, a propósito do debate das europeias a quatro, na SIC-Notícias fiz-lhe um rasgado elogio. Ainda bem. Fico mais contentinho comigo, no meu cantinho fedorento de vulgar blogger.
posted by FNV on 12:14 da tarde
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PÉROLAS BLOGOSFÉRICAS: Na blogosfera descobrem-se por vezes pequenas pérolas.
É o caso das explicações do Ivan sobre insónias no excelente Memória Inventada, um dos mais antigos e melhores blogues lusos, abrilhantado diariamente por companheiros de exílio deste lado do Atlântico.
posted by NMP on 6:16 da manhã
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ESTA NAU CAÓTICO-PLURALISTA, que é o Mar Salgado, é tripulada por 6 velhos lobos do mar, com praça assente em 4 portos diferentes e navega quotidianamente pelos mares da blogosfera. Apesar de, numa cedência ignóbil à demagogia fácil e ao imediatismo típicos das sociedades modernas, termos introduzido recentemente um sistema de comentários, agradecemos que prosas mais elaboradas ou intímas, textos com substância intelectual ou propostas desonestas sejam enviados para lobosdomar@hotmail.com
posted by NMP on 4:28 da manhã
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TOTALITARISMO: Para Além da Crença de V.S. Naipaul (Dom Quixote, 2002) é uma obra indispensável para compreender como o fundamentalismo islâmico é, mais que uma fé privada, uma ideologia totalitária. A versão original, intitulada Beyond Belief, é de 1998, bem antes de o Ocidente ter despertado violentamente para esta realidade a 11 de Setembro de 2001.
Naipaul retorna á Indonésia, ao Irão, ao Paquistão e á Malásia 15 anos depois de uma anterior viagem por esses países. É, como o subtítulo da obra indica, uma digressão entre povos convertidos ao islamismo. Povos de áreas onde antes existiam outros cultos, tradições e religiões. A ascenção recente do fundamentalismo islâmico criou, nestas sociedades um clima, por vezes surrealista, outras vezes neurótico, em que tradições e cultos ancestrais se misturam sem critério com a recente vivência radical do Islão.
Naipaul relata, através de histórias pessoais, as transformações que a expansão do fundamentalismo islâmico provocou. A alteração de comportamentos no espaço público era algo que, com maior ou menor dificuldade, percebíamos ou intuíamos. O mérito deste livro está em dar-nos uma expressiva noção de quanto os fundamentalistas conseguiram, em cerca de duas décadas, interferir e alterar os comportamentos na esfera íntima do mais anónimo dos cidadãos. Através de elegantes descrições das casas, escritórios, vestes, caminhos de vida, hábitos e relacionamentos que vai encontrando, este experimentado viajante e curioso da alma humana faz-nos mergulhar no horrível mundo que o fundamentalismo islâmico tem vindo a criar.
Um mundo que os radicais manterão a todo o custo e ambicionam expandir.
posted by NMP on 3:44 da manhã
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PURA COINCIDÊNCIA: Quando Reagan começou a ter sérias expectativas de vir a ser o Presidente dos EUA, penso que toda a Europa sorriu ante o típico american dream, do actor de origens modestas que consegue chegar ao mais alto cargo da nação americana. Acresce que não lhe era reconhecida nenhuma inteligência brilhante e que, durante o seu mandato, várias das suas gaffes ficaram famosas (como quando declarou na televisão - pensando estar em off mas estando em directo para milhões - que os americanos estavam nesse momento a bombardear Moscovo). Por vezes mentes reconhecidamente brilhantes falham redondamente como líderes políticos (em Portugal acontece com frequência). Reagan não era nenhum Einstein mas, no entanto, mostrou uma inabalável firmeza de convicções bem como a inerente capacidade de decidir que define os grandes líderes (sugiro a consulta dos textos do comandante NMP desta semana).
Foi de Reagan que me lembrei quando GW Bush começou a "ameaçar" o Capitólio - embora as suas boutardes fossem desde logo demonstrativas de grande ignorância. Tive esperança de estarmos perante o mesmo fenómeno. Hoje, podemos afirmar que qualquer semelhança era pura coincidência.
A PIOLHEIRA SEM D.CARLOS: O seleccionador nacional (?) tem medo de ir abrir o Euro-2004 ao Estádio do Dragão, no Porto, como futuro treinador do Benfica.
posted by FNV on 10:24 da tarde
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O LEGADO DE REAGAN: Numa semana em que a memória de Reagan paira sobre tod a a América, mais um interessante artigo de Joe Klein, colunista da Time tendencialmente democrata, sobre o legado de Ronald Reagan.
posted by NMP on 6:19 da tarde
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AINDA ACABAM A PROIBIR ( NOVAMENTE) O PÉ-DESCALÇO: É de uma estupidez e de um provincianismo total pretender que as greves durante o Euro-2004 perturbam a hospitalidade portuguesa que é devida aos bárbaros que aí vêm. Se querem conhecer Portugal, pois que conheçam os Jerónimos, os Estádios, a sardinha assada, mas também as dificuldades das pessoas, as lutas laborais, o jogo político. E que conheçam também como um país com tantas carências - saúde, educação, ordenados - constroi tanto palácio de betão. Pois que tudo conheçam e tudo contem, quando retornarem às suas casas.
posted by FNV on 10:55 da manhã
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SOBRE A ESTUPIDEZ: A minha Enciclopedia delle Scienze Anomale, de que já transcrevi aqui alguns excertos, contém informações utilíssimas. Hoje, antecipando algumas opções de Scolari relativas ao "escrete ararinha", trago-vos a referência ao estudo fundamental de Carlo M. Cipolla, Le leggi fondamentali della stupidità umana.
Como todos sabem, a estupidez é "uma das mais potentes e obscuras forças que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humana", e explica-se através de cinco leis fundamentais:
A primeira, também conhecida por "lei áurea" (embora seja na verdade a definição da própria estupidez), reza:
"Uma pessoa estúpida é aquela que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas sem que com isso alcance uma vantagem para si, ou mesmo sofrendo, por essa via, uma perda".
Seguem-se outras quatro leis que caracterizam o fenómeno:
1ª) Sempre e inevitavelmente, cada um de nós sub-valoriza o número de indivíduos estúpidos em circulação.
2ª) A probabilidade de uma pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica da mesma pessoa, nomeadamente da classe social a que pertence.
3ª)As pessoas não-estúpidas sub-valorizam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não-estúpidos esquecem-se constantemente de que, em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, negociar e/ou associar-se a indivíduos estúpidos mostra-se, infalivelmente, um erro caríssimo.
Destas leis decorre, no plano "macro", a 4ª e última lei, segundo a qual "a pessoa estúpida é o mais perigoso tipo de pessoa que existe", de onde se extrai o corolário "o estúpido é mais perigoso do que o bandido".
Tudo o que devemos ter bem presente nas próximas semanas.
posted by PC on 2:53 da manhã
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IDENTIDADE: Agora que se aproxima o Euro 2004, com a inerente invasão de hordas de adeptos oriundos dos mais diversos pontos da Europa, parece-me uma ocasião propícia para uma provocação politicamente incorrectíssima. Imagine-se que Guimarães - a "cidade-berço" - em virtude de um fenómeno de imigração, passava a ser maioritariamente habitada por uma população de origem eslava, com traços culturais vincadamente próprios e diferentes dos portugueses, a qual assumia o controlo territorial do concelho e decretava a República Eslava do Atlântico. Seria legítimo contrariar tal facto pela força, em nome da soberania nacional, agindo contra a vontade da maioria das pessoas daquela região? Será legítimo que um estado acolhedor de imigrantes imponha a assimilação compulsiva por aqueles dos hábitos do seu novo país, por forma a "forçar" uma identidade nacional? Será que a diferença verdadeiramente inultrapassável e causadora de intolerâncias é sempre a religião?
Agradeço comentários.
posted by Neptuno on 12:07 da manhã
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MANIFESTO ELEITORAL: Sousa Franco é o melhor candidato presidencial de Dª Maria.
CANÍCULA IV Ou mais uma página do Diário de um sofredor de Verão. Um funeral no calor torna impossível saber se alguém está a chorar ou a transpirar, o que democratiza decididamente a coisa. As garrafinhas de água espreitam por todo o lado, as bocas ocupadas a sorver descansam dos beijos solenes. Razão tem ele:
"O mais grave de tudo:
não morrer no Verão,
quando tudo é claro
e a terra é leve para a enxada".
( Gottfried Benn, trad. de Vasco Graça Moura, Relógio D'Água, 1998)
posted by FNV on 12:26 da tarde
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CASSANDRA: A filha de Príamo confidenciou-me que isto de Portugal estar a preparar o campeonato na academia do Sporting é mau presságio.
posted by FNV on 11:35 da manhã
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SUDÃO? É ONDE?: No Sudão, as melhores expectativas do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos é que só morram 300.000 pessoas nos próximos meses. A coisa é espinhosa para os campeões dos oprimidos porque as duas facções em disputa, que enterram alegremente o país, são o Exército de Libertação Popular do Sudão ( does it ring a bell?) e o regime árabe de Cartum. Ou seja, não há Israel nem EUA para albardarem com a culpa.
posted by FNV on 11:21 da manhã
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IN MEMORIAM: Para muitos, ficará para sempre a imagem de Reagan como um dos mais talentosos oradores políticos que ouviram. Um homem com o bom humor que caracteriza os espíritos superiores e servia para aligeirar a sua imagem de duro. Segundo testemunho de muitos colaboradores de Reagan, este usava o seu charme e humor para muitas vezes desarmar adversários ou conduzir negociações.
Reagan foi o autor de muitos dos mais celebrados discursos de Presidentes americanos. Quem quiser conhecer o seu pensamento deve ler ou ouvir o discurso que fez em 1964, A Time for Choosing, de apoio a Barry Goldwater na convenção republicana, pouco depois de ter cortado com o Partido Democrata. Aí encontra o essencial da sua filosofia política, ainda em bruto, sem a polidez que o pragmatismo do exercício do Poder implica.
Muitos anos mais tarde, após a reforma do Partido Republicano, de um partido do nordeste, elitista, inspirado por Rockfeller e por manobristas como Nixon, num partido populista, Reagan esmagou Carter nas eleições de 80. O seu discurso de posse é outra peça de retórica muito interessante.
O seu declarado anticomunismo levou à confrontação com o Império soviético, que designou como The Evil Empire, mas permitiu-lhe mais tarde ter a autoridade política para fazer, em frente à Porta de Brandenburgo, um pungente apelo ao derrube do Muro de Berlim, no discurso em que famosamente apelou: "Mr. Gorbachov, tear down this wall".
A sua capacidade de comunicar emocionalmente com os americanos, que provavelmente aprendera nos seus tempos de actor, vinha ao cimo nos momentos de evocação histórica e glorificação histórica da generosidade da América, como neste discurso na comemoração dos 40 anos do Desembarque na Normandia. Ou em tempos de enorme comoção nacional, como na comunicação que dirigiu ao país, a seguir ao desastre com o vaivém Challenger.
Por último ficarão para a História as suas inúmeras respostas e máximas espitiruosas, como por exemplo "a Política é a segunda mais velha profissão do mundo. E quanto mais vou sabendo dela, mais semelhanças encontro com a primeira".
Este homem, nascido pobre, um exemplo do sonho americano, e que viveu quase todo o século XX, era conhecido pela sua alegria de viver, pelo seu optimismo e força. Que se revelou, quando em 1981 após o atentado que quase o matou terá dito a Nancy Reagan, quando acordou: "Honey, I forgot to duck". A Morte no entanto, como faz com todos, não se esqueceu dele.
posted by NMP on 6:39 da manhã
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O LEGADO: Uma das mais interessantes características da vida política de Reagan é a forma como foi capaz de desafiar o conhecimento convencional, o pensamento estabelecido, as inúmeras análises de especialistas e intelectuais que condicionavam a prática política e as escolhas económicas nos anos 70. Reagan tinha fundamentalmente uma convicção bem definida: desconfiava da capacidade dos governos em melhorar a vida dos cidadãos em geral e a economia em particular e, consequentemente, era um fervoroso adepto das baixas de impostos.
A sua ascensão ao poder significou o triunfo das teses de Hayek, Friedman e da escola de Chicago, do supply-side economics que sustentava que a melhor maneira de garantir crescimento económico era devolver dinheiro aos cidadãos, que na sua acção individual e egoística, encontrariam melhor destino para os seus fundos que o governo central. Estimular-se-ia assim o consumo e o investimento, contribuindo decisivamente para o cresimento da economia e a criação de novas empresas e empregos.
Os primeiros anos da sua Presidência assitiram a uma profunda recessão económica em 1982 e 1983, resultado de desequilíbrios económicos que vinham dos anos 70 e da sua terapia de choque. Mas rapidamente a economia americana recuperou entrando num período de crescimento económico até então inigualável.
A sua preocupação com a defesa, que implicava enormes gastos, conjugada com os cortes de impostos, levaram ao maior défice orçamental e aumento da dívida dos EUA, que acabaram por ser compensados mais tarde pelas receitas que um pujante crescimento económico gerou. Esta combinação gerou o conceito de reaganomics, tendo os americanos demorado mais de 10 anos para pagar o défice e a dívida.
A verdade, no entanto, é que a política económica de Reagan lançou as fundações do ressurgimento e reforma da economia americana, com o surgimento de milhares de novas empresas, fruto de um novo impulso à criatividade e iniciativa individuais (datam dos anos 80 a expansão e crescimento da Microsoft ou da Sun Microsystems, só para citar alguns monstros empresariais de hoje).
Noutras áreas o seu legado é mais controverso. O corte com programas sociais e a desinstitucionalização dos doentes mentais (que pode ser melhor explicado por outrém e era justificado oor Reagan por se ter limitado a seguir o conselho de psiquiatras), criaram, no início dos anos 80, uma legião de homeless nas cidades americanas. Graças, no entanto, ao dinamismo típico de uam sociedade capitalista que ele havia aprofundado, grande parte dessa chaga social havia desaparecido quando Reagan chegou ao final do mandato, após 4 anos de expansão económica.
Mas foi no campo das ideias que Reagan triunfou em toda a linha. A sua presidência significou um a mudança de paradigma, com a aceitação das teses de liberalização dos mercados na América e por todo o mundo e a diminuição do papel do Estado na economia, que tinha aumentado nos anos 50, 60 e 70.
Diz-se que as verdadeiras revoluções nunca foram feitas por intelectuais, mas por gente que tem duas ou três convicções fortes e as aplica. A política económica de Reagan foi, em certo sentido, verdadeiramente revolucionária e as suas ondas de choque correram mundo e ainda hoje têem forte influência na nossa vida. Mudou o pensamento sobre o papel do Estado na economia, à direita e à esquerda.
Ironicamente foi um seu adversário político, que havia conduzido o Partido Democrata de encontro a muitas teses de Reagan, quem decretou e reconheceu o seu triunfo. Quando em 1996, Bill Clinton proclamou, no seu discurso do Estado da União, "The era of big government is over", a revolução reaganiana havia sido institucionalizada.
posted by NMP on 5:53 da manhã
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UM GIGANTE: A morte de Ronald Reagan marca o desaparecimento de um dos últimos gigantes políticos do Século XX. Reagan chegou à Presidência em 1980 de uma América desmoralizada pelo fracasso do Vietname, pela inflação galopante dos anos 70, pela crise dos reféns no Irão. Antes de Reagan, os Estados Unidos tinham assistido a uma sucessão de 5 presidentes que não haviam conseguido terminar o seu trabalho (por morte - Kennedy, por derrota - Johnson, Ford e Carter ou caídos em desgraça - Nixon).
Em 8 anos na Casa Branca, Reagan restaurou a moral e confiança da América, transformou a política americana e o alinhamento dos respectivos partidos, reformou a economia, dando expressão a novas teorias políticas e económicas que, concorde-se ou não com elas, influenciaram decisivamente o mundo daí para a frente. Sendo um conservador ideologicamente, foi o agente de uma silenciosa revolução no pensamento político e económico do final do século e início do século XXI.
Ronald Reagan entrará na História como um dos 5 presidentes mais importantes e populares da América do Século XX (ao lado de Wilson, Franklin Roosevelt, Truman e Kennedy). No final do seu mandato, tinha a mais alta popularidade de sempre de um presidente no final de mandato, desde que há estudos de opinião. Um recorde ainda não batido.
A sua estratégia política de confrontação aberta com o comunismo e o hediondo Império soviético, com o reforço militar americano conjugado com declarações subversivas de apelo às aspirações de Liberdade dos povos subjugados, não provocou per se o fim da Guerra Fria, mas certamente acelerou a implosão dos sistemas socialistas. Foi um líder visionário que, preparando-se para a guerra, teve a grandeza política de lançar as bases para a paz.
Por ter consciência deste importantíssimo papel histórico, a América chora por estes dias um homem optimista com uma vida inigualável, ou como lhe chamou Bill Clinton (um adversário político) a true American original. Para todos os que se revêem numa Europa livre e unida (que tanto lhe deve), o dia do desaparecimento de Reagan é também um pesado dia de luto.
posted by NMP on 5:17 da manhã
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QUATRO ARGUMENTOS E UM APÊNDICE CONTRA A ABSTENÇÃO: Ilda Figueiredo
Ana Gomes
Assunção Esteves
Maria de Belém
Manuel Monteiro
MEU CARO PC: Como me é impossível responder aos comentários, e para riqueza do debate, respondo aqui ao comentário do meu colega PC ao meu post anterior. Diz PC, no essencial, duas coisas:
a) que deve ser triste (eu) celebrar sempre contra algo ou alguém.
b) Que faltam coisas ( Dresden, Nagasáqui, etc) ao retrato que tracei.
Meu caro PC, nunca te incomodei com o assunto ( nem ao Américo, do Retórica & Persuasão) mas também sou um curioso da retórica, embora sem o teu brilho e saber. Utilizas muitas vezes na minha opinião o entitema de tópico refutativo ( embora Aristóteles conceda uma distinção suave entre tópico e elemento), que como silogismo contém duas proposições; a segunda das proposições baseia-se nas premissas nas quais estás em desacordo comigo, e que utilizas para extrair a conclusão que invalida todo o meu argumento: "sim a Katyin e à Normandia, mas como falta Dresden e o Vietname, nada feito".
Mas também utilizas frequentemente comigo uma forma particular do argumento contra a pessoa, o argumento consensual negativo: eu sou "o tipo que celebra sempre contra algo ou alguém", o que retira desde logo qualquer idoneidade ao meu argumento.
Não quis privar os leitores da minha defesa, algo retóricamente atabalhoada, o que decerto compreenderás. Um abraço argumentativo do FNV.
posted by FNV on 10:25 da tarde
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A LIBERDADE FAZ 60 ANOS: Uma das vantagens do discurso dos orfãos é a falta de memória sedimentar. A divertida dicotomia de hoje entre a "a América boa" e "a América de Bush" aproveita-se da amnésia do povo: estes retóricos já qualificavam como imperiais as admnistrações de Reagan, de Bush pai e de Clinton. Quando Reagan chamava ao mundo soviético o "Império do Mal", muitos dos democratas de hoje exibiam orgulhosos os galhardetes do "pão para o povo", da "acessibilidade do sistema de saúde", da ausência de "exploração do homem pelo homem", bem como a certeza científica da profecia de Marx. O massacre de Katyin era uma invenção dos anti-comunistas ( que nesses tempos era um insulto), a invasão do Afeganistão e o Muro de Berlim "necessidades de defesa estratégica", os gulags delírios de dissidentes.
O incómodo da data que hoje se celebra é evidente em alguns lugares da blogosfera. Gostariam de poder dizer que os americanos só morerram na Normandia para melhor prepararem a partilha do mundo com os soviéticos ( à falta do tradicional argumento do petróleo, que de facto não abundava na França ou na Bélgica). Gostariam, mas não podem. Não por falta de vontade, reconheça-se. Talvez os conforte o sucesso da Moção de Oxford tanto na Câmara dos Comuns como em vinte universidades inglesas, no início de 1933, altura da consagração do cabo austríaco: "Pacifismo sem concessões; ninguém lutará, em circunstâncias algumas, pelo Rei e pelo País".
O Nouvel Observateur dedica esta semana um número especial ao Junho de 1944. Passam hoje precisamente 40 anos, já com o desembarque em marcha, por esta pérola do demissionismo e das possibilidades do artíficio retórico do pacifismo, proclamada pela rádio de Philippe Pétain e do seu governo colaboracionista:
"Français: les armées allemandes et anglo-saxones sont aux prises sur notre sol. La France devient ainsi un champ de bataille. Français, n'aggravez pas nos malheurs par des actes qui risquerait d'appeler sur vous de tragiques représailles".
No contexto actual, a outra grande vantagem discursiva dos orfãos é a natural apetência das pessoas pela paz. Qualquer debate pode ser ganho apelidando o outro de falcão e assinando uma moção para o enviar para a frente de batalha. Como se quem lutou e quem quer lutar, qualquer que seja o terreno e objectivo, não passe de um samurai desempregado. Compreende-se assim como muitos destes novos pacifistas militantes deixaram durante muito tempo, muita gente a lutar sozinha. E continuam a deixar.
posted by FNV on 12:05 da tarde
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O homem.com MEDO DE SI PRÓPRIO é o bem achado título do novo livro do Américo de Sousa, cujo lançamento tive o gosto de acompanhar na passada 5ª feira.
Foi bom conhecer (pessoalmente) o Américo e conversar de viva voz com ele. Mas, sobretudo, gostei de ver o modo como transformou uma cerimónia naturalmente umbiguista (como o é o lançamento de qualquer livro) num verdadeiro acontecimento cultural, de que o livro é apenas uma parte componente (e, no caso, congruente), dirigido a um auditório praticamente cheio.
Para todos os que se interessam pelas relações entre a ética, a ciência e a técnica. Fica um aperitivo: "E isso faz com que o amanhã seja representado de uma maneira tão promissora ou tão fatalista que não temos outra saída senão a de começarmos a vivê-lo já de véspera. Mas aí deparamos com a sua incomensurável complexidade. Já nada parece simples. O que quer que seja que possa vir a ser importante ou decisivo nas nossas vidas está, regra geral, nas mãos de especialistas. E, para agravar o problema, nem os especialistas se entendem entre si".
Parabéns, Américo. Esperamos agora pelo tal livro não anunciado!
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.