O NOME: Germinal de Sousa, um nome delicioso: co-fundador da Aliança Libertária de Lisboa, em 1931. Apertados pelos comunistas e pela polícia, os anarquistas faziam nesse tempo o que podiam, e este nome aparece também no Porto, dois anos antes, mas como identificação de uma publicação anarquista quinzenal: "Germinal".
Zola, o sétimo mês do ano do calendário da Revolução ou simplesmente o símbolo da vida gerada, seja o que for, é bonita a inspiração. Fico na dúvida se Germinal era de facto o primeiro nome do co-fundador da AL. Se sim, ainda mais bonito.
posted by FNV on 11:59 da manhã
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MAL POSSO ESPERAR: Felizmente, no próximo dia 20 a "Nova Democracia" de Manuel Monteiro será devidamente contabilizada. Todos os votantes, informaram-me ontem, reunir-se-ão no dia seguinte num jantar, num pequeno e encantador restaurante nortenho. Felicidades e que todos não sejam muitos.
posted by FNV on 11:37 da manhã
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ACONCHEGO VII: Com os cumprimentos de Goethe, uma boa máxima para a eternidade deste sol frio: Não há nada mais difícil de suportar do que uma sucessão de dias felizes.
Todos os anos os meus alunos dizem não compreender o Sr. Goethe. Sorte a deles.
posted by FNV on 11:01 da manhã
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AMOR: Narra Heródoto* ( Histórias, IV, 26: 1,2) um costume dos Issédones: "(...)Quando morre o pai a alguém, todos os parentes lhe trazem gado, que imolam para depois lhe esquartejar as carnes. Esquartejam também o cadáver do pai de quem os recebe, misturam as diversas carnes e servem-nas num banquete. A cabeça do defunto é depilada, lavada com cuidado e revestida de um banho de ouro, para ser depois venerada como objecto de culto aquando de uns grandes sacrifícios que realizam todos os anos. É assim que um filho presta homenagem ao pai (...)."
* Tradução de Maria de Fátima Silva e Cristina Abranches Guerreiro, 2000, Ed70.
O SISTEMA POLÍTICO: O excelente editorial de hoje do Público, da autoria do Eduardo Dâmaso, deveria constituir um ponto de partida para as batalhas que os media em geral - na lógica da imprensa como contra-poder - deveriam travar, em nome da população desarmada: a do exercício do poder político na efectiva concretização das reformas necessárias ao progresso do país e a reforma do falido sistema político.
Seja qual for a sua área política, qualquer jornalista já terá percebido a inexistência de vontade política no afrontar dos estrangulamentos como aqueles mencionados por E. Dâmaso, independentemente do partido no poder. Para além disso e em minha opinião, na base da irresponsabilidade governativa está a agudíssima crise de representatividade do nosso sistema político, que promove a mediocridade e que não permite a responsabilização. Nem sequer pelo voto, o qual, para efeitos de poder, estará sempre (nas actuais circunstâncias) condicionado pela superior escolha de um sinistro aparelho partidário. Por outras palavras, à população desarmada apenas sobra o desvalorizado voto (e alguns blogues...).
Perante isto, a batalha a travar não estará tanto no apoio ao candidato "A" ou na lapidação pública do Ministro "B", mas sim na luta supra-partidária que obrigue a reformas que confiram representatividade ao sistema político (e por inerência ao voto, que assim passará a fazer sentido) e que permitam à população responsabilizar (e/ou premiar) pessoas e partidos pelo seu efectivo desempenho. Tal como as coisas estão hoje, a política funciona em circuito fechado e apenas serve... os próprios políticos!
O papel de contra-poder que por vezes se atribui aos media e que o país actualmente precisa é este, o da reforma do sistema. As meras críticas dentro do sistema são simples arranhões que deixam indiferentes aqueles que o controlam.
VIDA E CRIOGENIA NA BLOGOSFERA: Hoje o Tugir faz um ano, "a tugir em português". Uma referência consolidada de lucidez (e humor) na esquerda blogosférica. Ao LNT e ao CMC, um abraço de parabéns!
O Paulo Gorjão disse que o Bloguítica acabou. Nada de elogios fúnebres: tenho a certeza de que é só uma experiência de criogenia.
COLIGAÇÃO? QUAL COLIGAÇÃO?: Os cartazes utilizados pelo PP de PP seguem, à primeira vista, uma estratégia simples: num momento em que Santana Lopes se tornou no símbolo vivo da trapalhice e da instabilidade, PP procura surgir como o contrapontoútil (competência, estabilidade, convicção, etc.), pairando serenamente acima do seu parceiro de coligação.
Porém, parece indiscutível que este tipo de discurso só pode "aspirar" os votos dos eleitores indecisos entre o PSD e o PP e os votos dos eleitores PSD que detestam Santana mais do que Portas. Quer dizer: a mensagem da campanha do PP limita-se à pretensão de enfraquecer o PSD.
Ora, a questão é a seguinte: sabendo-se à partida que o PP não colherá mais votos que o PSD, será que aquele eleitorado vai votar Portas para ter Santana a Primeiro Ministro? Claro que não - para isso votariam directamente em Santana.
O que significa que a mensagem eleitoral do PP assenta numa lógica diferente. Adivinhando a mais que provável derrota eleitoral da coligação, Portas procura atrair o maior número possível de descontentes do PSD de forma a conseguir um resultado que lhe dê um peso parlamentar respeitável na oposição. Onde oferecerá ao País a imagem de um partido responsável e estável, em contraste com o torvelinho social-democrata que, muito previsivelmente, sorverá Santana depois de 20 de Fevereiro.
Deposto Santana, só aquele peso parlamentar acrescido dará capacidade negocial ao PP em face de quem vier a liderar o PSD.
Bem visto.
posted by PC on 2:49 da tarde
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AINDA FREITAS: É curioso, isto da tolerância selectiva para com os que mudam radicalmente de orientação política e ideológica. Aos renovadores ( ex-PC's) é muitas vezes apontado o dedo do oportunismo por contraponto à fidelidade e dignidade comunista ortodoxa, Zita Seabra é vista com desprezo a beijar o anel do Bispo de Coimbra. Mas pelo vistos, para alguns, Freitas do Amaral não pode ser confrontado com o seu passado, nem com o recente: há três anos pedia maioria absoluta para o PSD, e até colaborou com Celeste Cardona, enquanto académico, é verdade.
Entendamo-nos: Freitas tem todo o direito a dizer o diz, tem todo o direito a querer ser ministro do PS ou presidente de República com o apoio de Sócrates. Não é isso que está em causa. E tem também todo o direito a mudar de referências políticas e ideológicas ( a distinção é propositada) sem ser apodado de trânsfuga ou de traidor.
Mas a menos que para bater em Santana valha tudo ( o novo unanimismo nacional, que pagaremos caro lá mais para a frente) , Freitas tem também o direito de ser confrontado com estas mudanças, e sobretudo, o dever de explicá-las: um artigo ou uma entrevista, de cada vez que guina 180º, parece-me manifestamente pouco.
Quem tem um passado que lhe garante o lugar de senador da pátria não pode pretender renascer sempre que muda de opinião.
Ao 3º comentador: tentei responder-lhe em privado, mas teclando em JPT não vou a lado nenhum, por isso aqui vai: este post não é dirigido a si, não conheço o seu blogue, não li nada seu sobre este assunto excepto o seu comentário ao meu post anterior e ao qual já lhe respondi na tal adenda. Veja lá se tem mais cuidado (e elegância, já agora) nas interpelações, nas conclusões e nas acusações idiotas que fabrica quando afixa comentários.
posted by FNV on 1:15 da tarde
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ATENÇÃO: A euforia socialista e o desespero santanista soam-me a falso. Leiam com atenção os resultados brutos da sondagem do Público/Univ.Católica/RTP/RDP: se somarem os que tencionam abster-se, com os indecisos e com os que não respondem, obtêm 48%. Lembro-me vagamente do cáculo de probabilidades que tive de estudar, mas ainda assim, uma campanha eleitoral não é um saco com bolas vermelhas e pretas.
48% é muita fruta. Da época.
Duas palavras apenas de sinceras e muito amigas felicitações pela merecidíssima Grã-Cruz da Torre e Espada.
Se há momentos em que um chefe se tem de impor aos seus súbditos, mesmo contra a vontade deles, outros há, felizmente, em que mais não faz do que interpretar os sentimentos generalizado dos seus compatriotas.
E quem tiver os olhos e os ouvidos atentos sabe muito bem que tanto na escolha de V. Exa., há três anos, como na sua condecoração, agora, não foi o Presidente da República que ordenou - foram os portugueses que falaram.
Por tudo o que tem feito por nós, bem haja!
Com os mais respeitosos cumprimentos, sou
De V. Exa.
Amigo muito grato e dedicado
Diogo Freitas do Amaral
Guimarães, 4 de Outubro de 1971
Carta de Freitas do Amaral a Marcelo Caetano, in Cartas Particulares a Marcelo Caetano, 1º volume, Org. e Prefácio de J. Freire Antunes, D.Quixote, 1985
Resposta a comentário: Não, "não acho o meu post deselegante " ( já se é desnecessário ou não, isso deixo ao critério dos leitores). Não sou do CDS/PP nem do PSD, estou-me nas tintas para os ressentimentos à direita. Mas sei que quando Freitas escreveu isto ( e muito mais) tinha 30 anos; com essa idade, muito boa gente dava o corpo ao manifesto contra Marcelo Caetano. Não vejo onde está a deselegância em recordar o passado político - público, obviamente - de alguém. A menos que isso seja um privilégio de Mário Soares, na altura em que para muitos dos seus apoiantes, Freitas era a "reencarnação do fascismo". O que talvez tenha faltado explicar, caro leitor, é a razão pela qual publiquei o post: irrita-me em Freitas o paternalismo professoral ( que suporto em Soares, como já aqui escrevi várias vezes) com o qual nos pretende dar lições políticas, e mais recentemente, lições de democracia. Tivesse lutado por ela quando era novo, talvez fosse hoje menos assertivo.
Tu crois au retour sur les pas?
Que les seuls sens font les ivresses?...
Or, je bâillais en tes caresses:
Tu ne ressusciteras pas.
Villiers de L'Isle-Adam, 1883, Contes cruels.
posted by FNV on 7:30 da tarde
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CÃES VADIOS...: Há várias espécies de cães vadios. Há aqueles que, com dignidade, são vadios por opção. Não querem pertencer a nenhuma família nem prestar vassalagem a quem os alimente. Apenas desejam a sua liberdade e autonomia no seu espaço e no seu tempo. Mas, há outros cães que não conhecem o dono, embora sempre tenham lambido as mãos de quem os acolhe. Que sempre transitaram de família em família, de quintal em quintal, na esperança de uma gamela mais generosa, sem escrúpulos, sem lealdade ou mesmo ponta de saudade. E que, invariavelmente, acabam a ladrar aos antigos donos como forma de agradar aos novos. Normalmente, a história destes cães acaba com um pontapé...
posted by Neptuno on 4:41 da tarde
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ROGER PERELMAN, Nº 159.776: A melhor homenagem é lembrar sempre, não pensar que já lemos e sabemos tudo sobre o inominável, lembrar sempre, nem que seja só nos aniversários. É a melhor homenagem aos de então, a nós próprios, e aos que depois de nós virão.
posted by PC on 2:02 da tarde
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VEM COM ATRASO: Segundo o Público de hoje, o FC Porto vai ser agraciado com a Medalha de Mérito Turístico. O prémio é justíssimo, embora a nota de imprensa do Ministério do Turismo esqueça inexplicavelmente o papel do FC Porto no reforço dos laços turísticos entre Portugal e o Brasil.
posted by FNV on 1:43 da tarde
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PARALELAS: Li hoje a história de alguém que confessa ter exercido actos de violência sobre crianças mais novas, explicando que essa era a regra da instituição: ele próprio tinha sido vítima em pequeno, até ganhar idade e força para ser agente da violência. O silêncio era regra de ouro e quem "se chibava" estava em maus lençóis.
Não foi o célebre post de Rodrigo Moita de Deus sobre os "calduços". Foi uma notícia do Expresso sobre Carlos Silvino. Hoje, Carlos Silvino já não acha que aquele fosse um modus vivendi são. E até lamenta que não o tenham tratado a tempo.
posted by PC on 1:35 da manhã
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ACONCHEGO VI: Com Dostoiévski, ( obrigado leitor Afonso, com isto de hesitar entre a transcrição inglesa e a portuguesa do nome do gajo, gato sempre o nome do Feodor/Fiódor...)no Crime e Castigo, tal como eu, Raskólnikov pensava enregelado:" Quem será? Quem será esse homem surgido de debaixo da terra? Onde estava ele e que viu ele? Viu tudo, disso não há dúvidas. Onde podia estar, donde olhava? Porque só agora vem à superfície?"
posted by FNV on 1:33 da manhã
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JOSÉ MOURINHO continua a passear a sua "arrogância" por terras britânicas. Hoje, o Chelsea foi ganhar 2-1 a Old Trafford (a ver daqui a pouco na RTP1), a um Manchester que vinha de 11 jogos sem perder . Por cá, muitos outros continuarão a mascar as suas chicletes pequenitas, cada vez mais azedas. Mas cada vez mais silenciosas.
DERBY: O melhor: - O jogo inteiro. Há muito tempo que não assistia a um jogo desta qualidade sem estar a sofrer pelo FCP. Como diria o nosso FNV, foi uma "experiência refrescante".
- Os golos de Paíto e de Simão.
O pior: - As fitas de João Pereira, verdadeiro Santana Lopes do futebol. Com a agravante de ter conseguido a expulsão de Hugo Viana, um dos poucos a jogar em Portugal que entendem a noção de fair-play.
- As declarações de Álvaro Magalhães, ao afirmar que o jogo desta noite foi "uma final antecipada". Um comentador pode dizer isso, um treinador não. Deus queira que na final (ou antes...) não lhe apareça pela frente um Beira-Mar, ou assim.
posted by PC on 11:43 da tarde
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O TRIUNFO DOS PORCOS: Um camião virou-se na estrada e segundo a TSF " os porcos circulam agora livremente".
posted by FNV on 1:20 da tarde
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ACONCHEGO V: Como se me acabou a lenha, estou a queimar livros. Comecei pelos Saramagos que cá tinha e pareceu-me ouvir uma vírgula a rir mas não tenho a certeza. Depois queimei Balibar e Althusser ( os trânsfugas andam há muito a limpar as prateleiras, e por isso, se me arrepender, há por aí muitos no mercado de usados) que me proporcionaram um calorzinho agradável, enquanto bebericava um irlandês e relia a carta de Marx a Bracke (por causa do tal congresso de Gotha).
Como se o frio finalmente apertasse, rebusquei estantes e caixotes e ainda enfiei na lareira uns pós -coloniais ( a Spivak foi a primeira a crepitar), mas guardei o Said: deve-se sempre preservar o original.
posted by FNV on 11:44 da manhã
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DEBATES TELEVISIVOS: A verdadeira importância do debate político televisivo é mostrar ao eleitor a verdadeira face dos eleitos. Ali não há volta a dar, as posições definem-se, as pessoas esclarecem-se e o benefício do debate é imenso, tal como a nossa história é disso mesmo ilustrativa (recordem-se os debates Soares/Cunhal, Soares/Freitas ou até o de Sampaio/Marcelo, mesmo que pensemos que hoje, certamente, não passariam de um ensosso rol de admirações basbaques e de cumprimentos afectuosos e fraternos).
Desta forma, quaisquer que sejam as razões em que Sócrates se refugie, a sua fuga frenética ao debate com o líder do PSD não pode deixar de ser considerada como um enorme sinal de desrespeito pelos eleitores e uma demonstração de cobardia manifesta. O trambolhão do experiente Louçã perante Paulo Portas poderá ter assustado ainda mais José Sócrates mas exigia-se de um candidato a Primeiro-Ministro maior coragem para o debate político. Até porque, mesmo não tendo Sócrates as capacidades de Louçã para o debate, convenhamos também que Santana Lopes talvez não seja um Paulo Portas. E os eleitores agradeceriam.
Um pouco de coragem, pá, faz-te homem! - seria certamente o conselho do camarada Manuel Alegre, pessoa que seguramente não recusaria qualquer debate.
posted by VLX on 1:33 da manhã
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E VÃO DOIS! Alguns dos comentadores habituais, os socialistas em geral e o até o próprio Presidente da República têm-se pronunciado, de forma mais ou menos velada, desconsiderando o debate político nas televisões. Sem razão: o debate televisivo é importante, revela muito mais ao eleitorado do que frases soltas em comícios, mostra melhor ao eleitor os programas e as ideias dos que querem ser eleitos e alcança um número muito maior de eleitores. Daí que só não quer debater quem tem medo ou a certeza de perder o debate.
Não foi o caso de Jerónimo de Sousa, que enfrentou corajosamente Paulo Portas - embora tenha sido completamente trucidado, particularmente em muitas das áreas onde os comunistas se julgam reis e senhores.
Jerónimo de Sousa perdeu sem apelo nem agravo o debate televisivo da SIC Notícias mas não tem que se envergonhar pois já antes Francisco Louçã (que não é propriamente um menino de coro nestas andanças) se tinha estatelado ao comprido no debate com o líder centrista. Nem o patético e irrelevante artigo no Público de hoje nem as inúmeras declarações desesperadas em que durante o dia todo se desdobrou - com apoio amigo dos diversos órgãos de comunicação e tentando desdizer o que disse e emendar a mão - salvaram Louçã de, pela primeira vez, ser desmascarado e criticado até por elementos da sua área política.
posted by VLX on 1:20 da manhã
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REGRESSO DE "OS FUGITIVOS": Uma das facetas mais engraçadas que a campanha de Sócrates nos tem mostrado é a sua capacidade de se pôr atrás dos outros e de aparecer o mínimo possível, dizendo o menor número de coisas que consegue e deixando aos outros o trabalho desagradável de fazer o combate político. A ele basta-lhe sossegar descansadamente à espera de que o poder lhe caia em cima, que é o que parece estar a fazer.
Mas o mais cómico é ver atrás de quem ele se tem escondido: atrás de Guterres, que fugiu para parte incerta do pântano por ele próprio criado; atrás de António Vitorino, que fugiu para Bruxelas; atrás de Jorge Coelho, que fugiu perante o desastre de Entre-os-Rios e atrás de Ferro Rodrigues, que debandou amuado com Jorge Sampaio. Uma colecção de fugitivos que dava uma série bem melhor do que a da nossa infância. O problema para Portugal, perante o curriculum desta gente atrás de quem Sócrates se esconde e em quem se apoia, é que pode muito bem acontecer que um dia Sócrates acorde, volte-se estremunhado e repare, desorienteado, que está sozinho e que o pessoal todo se escapuliu outra vez.
CULATRA: A TSF esteve todo o dia a zurrar: "No Iraque, os rebeldes ameaçam que ninguém pode imaginar as consequências familiares e pessoais para quem exercer o direito de voto".
É curioso. Uma democracia tão artificial, mas ainda assim com uns inimigos tão naturais, empenhados e desesperados.
posted by FNV on 4:12 da tarde
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ACONCHEGO IV: A pretexto do frio, hordas de viciosas escondem-se debaixo das mantas. Estas mulheres deslizam sob as lãs e entregam-se a orgias sulfurosas. Cumprindo a profecia de Lemnius, o sangue menstrual jorra solto, tirando o brilho ao marfim, enraivecendo os cães, fazendo abortar as éguas e descolorando as flores.
Disfarço-me de Berta e entro por uma ponta da manta, sorvendo o cheiro doce e a noz-moscada que quase me faz desmaiar. Mas já não tenho frio.
posted by FNV on 3:49 da tarde
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ACONCHEGO III: Fez na semana passada um ano. A 18 de Janeiro de 1915, estava eu com Shackleton a 660 km das Órcadas do Sul. Nesse dia, no Acampamento Paciência, fazia um calor horrível: a temperatura subiu a 2ºC, o interior das barracas ficou alagado, o fedor era insuportável. A coisa compôs-se, pois ao meio-dia comemos todos uns belos bifes de foca-leopardo.
Como tal foca não abunda por cá, cozam toucinho, cebola, couve e feijão vermelho; antes de ir à mesa beijem a panela com um ramo de carqueja ( vende-se nas aldeias da Serra da Estrela e no Corte-Inglês) . Depois da ceia entalem as crianças nos cobertores, mas não muito, senão elas derretem. Se não tiverem crianças peçam uma emprestada.
IMPERDÍVEL: A resposta de Ricardo Araújo Pereira no Gato Fedorento a Paulo Pinto Mascarenhas do O Acidental.
posted by FNV on 1:27 da tarde
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UMA PREMIÈRE: Nos blogues e na imprensa houve indignação geral causada pelo custo da cerimónia de investidura de Bush. Confesso que para mim foi uma première: nunca tinha lido críticas aos custos de cerimónias de investidura presidencial ocorridas no estrangeiro ( nem em Portugal, diga-se). Mas como nenhum dos escribas me informou quanto deveriam os americanos ter gasto, fiquei na mesma como a lesma. Ou por outra, fiquei a saber que segundo esses bravos, os americanos deveriam ter comemorado a investidura no recato de uma cave.
Em certas cabeças, a democracia não entra nem à martelada.
posted by FNV on 1:08 da tarde
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OS DONOS DA BOLA: Ao longo dos anos habituámo-nos a olhar para o mundo do futebol com suspeição. Existem regras e existem instituições que as devem proteger e aplicar mas, no entanto, sempre pairou o fantasma da corrupção e do tráfico de influências. A sensação de que as regras não são iguais para todos e que outros factores que são (ou deveriam ser) exteriores ao jogo acabam por ter um grande peso na definição dos resultados, já que nem todos têm acesso a tais armas.
Na passada semana, assisti ao Expresso da Meia-Noite na SIC-Notícias, em que o entrevistado foi Santana Lopes. Já perto do final do programa, o Director do Expresso J.A. Saraiva perguntou a Santana qualquer coisa como se não seria uma estratégia suicida - atendendo a situações idênticas ocorridas no passado - o seu presente estado de confrontação ou mesmo guerra com a comunicação social. Esta pergunta que, de alguma forma, documenta o tratamento dispensado a Santana desde que tomou posse como PM, entre outros aspectos infere duas questões muito interessantes:
Por um lado, assume que há uma guerra entre a comunicação social - onde se inclui o jornal de que é director - e o PM cessante e agora candidato Santana Lopes. Ora, será possível a um jornal - ou a qualquer outro meio - que está em guerra com um candidato eleitoral manter o seu distanciamento e isenção de análise? Não seria mais honesto assumir esse confronto num editorial - em vez de alusões subtis e camufladas em perguntas aparentemente inocentes - e deixar que os (e)leitores façam o seu juízo dispondo de todas as coordenadas?
Por outro lado, a pergunta de J.A. Saraiva infere (e assume) todo o poder dos media. No fundo, Saraiva questionou Santana com alguma perplexidade sobre o atrevimento deste em afrontar os poderosos media, sabendo que estes fariam - como têm feito - a sua vida num inferno.
A combinação de tudo isto resulta num verdadeiro poder não sufragado e, sobretudo, não legitimado dos media - ou de quem manda neles - para vender sabonetes, presidentes ou destruir candidatos. E a uma imprensa que age de forma alinhada sem o assumir frontalmente, acobertando-se num falso manto de independência e isenção, a isso eu chamo manipulação.
E quando assim é, as regras não são iguais para todos.
posted by Neptuno on 1:05 da tarde
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ACONCHEGO II: Com o tal frio vem o vento. Gelado, dizem os entendidos. Estou a pensar em enfiar-me no congelador, onde a cerveja é fresca e o bacalhau é duro. Mas com o vento, que fazer? Não tenho moinho nem trigo, e a bela moleira há muito que não passa à minha porta.
Depois de muito matutar, aqueci. Frio frágil, é o que é.
posted by FNV on 11:34 da manhã
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DESCOBRIRAM A PÓLVORA II: Quando no post anterior com o mesmo título me refiro ás características discursivas dos bloquistas ( as tais que a Ana Sá Lopes descobriu tardiamente) referia-me aos dirigentes do Bloco de Esquerda. Evidentemente que não considero os bloquistas, no seu todo, indivíduos para quem qualquer um que pense diferente ou está ao serviço do capital ou é burro.
posted by FNV on 11:28 da manhã
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ACONCHEGO: Vem aí o frio. Saiam à rua e aprisionem todas as mulheres gordas que encontrarem. Fechem-nas na dispensa, cubram-nas de sal e reservem. Quando o frio chegar, comam-nas.
E JÁ AGORA: Por falar em textos de tipos e de animais, um alerta para maluquinhos que como eu se perdem por narrativas venatórias. A Oxford U.P. na sua colecção Indian Papers tem vindo a reeditar os livros do coronel Jim Corbett, um elegante ( e gay) oficial do Império Britânico que nasceu em 1875 em Naini-Tal, no norte da India, na fronteira com o Nepal. Corbett é um anti-herói da caça grossa, um sistemático da arte, ultra-modesto mas um escritor de primeira água. Nos seus livros - mais de uma dezena - respira-se a India colonial algo diferente da do cinema de Lean e afins, mais próxima da de Kipling, mas ainda mais completa. Para quem se quiser iniciar sugiro o estupendo Man-Eaters of Kumaon, publicado em Nova Deli pela Manzar Khan, Oxford University Press.
posted by FNV on 10:08 da tarde
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5 ESTRELAS: A chamada não me augurava nada de bom: um "jovem citadino" barbudo em cima de um burro, com uma viola à bandoleira, a percorrer serranias perdidas no nordeste transmontano: yeah men-tás-a-ver-a-cena. Mas como sou tão preconceituoso como curioso, comecei a ler o texto ( longo) do barbudo publicado pelo suplemento Fugasdo Público de ontem. Em boa hora o fiz: é das melhores coisas que vi publicadas naquele suplemento, e já o leio há muitos anos.
Parabéns ao Pedro Fabião e à sua velhinha burra mirandesa, a "Ceguinha".
posted by FNV on 9:46 da tarde
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OBSESSÃO: É o que tive todo o dia com a página 6 do Expresso desta semana, mais propriamente com um texto no canto inferior direito da referida página: Ninguém liga à Rinite. Liguem-lhe caramba!
posted by FNV on 7:10 da tarde
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DESCOBRIRAM A PÓLVORA: Se eu tivesse escrito o que a Ana Sá Lopes escreve hoje no Público ( claro que nunca escreveria tão bem, mas percebem a coisa) sobre o Bloco de Esquerda, lá tinha na caixa de comentários os epítetos do costume: reaccionário, fascista, etc. Mas a Ana Sá Lopes descobriu agora que o Bloco fede a moralismo oco e cultiva uma pretensa superioridade moral sobre todos os assuntos e sobre todos os adversários.
Como tal prática não começou certamente quando Louçã foi na 5ª feira ao debate da SIC-N com Portas, nem quando declarou que quem não tem filhos não pesca à linha nos assuntos do aborto e da vida, o mais que posso concluir é que a Ana Sá Lopes tem andado distraída. Compreendo a desilusão da Ana, até porque a doutrina Louçã vai começar a ser ensinada na catequese, quando os meninos com um tio liberal questionarem o padre sobre se enfim, um casal de homossexuais temente a Deus e sem cadastro não poderia, enfim, adoptar um orfãozinho que eles conhecem.
Pela minha parte simpatizo com algumas "causas" do Bloco: a justiça fiscal e a despenalização do aborto, por exemplo; esta última, porque embora sabendo, até por via do meu trabalho, que muitas mulheres abortam sem motivo algum e sem drama nenhum, para muitas acontece precisamente o contrário, e não me agrada uma lei cujo desrespeito é fácil e cómodo para umas e humilhante para outras: se eu roubar alguém, posso ou não ser acusado, julgado e condenado, mas tal desfecho não dependerá da minha conta bancária ( apesar da vox populi dos cafés...).
O que dificulta a discussão com os bloquistas é o facto de eles verem em qualquer prática política da qual discordam uma constelação de interesses inconfessáveis*, ou em alternativa, a rematada ignorância e boçalidade dos que a defendem. Em resumo, quando discordamos de um bloquista numa questão de edifícios, ou estamos ao serviço da indústria do cimento ou somos o próprio cimento.
*: Deve-se em parte à permanente insinuação sobre "interesses", "negociatas", "mafias" e outras amabilidades, a razão do crescimento eleitoral do Bloco: capitaliza os justa e ocasionalmente indignados, mas também as cáfilas de preguiçosos e invejosos que abundam no ecossistema luso. É assunto para desenvolver mais tarde.
posted by FNV on 4:41 da tarde
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HÃ???: O ministro da Defesa espanhol, José Bono, foi ontem apertado, insultado, e só não foi espancado porque tinha guarda-costas. E porquê? Porque compareceu numa manifestação convocada por uma associação madrilena das vítimas do terrorismo. Os manifestantes, segundo depreendi lendo dois diários espanhóis on-line muito lacónicos ( pressuponho que a versões impressas estejam mais recheadas), não estavam lá muito satisfeitos com a demora nas indemnizações devidas aos compatriotas cujas vidas são afectadas pela ETA. E não parecem confiar muito em Zapatero em matéria de luta anti-ETA.
Curiosamente, o Público, outrora tão interessado na punição que o governo de Aznar recebeu pela gestão da ressaca do mega-atentado de Madrid, não publica hoje uma linha sobre o assunto.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.