RECEBER: Depois de uma belíssima lapiseira em vidro oferecida pelo João Paulo Pedrosa, dedicado e crítico autarca leitor desta nau, recebo agora de outro leitor, Miguel de Montenegro o Persona Non Grata de Jorge Edwards. O Miguel com nome de Conde (de Montecristo), em vez de se vingar ( como o dito Conde) prebendou-me. Oferecer, se levarmos Focault e Nietzsche a sério, é sempre um acto de poder: um esmola, uma graça, um Ferrari, um elogio. Mas receber, o que é?
Somos todos bons aceitadores, desde que o que aceitamos não nos ofenda ou não nos dê trabalhos. Um elogio ao nosso carácter ou ao nosso pensamento recebe-se bem, uma crítica não. Depois há aquilo que fica no meio de território nenhum, aquilo que temos de receber, quer queiramos ou não, quer seja agradável quer não. A perda, a doença, a morte (às vezes o nascimento), a guerra. Na Berlim dos dias do fim, com os russos às portas, um cônsul escandinavo notou que as filhas adolescentes da fina flor nazi ofereciam a virgindade ao primeiro velho, estropiado ou soldado em trânsito que lhes aparecesse. A guerra tolda os espíritos, dizem-me. Mas não deixa de ser compreensível que as meninas quisessem oferecer algo de precioso, antes que lho tirassem à força. Os russos por sua vez estavam apenas a retribuir gentilezas recentes.
O que nos é oferecido pela morte, pela perda, pela doença, coloca-nos um pouco no mesmo plano das adolescentes alemãs, mas no outro lado do espelho. Elas ofereciam sem verdadeiramente o querer, nós recebemos sem, de todo, o desejar: a nossa omnipotência, imaginada, esfarela-se tão alegremente quanto um cão abana a cauda ao dono, na hora da despedida.
O ser humano guarda no umbigo a possibilidade de fazer o destino, a cristandade resolveu aceitá-lo, para desespero de Nietzsche. O que recebemos sem ter pedido é uma graça ou uma maldição, mas nas nossas vidinhas de jorna ganha jorna gasta, quando maldição, só pode assumir a forma de um destino. O que é curioso, é que quando é graça, já o destino não é para aí chamado. Julgamos indubitávelmente merecer o que Dis aliter visum, como se Rifeu em nós vivesse, em Tróia ou noutro lugar qualquer.
DEBATE INTERESSANTE: Decorre um debate interessante nos media americanos que se encontram na posse das fotografias e videos de torturas e sevícias (violaçõs e actos sexuais forçados) de Abu Ghraib.
Há quem defenda que estas imagens deverão ser mostradas a todos os americanos e quem entenda que, sendo o seu conteúdo conhecido por todos e assumido até pela Administração americana, os media se deviam conter na sua divulgação. Por detrás deste debate, está uma intenção política: é óbvio que a emissão das imagens, pela impressão que causará, aumentará a comoção e revolta dos americanos. Não é no entanto líquido que tal prejudique liminarmene Bush, que se teme sforçado por distanciar dos autores destes crimes e até porque se tal fôr efectuado também o corte da cabeça de Nick Berg será transmitido integralmente.
A luta pelos critérios editoriais dos media tornou-se central em ano eleitoral. Neste período de campanha todas as emoções estão ao rubro e qualquer imagem pode fazer mudar o clima geral.
Na minha opinião, dever-se-ão aplicar os critérios normais para estas situações e não transmitir as imagens de tortura e da morte de Nick Berg. A sua transmissão nada vem acrescentar à substância do debate: apenas aumentará o clima emocional do debate público com efeitos imprevisíveis. Talvez por isso, John Kerry tem mantido um prudente silêncio sobre estas duas questões.
posted by NMP on 8:54 da tarde
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CONTORCIONISMO ARGUMENTATIVO: Continuando com as relações do Poder com o jornalismo, outro episódio esclarecedor é o da ordem de expulsão tentada do Governo brasileiro ao correspondente do New York Times.
Se esta atitude fosse tomada por um governo de direita, eleito democraticamente, teríamos tido oportunidades de ver nos blogues de esquerda denúncias sopbre "os tiques autoritários e ditatoriais do Prsidente do Brasil", a "falta de cultura democrática" do governo brasileiro, como a "democracia estava refém" e outras expressões deste tipo. Como o autor desta medida, que já não era aplicada no Braisl desde o início dos anos 70 pelo governo da ditadura militar, é um símbolo da esquerda mundial, um farol de esperança para "outra política", "outra globalização" e outros chavões do género o tom é apenas e só leve e desculpatório.
Atente-se por exemplo nas singelas, mas nada inocentes, palavras do Barnabé: "...trata-se de um erro, um enorme erro mesmo". No parágrafo seguinte solta-se a douta explicação: "Lula e muitos brasileiros estão inebriados pela forma como o Brasil tem tratado os EUA de igual para igual, nomeadamente no caso das formalidades alfandegárias a que os brasileiros são obrigados nos EUA e que foram imediatamente correspondidas no tratamento de cidadãos americanos no Brasil". Malvados dos americanos, que com as suas atitudes malévolas, provocam respostas necessárias que "inebriam" - isto pode ser um lapsus linguae, talvez o autor quisesse aqui dizer "embriagam", para que a responsabilidade do problema fosse, então sim, totalmente dos americanos.
Justiça seja feita, o Barnabé condena a actuação do governo de Lula, mas estas tentativas de desculpar e meter os americanos no problema a martelo provocam um sorriso ao mais sisudo.
posted by NMP on 8:31 da tarde
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CADA TIRO, CADA MELRO: Desde o início da intervenção no Iraque que os jornalistas ingleses tentam a todo o custo provar o suposto carácter manipulador e mentiroso do governo de Blair. Nomeadamente do primeiro-ministro.
Há uns meses foi toda a Direcção da BBC que teve de se demitir depois de se ter provado que havia ampliado, quando não fabricado, alegações falsas sobre uma alegada manipulação do conteúdo de relatórios dos serviços secretos. Claro que a esquerda blogueira, com aquele seu double standard característico, e a imprensa inglesa, em compreensível reacção corporativa, concluíram logo que Lord Hutton, outrora visto como um cidadão impoluto, se tinha vendido.
Agora foi o Daily Mirror que, levado pelo entusiasmo de atrapalhar o governo, resolveu publicar fotografias falsas sobre abusos de prisioneiros no Iraque. O editor do jornal acabou por se demitir.
Podemos gostar ou não de Tony Blair. Achar que soa a falso ou que é um líder determinado cujas convicções não são abaladas por meia dúzia de primeiras páginas. Há, no entanto, algo que podemos concluir. Nas relações com a Imprensa não tem subserviência, nem é titubeante. Quando entende que tem razão enfrenta o problema de frente. E já lá vão dois casos de flagrante e tosca manipulação informativa, com claras motivações políticas, expostos aos olhos de todos (para quem quer ver, claro).
Cada tiro, cada melro.
posted by NMP on 8:17 da tarde
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AGRADECIMENTOS E PARABÉNS: Foi actualizada a lista de agradecimentos que está lá em baixo, nos confins deste mar.
Saudações marítimas para os especialistas em desdobramento de personalidades (literariamente falando, claro) e firmes companheiros de navegação bloguística da Natureza do Mal e para os históricos (de sentido de História) combatentes destros do No Quinto dos Impérios pela passagem do seu primeiro aniversário.
posted by NMP on 8:07 da tarde
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ENGASGARAM-SE? Não que a coisa não seja grossa: não é todos os dias, nem todos os anos, nem todos os decénios que um vampiro capitalista morre e deixa 100 - milhões - 100 de contos para uma fundação. Mas também não era motivo para os blogues ditos homogéneos da esquerda combativa terem ficado tão silenciosos. Sobretudo quando gostam tanto de comentar as incidências da alta finança e dos seus barões. Tudo isto é ainda mais estranho quando se conhece ( até o Contra-Informação a imortalizou) a obsessão de um Dr.Carvalhas ou de um Dr.Louçã com os Mellos e os Champalimauds.
posted by FNV on 4:13 da tarde
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DESCULPE QUALQUER COISINHA: A imprensa de hoje descreve várias declarações de Ana Gomes, secretária do PS para as Relações Internacionais, no final de uma reunião com uma delegação do Partido Comunista Chinês; entre outras coisas ( todas sobre o assunto EUA/Iraque), Ana Gomes proclamou que os maus tratos ( leia-se tortura) nas prisões iraquianas causam graves prejuízos à imagem do mundo ocidental.
Talvez quando reunir com o primeiro-ministro do Burkina Faso, Ana Gomes aborde as condições dos presos chineses, a pena de morte na China e outras minudências do Império do Meio.
posted by FNV on 3:47 da tarde
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TRABALHO POLÍTICO: Avizinha-se mais uma jornada de árduo "trabalho político" para alguns deputados, na final da Liga dos Campeões a decorrer na próxima 4ª feira, na Alemanha. Com o descaramento costumeiro que, ainda que aviltante, já não surpreende, os representantes do povo poderão justificar dois dias de ausência no parlamento. Pudessem também os restantes portugueses justificar faltas ao trabalho com "trabalho cívico", o qual consistiria no apoio a um clube português no estrangeiro. Mas não podem. Nem devem, porque modelos como estes é que explicam o estado em que o país se encontra. Resta-lhes a indignação cívica, a qual, actualmente, mais não traduz do que um mero e singelo lamento. Lamento.
posted by Neptuno on 11:14 da manhã
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O QUE CONTA SÃO AS AUDIÊNCIAS: Quero acreditar ser essa a obsessão dos blogues "homogéneos" e "combativos" o que desculpa o resto. Mas continuo a recomendar uma visita ao Barnabé (link directo só na coluna da direita) e aos seus posts sobre Fátima. Não sei se alguém daqui da nau, mais dado do que eu à experiência religiosa e com gosto em comentar posts alheios, também o quererá fazer, mas o incitamento aos nossos leitores é o essencial. Leiam-se os posts e sobretudo o conteúdo das caixas de comentários: torna-se muito difícil perceber a atribuição à esquerda bloquista, da suposta superioridade cultural e intelectual sobre a direita betinha e trauliteira. Muito difícil mesmo, excepto para crentes ou para conhecedores da pobreza franciscana da base de recrutamento: os liceus e universidades portuguesas.
posted by FNV on 1:23 da manhã
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MOVE MONTANHAS: Pode parecer estranho mas todos os anos fico emocionado com as cerimónias de Fátima e com o que elas representam. De todos os pontos do país acorre uma imensidão de fiéis. De centenas de países, de todos os continentes do globo vêm multidões numa manifestação de fé e de crença impressionante e bela. Imagino que mesmo os não crentes se emocionam ou, pelo menos, se impressionam com a alegria, com o sofrimento, com a dedicação destes milhares de peregrinos que afluem ao Santuário de Fátima. Quanto aos que crêem, estas imagens constituem sempre uma excelente ocasião para se recordarem da sua fé, tantas vezes esquecida. É que nem todos somos como aquela jovem desportista que, no discurso de agradecimento do prémio no Laureus World Sports Awards, não se esqueceu de endereçar o seu primeiro reconhecimento a Deus pelo talento que lhe tinha dado.
posted by VLX on 12:28 da manhã
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CUMPLICIDADES: Sábado passado, em pleno baile de gala da Queima das Fitas de Coimbra e com a noite já bem avançada, sou chamado por um amigo meu para ir conhecer uma pessoa. Apresentou-me o Francisco Mendes da Silva, do "No Quinto dos Impérios". Ficámos algum tempo a trocar impressões da blogosfera, a falar das pessoas que há por detrás dos post e a conversar sobre a vida. Acima de tudo foi engraçado conhece-lo de forma tão ocasional.
Escrevo este post para lhe retribuir os parabéns (colectivos) que me endereçou nesse dia. Do porão desta escuna um grande abraço de parabéns para os 5 rapazes de tão grande império...
13 DE MAIO E FÁTIMA: Um grande abraço de solidariedade para o Barnabé (link directo só disponível na coluna da direita), neste dia difícil para eles. Coragem rapazes, não esmoreçam.
ACTUALIZAÇÃO: o Paulo Pinto de Mascarenhas , do Acidental ( link directo só disponível na coluna da direita) quer mandar o Daniel de Oliveira não sei para onde, a propósito da petição barnabiana que quer pregar com José Manuel Fernandes no Iraque e acabar com Fátima. Lamento, PPM, mas o Daniel Oliveira ( ou o Celso Martins?) já se ofereceu como refém para substituir a sequestrada Irmã Lúcia. Vão lá ler, se não acreditam.
posted by FNV on 11:52 da manhã
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TRÊS AGRADECIMENTOS E UMA OFERTA: O nosso Comandante já agradeceu, em nome de todos, aos que tiveram a gentileza de celebrar connosco este primeiro ano de navegação. Mesmo assim, não queria deixar de retribuir o abraço enviado por três ilustres navegantes, que, além do mais, se deram ao trabalho de dedicar um texto ao Mar Salgado.
Ao acerado Luis Tito, com quem é sempre um gosto trocar galhardetes.
Ao Américo de Sousa, que nos acrescenta pacientemente em cultura e em tolerância (a propósito, o Américo de Sousa anuncia o lançamento do seu livro não anunciado - espero estar a arriscar bem... -, "O homem com medo de si próprio", para o dia 3 de Junho, às 21.00, no Auditório Municipal de Gondomar; e estão todos convidados! Se o vento soprar de feição, lá estarei).
E para o Masson, ressuscitador de panfletos, livros velhos e folhetos & Grande Inquisidor dos pacóvios, vai, de oferta, um textinho de P. Valéry, para quando (e se) decidir alterar o pórtico do Almocreve: Je m'assoirai - et derrière un pli de mépris, je me donnerai un lac unique sur lequel errera cette volonté cachée. Je réapprendrai la paresse. Leur agitation est si niaise - leur besoin de se pincer pour être.
posted by PC on 1:56 da manhã
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TRAPOS VELHOS: Há uma passagem na Trégua de Primo Levi, na qual o autor sai de um comboio polaco parado no meio de lugar nenhum, gelado, esfomeado, doente. Deixou há meia-dúzia de dias o campo de concentração nazi, sobreviveu ao que relatou no Se isto é um homem, e desde então é chutado de um lugar para o outro. Levi sai do tal comboio com o seu amigo O Grego e diz qualquer coisa como :" olhamos em volta e fomos à procura da famosa sociedade civil".
Na minha vida de marinheiro-terapeuta, a ironia deseperada de Levi vem-me à cabeça sempre que lido com velhos, sós e doentes. São cada vez mais, sós e doentes, consequência inevitável do progresso da medicina e do retrocesso do laço humano. Não têm psicólogos a falar por eles nos media ou a editar livros com prefácios famosos, não enchem capas de revistas imbecis, não produzem, não representam, nenhum valor civilizacional sagrado actual ( beleza, juventude, poder, dinheiro, carreira). Não têm anorexia, depressão, pais divorciados, problemas de excesso de play-station; não são atingindos pela toxicodependência, HIV, nem mudam de sexo frequentemente; exceptuando alguns sites na net sobre "mature lesbians & gays", estão fora da coisa. E no entanto existem.
Talvez porque os mortos não votam, aquela parte da esquerda solidária prenhe de superioridade moral que conhecemos, não lhes passa cartão. E no entanto, coisa curiosa, a qualidade de vida na velhice decadente é um facto social brutalmente dependente da condição económica: famílias ricas albergam velhos bem aconchegados em casa ou em bons lares, com excelentes cuidados médicos. Dir-me-ão que tal divisão também se exprime brutalmente noutros escalões etários; pois, mas crianças e jovens têm a possibilidade, ainda que remota, de ultrapassar a desigualdade inicial de oportunidades. Um velho de 80 anos, não.
A LER II: A crónica de Vasco Graça Moura no DN de hoje, intitulada "Sevícias", que complementa os textos mais recentes do nosso FNV.
posted by Neptuno on 2:45 da tarde
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A LER: ( links directos só disponíveis na coluna da direita, as minhas desculpas pelo facto)
JPP, no Abrupto, no seu post " Formas da economia da indignação", acrescenta um outro aspecto aos que tenho vindo a referir sobre a indignação selectiva dos jornalistas ocidentais ( portugueses incluidos) face às torturas sofridas por colegas seus por esse mundo (e algumas ilhas) fora.
CL do Blasfémias e o seu post "Liberdade de Expressão"sobre a expulsão ( e muito bem), pelas autoridades brasileiras, de um jornalista americano Imaginem se a coisa se tivesse passado ao contrário, com aquele que Mário Soares um dia apelidou de "bêbado". Era o bom e bonito, a TSF e a SIC Notícias não se calavam durante três dias.
posted by FNV on 11:43 da manhã
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COISAS DA GUERRA (cont.): 3) No monumento cinematográfico que é Apocalypse Now, o Coronel Kurtz abandona o exército convencional, cria a sua própria milícia de fanáticos e combate "o horror com o horror". Só assim, segundo se depreende das suas palavras, seria possível ganhar a guerra do Vietname - por oposição às regras convencionais do exército americano, aos inexcedíveis "confortos" proporcionados aos seus soldados e ao impacto no país das imagens de ferimentos sofridos por estes.
Qualquer semelhança com o Iraque é pura coincidência...
posted by Neptuno on 12:51 da manhã
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COMO SE PERDE A CREDIBILIDADE: A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACAM-M) acusa o Ministro da Defesa de ter um comportamento rodoviário ?preocupante?. Fundamenta a acusação (amplamente divulgada na comunicação social) em 4 situações (uma de contramão e outras que consistiram em dois despistes e uma colisão, nenhum deles grave), que terão ocorrido desde 1999 até hoje. Ou seja, 4 situações nos últimos cinco anos, sendo que a maior parte delas não tinham o Ministro ao volante do automóvel mas sim os seus motoristas. A ACAM-M cataloga todos os episódios ocorridos de ?infracções graves?, qualificação jurídica onde cabe apenas, objectivamente, a dita contramão efectuada pelo motorista do Ministro em artéria urbana que recentemente tinha visto alterado o sentido da marcha por causa de obras nas imediações (existindo, portanto, uma atenuante perfeitamente actuante para o motorista, cujo nome desconheço).
A culpa de tudo é, para a ACAM-M, do Ministro, não obstante serem os motoristas a guiá-lo. Não se percebe, assim, o conselho dado pela ACAM-M para o Ministro passar a usar transportes públicos: é que se o autocarro que o Ministro da Defesa eventualmente utilizar tiver um acidente, o ACAM-M acusará igualmente ? não o motorista do autocarro mas sim ? o Ministro. As acusações da ACAM-M são absurdas, gratuitas e desprovidas de fundamento. Sempre considerei bastante as posições da ACAM-M. Mas se a ACAM-M e o seu dirigente Manuel João Ramos preferem, ao invés de lutarem pelos seus associados e pela segurança, utilizar o seu pedestal para fazer política barata, deixam de merecer a mais pequena credibilidade.
posted by VLX on 12:32 da manhã
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COISAS DA GUERRA: Penso que ninguém deixará de condenar as atrocidades que se cometem durante uma guerra. No entanto e relativamente ao Iraque, as recentes imagens de torturas praticadas sobre prisioneiros iraquianos justificam algumas reflexões:
1) Parece que a maior parte das pessoas só agora se apercebe que existe mesmo uma guerra. Até há pouco tempo, acreditou-se na invasão do Iraque como uma mera expedição punitiva dos EUA, em jeito de treino. Mas não é assim. Há guerra, há inimigos, há ódio mortal.
2) Não há guerras "limpas". Não há notícia de uma guerra em que não se cometam atrocidades, de ambos os lados. Suponho que seja normal chocarmo-nos com espancamentos e assassínios a partir do nosso sofá, mas talvez o nosso comportamento fosse idêntico se nos tivessem eliminado amigos ou familiares. Sempre haverá mortes sumárias e cabeças cortadas e, felizmente, sempre haverá choque e condenação perante esses factos.
(cont.)
COMPREENDIDO: Não precisa, pelo que à minha parte diz respeito, o nosso leitor Miguel de Montenegro, de invocar o direito de resposta: mi casa es su casa. No mais, já percebi que o nosso leitor não pretende nenhum debate comigo, outrossim educar-me ( o que desde logo me inibe de lhe responder), e desde já agradeço, penhorado. Vou tentar ler todos os livros e artigos que generosamente me aconselhou, e que considera fundamentais para remediar a minha reconhecida ignorância.
posted by FNV on 11:03 da tarde
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DIREITO DE RESPOSTA: O nosso leitor Miguel Montenegro invoca o direito de resposta para voltar a interpelar o nosso FNV. Junto se reproduz o e-mail enviado:
Tendo enviado um e-mail intitulado « a Prisão de Abu- Gharib», deparei- me ( com cada vez menos espanto) que o marujo FNV no seu post « Um pequeno exemplo» citava algumas expressões por mim usadas interpondo- lhes o seguinte:« a acreditar na muito divertidamente tese revisionista do nosso leitor».
Lamento desiludi- lo, meu caro FNV, mas para além de nunca me ter lido a defender qualquer País Comunista ou qualquer ditadura(de esquerda ou de direita), em 68 ainda não tinha nascido...
Quanto á diversão deixo-lha para si.
Com certeza que não me quer culpar pela escolha dos livros que lê.
De certo sabe em que ano W. Churchill inventou a expressão «cortina de ferro»...ou o que De Gaulle escreveu sobre o Bloco de Leste...Alguns « intelectuais», alertaram o Ocidente para os crimes atrozes que por lá se iam cometendo muito antes de 68.
Se me permite, aconselho- lhe a leitura de excertos disponíveis no Blog «Cadernos de Camus» Garanto- lhe que vai gostar.
Tenho reparado que está muito bem documentado sobre Cuba, assunto ao qual está permanentemente a recorrer, muitas vezes sem qualquer ligação aparente ao que está a ser discutido. Faz muito bem, a liberdade de expressão e os direitos humanos são valores absolutos( pelo menos para mim).
Com certeza conhece o livro que Noam Chomsky escreveu, descrevendo os sessenta e tal casos que esse grande Mestre da diplomacia Americana Henry Kissinger tem a correr contra ele em tribunal, grande parte deles relacionados com gravíssimos abusos de direitos humanos no exterior dos EUA, alguns acusando- o da autoria moral de homicídios.
Conhece também o relatório IC21 de 1996 do Congresso dos EUA(portanto insuspeito) em que está escrito preto no branco que a CIA comete 100.000 crimes graves por ano... como sabe fazer contas divida por 365 e chegamos a uma média interessante por dia...
Estará assim tão bem documentado sobre as Ditaduras militares de extrema direita na América do Sul (Argentina, Chile, etc.), todas elas consumadas com o apoio inequívoco (outras só por isso possíveis) dos EUA, qualquer delas muito mais sanguinárias na triste contabilidade dos mortos e desaparecidos que a também torcionária ditadura Castrista.
Espero que sim, que (n)os elucide.
P.S. - Para quem quis entender o e-mail anteriormente enviado, aconselho a leitura do artigo «The Artlessness of the Apology»da autoria de Tony Judt no «The Washington Post »de 9 de Maio.
posted by NMP on 9:44 da tarde
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COMO SE: O filme que circula na net, o filme do soldado americano a ser decapitado, tem exactamente o mesmo poder das fotografias da tortura dos presos iraquianos pelos (outros) soldados americanos: o poder de iludir. E o que o filme ilude, não pode deixar de ser, é a outra violência. Se tivéssemos visto o exacto momento da deflagração das bombas de Madrid, e o seu efeito em centenas de corpos, de braços, de fígados, pulmões, o derrame da massa encefálica, os uivos, o choro, essas imagens chocariam tanto ou mais do que a decapitação do soldado americano.
E é bom não esquecer, que quem tem direito a imagens - e ao cortejo de comentários e análises subsequentes - perdura na nossa memória. Por isso e só por isso, para desgosto de alguns, associei o debate sobre a tortura aos presos iraquianos ao não-debate, às não-imagens, aos não-filmes dos presos cubanos. E de muitos outros. Impossível esquecer a profecia de Nietzsche: com os jornais, o mundo tornar-se-á finalmente uma fábula.
posted by FNV on 9:02 da tarde
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AINDA A MADEIRA: Assino por baixo o post do passado Domingo, Desconchavos, de Vital Moreira, sobre Alberto João Jardim, no Causa Nossa ( link directo só disponível na coluna da direita). Escrevi aqui no Mar Salgado sobre o mesmo assunto ontem ( O Patriota) num tom mais ligeiro, mas que concorda em absoluto com o texto de VM. Tenho para mim que o controlo dos media é uma das causas mais substanciais da perenidade de Jardim, o que só evidencia ainda mais o carácter retrógrado, populista e anti-democrático da situação. Mas o homem tem assento no Conselho de Estado, não tem?
posted by FNV on 11:39 da manhã
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LEVAR A CARTA A GARCIA: que como sabem era um general cubano apoiado pelos EUA, na guerra contra a Espanha. Parabéns ao JMF do Terras do Nunca ( link directo só disponível na coluna da direita) pelas alterações no template do seu blogue: está elegante e trés racée. Um detalhe quanto ao seu comentário ( surpeendentemente suave) ao meu post Periodistas em la cárcel: O JMF, como aliás outras pessoas, criticaram-no em dois planos:
a) Não se deve falar da tortura cubana a propósito do Iraque.
b) Ninguém, salvo maluquinhos, é complacente para com Havana.
Eu não pertenço a admnistração Bush nem a represento em Portugal, e em aspectos fundamentais, estou muito longe do seu ideário comunitarista e ultra-conservador: pena de morte, política do aborto, política de drogas, só para citar alguns. Outra coisa é a crítica à indignação, ao "rasgar das vestes", para usar uma expressão do meu amigo e lobo do mar PC, de muita boa gente diante de actos, quer se queira quer não, exógenos ao comportamento habitual de um exército ocidental. É que este rasgar das vestes, traz água no bico: quem faz comparações abusivas não sou eu, é quem diz e escreve, que "os americanos" são iguais a Castro ou a Saddam. Quem estabelece comparações absurdas é quem vai por este caminho, mas depois diz que a crítica aos EUA é mais agreste porque "são uma democracia". Em que é que ficamos?
Pela minha parte limitei-me a demonstrar que o súbito horror à tortura e ao desrespeito por diereitos fundamentais de presos, soa a falso. Quanto à solidão de Havana, deve haver muitos maluquinhos por esse mundo fora: numa recente votação ( 21 de Abril, salvo erro) na Comissão de Direitos Humanos da ONU, 21 países opuseram-se a uma resolução que condenava Castro e as sua práticas torcionárias. Para mais, não esqueço de facto, a forma como Fidel foi recebido em Portugal em 1999 ( não em 1975). Bill Clinton, "o democrata", quando veio a Portugal pela primeira vez, teve direito a mais pichagens de muros ( "Clinton go home") e manifestações ( pequenas, organizadas na altura pelo BE e pelo PCP) de ódio do que o nóvel confrade do Vinho do Porto: Fidel veio, esteve e partiu como se de um qualquer chanceler europeu se tratasse. Se estes factos incodam, paciência.
E termino com uma pergunta ao jornalista JMF: sendo os seus colegas um alvo privilegiado de Havana, e abstraindo-se agora da questão do Iraque, acha o JMF que os media portugueses dão o devido destaque ( para ser suave, em retribuição) à perseguição, encarceramento e tortura que os seus colegas da bela ilha são sujeitos?
AINDA COIMBRA:"Passeando Coimbra a certas horas do dia e da noite, é flagrante que um manto de luz sedativa a ilumina. Tanto o sol como a lua se esforçam por mantê-la numa irrealidade poética, feita do alvoroço das sementeiras e da melancolia das desfolhadas. Cenário para um perpétuo renascimento do espírito que, além da pureza dum céu límpido e aberto, poderia ter a Grécia e a Itália reunidas na mesma colina debruada de choupos e de oliveiras. Mas aproveitaram da oferenda apenas o ópio sentimentalista. E o Penedo da Meditação, a Lapa dos Esteios, o Jardim Botânico e o Parque de Santa Cruz vivem perpetuamente num banho-maria nostálgico que, sendo uma realidade física local, é simultaneamente a atmosfera mental do português." (Miguel Torga, In Portugal - Coimbra, 6ª ed., 1993, In Alma Azul - Revista de artes e ideias / 7)
posted by Neptuno on 10:21 da tarde
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O PATRIOTA: Nesta nau que completou recentemente um ano de existência, ninguém está na política partidária ( há um que suspeito que venha estar, mas isso é só uma opinião), pelas mais variadas razões. Pela minha parte, mesmo que quisesse, a fobia ( literal, ou seja, acompanhada de cefaleias, ansiedade, sudação, depressão antecipatória) que tenho a reuniões prolongadas, viagens, jantares e discursos intermináveis e aglomerações de pessoas sem propósito definido, depressa me inibiria de experimentar. Mas existe uma outra razão, que suponho, radica na minha coerência mínima. Como qualquer pessoa, sou sujeito aquilo que os psicólogos sociais chamam dissonância cognitiva, traduzindo por míudos, muitas vezes penso fazer uma coisa e acabo por fazer precisamente o contrário. Mas essa dissonância tem limites, e os meus impedir-me-iam de algum dia apertar a mão ao Dr. Alberto João Jardim e prebendá-lo com o epíteto de "grande patriota". Arrumei há muito o personagem na categoria do pior que há em política, do pior que há na política partidária; não pelas sua tiradas divertidamente truculentas, mas pelo concepção que exibe dos cidadãos que governa. Por isso admiro o Dr. Durão Barroso, como admiro qualquer pessoa que faz algo que eu, nem em sonhos, conseguiria fazer.
posted by FNV on 12:08 da tarde
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CALHA NÃO CALHA: Que eu saiba, ninguém protestou, ninguém desmentiu. O Expresso citava este Sábado "fontes da Polícia Judiciária" que asseguravam que Pinto da Costa irá ser intimado a prestar declarações num qualquer processo, e que "só não foi detido para prestar declarações por razões de estratégia processual". Já tinhamos visto este filme com Vale e Azevedo, voltamos agora a vê-lo. Com que direito é que se passa para os jornais a informação que fulano vai ser ouvido ou que beltrano só não foi ainda detido para prestar declarações porque não calhou? Quanto tempo durará o labéu? O que me espanta é a PJ não ter desmentido oficialmente a notícia, mas sobretudo o silêncio de tantos comentadores mediático-jurídicos que entretanto começaram a nascer do chão como cogumelos. Agora não se indignam, não refilam, não nos pregam sermões sobre a honorabilidade das pessoas?
posted by FNV on 11:12 da manhã
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UM PEQUENO EXEMPLO: Não são muitos os livros publicados em Portugal dedicados exclusivamente à tortura. A Ed. Inquérito editou em Dezembro de 2001 "Tortura: na política e na religião, da Antiguidade aos nosss dias", da autoria de Brian Innes. Neste livrinho de 226 páginas, da tortura praticada pela Inquisição ( as Inquisições seria mais correcto), pela Inglaterra colonial, pelos franceses na Argélia, pela América dos anos 30, até à praticada pelos ingleses sobre os militantes do IRA, toda está abundantemente documentada. No final do livro (pp217) o autor refere que a lavagem ao cérebro foi "praticada na Rússia, tanto czarista como soviética": assim mesmo, uma linha. Depois uma página ( pp218) para referir os métodos chineses.
Os regimes torcionários do Leste que "qualquer pessoa intelectualmente séria reconhecia como tal desde 68" ( a acreditar muito divertidamente na tese revisionista do nosso leitor Miguel Montenegro), não merecem mais do que uma linha, e mesmo assim sob a designação "Rússia" e em paralelo com o regime dos czares. Quanto a Cuba, este original de 2001, não lhe dedica um parágrafo, um nome de um carrasco, de uma prisão, de um método, nada.
É claro que me dirão que este livro é excepcionalmente sectário, e não representa a indulgência vergonhosa de muita "gente intelectualmente séria" nos meios "intelectuais" ocidentais. Claro.
posted by FNV on 10:49 da manhã
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MAIS AGRADECIMENTOS: Foi acrescentada a lista de agradecimentos aos que nos felicitaram pelo primeiro aniversário. Sem comentários personalizados dada a extensão da lista. A todos estes companheiros de navegação bloguística, um sincero obrigado pela vossa generosidade e paciência para nos aturar.
posted by NMP on 5:59 da manhã
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FALA O LEITOR: Do nosso leitor Miguel Montenegro recebemos a carta intitulada Prisão de Abu-Gharib que em baixo reproduzimos:
Estando momentaneamente fora de Portugal, dei uma vista de olhos ao que se escrevia nos diversos Blogs onde costumo entrar sobre este tão desagradável e vergonhoso assunto.
Fiquei deveras espantado com o que me deparei: vários bloguistas que considerava intelectualmente sérios misturavam argumentos inteiramente falaciosos com urros, em defesa do que nunca poderá ser defendido por verdadeiros democratas em estados de direito, que de direito não tenham só o nome...
Assim, foi com espanto que vi referências à ditadura Castrista em Cuba (leiam mais e melhor, já em 1970, Jorge Edwards, o enviado especial de Salvador Allende - esse mesmo presidente chileno eleito democraticamente e retirado do poder como sabemos com a preciosa ajuda de quem sabemos - foi encarregado de abrir a primeira embaixada sul- americana- cerca de dez anos antes todas elas tinham sido fechadas por fortíssimas pressões norte- americanas- em Cuba; lá permaneceu 4 meses até ser dado como persona non grata- como intitulou o livro que descreve essa insólita aventura editado pela primeira vez em 1973- por conduta hostil para a Revolução e causando a primeira prisão de um intelectual cubano: o poeta Oscar Padilla, por lhe ter transmitido uma ideia errada da Revolução... Assim, como argumento é falacioso e para além disso com validade há muito expirada...
Em relação à comparação com o que se passava por detrás da Cortina de Ferro, ninguém intelectualmente sério duvidava da natureza torcionária desses regimes desde a Primavera de Praga em 68...
Não vou perder mais tempo a rebater argumentos desta índole , vou- me centrar no que verdadeiramente me interessa:
A responsabilidade política deste lamentável episódio vai morrer solteira?
Não será antes de mais do Presidente Bush e do Secretário da Defesa Rumsfeld que no seguimento dos horríveis atentados do 11 de Setembro frisaram eloquentemente que no combate ao terrorismo a Convenção de Genebra não ia estar presente? Que mantêm presos em Guantanamo há mais de 3 anos os prisioneiros de guerra do Afeganistão sem serem presentes a um juiz em claro desrespeito com a convenção de Genebra e mesmo com a legislação americana?
A diabolização do inimigo (these evil men), o referido tratamento dado aos presos de guerra não terá sido assumido como um sinal aos soldados e chefias que estão no terreno no Iraque que contra esta gente (que na realidade vive ainda no sec. XVI) valia tudo?
Assistindo hoje à CNN vi o Chefe Maior do Exército, General Myers reconhecer que tinha telefonado para vários orgãos de comunicação, pressionando-os para não publicarem já a história, fotografias ainda não vistas pelo público e mesmo vídeos que foram considerados (pelos poucos que lhes tiveram acesso) como verdadeiramente repugnantes. Foi então questionado se não achava estranho que andassem soldados americanos a morrerem no Iraque para se instalar uma democracia e que na terra pátria o CEMFA pressionasse os Media para atrasarem ou simplesmente não publicarem as coisas mais embaraçosas... É também esta luzinha que nos ilumina...
Para terminar, até porque muito mais haveria para dizer sobre este assunto, cito o Washington Post de 9 do corrente em relação a Guantanamo: «Pentagon approved tougher interrogations, ..., the use of this techniques requires the approaval of Senior Pentagon officials and in some cases, of the defense secreta...».
Falta só imaginar (se possível) os danos que tudo isto trará à instauração da Democracia no Iraque...
ÀS VOLTAS (POR FALAR EM REPULSA): O Governo português, apoiante de primeira linha da Administração americana na invasão do Iraque, cujas tropas humilham e torturam os presos de guerra iraquianos, condecorou hoje alguns antigos prisioneiros de guerra portugueses.
O Primeiro-Ministro comunicou ao País que já fez saber ao Governo americano da necessidade de "se apurarem completamente os responsáveis por tais comportamentos, para que sejam julgados e punidos". Donald Rumsfeld, há uns dias atrás, assumiu "total responsabilidade" pelos acontecimentos. Durão Barroso não lê os jornais, ou quer ver Rumsfeld no banco dos réus?
PS1: Lamento novamente o último post de FNV sobre o assunto. Quando será FNV capaz de falar sobre Cuba sem ser a propósito de alguma coisa?
PS2: Não quero deixar de protestar contra o extremo, extremíssimo mau gosto do post de Neptuno sobre a "tortura psicológica" da campanha do PS, que deixa, essa sim, marcas perenes. Quem faz estas comparações cínicas é também quem rasga as vestes quando alguém lembra, a propósito do 11/09, as vítimas civis da política militar americana.
posted by PC on 9:54 da tarde
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PERIODISTAS EN LA CÁRCEL: Os jornalistas portugueses andam justamente indignados com a tortura no Iraque e com a privação de direitos fundamentais dos encarcerados de Guantanamo, e escrevem com dor e compaixão. Aproveito a ocasião para recordar o martírio de alguns dos seus colegas cubanos, que não tiveram direito a uma linha, uma coluna de opinião, uma abertura de telejornal. Isto claro, nos anos noventa, porque se fosse agora, alertados que já estão, outro galo cantaria.
A Amnistia Internacional (AI)e a Human Rights Watch (HRW) vigiam particularmente o tratamento dado aos presos "políticos", e assentam a sua crítica ( para lá da farsa dos tribunais e do direito) na violência e nas condições a que os presos estão sujeitos. Entre 1997 e 1999, a HRW denunciou espancamentos continuados com barras de ferro envoltas em roupa na Prisão Provincial de Las Tunas, e o curioso hábito dos guardas da Micro-4, em Havana, de se embebedarem aos fins de semana como prólogo ao exercício de artes marciais nos presos políticos que iam buscar às suas celas. Técnicas de isolamento já conhecidas de há muito, foram também utilizadas neste tipo de detidos, nesses anos: a célebre tostadera, um buraco cavado no chão coberto de uma chapa de zinco, ou a ratonera, uma cela subterrânea sem luz, água ou instalações sanitárias, mas recheada de ratos. Vejamos alguns jornalistas-hóspedes destes interessantes resorts:
* Manuel Gonzalez Castellano, jornalista, condenado em Maio de 1999 por desacato( "desrespeito à autoridade") a dois anos e sete meses.
* Jesus Joel Hernandéz, director da Cooperativa Avilena de Periodistas Independientes, preso em Morón, província de Ciego de Ávila, condenado em Janeiro de 1999 pelo crime de estado peligroso.
* Bernardo Arévalo Padron, jornalista da Linea Sur, condenado em 1997 a seis anos de prisão pelo crime de desacato. Padrón tinha acusado Fidel de mentir quanto à situação dos direitos do Homem em Cuba, ao assinar a Declaração de Vinã del Mar, na 6ª Cimeira Ibero-Americana ocorrida no Chile, no ano anterior.
* Lorenzo Paez Nunez, jornalista do Buró de Prensa Independiente de Cuba, foi preso a 10 de Julho de 1997. No dia seguinte, sem lhe ter sido permitido constituir advogado de defesa, foi condenado a ano e meio de prisão. O crime: ter difamado ( acusado) o Ministro do Interior atribuindo-lhe a responsabilidade por espancamentos a adolescentes. Os menores de 16 anos em Cuba, não são alvo de setenças dos tribunais-fantoche, antes são confinados por períodos de tempo indeterminados em "Centros de Correcção", locais onde ocorrem episódios como os que Nunez denunciou.
Estes jornalistas, "presos de consciência", como os designa a AI, sofreram espancamentos, torturas selectivas, isolamento, pseudo-julgamentos. Não tiveram, como outros milhares de presos políticos, direito a imagens, fotos, filmes passíveis de escandalizar a opinião pública. Em 1999, Fidel veio a Portugal, e até foi entronizado como membro da Confraria do Vinho do Porto. Podia-se ler na Epicur : "(...) Muitos foram os que detectaram no seu (de Fidel) semblante a marca da sinceridade profunda, a condição de um amante das coisas boas da vida (...)".
Não me recordo de na altura, um único jornalista português dos que agora se indignam, ter escrito um artigo de opinião igualmente indignado, encolerizado e sofrido sobre estes ( ou outros) seus colegas. Ou de algum desses jornalistas terem recordado estes nomes ( ou outros), de os terem escarrapachado numa qualquer coluna dominical. Ainda vão a tempo, pelo menos de arranjar fotografias ou depoimentos ( enfim, trabalho de investigação ou pelo menos de copy-paste), agora que se começaram a interessar pelo assunto.
posted by FNV on 12:04 da tarde
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TORTURA: Mulheres americanas a torturarem iraquianos nús, parece o tema de um filme do Pasolini de há vinte anos. Mas a tortura psicológica é bem mais cruel. Em Portugal, temos um Governo sofrível, previsões de agravamento da crise - da OCDE - e pessimismo generalizado da população. Felizmente, a oposição de esquerda já tem políticas de governação alternativas. Assim, temos a política do "Apita ao Governo": Ferro e a sua rapaziada distribuem apitos aos cidadãos descontentes que assim podem soprar o seu fel aos governantes com um apito amarelo (conotando-se com o cartão amarelo do futebol).
Este tipo de tortura é que deixa marcas perenes. E também a certeza de que se avizinham tempos ainda mais difíceis.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.
