A BICLA (memórias de um sportsman em férias) VI: Tudo corria razoavelmente bem com a bicla, depois de aprender a lidar com a coisa. E já nem me lembrava da azáfama de fim de dia com a pequenada. Claro que não se perdiam quilos mas tudo seria, seguramente, uma questão de tempo.
O pior foi quando um primo (admito que sem malícia) disse, à frente de toda a gente e durante um jantar memorável durante o qual eu tinha relatado inúmeros passeios de bicla (a subida a Gondomar como treino para a Senhora da Graça de 2005, foi, talvez, um exagero proporcionado pelo entusiamo do momento), que o conta-quilómetros da bicla deveria indicar quanto eu eu tinha já andado!
Então aquela porcaria no guiador é um conta-quilómetros!...
O que eu não inventei para que não se descesse logo naquela noite à garagem para ver quanto a bicla já tinha andado... (ainda estou para saber o que teria acontecido se não tivessem acreditado na minha simulação de um desmaio. Enfim..., ao menos quando o Doutor dos "Médicos em Casa" saiu pela porta, descansando todos e assegurando que eu estava bem de saúde, que nem tinha valido a pena o terem chamado, já ninguém se lembrava do assunto).
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posted by VLX on 3:56 da tarde
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A BICLA (memórias de um sportsman em férias) V: Esta coisa da bicla está a dar-me mais complicações do que pensava. Uma verdadeira trabalheira. Raios partam o dia em que tive esta ideia completamente absurda de a comprar. Além disso, lá em casa começam a desconfiar que não faço exercício nenhum. Tudo começou por me verem regressar da bicla mais fresquinho que uma bejeca acabadinha de tirar. Mas isso nem foi assim muito difícil de resolver: apenas deixei de ligar o ar condicionado do carro enquanto estava na garagem a morfar o pão com chouriço (o selim é bom, mas o banco do carro também não é nada mau; e, depois de uns dias sentado no selim, passei a ler o jornal no carro que também é confortável e é mais fresco).
Depois, por um acaso da sorte, reparei que o sistema de rega do jardim liga às 20h30 todos os dias pelo que antecipei o final do exercício e passo sempre pela rega antes de ir para casa, o que não só não é desagradável de todo (para quem está enfiado no carro mais de meia-hora, nas catacumbas de uma garagem e sem ligar o ar condicionado) como me dá um ar todo transpirado que até estava a resultar.
Por fim, para a coisa se tornar mesmo credível, fui até assistir a dois finais dos jogos de futebol de uns amigos para aprender como são as expressões e formas de agir de alguém que acabou de fazer um exercício físico extenuante (que expressões engraçadas...), pois eu não fazia a mais pequena ideia de como seriam. Quando consegui imitar na perfeição aqueles esgares de estoira e cansaço, aquela respiração ofegante e uma posição um bocado estúpida em que um tipo se põe de cócoras, a respirar com dificuldade e com a mão no peito, como se tivesse concluído a maratona, eu estava simplesmente perfeito! Até eu me sentia cansado! Já ninguém duvidava de mim nem do meu exercício e tinha até direito a um copo de sumo de frutas natural mal entrava em casa e que me sabia pela vida (tenho é de comprar umas garrafinhas de bolso de vodka, para lhes dar sabor)!
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A BICLA (memórias de um sportsman em férias) IV: Estou cada vez mais contente com o meu selim novo. É mesmo bonito e não me canso de o admirar. Fico horas embevecido a olhar para a sua beleza. Às vezes sento-me nele e tudo! E faz bem à vida no lar. Com efeito, descobri que se puser uns calções e umas sapatilhas (acho que agora lhes chamam "tenis"), tenho licença, total e completa carta branca para o ir admirar à vontade, mesmo que seja à hora dos banhos e jantares das crianças. Isto delicia-me. Que selim! Que fartote!
Então aí vou eu: fardo-me a rigor e desço à garagem onde fico maravilhado a olhar para ele. Às vezes levo um pão com chouriço para me fazer companhia; outras presunto. Mas já ninguém me tira aquela meia-hora diária a mirar o meu querido selim. No outro dia experimentei ler um jornal sentado nele mas não dá muito jeito (defeito do jornal sem dúvida; aquele maldito Expresso!...); hoje vou tentar ler um livrinho de bolso que deve ser mais fácil. O chato é não haver muita luz na garagem. De qualquer forma, vou mandar aplicar um descanso na bicla pois já estou com o ombro meio dorido de estar encostado à parede e não dá jeito nenhum para virar as páginas.
E o selim continua o máximo: ainda por cima, oferece-me o bónus de, quando regresso a casa, ver as crianças serem advertidas para não incomodarem muito o pai, que está cansado. Que compra fantástica eu fiz!...
É certo que os vizinhos devem continuar meio incomodados pois olham-me sempre com um ar muito espantado quando estou a admirar o selim, principalmente aquele que lava o carro às quartas, ao fim da tarde. Deve ser um solitário e não deve gostar muito de companhia pois eu ainda nem há dez minutos estou a olhar para o meu selim e ele já começa a perguntar"Então?... Vai sair?..." E que tem você a ver com isso?, apetece-me perguntar-lhe, Meta-se na sua vida! - digo-lhe eu qualquer dia.
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posted by VLX on 3:43 da tarde
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PATHOS: Num diálogo com alguém que sempre escuta com atenção, este vosso incauto escriba enveredou por uma apologia da blogosfera. Depois de uma exposição sobre o seu ethos, o seu modus operandi, as suas aplicações, a óbvia importância deste meio, todos os meus argumentos foram destruídos, ou pelo menos diminuídos significativamente, de forma racional, um a um. Remetido a uma argumentação cada vez mais escassa, atirei em desespero: pela necessidade e gosto de comunicar.
O espírito prático e utilitarista que me ouvia ripostou implacavelmente: p'ra quê ?
Já passaram uns dias. Já dei mil voltas à cabeça. E nada.
posted by NMP on 5:16 da manhã
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FOTOGRAFIA: Faleceu hoje um dos maiores fotógrafos do século XX, Henri Cartier-Bresson.
Tendo passado uma parte significativa da minha juventude em Coimbra, devo a descoberta da fotografia aos Encontros de Fotografia da mesma cidade. Foi nas suas inúmeras exposições que, nos cenários maravilhosos escolhidos para as acolher, aprendi a ver no registo de imagens uma forma de Arte. Que descobri, com entusiasmo juvenil, a enquadrar imagens, interpretá-las além da sua leitura mais imediata ou apenas a disfrutar e senti-las como manifestações estéticas. Foi graças aos seus programas, conferências e workshops que conheci Cartier-Bresson, Robert Frank, Joel Peter-Witkin, Alvarez Bravo, Sebastião Salgado, Jorge Molder, Paulo Nozolino e muitos outros, cujos nomes, certamente por deficiência de critério minha, não fixei.
Os Encontros de Fotografia de Coimbra são uma pessoa: o Albano da Silva Pereira (ele próprio autor de obra interessante). Sem o seu entusiasmo contagiante, empenho furioso, trabalho incansável e contactos nada daquilo poderia alguma vez ter sido montado. Acresce que os Encontros, superando obstáculos burocráticos, constrangimentos orçamentais e limitações várias muitas vezes fruto de tacanhez de espírito foram sempre uma realização muito à imagem do Albano, que é, para quem o conhece, um personagem larger than life. Numa cidade que, desde o 25 de Abril, foi progressivamente perdendo algum do lugar central que detinha no campo da cultura, que por vezes parece anquilosada e é especialmente auto-crítica e auto-destrutiva, os Encontros foram sempre um sopro de modernidade, de vanguardismo, de ousadia cultural, de ar fresco num ambiente por vezes demasiado tradicional (no mau sentido do termo). Eram uma pedrada no charco no ambiente de marasmo cultural reinante. Que arrastava milhares de pessoas a Coimbra e criou o gosto pela fotografia em muita gente da minha geração (eu confesso que, por manifesta falta de jeito, nunca passei da condição de apreciador mas sei de muita gente, outros lobos do mar e bloguistas incluídos, que se transformaram em fotógrafos amadores empenhados e talentosos)
Hoje, ao tomar conhecimento da morte de Cartier-Bresson, foi do Albano e da sua extraordinária obra e herança que me lembrei. Afinal de contas, foi o seu sonho e a sua perseverança que me permitiram ter hoje uma boa medida da importância de Cartier-Bresson e da perda que o seu desaparecimento significa. E isso, meus amigos, não é coisa pouca.
P.S. - Estando fora de Coimbra há muitos anos, e ultimamente fora do país, perdi um pouco o fio à meada. Algum dos estimados leitores me sabe fazer o ponto de situação dos "Encontros" ? Há alguma nova edição prevista ?
PREVENÇÃO: Ouvi dizer que Portugal é dos países da UE que mais gasta em prevenção de incêndios. Segundo parece, a Grécia tem há vários anos uma frota de vinte Canadairs (uma espécie de avião banheira para combate a incêndios), que apagam os fogos logo no seu início. Em qualquer país civilizado, esta reflexão motivaria uma investigação séria sobre quem recebe todos os anos o nosso dinheirinho, para quê e porquê. Entretanto, a nossa imagem no mundo, no Verão, vai sendo a do bombeiro com uma mangueira ou um balde de água na mão, combatendo incêndios e desejando em cada ano que passa que no ano seguinte o milionário orçamento da prevenção cumpra o seu destino.
posted by Neptuno on 5:57 da tarde
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A BICLA (memórias de um sportsman em férias) III: Estou farto de me sentar no meu selim. Aliás, toda a gente se quer sentar nele. Sentam-se, abanam-se, agitam-se, todos querem experimentá-lo! Que maravilha de selim!
O meu selim é tão grande que tem por baixo uma porção de ferros compridos, todos ligados, que fazem a junção entre dois círculos grandes nas extremidades, forrados a borracha preta. Vem também decorado com dois pedais (um, do lado esquerdo, e o outro, um pouco mais atrás, do lado direito). Vem ainda com uma corrente muito gira - embora esteja suja de óleo - que serve para envolver duas rodas dentadas (embora me pareça que aqui me terão enganado, pois uma das rodas é muito mais pequena que a outra. Não faz mal. Não há bela sem senão e o meu selim vale tudo).
O meu selim fica o máximo encostado à parede da garagem! Lindo! Não me canso de olhar para ele. Às vezes fumo um cigarro inteirinho sempre a olhar para ele. Ou dois.
Outras vezes, mudo-o de lugar para não estar sempre virado para o mesmo lado. Sempre que chego a casa sento-me nele uns bons cinco minutos. Um dia destes (quem sabe?...), só para meter inveja, vou dar uma voltinha pela rua com o meu selim novo...
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ELEIÇÕES NO IGREJINHA F.C.: A pacata aldeia de Igrejinha vive tempos tumultuosos, com as iminentes eleições para a direcção de uma das suas emblemáticas instituições, o Igrejinha Futebol Clube. Entregando-se João Suores - candidato à direcção, antigo presidente da Junta e filho de anteriores presidentes do clube - a um seu velho hábito de aparar as patilhas na barbearia do Sr. Sérgio, junto ao pelourinho, escutou incrédulo o rumor que lhe transmitiu o Sr. Sérgio, conotado com a candidatura rival de Zé Platão: "Tu vais ser roubado nos votos." Suores não se conforma e já o fez saber em entrevista à Corneta de Igrejinha, vetusto baluarte da imprensa local. Uma queixa à Federação também está a ser equacionada.
Platão, que ainda recentemente sempre aparecia à porta da igreja ao Domingo, a seguir à Missa, tem agora primado pela ausência, esquivando-se a discutir as eleições com os restantes candidatos perante os sócios do clube. No entanto, sabe-se que terá comentado "A vida é uma corrida que precisa de ser vencida", citando de memória um antigo funcionário da CP, dos tempos em que o ramal do comboio ainda não tinha sido desactivado, há mais de vinte anos.
Apesar destes arrufos, os sócios do clube estão tranquilos. E sabem que qualquer um dos candidatos, no momento da vitória, saberá congregar o esforço de todos à volta do bem maior que é o clube da sua terra, embora nem todos lá tenham nascido. E que, do alto do coreto proclamará e prometerá para os tempos futuros "Um Igrejinha F.C. à Igrejinha F.C."
posted by Neptuno on 6:20 da tarde
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A BICLA (memórias de um sportsman em férias) II: O meu selim tem de largura traseira o dobro do comprimento duma banqueta actual das biclas modernas. Dá para apoiar o rabo todo e ainda sobra um bom bocado para colocar um comando de televisão, um maço de cigarros, a caixa de charutos, um cálicezinho de Porto, o que se quiser e à vontadinha. Tem molas fantásticas, que afundam lentamente quando nos sentamos nele. A borracha de que é feito é tão fofa que não é necessário fazer grande pressão com o dedo para esconder dentro do selim a unha do indicador. Juro!
É lindo! Preto, com dois frisos longitudinais amarelados que lhe dão um toque bem simpático. E também é comprido e fofo à frente. Sejamos sinceros, os bancos actuais não magoam só "atrás", eles também não são nada agradáveis "à frente": pois o meu é uma maravilha! Julgo que terá uma área aí de uns quase 0,5 metros quadrados. Pelo menos é desse tamanho o tecido que vou comprar para lhe fazer uma capinha para o proteger do pó. Estou a pensar num padrão listado, em tons de azul: fica sempre bem e dá um ar de campeão. O meu selim cabe perfeitamente na garagem (e não afecta assim tanto o lugar do carro, como alguns vizinhos maldosos têm constantemente afirmado e pretendem defender na reunião extraordinária de condóminos convocada de urgência após a minha compra, para discutir o acesso às garagens). Seja como for, estou a pensar em fazer um seguro para ele pois parece-me que os meus vizinhos, invejosos, ainda lhe vão querer fazer alguma...
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posted by VLX on 12:29 da tarde
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SIGNAES DE SERENIDADE: Fazendo jus aos posts precedentes, e porque não queremos que o Presidente da República seja declarado extinto neste blogue, aqui fica um subsídio para o tratamento do magno problema da serenidade, colhido no Tractado da Astronomia Rustica e Pastoril:
"Signaes de serenidade pelas aves e peixes: Quando os falcões estão mui socegados nas ribeiras, denotam serenidade. Quando os pombos vôam muitas vezes de uma parte para a outra, e cantam, denotam serenidade. Quando os milhanos, em alto, jogam uns com os outros, denotam serenidade. Quando os mosquitos se ajuntam muitos, e dão grandes zunidos depois de posto o Sol, denotam serenidade. Quando os corvos abrem a bôca, olhando para o Sol, denotam serenidade. Quando os peixes dos rios, ou do mar, saltam muito a miudo sobre a agua, denotam serenidade".
posted by PC on 6:00 da manhã
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O MAR SALGADO é um nau caótico-pluralista que navega quotidianamente pela blogosfera. Um tripulação de velhos lobos do mar com opiniões diferentes, estilos distintos e (ocasionalmente) maus fígados, fruto de anos entregues aos prazeres e deleites do rum.
Podem deixar por aí o vosso comentário, respeitando as regras mínimas do civismo e urbanidade de trato ou enviar um telegrama de cabotagem ou uma mensagem SOS para lobosdomar@hotmail.com
posted by NMP on 5:53 da manhã
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PARA A SURDEZ: Porque a surdez é um mal muito daninho, aconselha o Lunario: "Deitareis dentro do ouvido sumo de cebola, ou de vide branca, misturada com mel, ou sumo de casca de rabãos, misturado com azeite rosado".
posted by PC on 5:46 da manhã
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SILLY SEASON: O primeiro registo do uso da expressão silly season remonta à época vitoriana. Uma notícia da Saturday Review, em 13 de Julho de 1861, mencionava We have, however, observed this year very strong symptoms of the Silly Season of 1861 setting in a month or two before its time.
Estas e outras informações retiram-se desta página da BBC dedicada a actualizar semanalmente e todos os anos as mais disparatadas e tontas notícias da época estival.
Sempre se ficam a saber algumas informações importantes. Como a de que, segundo o Sun, 8% das pessoas colocam a sua roupa interior no frigorífico, durante o tempo quente, para se manterem frescas.
Isto é, no minímo, arrepiante.
posted by NMP on 5:20 da manhã
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NO COMBOIO DESCENDENTE da música popular portuguesa têm vindo a desaparecer as grandes figuras, as referências dominantes. Zeca Afonso foi certamente o nome mais importante da música portuguesa na década de 60 e 70, tal como na minha opinião, se bem que a uma escala menor, os anos 80 e inícios dos 90 foram marcados idelevelmente pelo contributo do Pedro Ayres Magalhães.
Provavelmente este apagamento de figuras tutelares é sintoma de um amadurecimento, alargamento e atomização do mercado, quer em género musical quer em número de autores. Como sintoma de maior liberdade de escolha, é num certo sentido uma evolução positiva.
Mas todos os que gostamos de música portuguesa, somos "filhos da madrugada", credores de um respeito e admiração infinita por quem, como Zec Afonso revolucionou a música popular portuguesa, do fado de Coimbra até à urbanização e modernizaçõ dos temas da música tradicional portuguesa.
Algumas das suas composições eram algo datadas (sobretudo as que têm letras mais políticas), mas a verdade é que a grande maioria das obras do Zeca atingiram aquele estado de eternidade apenas ao alcance das obras superiores. E isso é mais que suficiente para nos inclinarmos perante a sua memória.
posted by NMP on 4:35 da manhã
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INSÓNIAS NUMA NOITE DE VERÃO: Há já algum tempo que não contávamos com uma noite de insónias do nosso PC. Daquelas em que se passeia pelo convés desta nau, de bloco de apontamentos em punho, a inspecionar as opiniões dos outros. Mas nada melhor que a mansidão de uma noite de Verão para uma conversa serena.
A decisão do Presidente da República tem de ser aplaudida por quem aprecia a estabilidade política como um valor em si mesmo e acredita que o sistema deve ver acentuada a sua componente parlamentar. Essa era já a doutrina Sampaio, explícita em intervenções e escritos anteriores. Esta é uma evolução do sistema bem positiva. Quem, como eu, se lembra da acção lamentável de um Presidente (Eanes) que fazia e desfazia governos a seu bel-prazer, recusando solidariedade com quem nomeava e rejeitando soluções negociadas no quadro parlamentar, criando com este comportamento errático inúmeros custos para o país, só pode entender esta evolução como um sinal de maturidade do regime democrático, de saudável reforço da sua componente parlamentar e dos hábitos de estabilidade política.
Quanto ao processo de substituição do líder do PSD, deixei aqui a minha opinião. Não foi essa a opção escolhida pelo PSD, paciência - haverá outras oportunidades para retirar conclusões deste processo. Uma coisa é certa - a solução adoptada foi legítima à luz dos estatutos do Partido. Tinha consequências e perigos políticos para os quais apontei no mesmo post. De qualquer modo, o actual líder do PSD e Primeiro-Ministro tem toda a legitimidade formal e política para exercer esses cargos, o que não é o mesmo que dizer que a sua posição não tem fragilidades (estou aliás certo que o próprio, melhor que ninguém, tem consciência disso). O novo governo, como todos os outros, tem direito, pelo menos, ao benefício da dúvida (como o clima blogosférico anda, é melhor não falar em estado de graça ou noutros clichés usuais em situações similares, sob pena de sermos lapidarmente rotulados como santanistas ou quem sabe - ó ignomínia !- como santanetes).
Já agora, aproveito a oportunidade para pedir penhoradamente desculpa ao nosso sentinela do convés por não denotar um espírito particularmente exaltado. Por não remeter ninguém sumariamente como arguido para o tribunal da história (?!), como fez aqui o nosso PC com o Presidente da República, ainda antes da questão se colocar (e a solução ter sequer sido pensada, quanto mais anunciada). Um momento em que certamente mediu com sensatez as suas palavras.
Aquilo em que não alinho, e (já agora) deixei aqui escrito, é em discursos diabolizadores ou canonizadores de protagonistas políticos. Nesse trilho não me apanham. Por não apreciar especialmente a hiper-personalização da Política, não colaboro nela, pela positiva (idolatrando e publicitando) nem pela negativa (contribuindo para a vitimização alheia).
Como vê o nosso PC pelos links expostos, já havia por esta nau fora muita opinião minha sobre o momento que o país viveu no último mês. Depois fui à minha vida (que também a tenho, para além do blogue). Há, contudo, um ponto no qual concordo totalmente com o meu amigo PC: andam por aí muitos espíritos maliciosos e retorcidos. Daqueles que, quer se diga uma coisa ou escreva o contrário, ou até se opte pelo silêncio, estão sempre prontos a concluir argutamente: "é sintomático, altamente sintomático".
posted by NMP on 2:52 da manhã
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SINAIS DOS TEMPOS: Já se sabe que Agosto é, em geral, um mês de maré baixa na blogosfera. Mais ainda no Mar Salgado, por causas várias: temos o FNV refugiado, o VLX de férias e o TRM continua a monte. Além disso, a crítica a Jorge Sampaio, que ocupava cerca de 50% do espaço deste blogue, sumiu-se por completo, como a água da rebentação pela areia abaixo. De há um mês para cá, Sampaio é um homem lúcido, sereno, imparcial, consciencioso e, por isso, deixou de existir.
Ainda restam os incêndios e a campanha eleitoral americana, de que o nosso Comandante dá regularmente boa nota. Os leitores atentos estranharão que, depois da feliz coincidência da crise política nacional com as atribulações que provocaram a sua ausência temporária, o nosso Grande Timoneiro não tenha ainda escrito um postzito sobre o assunto. Os mais maliciosos pensarão até que é um silêncio "sintomático, altamente sintomático". Mas a todos assevero que, mais dia menos dia, o NMP nos dará a conhecer o seu pensamento acerca do processo de sucessão de Barroso e, sobretudo, da formação do novo Governo. Só que as coisas importantes levam tempo, e esse será, certamente, um texto de maturidade.
O ÚLTIMO DOS MOICANOS: Embora não me reveja nas opiniões políticas de Manuel Alegre, não posso deixar de manifestar a minha admiração por um democrata que se move por ideais, defende convicções e assume corajosamente a luta por aquilo que julga estar certo. Sendo um caso raro nos tempos que correm, não deve ser fácil para "Rafael" confrontar-se com os "reis do charme mediático", Santana e Sócrates.
Estes últimos são mestres a cavalgar a verdadeira locomotiva do poder neste país: os media e, sobretudo, a televisão. Santana fá-lo de uma forma natural. Sócrates também o faz, embora revelando muito trabalho, de pose e de discurso, para chegar onde chegou. Um charme mediático natural versus um enlatado. De qualquer modo, nenhum serve ao país.
A tendência política actual aponta - graças a Deus - para o sacrifício da ideologia em prol da boa governação. No entanto, tem que existir um "conteúdo político" que norteie as opções de cada um. E é muito importante conhecer o "conteúdo político" dos nossos lideres políticos, nos casos em que esse conteúdo exista, ou então conhecer mesmo a ausência desse conteúdo nos restantes casos.
Por outras palavras, no cenário político actual Manuel Alegre pouco poderá fazer contra as máscaras mediáticas, que servem perfeitamente num cenário de administração ordinária. Mas, num cenário de crise total, o país não pode ficar entregue a um fantasma (a memória de Sá Carneiro) ou nas mãos de um qualquer autor cujas citações figurem no Larrousse. Tem que ficar nas mãos de políticos de carne e osso e... com conteúdo político conhecido. Por isso, será natural que muitos políticos (?) passem e Manuel Alegre fique.
posted by Neptuno on 5:10 da tarde
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Em tempo de férias não há lugar para assuntos sérios...
A BICLA (memórias de um sportsman em férias): Toda a gente andava a chatear-me por causa da inactividade pelo que resolvi comprar uma bicla.
Ou, precisando, o que comprei mesmo foi um selim. E que selim!... Era o melhor e o maior da loja. Era tão bom, tão bom, tão bom que foi o último que o vendedor me trouxe para mostrar ("Só se for então isto...", disse ele, parecendo estranhamente enfastiado).
De certeza que tinha ficado por lá esquecido pois não se justifica que um selim tão bom estivesse tantos anos sem se vender (já nem se percebia a etiqueta nem ninguém sabia o seu verdadeiro preço...).
O meu selim é mesmo o máximo! Anda tudo doido com ele, todos querem montar nele, experimentá-lo, sentir as molas, eu sei lá que mais... Sim, que o selim das biclas de hoje (vá-se lá chamar selim a esses! Umas banquetas, são o que são...), o selim das biclas que actualmente se vendem é uma bela porcaria! Uns centímetros finíssimos de material duríssimo que magoam cruelmente o rabiosque. Dizem que a gente se habitua (dizem até que há quem goste) mas eu cá não vou nisso: naaaa!... Outros ainda colocam almofadas nas calças, mas eu não!...
Depois de incessantes buscas à procura de um daqueles velhos selins de molas, das antigas biclas dos carteiros, encontrei finalmente um selim à altura. Ou, melhor dizendo, ao peso.
(cont.)
posted by VLX on 1:07 da tarde
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OBRAS DE AGOSTO, CONFORME PALLADIO: Como entrámos em Agosto e o quarto minguante não tarda aí, é sempre bom ter presentes os utilíssimos conselhos do Lunario e Prognostico Perpetuo (1863):
"No crescente e minguante da Lua de Agosto, é bom estercar os campos, em que se ha-de semear trigo, e arrancar as cebolas para guardar, e depois de chover semear os tremoços, rabãos, nabos, e couves tardias. N'este tempo se costumam fazer as passas de figos, pêcegos, e ameixas, e semear favas e versas. Se n'este mez se ouvirem os primeiros trovões, significam mortandade de peixes no mar, e nos animaes quadrupedes; quietação, e socego nas Republicas, e muitas enfermidades no reino em que se ouvirem, conforme Leopoldo".
Para além de se confortarem na superioridade do princípio republicano, os leitores do Mar Salgado que veraneiam por aí também gostarão de saber que "n'este mez é damnosissima a companhia de mulheres, o somno do meio dia, e o banho não é mui bom; as purgas, e sangrias não se devem tomar sem grande necessidade".
Depois não digam que não avisámos.
posted by PC on 5:01 da manhã
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COM A SAUDADE de todos os que, desde as primeiras palavras aqui escritas, sempre em Si se inspiraram.
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
Sophia
posted by NMP on 1:42 da manhã
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ISTO NÃO SE FAZ, PÁ: Durante o mês de ausência de actividade bloguística surgiram muitas boas novas como o Esplanar e o Quase Famosos (que é uma excelente fonte de actualização musical) e a retoma em grande forma do gato mal-cheiroso.
Mas houve também acontecimentos funestos. Desapareceu um dos meus blogues preferidos. Como bem lhe chama o JMF, ficámos sem o radar da maluqueira nacional e arredores. Ó Anarca, pá, agora sem radar como é que navegamos ?
posted by NMP on 1:21 da manhã
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NOVAS FRENTES DA GUERRA: O atentado em Bagdad a templos católicos indica uma nova fase da guerra da Al Qaeda ao mundo civilizado: a tentativa de criação de uma guerra religiosa. Esperemos que estes vis actos não sejam confundidos com a "nobre resistência nacionalista" do povo iraquiano perante o invasor imperialista.
Noutra frente, as ameaças aos edifícios do Banco Mundial, FMI, Bolsa de Nova Iorque, Citibank e Prudential parecem indicar um tentativa de diabolização do sistema financeiro internacional. A intenção política é óbvia - tentar semear a discórdia dentro do mundo ocidental, lançando pontes com os movimentos alter-globalizadores: esta gente é boa, conhece as nossas fragilidades. Estou certo que os espíritos generosos e voluntaristas que abraçam essas causas não se deixarão toldar por uma táctica tão tosca.
P.S. - Em tempo de campanha eleitoral, surgem acusações de manipulação política dos estados de alerta. Não adiro a essas teses de conspiração conjuntural, até por me parecer impossível que funcionários públicos, políticos dos mais variados quadrantes e jornalistas participassem todos numa conjura. De qualquer modo, fica aqui a nota de que, na minha opinião, se tal fosse verdade, seria motivo para destituição de qualquer Administração ou governo.
A IDEIA: Quando no post abaixo criticámos Kerry por não ter aproveitado totalmente o palco privilegiado que a convenção democrata, fizemo-lo sobretudo por não ter sido capaz de lançar uma ideia que venha a marcar o debate político até ás eleições. Afirmou-se apenas como o depositário do ódio a Bush. O presidente terá assim oportunidade de tentar lançar a ideia central da campanha.
De há algum tempo para cá, os republicanos têm vindo a namorar e testar a ideia de ownership society. Esta ideia poder-se-á tornar o tema da campanha republicana. Assenta na ideia de que a noção de propriedade é condição necessária para uma sociedade mais livre e para a criação e desenvolvimento de um sentimento de responsabilização e respeito do indivíduo perante e pelos outros. A expressão em inglês permite nuances, uma vez que ownership se refere não apenas à propriedade física de algo, mas pode também ser entendido como definindo um sentimento de pertença a uma comunidade ou de adesão voluntária e reflectida a um conjunto de valores e comportamentos. Um consulta a este site do Cato Institute permite conhecer os antecedentes e pressupostos filosóficos da ideia de ownership society - o Cato Institute limita-se a recomendar a aplicação deste conceito à Educação, Segurança Social e Saúde. Os republicanos têm indicado querer aplicar o conceito de uma forma mais vasta, aproveitando o sentido ambíguo da expressão, cobrindo desde a apologia da propriedade privada até à definição de medidas ambientais.
Não se pretende discutir aqui os méritos deste conceito: poder-se-á discutir a latente insensibilidade social de uma ideia que nada diz aos mais pobres, aos que nada possuem, nem têm perspectivas de vir a possuir. É certo, no entanto, que num país com milhões de proprietários de carros e casas e uma classe média que se define pelo que tem ou aspira vir a ter, o conceito de ownership society tem claras potencialidades eleitorais.
Sobretudo num país em que, na última década, todos os candidatos bem sucedidos têm sido os que lançam uma ideia forte. Bill Clinton em 1992, com o It's the Economy, Stupid, ilustrando e interpretando o sentimento da classe média em tratar da economia após o triunfo na guerra fria. O mesmo Clinton em 1996, com a Bridge to the XXI Century, dando uma ideia de modernidade e de criação de condições para o aprofundamento da revolução tecnológica e de informação dos anos 90. Bush em 2000 e o seu compassionate conservatism, acrescentando uma roupagem social às ideias conservadoras. E mesmo Gore (que, apesar de ter perdido uma eleição de forma sui generis, tem de ser considerado um candidato bem sucedido na divulgação da sua mensagem) se candidatou debaixo de uma ideia forte: a de defensor do little guy contra os gigantes empresariais.
Claro que num tempo especial, de guerra e ameaça terrorista, pode acontecer que nada disto interesse. Essa parece ser a aposta de Kerry: fazer da eleição um luta de carácteres e personalidades entre um herói de guerra (ele) e um presidente sem provas pessoais dadas nesse campo. Tem muito por onde atacar - desde o processo de detecção das supostas armas de destruição massiva (que, enquanto defensor da intervenção no Iraque, ainda me está entalado na garganta) até à gestão do Iraque pós-final das manobras militares. Kerry pode também criticar fundamentdamente a gestão económica de Bush, apesar da notória retoma de economia (os défices orçamental e comercial são claras fragilidades da Administração). Parece no entanto faltar-lhe uma ideia, um conceito, um slogan do que seria uma presidência Kerry (Stronger America, com toda a franqueza, não quer dizer nada e não é uma proposta, é uma boa intenção que pode ser partilhada por todos os candidatos).
Enfim, um atentado terrorista e se calhar tudo isto muda. De qualquer modo, na disputa da definição dos termos do debate político, Kerry parece estar a perder o pé. Ou apresenta um conceito, uma proposta, uma visão, ou arrisca-se a passar o tempo a discutir uma ideia na qual não tem nenhuma ownership.
posted by NMP on 11:33 da tarde
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ORATÓRIA: A história das convenções democratas são pontuadas por discursos que ultrapassam a importância do momento que ficam pra sempre registados na História. Foi assim com Jesse Jackson em 1998, com Mario Cuomo em 1984, com Clinton em 1992.
Este ano o principal candidato a registo na História foi o extraordinário discurso de Barack Obama, filho de imigrantes do Quénia e candidato a senador no Illinois. Independentemente da concordância ou discordância com o conteúdo é uma brilhante e empolgante peça de oratória. Aqui fica um link para a versão integral do discurso (é preciso o Real Player ou o Windows Media).
posted by NMP on 11:30 da tarde
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A CONVENÇÃO: O Partido Democrata pretendia obter um impulso favorável nas sondagens nos dias e semanas pós-convenção. Para tal, coreografou uma reunião em que todos os pormenores foram pensados para transmitir uma imagem de unidade. O outro objectivo era o de mostrar o lado humano de Kerry, ainda desconhecido de muitos americanos e com uma imagem de snob, distante e frio. Veteranos, família e todo o melhor talento oratório democrata (de Bill Cinton a John Edwards) foi colocado ao serviço da "humanização" de Kerry.
Desconhece-se o efeito total nas sondagens (só daqui a uns dias será possível apurar o efeito da convenção). Mas parece consensual que um crescimento ns sondagens a la Bill Clinton, que teve um aumento nas intenões de voto depois da convenção democrata de 1992 entre 15 a 25 pontos, está fora de causa. A eleição de Novembro vai continuar a ser disputada taco a taco.
O discurso de Kerry foi muito bem recebido pelos media. Seja por inclinação natural ou puro interesse em elevar a barra para o discurso de Bush na Convenção republicana, este efeito já é uma vitória de Kerry. Pode, no entanto, revelar-se uma vitória de curto efeito e sem consequências de maior.
A intervenção de Kerry foi, a meu ver, muito defensiva. Ainda que disfarçando por vezes sob a capa de ataques aparentemente certeiros a Bush, Kerry pretendeu passar a ideia de que estava preparado para comandar um país em guerra. Mas fê-lo apontando sobretudo algumas inconsistências da Administração Bush. Não apresentou um plano, propostas de organização de segurança e militares (e o recente relatório da comissão de investigação do 11 de Setembro seria uma excelente fonte de inspiração).
Na área interna, de gestão da economia, a história repetiu-se. Muitas críticas, por vezes bem legítimas e fundamentadas, mas nem uma ideia, uma sugestão. Kerry perdeu aqui uma excelente oportunidade de ouro para tentar definir os parâmetros da discussão política até Novembro. E já agora de definitivamente se destacar de Bush nas sondagens, discutindo pela América o seu programa e não as suas divergências com o Presidente. Que diferença com o Bill Clinton de 1992, que se apresentou como o campeão das aspirações da classe média, elegendo a economia como o seu cavalo de batalha, condicionando toda a discussão posterior.
posted by NMP on 10:49 da tarde
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EMPLENO: Como se vê pelo título as dificuldades técnicas foram definitivamente superadas. A emissão será retomada durante o dia de hoje, em pleno.
Esta coisa das cores, das fontes e da importação de imagens tem potencialidades infinitas. Parece-me que vamos ter um verão animado.
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