LENINE & OS ROMANOV: Mourinho, Deco, P.Ferreira, R. Carvalho, e agora Carlos Alberto e Derlei: pouco a pouco Pinto da Costa vai fazendo tudo para ser o único símbolo vivo e presente de dois anos inesquecíveis. O habitual, para quem nunca comemora Pedroto, ostracizou Gomes ( O bi-bota), incompatibilizou-se com Octávio e "há muito que não fala com Mourinho".
Estou a apreciar bastante a cruzada mítica deste ano, até porque permanecem no FCP, o Areias, o Hugo Leal, e aquele rapaz que ostenta o título mundial de golos falhados à frente da baliza, o Postiga; estes sim, imprescindíveis.
Já agora, e se não for pedir muito, Presidente, venda também o Maniche: olhe que ainda há quem se lembre dos golos memoráveis do rapaz.
posted by FNV on 1:42 da tarde
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OS NOSSOS NETOS QUE SE CUIDEM: Ainda da SIC-N vieram os resultados da última sondagem. Quem assistia comigo à notícia felicitava-se pelo facto de aparentemente o PS vir a descer nas intenções de voto e não conseguir alcançar a maioria absoluta. E isto enquanto os outros ainda não saíram em campanha o que, pelo menos no caso do CDS e de Paulo Portas, era apontado pelo próprio responsável da sondagem como uma variável importante e a ter em consideração.
Confesso que isso só não me chega. A vitória do PS, mesmo que minoritário, não me traz alegria alguma. Faz-me sempre lembrar aquela malta que, logo a seguir ao desbaratamento comunista do pós vinte e cinco do quatro, acabou definitivamente com as poupanças da geração anterior; aqueles que, no primeiro governo de Guterres, arrebentaram com as poupanças da geração actual, e aqueles que, no segundo governo de Guterres, delapidaram as poupanças da geração que nos segue com as scuts e outros disparates e facilidades do género. Se voltam para o governo e sem poupanças à vista, os nossos netos que se cuidem: vão pagar os próximos anos...
posted by VLX on 2:36 da manhã
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O PRESIDENTE DE ALGUNS PORTUGUESES: Veio à televisão. Veio à SIC-N dizer que é a favor de maiorias e que é preciso mudar o sistema eleitoral para que se formem mais facilmente maiorias absolutas. Foi um grande momento televisivo. Aquilo foi de tal forma espantoso que Pacheco Pereira, geralmente discreto e habituado a estas coisas, virou para ele a cara, espantada, provavelmente sem saber se se deveria rir da piada ou se deveria pôr um ar sério. Mas Dr. Sampaio só pode estar a gozar connosco: ele acabou de arrebentar com uma maioria absoluta, dissolvendo o Parlamento e convocando eleições legislativas, e agora vem dizer que é a favor de maiorias? Que o sistema eleitoral deve mudar para favorecer o aparecimento de maiorias? Pensará ele que somos todos tolos? Para que quer ele maiorias se um qualquer Presidente pode desrespeitá-las e dissolver o Parlamento sem apresentar justificações claras e objectivas? Para vir outro fazer o mesmo? Ou não tem respeito por quem o ouve ou então o Presidente da República está uma vez mais a dar razão àqueles que dizem que o árbitro é parcial. De qualquer forma é grave.
RESPOSTA AO JOSÉ MÁRIO SILVA: Do Blogue De Esquerda. Caro JMS, não tenho acesso à minha própria caixa de comentários nem a links directos, o que explica parte deste post. O teu blogue não foi linkado porque é o PC que amavelmente me faz os links e o texto saiu truncado no dia em que o publiquei ( a weblog festava intermitente ou lá que o era).
Quanto à substância do teu comentário ( no meu post "Engasgaram-se", aí abaixo) não julgo ter havido acrimónia nem violência da minha parte: talvez excessiva sensibilidade da tua. Tanto vocês como o Barnabé comentam muita coisa ( e em tom bem mais musculado) todos os dias, quase em tempo real. Limitei-me, com ironia limitada, a sublinhar que não houve na altura qualquer referência ( não sei se entretanto já a fizeram) ao histórico acordo patrões/sindicatos ( de facto não me recordo de ver a CGTP a assinar acordos com os patrões). É óbvio que li a coisa como espinhosa para vocês, não nego.
Um abraço blogosférico,
FNV.
posted by FNV on 2:43 da tarde
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SUCUPIRA: Afinal e segundo Jaime Soares - líder da distrital do PSD em Coimbra - a camarada Zita terá vivido em Coimbra até aos quatro, cinco aninhos. É esta gente que hoje manda no país. O mais grave nem sequer é o próprio disparate em si. É a confiança - leia-se "dislate", na óptica de qualquer pessoa séria - de quem o profere de que com esse "argumento" estará validamente a calar os descontentes e a convencer o eleitorado. E o mais grave é que provavelmente... estará!
Na ditadura partidária em que vivemos, convem não perder de vista que a uma classe política mediocre interessa uma população igualmente mediocre, como forma de se perpetuar no poder.
TOPEÑANDO: De Luís Tosar, galego de origem argentina, co-editor da Dombate, jornalista, professor de língua e literatura galega, este trecho; vai com amizade marítima para a malta da Natureza do Mal, que resolveu meter-se comigo:
"Nesta luz incerta que separa os corpos,
ben me decato de ser un barco triste
con ansia de sombra nun porto pola tarde,
topeñando nas rochas e cumes máis extraños,
escorándo-me de vez no acedo da soidade.
oíndo de hora en hora a chamada das buguinas,
que fan ergue-las nosas ondas sobre a proa
na máxica visión que a modo vai queimando
a ardentía e a cor que afogam as palabras."
posted by FNV on 7:00 da tarde
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NOVOS HERÉTICOS II: O Lutz deixou aqui um comentário que merece reflexão e, na medida do meu possível, resposta.
Talvez sejam coisas diferentes, mas, da transcrição que li, em vários lugares, da famigerada entrevista, não me pareceu que nem uma, nem outra, justificassem a imolação da senhora na praça pública, com insultos infames e direito a fotografia. Sobretudo se tivermos em atenção as circunstâncias. A entrevista foi editada? Aquelas palavras têm necessariamente o sentido de que quem as profere se está a marimbar para o sofrimento dos outros e quer apenas ver uma catástrofe ao natural? Podemos todos garantir que, numa situação de entrevista não preparada, temos sempre um controlo total sobre nós próprios, de forma a não dizer frases ambíguas ou infelizes?
A comparação com os heréticos não foi um efeito de estilo. A partir de certa altura, os heréticos deixaram de ser apenas os que recusavam, com pertinácia, as verdades e os dogmas da fé, para serem também, entre outros, os supersticiosos e os que não prestavam o devido apoio ao Santo Ofício. Muito longe, portanto, do sentido original da heresia - mas escarmentada, julgada e punida como heresia. Tal como então, as reacções enfurecidas e indignadas a que assistimos não atendem propriamente ao Mal, mas àquilo que, na sua ausência (ou pelo menos: na incerteza da sua presença), é necessário construir como Mal para a confirmação - por oposição - de uma identidade colectiva como boa. Não interessa verdadeiramente o que foi dito, nem o que a senhora quis dizer, mas sim o sentido negativo que se pode imputar às afirmações. Só que o Mal precisa de um suporte, e quanto mais visível melhor. Vai então de corporizá-lo na pessoa, que é sempre o alvo mais fácil, em nada importando os danos que injustamente se lhe possam causar. É isto que chamo atavismo - ou, se preferir, falta de emancipação.
posted by PC on 2:17 da tarde
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CENTILITROS: Um outro aforisma psico-popular é o que garante que os pais gostam da mesma forma de todos os filhos. Como se fosse natural gostar da mesma maneira de pessoas diferentes. Como se fosse natural que crianças com um remix genético já de si desigual e que ainda por cima nos nascem em épocas diferentes da nossa vida - lembras-te? na altura usava bigode - possam ser amadas com o mesmo medidor. Como se fosse possível medir.
E LA NAVE VA: Da imprensa desportiva: "Santana Lopes condecora hoje o Fc Porto pela conquista da Taça Intercontinental". Presumindo que Pôncio Monteiro estará lá, aconselho vivamente, se houver bufete, a esconderem as facas.
posted by FNV on 1:13 da tarde
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VENDER CHOURIÇOS: Quando o povo pergunta ao Salsicheiro que castigo vai dar a Paflagónio, recebe a seguinte resposta :
"Nada de especial: vai só passar ele para o meu negócio. Há-de ir, sozinho, vender chouriços para a entrada da cidade: é vê-lo misturar carne de cão e de burro, como fazia com a política. Com uns copitos a mais., há-de pôr-se a insultar as marafonas e a beber a água suja dos banhos públicos."
Paflagónio não é outro senão Cléon, que Aristófanes apresenta como um demagogo do piorio, devorador do erário público. Aristófanes apresentou a peça Os Cavaleiros ( o trecho citado é a tirada final do Salsicheiro e a tradução utilizada é a de Maria de Fátima Sousa e Silva, INIC, Coimbra 1991) no Festival das Leneias, e venceu, derrotando Os Sátiros de Cratino e Os Lenhadores de Aristómenes. O lema do Salsicheiro é "cada demagogo será pior do que o anterior"e convém recordar que, por esta altura ( último quartel do século V a.C.), "demagogo" já tinha perdido o seu significado original de "condutor do povo", para adquirir o seu significado actual.
posted by FNV on 11:50 da manhã
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NOVOS HERÉTICOS E SEUS AUTOS-DE-FÉ*: Quando li este post do Miguel, não fazia ideia de quem era Dulce Ferreira. Uma busca rápida no Google mostrou-me o estado da questão em todo o seu esplendor: um coro de protestos e insultos, alguns encabeçados pela foto da senhora, entoados por bloggers escandalizados e enraivecidos. E o que fez a dita Dulce para merecer as chamas? Disse que não tinha cancelado as suas férias na Tailândia, porque os pais, que se encontravam no país, lhe tinham dito que, no local onde estavam, não havia perigo. Mais disse que tinha pena de não poder disfrutar das condições normais, mas que, por outro lado, seria bom ver as coisas "ao natural", sem turistas.
Como bem lembra o Cabalas, na altura em que a rapariga falou à jornalista, ninguém tinha a noção da dimensão da catástrofe. Além disso, parece evidente que, ao falar da "ausência de turistas", ela não se referia às vítimas, mas sim aos que, muito legitimamente, decidiram cancelar as suas férias. Por último: de certeza que as férias da Dulce deixam muito mais dinheiro na Tailândia do que as contribuições dos inquisidores todas somadas.
Pode discutir-se a (in)conveniência das afirmações, ou do seu modo - embora o tema não se afigure muito interessante. Mas a sanha da turba e os epítetos despropositados com que brindaram a infeliz não são só, Miguel, de uma "pequenez" confrangedora: são também o sintoma de uma sociedade que precisa desesperadamente de heréticos. E isto tem um nome: atavismo.
*Post em forma de prémio para a Origem do Amor. Gradisca!
posted by PC on 1:45 da manhã
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ENGASGARAM-SE: Venho do Barnabée do Blog de Esquerda e não li uma linha sobre o acordo entre patrões e confederações sindicais ( sim, o Carvalho da Silva e a CGTP também o assinaram). Não me espanto, nunca pensei propriamente que esta rapaziada se interessasse de facto pelos problemas do povo trabalhador. Os cartazes de Santana Lopes, o Tsunami, o Liedson ( !!) e um "paquistanês a tocar címbalo", mereceram desvelada atenção no dia que hoje finda no referidos blogues. Agora, um acordo histórico entre patrões e sindicatos sobre a contratação colectiva? Who cares?
posted by FNV on 10:20 da tarde
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A ONORATA SOCIETÁ: Desde que escrevo no Mar Salgado que tenho defendido a tese da futebolização da vida política portuguesa. Não é nada de especialmente inovador, outros noutras paragens também o têm feito. Mas o que eu quero dizer com o termo, cabe-me a mim. Não se trata de "falta de nível", para isso não é preciso futebolizar. Não se trata da superficialidade dos projectos, do império do efémero, para isso também não é necessário ir buscar o exemplo dos cromos da bola.
A futebolização da vida política pode ser melhor entendida por quem vê os Sopranos ou por quem viu o Tudo Bons Rapazes, do Scorcese. Do que se trata é em primeiro lugar é de uma vaga noção de inimputabilidade alicerçada na interpretação dos "desejos do povo". Mas não só, porque não chega. No futebol, as "massas" são despolitizadas, porque o que interessa é vencer. Não importa como, mas apenas vencer. E depois, o elemento identitário: todos são amigos enquanto não são inimigos. Na vida política das ideologias, tal nem sempre é possível; já no futebol, "o que hoje é verdade amanhã é mentira". No centro, o poder, finalmente despido de qualquer resquício de significado positivo. Na periferia, as amizades juradas, os afectos desmedidos, as traições, as birras, a histeria: em suma o teatro persistente, sem outro público que não os próprios actores.
O "Caso Pôncio" ilustra abertamente a minha tese. Mas a putativa/eterna candidatura de Pinto de Costa a qualquer coisa, por qualquer partido ou talvez por nenhum, ou a patética declaração de Vilarinho há três anos, também. A facção agrega toda a gente com base em amizades, o povo é sereno, e a prazo, como no futebol com os árbitros, a justiça será a grande inimiga: aquela que os impede de dar ao povo o que ele merece.
Mafia vem simplesmente de Mia Fide, a Minha Fé, o meu credo. O credo nos nossos, o credo nos que nos alimentam, mas também nos que nos ficam gratos, outra designação para devedores. O resto é paisagem. Ondulante.
posted by FNV on 8:55 da tarde
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FALÊNCIA DO SISTEMA: Embora devidamente repisado neste blogue, o estafado tema da falência do nosso sistema político sempre ganha nova actualidade em véspera de eleições. Entre outras razões, as mais óbvias residem no facto da esmagadora maioria (95%) dos votantes não saber quem são os números dois (muitas vezes nem o número um) e seguintes da lista partidária do distrito em que vota. Ao abrigo deste voto "esclarecido", podemos afirmar que 90% dos deputados não são verdadeiramente eleitos mas sim escolhidos pelos orgãos do respectivo partido. Outra situação reside no facto das pessoas pensarem que a eleição dos deputados por determinado distrito as levará a defender esse mesmo distrito. Salvo raras e honrosas excepções tal não acontece (nem mesmo no Parlamento europeu certos deputados defendem o interesse nacional...) nem, de um ponto de vista legal, deverá acontecer, uma vez que os deputados representam a população no seu todo e não uma qualquer região. Mas duvido que os eleitores pensem assim.
Finalmente e como prova cabal da interplanetária distância entre eleitores e eleitos, veja-se o caso da escolha de Zita Seabra para candidata do PSD por Coimbra. A senhora nunca terá parado por Coimbra a não ser para visitar o Portugal dos Pequenitos ou para pregar as maravilhas de um sistema totalitário em que acreditava e que, entretanto, sumiu. Tal não impediu as iluminárias partidárias de impor o seu nome para Coimbra, numa cada vez mais assumida ditadura partidária em que se transformou a nossa democracia. Nesta lógica totalitária - que na sua perversidade tem o mérito de assumir a realidade: que os eleitores são, de facto, um mero acessório dos eleitos - a escolha de Zita Seabra é mais facilmente compreensível...
Se tentarmos descodificar a mensagem do PPD/PSD para os seus apoiantes e simpatizantes que votam em Coimbra, será qualquer coisa como: "Vocês, seus palhaços, percebam de vez que as estruturas partidárias é que mandam. E vocês só votam em quem e como nós quisermos!"
posted by Neptuno on 5:02 da tarde
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A MULHER DO CAPATAZ: MM Guedes, com a confiança típica que sempre se denota em situações semelhantes à que disfruta na TVI, sempre que lhe cabe apresentar o Jornal Nacional é rara a ocasião em que não aproveita para incarnar o pulsar do bom povo telespectador, debitando "pérolas" dignas de um salão de cabeleireiro. Quando não ocorre nenhuma "pérola" a solução é recorrer à mão na anca e desancar quem estiver a jeito ou adoptar um tom reprovador para eventuais "culpados", mesmo que se trate de processos judiciais em curso. Ainda recentemente, a propósito de um video de Natal produzido pela Casa Branca em que a estrela do filme é o cão de estimação e não o próprio presidente Bush, afirmou que o critério que norteou a escolha do protagonista foi o do QI.
Dando de barato que a educação e o bom senso poderão não ser igualmente exigíveis para todos, pergunto se não haverá critérios deontológicos para estas situações?
posted by Neptuno on 4:16 da tarde
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CIMENTO & BOLA: O novo estádio de Leiria regista uma assistência média de 6000 pessoas e vai ser utilizado para casamentos e baptizados, o de Coimbra regista uma audiência média sensivelmente igual ( pelas minhas contas, que tenho lá estado em todos os jogos). Aveiro vai pelo mesmo caminho, Guimarães pouco melhor, o que não é necessariamente bom dado o hábito que têm por lá de atirar cadeiras para dentro do relvado.
Mas Coimbra é um caso especial pois que é o da cidade onde vivo. Na altura da inauguração do estádio foi dito pomposamente - e contra os estúpidos como eu - que o estádio pagava-se a si próprio. A Câmara ficou endividada para os próximos 30 anos mas o estádio iria ser aproveitado, e o exemplo para patêgo ver foi o concerto inaugural dos Stones. Desde aí mais nada, repito nada - concerto rock, jazz, folk, dread-metal, pauliteiros - foi feito no estádio. A sua admnistração foi entregue a uma empresa privada e hoje o investimento de 15 (?) milhões de contos, grande parte suportado pela Câmara Municipal, serve para os habituais sócios da Briosa e para os estudantes assistirem, estes últimos quase de borla, aos pardacentos jogos da Super-Liga.
Tudo isto se fez sem oposição ( houve uns esboços por parte do PCP) e em absoluto consenso urbano-político das "forças vivas da cidade". Enquanto isso, a Alta de Coimbra, património do mundo, recebeu finalmente a primeira e mísera fatia - 3 milhões de euros - destinada a dignificá-la, Coimbra continua sem uma sala decente de espectáculos e congressos, o Teatro Académico Gil Vicente continua nas lonas ( ontem demitiu-se o seu director), e grande parte dos arredores da cidade permanecem sem saneamento básico. Na altura recordo-me das discussões que tive com o meu caro Neptuno, que não compreendia as minhas caturras objecções, eu "que até gostava da bola". Hoje é ele quem escreve ardentemente aqui no Mar Salgado contra a degradação da vida pública, da cultura e da educação, contra a mediocridade e o facilitismo em Portugal. Essas coisas também passaram por Coimbra.
posted by FNV on 3:39 da tarde
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AS LISTAS DE DEPUTADOS:: Pelo grande Fialho de Almeida, nos Gatos, vol. II:
"Não há escritor falhado, não há filho de conselheiro hidrocéfalo, não há ricaço pândego, traficante odiento, cínico velho, bacharel vadio, amanuense inútil, que ao fazer a autópsia de si mesmo, reconhecendo-se falho, não tenha apelado para este hospício de S.Bento, onde o não ter cabeça rende três mil-réis por dia, sobre as vantagens de se não ir preso, e de se poder arranjar, às tenças da eleição, para o resto da vida, uma chuchadeira burocrática. Oh, Santo Deus, que tipos! Antigamente metiam-se os microcéfalos nos asilos."
2005, O ANO DE SAMPAIO II?: No seu discurso de Ano Novo o PR apelou aos maiores partidos políticos para que, após as eleições, se entendam quanto às reformas urgentes de que o país carece, desse modo promovendo o aventado "pacto de regime". Ao fazê-lo desta forma, desde logo o matou e, simultaneamente, sacudiu a água do capote.
Um pacto de regime só terá viabilidade se for assegurado antes das eleições, antes das inúmeras promessas suicidas - se levadas à prática - que vamos ouvir nas próximas semanas. Sampaio teria que confrontar diariamente os partidos com a situação do país, deveria confrontá-los diariamente com as consequências para o país da falta desse pacto. Deveria batalhar por ele. Ao remeter a questão para o período pós-eleitoral, Sampaio agiu como Pilatos. Embora conhecedor do (da ausência de) resultado da sua acção, consegue "passar" a imagem de que "fez o que podia", "alertou" e "apelou" mas, infelizmente, os malandros não lhe deram ouvidos.
Admitindo como certo que não haverá pacto nenhum, a actuação de Sampaio permite duas leituras antagónicas: Por um lado, podemos afirmar que o PR é vítima de alguma ingenuidade bem intencionada, tentanto afastar qualquer espécie de conflito que o afecte, por melhor que seja a causa a defender, vestindo em alternativa o fato do gajo porreiro - que nos levou à presente situação - que se limita a dizer "vejam lá se fazem assim, ó rapaziada". Por outro lado, podemos pensar que o PR sabia exactamente qual seria o (não) resultado desta sua actuação. A imposição de um pacto de regime pré-eleitoral implicaria que os maiores partidos assumiriam compromissos tendentes à aplicação de medidas que serão certamente impopulares. O que, obviamente, impediria o PS de cavalgar a onda do descontentamento generalizado da população, de algum modo desperdiçando esse capital eleitoral.
De uma forma ou de outra, nada de novo na frente, teremos mais do mesmo. Preparemo-nos para o pior.
posted by Neptuno on 1:45 da tarde
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SWINGING: A Pública tem uma secção de sexologia que me diverte imenso. Esta semana, Ana Pinto da Costa faz a crítica da monogamia e a apologia do swinging ( troca de casais), citando um estudo de um médico - José Cádima - que conclui "que os swingers têm casamentos mais duradouros, são mais felizes e sentem menos ciúmes que os casais sexualmente fiéis".
Como nestas matérias gosto mais de Tertuliano do que de sexólogos, não acredito em casais sexualmente fiéis: se desejas no olhar, já traiste no coração. O resto é mecânica do controlo dos impulsos e conversa para boi dormir. Mas deliciosa é a conclusão ( segundo a colunista) do tal estudo: serei mais feliz, menos ciumento e estarei casado mais tempo se a minha mulher regularmente se deitar com terceiros. O ciúme ( vg Otelo, O Mouro de Veneza) é essencialmente suspeita, logo, desaparecendo esta, desaparece o combustível do sofredor; assim, a lógica do artigo citado é que como na cama nunca estão só duas pessoas ( a colunista refere-se à máxima freudiana), mais vale relaxar a relação e dar alma ao corpinho.
A estupidez é muito mais frequente do que se imagina. Não passa pela cabeça desta gente que não estamos cá para sermos felizes, nem que tal é virtualmente impossível numa longa relação. Numa longa relação há de tudo, não é o mundo da Barbie ( o de Ana Pinto da Costa): ódio, traição, amor, desejo, morte, partos ( nem sempre), dinheiro, memórias. Mas também não passa pela cabeça desta gente que uma das coisas que pode manter um casal é precisamente a possibilidade do outro ser desejado fora da relação. E isto é bom e mau, mas não tem nada a ver com felicidade. De um ponto de vista vagamente masculino, eu diria que uma mulher é tanto mais sexualmente atraente para o marido quanto ele calcule que ela pode ser ( e é) desejada por outros. O inverso é também verdadeiro, e tanto é que não existe nenhuma relação entre a duração de um relacionamento e desaparecimento da atracção sexual: a chama tanto pode extinguir-se ao fim de um ano como ao fim de 20. Ou seja, a tal longa relação de que fala a colunista nem sempre se reduz a um tenebroso território de imposição masculina, mas também não tem nada a ver com simples satisfação sexual. São mundos diferentes, tendo ambos o direito a coexistir, naturalmente.
Foi Blanchot que definiu magistralmente o desejo: é a distância tornada sensível. Blanchot não queria saber de macacos.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.