SE BEM PERCEBI (embora esteja sem óculos): o nosso querido FNV festeja mais um aniversário. Tenho a certeza que ainda o festeja apenas porque não lhe sobram cabelos brancos nem tem de mandar fazer camisas por medida. Sorte dele. Eu já não festejo coisa nenhuma (a não ser os duplos - por vezes, como este ano, triplos - "S. Joões" do Porto).
Ao nosso amigo FNV desejo (não por esta ordem) que as perdizes estejam a gosto, que o Redoma não saiba a rolha, e (onde estará a porcaria dos óculos?...) que o seu Sp. de Braga despache o tal de Glorioso de uma vez por todas, e que o mesmo Sp. de Braga não se esqueça, no final, de despejar várias vezes o autoclismo. A bem do ambiente.
posted by VLX on 8:35 da tarde
#
(0) comments
ENTENDAMO-NOS: O facto do Senhor Bispo do Porto ter dito, em entrevista ao Expresso, que era “contra a penalização” das pessoas que abortam tem muito que se lhe diga. O que me vem imediatamente à ideia é dizer mal do Bispo, que tem responsabilidades várias e sérias e que devia ter extremo cuidado com o que diz para que as suas palavras não se tornassem grandes parangonas nos jornais, completamente deturpadas.
Não vou fazer isso; mas como o Senhor Bispo não teve o cuidado suficiente, alerto as pessoas para repararem no seguinte: nem a Igreja nem qualquer um de nós condena o que quer que seja (a Igreja, por definição e culto, tudo perdoa e a todos - já vai longe a ideia do Deus castigador - e nós, nós, pobres humanos cheios de vícios, a ninguém podemos condenar dado que nenhum de nós pode lançar a primeira pedra). Admitindo isto, todos nós somos contra a “penalização” do que quer que seja. Acontece que a penalização não é uma coisa da Igreja mas sim da Sociedade organizada. À Igreja compete dizer o que é o Bem e o que é o Mal (é isto que é mal compreendido pelas pessoas, principalmente por aquelas que não querem que lhes seja dito que a sua vida está Mal, coisa que ninguém gosta mas alguns suportam, entendendo a fraqueza como defeito, e outros não suportam, porque não suportam ter fraquezas ou defeitos ou não querem que os mesmos lhes sejam apontados).
Ora, como é bom de ver, ninguém pode considerar o aborto como uma coisa boa. Inevitável, talvez; possível, é evidente; legal, basta haver norma que o possibilite; mas até os seus defensores consideram o aborto como algo que causa traumas a quem o faz (o que só pode acontecer por ser algo contra a natureza das coisas, se o aborto fosse a coisa mais natural do mundo nenhum trauma causaria).
Acontece que o Senhor Bispo disse: “sou contra a penalização, mas defendo como solução única a criação de condições sociais para que as famílias possam criar os seus filhos (...)”. Isto foi entendido e divulgado pelo jornal quase como uma defesa do aborto, coisa que nunca se poderia assim compreender, embora se compreenda a intenção do jornal.
Entendamo-nos, então: uma coisa é querer penalizar quem pratica o aborto (distinga-se disto toda a actividade ilegal aliada ao assunto, que merece – e bem – justa e severa punição), outra bem diferente é dizer se a prática do aborto é um Bem ou um Mal. Esta parte diz respeito à natureza, à moral, naturalmente à Igreja.
Pois eu tenho para mim como certo que quando o Senhor Bispo do Porto disse o que disse sobre a penalização do aborto (mesmo no meio das mais diversas coisas que disse e que me abstenho de comentar) nunca quis dizer que o aborto era “um Bem”.
posted by VLX on 8:15 da tarde
#
(0) comments
FROM DIXIELAND TO FNV:
posted by NMP on 7:28 da tarde
#
(0) comments
ORDEM DE BORDO: Comunica-se à tripulação que o Comandante entendeu atribuir o direito a cada marujo de, no dia de hoje e pelos motivos expostos abaixo, aprovisionar e/ou consumir duas garrafas de rum por cabeça. Nada melhor que um Anejo para acompanhar e salientar o brilho de um Partagas.
A arrecadação estará aberta das 19 às 20 horas para distribuição controlada do líquido espirituoso, agradecendo-se que formem fila indiana, a fim de evitarmos os tumultos costumeiros em ocasiões semelhantes.
posted by NMP on 6:31 da tarde
#
(0) comments
SUERTES: Morreu a baleia do filme Libertem Willy e Jerónimo de Sousa sucederá a Carlos Carvalhas, segundo o Expresso. Parece que a baleia nunca aprendeu a comer peixe sozinha e fugiu para um fiorde onde morreu sossegada.
posted by FNV on 12:10 da tarde
#
(0) comments
UM DIA MAIS: De manhãzinha, uma ronda proveitosa pelo quase desconhecido mercado conimbricense do Calhabé: pão cozido em forno de lenha, lulas e polvo legítimos comprados na Idalina, umas nabiças adquiridas sem factura à D.Conceição, que de vez em quando as vende de fugida, à beira da escada. Á tarde, uma boa edição espanhola das Éclogas, de Virgílio, e lá mais para frente, futebol jogado para aquecimento, press militar e curl scott, com barra e com halteres individuais. Chegará a noite e a lareira, e as perdizes vermelhas enrolar-se-ão no tacho, albardadas em toucinho fumado de Ponte de Lima, escorregando com uma garrafa de Redoma 99. Lá mais para diante, um Partagas Lusitânia, fumado solitariamente, assistirá o Glorioso na tarefa de despachar o Sp. Braga, mesmo sem os penalties que deveriam ter sido assinalados.
É assim, desde que o Homem soube que vai morrer, inventou esta defesa maníaca, que é o festejo de um aniversário.
posted by FNV on 11:59 da manhã
#
(0) comments
EXCESSOS DE VELOCIDADE: todos, mais uns do que outros, algum dia cometemos. O Bispo do Porto, cidade nobre, burguesa e liberal, D. Armindo Lopes Coelho, acelera, e diz hoje ao Expresso que não concorda que as mulheres que praticam o aborto sejam penalizadas. A Igreja, devagar, vai percebendo que a moral não se legisla, que o caminho é outro. Outros, a seu tempo, compreenderão o que Aristóteles há muito explicou: a lei só por si, não faz um cidadão. Uma gravidez é vista por muitas mulheres como uma maçada, e nem sempre por aquelas que são pobres ou doentes. O Bispo terá percebido que a condenação de uma ínfima parte das mulheres que abortam, apenas serve para sossegar as consciências preguiçosas. As restantes continuarão tratar uma promessa de vida como um contratempo, decisivamente contribuindo para a rudeza visceralmente hedonista em que hoje vivemos. O meu companheiro de tripulação VLX, no seu post de ontem sobre o tema, pecebeu também isso. É precisamente porque o Código da Estrada por si só não funciona, que a matança rodoviária continua, mesmo que um outro de nós já tenha sido autuado por atravessar uma povoação a 60 Km/h: O Estado arrecadou uns cobres que não chegam sequer para financiar o Instituito de Seguros de Portugal.
O Bispo sabe isto, e outras coisas,e por isso sabe que o caminho é outro.
posted by FNV on 11:17 da manhã
#
(0) comments
ESTRATÉGIAS DO PS, OU DE FERRO RODRIGUES?...: Desculpem-me, mas não vou começar este texto com aquelas máximas do tipo "todos são inocentes até sentença em contrário transitada em julgado" e coisas do género. Assumam, desde já (mas apenas para este texto, advirto), que estou imbuído de todo esse espírito politicamente correcto. Posto isto:
Houve um dirigente partidário do PS, nos Açores, cujo nome foi manchado (por boatos, rumores e posteriores notícias na comunicação social) com questões de pedofilia. O que o visado fez foi de imediato demitir-se dos seus cargos, não obstante apregoar a sua inocência e lutar por ela.
Nada poderia ter sido pior para Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e o PS: quanto ao primeiro, é preciso admiti-lo, está desde Maio numa situação um tudo nada diferente da da vítima de rumores e boatos, mas não se demitiu sequer da missão de dar entrevistas a tudo quanto era jornal e revista.
Quanto a Ferro Rodrigues... Bem, quanto a Ferro Rodrigues, nós, por cá, já o imaginávamos de viagem marcada para os Açores para engalanar a assembleia regional com bandeirolas e lanternas para uma festa de arromba, prosseguindo a luta da sua vida, contra "cabalas" e "palermas". Mas não: limitou-se a dizer que o assunto é um problema regional do PS Açores.
Paulo Pedroso deve estar felicíssimo por ser deputado à AR em Lisboa, na capital, e por ter, por esse motivo, apoio do dirigente nacional e de todo o seu partido na questão pessoal que o aflige.
Aflito, aflito, deve estar o PS e todos os dirigentes socialistas por esse país fora, atento o particular critério de solidariedade de Ferro Rodrigues.
Esta dualidade de critérios do camarada Ferro Rodrigues, que se tem notado (em Felgueiras, nos Açores, em Lisboa), não deve fazer muito bem ao PS e aos seus dirigentes, quer sejam nacionais, regionais ou locais. Ferro Rodrigues que se cuide, porque ninguém irá cuidar dele. Solidariamente.
posted by VLX on 1:17 da manhã
#
(0) comments
GOD BLESS O PERÚ: Um homem entra apressadamente no mercado de Bagdad, pelas 17 horas. Trata-se de um ocidental, male, caucasian, ray-bans impecáveis. Passaria totalmente ou well, quase despercebido em qualquer mall de Pasadena. Dirige-se right away à secção das aves, ao estaminé de Suleiman.
"I need um perú para hoje" - atirou bruscamente.
"Sim boss redentor! Tenho aqui um congelado, em fatias, que poderei dispensar."
"No! Preciso de um perú inteiro e já."
"Mas boss, não há perús em Bagdad!"
"E não há nada parecido?" - perguntou enquanto pensava no gavião que acabara de chegar à cidade.
Suleiman olhou para a capoeira da loja e verificou que já só lhe restava um pavãozeco de terceira categoria.
"Ó Mourinho - exclamou Suleiman para o serviçal português, um GNR que conseguia traduzir o árabe, com um segundo emprego - traz cá esse bicho!"
"Jesus allmighty! Que ave tão rafeira! Nem um grupo de frenchies acreditaria que this is a perú! Where the f... é o Toys'r us nesta cidade?"
O resto da história já é do domínio público.
posted by Neptuno on 1:07 da manhã
#
(0) comments
SEM QUERER SABER SE SÃO MAIS ARES DE DIREITA, À ESQUERDA, OU ARES DE ESQUERDA, À DIREITA, DADO QUE ISSO NÃO ME INTERESSA: VASCO RATO afirma no Indy que para o famoso artigo por si escrito no Independente, aqui há semanas, esteve subjacente a preocupação com algumas mulheres (e demais cúmplices) submetidas a julgamento pela prática de aborto. «Num país onde a interrupção voluntária da gravidez é uma prática generalizada, este julgamento atesta o ridículo que é a legislação em vigor e a necessidade urgente de a alterar.» O argumento é fantástico!
Não tenho bem a certeza (nem disponho dos dados científicos ou estatísticos de VR) para afirmar, convictamente, que o aborto seja uma prática generalizada neste meu país. Desconfio até que não seja. Mas congratulo-me por saber o que move VR na ânsia da liberalização do aborto: é a sensação que tem da eventual violação generalizada da norma.
Só não percebo é porque é que ele haveria de começar com a moralização da sociedade a partir do aborto. Pela parte que me toca, preferia que se abolisse a velocidade máxima de 120 kms/h nas auto-estradas, também ela uma norma cuja violação é uma prática generalizada (atrevo-me a pensar que até um nadinha mais do que as normas relativas ao aborto). É inacreditável que se ande a julgar e condenar alguns pobres coitados (e azarados, por terem sido apanhados) só por andarem a 140 kms/h, 150 kms/h ou mesmo a 180 kms/h nas auto-estradas (alguns sem matarem ninguém, nem sem "impedirem a vida a ninguém"...). Pois se toda a gente a viola, o melhor era mudar a lei. Onde já se viu condenar alguns quando todos fazem o mesmo?
Além do mais, enquanto a prática do aborto implica sempre a morte (ou, repito, para os que gostam de artifícios de linguagem, “impede a vida”), nem sempre o andar a 180 kms/h nas auto-estradas “impede a vida” ou causa a morte. Pelo contrário, andar a 120 kms/h na A6, por exemplo, é que é meio caminho andado para adormecer ao volante e causar um desastre que pode vir a ser fatal.
Já nem falo por mim, falo pelo meu carro: ele irrita-se de andar a 120, faz barulhos estranhos. Às vezes, para conseguir ultrapassar uns camiões, subo aos 140 kms/h (sempre com imensa atenção para não ser abalroado por um comercial a uns esganiçados 160/170). Mas o que o meu carro gosta mesmo é de andar a 160 kms/h: essa é a sua velocidade de cruzeiro. Mas mesmo a essa velocidade sou ultrapassado por inúmeros carros, motas e um ou outro camião ou furgonete (os da Mercedes e os da VW andam que se fartam).
Atrevo-me a pensar que a violação dos limites de velocidade é uma prática generalizada. Será motivo para se liberalizar a velocidade nas auto-estradas?
Post scriptum: para breve um ensaio sobre a prática generalizada da violação das normas fiscais, com especial incidência sobre a sisa, e a necessidade urgente de abolir essas normas. Post scriptum 2: não se admire o leitor por eu tratar a brincar assunto sério. Numa discussão séria, existem argumentos que só a brincar se podem tratar.
ADENDA: Já uma vez aqui disse que em assuntos como a Casa Pia, faço como o meu colega de embarcação P.C.: se não sei, fico calado. A única vez que abordei o assunto foi por um ângulo que conheço profissionalmente, o problema dos relatos infantis e adolescenciais de possíveis abusos sexuais. Por isso escrevi que era lamentável a insinuação de Mário Soares sobre uma putativa diferença de tratamento do assunto consoante se trate ou não da Madeira. Não percebi o que Soares sabe, e também não percebi o post de JMF do Terra do Nunca (link na coluna da direita porque o meu Mac não me permite fazê-lo directamente). Os tribunais, a PJ, a Procuradoria, os jornalistas fazem todos parte de uma conspiração pró-Jardim? Resta dizer que não vi terrorrismo de ideias, independentemente de se concordar ou não, no que a Grande Loja do Queijo Limiano de facto publicou. Já mais perigoso é alguns tanto saberem e tão pouco partilharem. Lá terão as suas razões.
posted by FNV on 7:09 da tarde
#
(0) comments
ESCRUTÍNIOS: Se tivesse escrutinado bem as minhas palavras, talvez o nosso caro amigo JMF tivesse poupado este post. Eu escrevi "...JPH acha que as palavras dos políticos devem ser escrutinadas à letra. Eu não estou em desacordo". Estava e estou portanto de acordo com ele.
O que interessa não é apenas a ideia geral, mas quando discutimos o Iraque, o seu passado recente e futuro, não podemos deixar de ter em conta a big picture: o 11 de Setembro, Bin Laden e Al-Qaeda, a proliferação de armas de destruição massiva e sua prévia utilização pelo regime de Bagdad, os atentados suicidas contra civis na Turquia, na Indonésia, na Índia, na Rússia, em Marrocos e em Israel (isto só no último ano e meio).
O que o meu texto sustentava é que eventuais afirmações incorrectas podem ter explicações perfeitamente razoáveis. E que quem, legitima e avisadamente, se preocupa com a verdade de milhares de declarações de responsáveis das democracias ocidentas, deveria fazer um esforço e escrutinar as 12.000 páginas do relatório de Saddam e outras declarações dos transparentes e honestos responsáveis desse regime.
Em nome da equidade. Para valorizarem diferenças fundamentais. Para não equipararem a preocupação, actuação e até os erros de dirigentes legitimamente eleitos, democraticamente controlados e milimetricamente escrutinados por uma imprensa felizmente livre e a desinformação de torcionários que respondem apenas á sua chefia demencial.
posted by NMP on 6:38 da tarde
#
(0) comments
UM DIZ MATA, A OUTRA ESFOLA: Depois de mais um período de gestão do silêncio, os gloriososatiraram-se a mim. A propósito do artigo The Literal Left que aqui publiquei, JPH acha que as palavras dos políticos devem ser escrutinadas à letra. Eu não estou em desacordo.
Mas escrutinar é também interpretar, perceber as limitações das informações que lhes serviram de base. Estas informações são muitas vezes recolhidas (sobretudo em estados ditatoriais e fechados como o Iraque) com base em testemunhos de terceiros, em indícios e através de cruzamento de dados. Pode acontecer que as informações acabem por estar erradas.
Se, no entanto, recapitularmos os indícios, talvez percebamos porque certas ideias se formam nos espíritos (partindo do princípio básico de que estamos todos de boa fé): um ditador comprovadamente gaseia o seu povo, ou seja, utiliza armas de destruição massiva - não há muitos registos de actos idênticos em outras partes do mundo. Forçado, aceita inspecções ao seu arsenal. Subitamente, quando o mundo está distraído, expulsa os inspectores da ONU e mostra-se pouco colaborante com novas inspecções. Faz encobertas aproximações a sinistros personagens como Kim-Jong-Il e Bin Laden. Não é um pano de fundo muito relaxante.
Mesmo o argumento definitivo de que não foram encontradas as ditas armas tem de ser visto com cuidado: sobretudo as armas químicas são muito fáceis de esconder ou dissimular entre material perfeitamente anódino e de uso civil. Por isso, entendo que permanecer agarrado a uma discussão de há meio ano atrás, esquecendo o que de positivo aconteceu - acho que estamos de acordo que a queda do regime foi um facto positivo - e minimizando as oportunidades criadas é uma posição de revanchismo argumentativo. Que pouco valor acrescentado traz à comprensão do que hoje se passa no Iraque.
Num registo mais irónico, para que nem tudo se perca e para darmos bom uso ao ímpeto escrutinador dos nossos amigos gloriosos, permitam-me um pequeno pedido, em nome da equidade argumentativa: o de escrutinarem à letra as 12.000 páginas do relatório que Saddam apresentou às Nações Unidas sobre o material de fabrico de armas de destruição massiva. São com certeza 12.000 páginas fiáveis e onde, estou convicto, em todas e em cada uma delas moram a Precisão e a Verdade. Lá mais para o Verão, quando terminarem a extenuante tarefa, voltamos a falar sobre o assunto.
Quanto às acusações/insinuações de candura e à comparação com o Bonanza, tendo em conta o espírito natalício da época em que entramos, tomá-las-ei como um elogio (sobretudo porque vindas de um amigável e compreensivo espírito agreste). Só não aceito o epíteto de inflamado. Se há coisa que muito raramente me acontece é inflamar-me. Terei certamente muitos defeitos, mas não faltarei à verdade se afirmar que normalmente me tento comportar como um ser razoável e sereno.
posted by NMP on 3:37 da manhã
#
(0) comments
CORRECÇÃO: Dizem-me do lado que não é La Trouvette mas sim La Louvette. Desculpem-me os visados, mas eu não percebo nada de futebol.
posted by VLX on 1:26 da manhã
#
(0) comments
UMA LANÇA EM ESPANHA: Quando o nosso Comandante nos chamou a todos ao convés e nos ditou as regras da embarcação ("não roubarás a chave da arrecadação do rum, não trarás mulheres para bordo, não falarás de futebol..."), não estava seguramente a pensar em proibir que se falasse de feitos únicos no futebol português. Certamente que se referiria apenas aos constantes costumes de guerrilha clubística, mas não àquelas exibições de uma equipa que enchem de orgulho toda uma nação.
Daí que me possa unir a todo o país no louvor do que aconteceu esta semana em Madrid: pela primeira vez na História do Futebol Português, uma equipa nacional não perdeu ali pontos, antes pontuou.
Dirão os maiores defensores da unidade ibérica que o Real Madrid não foi um adversário tão coriáceo e aguerrido como terão sido o Molde, o La Trouvette ou aquele clube Turco, cujo nome agora me escapa mas que rima com “pai babado a brincar com o bebé recém-nascido”. Talvez não. Mas a verdade é que ninguém gosta de perder e que pela primeira vez um clube português entrou e saiu de Madrid de cabeça levantada. Isto, numa altura em que o nosso PR - certamente animado de boas intenções mas que não deixam de nos envergonhar ligeiramente - se queixa por todo o lado, no meio de grandes lamurias, de “não conseguirmos entrar em Espanha”. O acontecimento não pode deixar de consistir numa honrosa manifestação de Portugal que devemos sublinhar. E ninguém me pode acusar de favorecer um clube do qual nem falei.
CRIATIVIDADE 100% PORTUGUESA: Vi há pouco no telejornal da RTP 2 uma reportagem sobre as alterações ao trânsito na baixa lisboeta projectadas pelo Presidente da Câmara. Entrevistado, um cidadão que se dedica ao transporte e entrega de mercadorias manifestou o seu contentamento com uma das inovações: "Quando queremos encostar para descarregar, nunca há lugar. Pode ser que com a Via Verde já se consiga". É o que se chama a invenção do espaço público pelos seus destinatários: as coisas não são o que são, são o que fazemos delas.
posted by PC on 11:51 da tarde
#
(0) comments
A BLOGOSFERA NO SEU MELHOR: Tem-se afirmado com alguma insistência que o formato dos blogues impede discussões com alguma profundidade. Estaríamos assim condenados ao uso de alguma superficialidade e leveza nas análises e discussões.
Pois bem, uma discussão que se desenrola há vários dias entre o Picuinhices, o Liberdade de Expressão, o Nónio e um leitor do Picuinhices (Carlos Miguel Fernandes), que entretanto alastrou ao Blog de Esquerda, prova que não estamos necessariamente condenados a tal. É apenas uma questão de clareza, vontade e empenho, para nos libertarmos do superficial destino a que este formato supostamente nos condenaria.
A discussão começou em torno da existência ou não de uma economia de direcção central em Portugal, passou pela existência ou não de uma ortodoxia liberal e evoluiu para a discussão dos modelos científicos de estudo da organização de sistemas e sua aplicabilidade à Economia e outras ciências sociais. Toda a troca de argumentos tem sido efectuada em clima de grande elevação e qualidade intelectual.
O excelente nível da discussão promete novos desenvolvimentos, aos quais estaremos atentos. Entretanto, o Picuinhices publicou este resumo da discussão que, pelo seu comprimento, dá uma ideia do trabalho que um leitor teria para tentar segui-la post a post.
I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful -
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
SOMOS O PRIMEIRO BLOGUE COM SITE MIRROR!: Devido ao elevado número de visitas que têm atingido o Mar Salgado, a Blogger decidiu oferecer-nos um site mirror , a que atribuiu o interessante nome Luis D'Elvas. A tripulação, penhorada, agradece.
(Agora a sério: qual é o interesse? E não se podia reproduzir os textos sem adulterar a grafia?)
posted by PC on 12:16 da tarde
#
(0) comments
OS ALTOS E BAIXOS DO BASTONÁRIO: Se fosse advogado, não sei se gostaria de ter José Miguel Júdice como bastonário. Não o sendo, acho que JMJ, ao contrário de muitos que o precederam, compra as lutas que um bastonário deve travar - embora nem sempre da melhor forma.
Vem isto a propósito do comentário de JMJ, no Público de hoje, ao acórdão relatado pelo Conselheiro Pires Salpico relativo a um pedido de recusa de juiz, que conheço apenas através do que veio a público na comunicação social. Há aí dois assuntos diferentes: por um lado, as considerações que se tecem na decisão acerca dos advogados que suscitaram o incidente e da classe em geral; por outro lado, a insinuação de que o próprio incidente constitui uma inadmissível falta de respeito pelas decisões judiciais. Creio que JMJ fez bem ao criticar publicamente, num jornal, este último entendimento; mas fez mal em escolher um jornal para desagravar os visados e a classe das eventuais desconsiderações constantes do acórdão.
Na verdade, o incidente de recusa de um juiz é uma garantia legal dos cidadãos ligada à imparcialidade da administração da justiça e a sua dedução não deve ser tomada - como, infelizmente, tanta coisa o é em Portugal - pessoalmente, à conta de menor respeito pelo juiz em causa, ou pela magistratura em geral. É importante repetir mil vezes que o uso das regras prévia e abstractamente estabelecidas é a própria vida do estado de direito democrático. Se, em concreto, esse uso descambar em abuso, com violação das regras deontológicas da actividade, a lei (convém lembrar que o Estatuto da Ordem dos Advogados é materialmente uma lei querida pelos representantes do povo) entrega a apreciação do problema aos órgãos competentes no plano disciplinar (no caso, a OA). Há, portanto, regras legais que obrigam todos os actores e, enquanto for preciso lembrá-lo, espero que nunca doa a voz a um bastonário da OA. Nem acrescentarei nada acerca do uso ilegítimo de uma sentença para criticar, num plano político-legislativo, a lei vigente: já aqui escrevi sobre isso, num post onde sustentei a liberdade de expressão dos magistrados a esse propósito, quando usada da forma e nos locais adequados.
Já no que diz respeito à eventual deselegância dos obiter dicta do acórdão relativos aos advogados recorrentes e à classe em geral, JMJ não devia ter produzido quaisquer comentários. Devia ter dado somente, também ele, pelas mesmas exactas razões que enunciei no parágrafo anterior, os passos cuja omissão critica ao Conselheiro Salpico: a comunicação dos factos ao órgão com poderes disciplinares para os apreciar (no caso, o CSM). O que diria JMJ se, um dia, o Presidente do CSM criticasse num artigo de opinião, num jornal, alegações ofensivas para determinado magistrado, subscritas por certo advogado (que também as há)? Estou certo de que responderia: "Senhor Conselheiro, esse não é o local para tratar do problema". E teria toda a razão que, neste comentário, lhe falta.
Uma última nota: estou convicto de que JMJ prosseguirá a sua intervenção crítica sempre que surjam questões "sócio-judiciais" desta índole - mesmo quando se trate de processos que não envolvam figuras públicas e que não tenham, por isso, a mesma visibilidade.
posted by PC on 10:51 da manhã
#
(0) comments
MULHER BARBUDA: Lembro-me de ver anunciada a sua exibição, num circo, aquando da minha adolescência. Imediatamente substituiu o famoso homem do saco no meu imaginário dos seres mais sinistros e ruins. Desde sempre, evitei qualquer situação susceptível de criar contacto visual com aquela criatura, nomeadamente, afastando-se dos circos e também de algumas praias da nossa costa.
Hoje, ao fim de tantos anos, encontrei a mulher barbuda, ao volante do seu táxi em Gaia. Simpática q.b. mas também implacável para com automobilistas menos atilados. Compensei com uma boa gorja todos aqueles anos em que lhe devotei algum horror, afinal apenas justificado no que toca à sua imagem.
À medida que crescemos, a realidade toma o seu lugar e as velhas assombrações da infância que nos assustavam vão-se desvanescendo e transformando em remotos e simpáticos fantasmas. Em contrapartida, certas pessoas reais que aprendemos a respeitar descambam no destino mais inesperado e surrealista.
O EMPURRÃO: A campanha de Howard Dean recebeu, esta terça-feira, um enorme empurrão com o apoio explícito de Al Gore à sua nomeação como candidato do Partido Demcrata à Presidência americana. Gore justificou este apoio por Dean ter sido o único dos candidatos favoritos à nomeação democrata a não apoiar a intervenção americana no Iraque (Gore chamou-lhe "um erro trágico").
O establishment do Partido Democrata e os clintonites começam agora a ficar em pânico com a perspectiva de ter um candidato que apela aos valores mais esquerdistas e pacifistas do Partido. A sua grande aposta parece ser Wesley Clark, que no entanto não consegue descolar nas sondagens feitas dentro do partido (é mais popular entre a população em geral do que junto das bases do Partido Democrata).
Aos poucos a corrida de nove candidatos parece resumir-se a duas ou três hipóteses - Dean, Clark e Gephardt - com Lieberman, Kerry e John Edwards à espera de algum incidente ou escorregadela que os beneficie.
P.S. - Durante as próximas semanas, até ao final de Janeiro (início das eleições primárias democratas), irei publicando algumas análises sobre os candidatos à Presidência americana e sobre o processo eleitoral. Pode ser que, pelo menos, contribua para acabar com algumas ideias feitas. Como a de que ninguém vota na América ou a ideia que a democracia americana é de menor qualidade que as restantes - se alguma diferença existe para com a Europa é precisamente a maior intensidade e profundidade com que é vivida.
posted by NMP on 11:05 da tarde
#
(0) comments
SOARES ERA FIXE, e para mim continua a ser, apesar de achar que nos últimos tempos, e sobre política internacional, disse muitos disparates. Mas como nunca vi nele o bochechas, mas um político severo, não me impressionei por ai além: um homem tem direito a subordinar a sua subjectividade aos ciclos de vida.
O que já me parece estranho é o discurso de Soares no caso Casa Pia. Ainda hoje, ele vai dizer na SIC-Notícias, a propósito da recente demissão no Governo Regional açoriano, que há três anos houve uma coisa parecida na Madeira, pior porque até morreu uma criança, e nunca se soube de nada, não se investigou. Uma coisa parecida com quê? Não se soube, então o que ele sabe? De que fala Soares? Não sei, mas uma coisa é óbvia: Soares está uma vez mais a insinuar que nestas "coisas" os tribunais, a PJ, a Procuradoria, o MP, têm uma bitola diferente consoante se trata do PS ou do PSD, favorecendo claramente este último.
Mário Soares tem um estatuto que lhe permite e obriga a ser claro, directo e frontal, pelo menos quando traça cenários que minam o Estado e a Democracia. Mas se ele diz estas coisas e ninguém o confronta, das duas uma: ou há alguma verdade no que ele diz, o que é muito grave, ou então já ninguém lhe liga pevide, o que é uma pena.
posted by FNV on 7:12 da tarde
#
(0) comments
NOVA POESIA: É a minha vez de seguir a alma gémea: são entradas destas que nos faziam suspirar de saudades pelo melhor humorista da blogosfera lusa.
posted by NMP on 2:23 da manhã
#
(0) comments
DOLCE FAR NIENTE: Assim se passou o último fim-de-semana prolongado antes do ano novo. A nau vai boa, até porque o comandante está longe, o mar, esse também obrigado; Mais blogues, mais ruído se avizinha no ano que aí vem, tudo natural
excepto para os Narcisos, que tenderão a confundir este Blogo-mar, parco em aplausos, com o seu lago: depressa encontrarão outro, a sua natureza a isso os obrigará.
BLOGANDO: Dizem-me aqui do lado: os blogues são uma evolução natural do homem. Quando saem da idade de jogar à bola com os amigos, criam um blogue (claro que há, segundo a mesma fonte, personalidades aditivas que cumulam os dois estádios). Ao fim de uns meses, acho que é bastante verdade. E assino por baixo este post do Terras do Nunca.
posted by PC on 11:06 da tarde
#
(0) comments
ANTI-SEMITISMO II: Pelo que leio, a pergunta ( que raio tem o anti-semitismo a ver com a esquerda europeia?) era mero artíficio retórico: o Terra do Nunca (links na coluna da direita) acha-me ( e a outros) pateta e doentio só por me debruçar sobre o tema. Mas enfim, o prometido é devido, e pode ser que outros achem interessante o que se segue.
De facto, desde que o conceito aparece, transparece sobretudo na retórica reaccionária anti-moderna, de Nietzsche a Sorel, de Schmitt a Sombart. O adversário é a democracia burguesa liberal, tanto na sua cedência aos "interesses pluralistas ( socio-económicos) da sociedade civil" como na sua capacidade de "aniquilar as raízes profundas do Volk", como escrevia Freyer, na Revolutions von Rechts.
O judeu, emblema do calculismo apátrida e da submissão dos costumes locais à racionalidade económica, contribuia decisivamente para a desgraça da nação. Em França, o célebre amigo de Freud, o Dr. Charcot, dizia em 1887, numa conferência na Salpêtriére, que era indispensável estudar os judeus se se pretende compreender que a neurose é a doença de uma raça semita original. Drumont (autor da France juive) celebrizou-se por outras tiradas, como esta: "a França é uma nação-mulher, acessível e penetrável", pelo judeu "que propaga a peste mas não a contrai."
Bukharine e Preobarensky ( ABC do Comunismo, 2ºvol.) piavam mais fino: só a burguesia judaica aliada com a de outros povos pilha o mundo operário. E por aqui vamos ao osso: à esquerda, históricamente, a judeofobia não assume um verdadeiro carácter racializante, extirpada que é dos modelos reducionistas do cientismo das Luzes, acerca de raças superiores e raças inferiores. Mas a lenda do judeu como um aliado do capital internacional, assume hoje um significado diferente. Grande parte da retórica anti-globalização herdou vícios antigos. Se por um lado a alta finança internacional não terá sido culpada das grandes fomes etíopes de 1540 e 1742, o subdesenvolvimento africano e asiático é-lhe regularmente imputado. Os bravos acreditam que as relações de exploração se resumem a um problema de distribuição de recursos, não se lembrando nunca de responsabilizar os governantes do mundo pobre pela miséria que impõem (como Mugabe, que para ganhar dois anos de sossego pretextou dar a terra dos brancos aos camponeses negros e destruiu a economia do país para embaraço dos europeus e americanos que ainda usam a camiseta do Che), antes transferindo essa responsabilidade para o Ocidente.
Uma velha herança jacobina europeia, assente na necessidade de reconfigurar o mundo através de uma acção política totalizante, encontra hoje na esquerda kitsch a retórica do pobre/oprimido contra o capital internacional. No médio-oriente, o velho sonho da ummah islâmica, sobretudo sunita, tem reactivado o ideal de fusão entre comunidade política e comunidade religiosa. O padrão sectário e semi-revolucionário neo-fundamentalista, cai bem aos orfãos do muro, na Europa; tem uma componente moderna que o torna atractivo, como no caso da revolução iraniana, que quando triunfou, não aboliu a mais recente das instituições, o parlamento, sem qualquer tradição no Islão.
See quando lá chegarmos, à total identificação do Ocidente capitalista, burguês e liberal, com o mal, o judeu na Europa, estará a jeito. Como sempre esteve.
MUITO MERITÓRIO: É o trabalho do Memória Virtual. Paulatina e metodicamente tem vindo a efectuar um levantamento dos primórdios e história da blogosfera lusa.
Não é o depópsito obrigatório da Internet de que há tempos falava JPP. Mas, num certo sentido, é até bem melhor porque contextualiza e comenta, o que poupa bastante trabalho a quem o consulta. Para o Leonel Vicente, os nossos parabéns e votos de continuação do excelente trabalho de toda a tripulação.
posted by NMP on 11:56 da tarde
#
(0) comments
E A MONTANHA PARIU UM RATO. ATÉ PODE SER: MAS QUEM PARIU A MONTANHA?...: Por toda a comunicação social se tem lido, visto ou ouvido que a Justiça, no chamado caso Moderna, teria parido um rato. A utilização da expressão (de gosto duvidoso) deve-se ao facto de se ter falado, a propósito do caso, de inúmeras situações que não se vieram a verificar (pela Justiça), tais como branqueamento de capitais, tráfico de armas, manobras estranhas pela conquista do poder político, etc., etc.. Como essas «notícias» não se vieram a confirmar nos tribunais, a Justiça estaria descredibilizada, afirma quase em uníssono a comunicação social.
Mas será mesmo assim? Julgo que nunca vi nem li nem ouvi qualquer juiz, advogado ou procurador do MP a afirmar que tais factos tivessem ocorrido. E mesmo que nas investigações se pudesse ter eventualmente referido esses factos, eles nunca foram fundamentais no processo. A ser verdade o que digo, porque estranho motivo sairá beliscada a imagem da Justiça? Nenhum. Parece-me antes que quem esteve mal neste processo todo terá sido a comunicação social: esta é que não viu confirmadas as suas «notícias». Não lhes parece?
posted by VLX on 11:19 da tarde
#
(0) comments
EM ESPERANTO: De uma entrevista ao Expresso, Maria José Morgado, ex-militante de extrema esquerda, que andou à pancada com os fascistas e com a PIDE, fala sobre a luta dos estudantes contra as propinas: "(...) Não tem sentido nenhum. É uma atitude antidemocrática e egoísta. (...) Os actuais objectivos do movimento estudantil são reaccionários, quase fascistas(...).".
Aguardo, divertido, a reacção, naturalmente má, de alguns bloggers de Coimbra e de seus irmãos, sempre prontos a afiar o pau contra os "obcecados com a esquerda".
posted by FNV on 11:03 da tarde
#
(0) comments
«NINGUÉM ME LIGA! NINGUÉM ME LIGA!...»: Olha-se para o Expresso, logo na primeira página, e lê-se que Manuel Monteiro não foi convidado para a homenagem a Sá Carneiro e a Amaro da Costa. Enjoados, viramos o jornal e vemos, na última página, que MM voltou a escrever a Durão Barroso e que ainda não teve qualquer resposta. Parece que estou a ver a cena, no momento em que o funcionário da residência oficial do Primeiro-Ministro lhe entrega o correio diário: «(…), e este último monte, Sr. Primeiro-Ministro, são os diversos folhetos publicitários e mais uma carta daquele senhor que assina com uma andorinha. Diz-me o Arnaldo, do portão norte, que esse senhor, sempre que passa na rua, pendura-se uns bons dez minutos na campainha, Sr. Primeiro-Ministro. Devíamos fazer alguma coisa…» Um pouco mais a sério, confesso que percebo mal o que poderá mover alguém para o levar a aparecer sempre aos pulinhos, em bicos de pés, a alardear aos quatro ventos que é ignorado ou que ninguém lhe liga. A ser verdade que ninguém lhe liga - o que eu admito ser completamente verdade - um mínimo de pudor (para já não falar em bom senso) levaria a que se tentasse esquecer ou esconder a ofensa, mas não: MM insiste em dizer a toda a gente que não é considerado nem respeitado. Tudo bem, há casos clínicos piores...
Mais tarde, a coisa justificou-se parcialmente, com declarações à TSF: dizia MM que, sem querer acusar pessoalmente ninguém (claro, claro…), deveria haver alguma pessoa no Governo que manietava Durão Barroso, que mandava nele, que lhe dava ordens, que o impedia ou proibia de responder às inúmeras cartas que MM lhe enviava.
É completamente evidente para todos que MM pretendia dizer que Paulo Portas «mandaria» em Durão Barroso e que, com isso, tentava destabilizar a coligação.
Agora percebo melhor a triste figura: MM não se importa de aparecer aos olhos de toda a gente como alguém que não é considerado, respeitado, convidado ou respondido se isso lhe der possibilidade de tentar fragilizar o governo de coligação. Mas a táctica utilizada é tão infantil que até este PS (ao fim de bastante tempo, é certo) já compreendeu que não valia a pena utilizá-la, dado que ela não fazia sequer estremecer a coligação. Esta sabe bem que aquela é uma das armas preferidas de uma oposição pouco astuta e em permanentes crises. Com efeito, já só mesmo o Bloco de Esquerda insistia nesta tecla gasta, agora acompanhado (e bem) pelo PND. Excelente! Se os arremessos da oposição continuarem a ser apenas estes, as coisas irão bem para o governo e para o país.
posted by VLX on 10:49 da tarde
#
(0) comments
PARTOUT: O Barnabé (link na coluna da direita) é atacado por todo o lado, sobretudo à esquerda, por causa do post de Daniel Oliveira sobre Odete Santos. Mas imitando os acossados mais desinspirados, finge que o ataque parte só da reaccionária Helena Matos do Público.
O Barnabé, afinal, é igual aos outros.
posted by FNV on 10:28 da tarde
#
(0) comments
ANTI-SEMITISMO: Naturalmente que a judeofobia é muito anterior ao anti-semitismo, que só aparece em finais do século XIX, e para designar o racismo anti-hebraico, e ao racismo própriamente dito, conceito que surge já nos anos 30 do século XX. Tal não significa que hoje o conceito não se adapte à codificação territorial, cultural e emotiva que o racismo exibe. A tipologia racial, e representação do outro como inferior, não colidem com a judeofobia moderna, mesmo que esta tenha outras raízes, bem diferentes, da do racismo de Voltaire ou de Locke. Diz Francisco José Viegas que "a ideia de raça judia tem assinatura", referindo-se, pressuponho, ao nazismo, mas se lermos o W.Sombart publicado entre 1911 e 1934, data do Deutscher Sozialismus, o Geist judeu continuaria a existir "mesmo se cada judeu e cada família judaica tivessem de ser aniquilados". Com efeito, o anti-semitismo do modernismo reaccionário antecedeu em muito a experiência nazi, se bem que tenha sido esta a servir de bode expiatório às boas consciências europeias.
A diluição representativa específica do judeu pós-medieval ( roupas, ofícios, locais de residência), juntamente com a sua deslocação do duo das grandes raças históricas - a ariana e a semita - para uma (só) raça inferior à ariana, obrigou a um reajustamento. Drumont, na sua France juive, atribui ao judeu defeitos invisíveis, como taras morais e mentais.
Mas o mais interessante é sem dúvida a caracterização socio-política do judeu. E aqui entra em liça a conotação da banca judaica com o capitalismo internacional, o espírito de Manchester, o primado económico e racional do judische Geist sobre a cultura, a moral, a localização. A psicologia judaica, intelectualizada e materialista, como dizia Sombart, ameaçava tudo o que fosse "irracional, misterioso, sensual, artístico e criativo". Será por aqui, noutro post, e como resposta tardia a um repto do Terras do Nunca, que averiguarei a aderência perigosa, que algumas correntes "anti-globalização" e "anti-capitalistas", poderão fazer a um novo tipo de judeofobia. Como avisavam Deleuze e Guattari, ninguém está livre de se deixar seduzir pelos pontos focais e moleculares do fascismo...
posted by FNV on 11:38 da manhã
#
(0) comments
THE LITERAL LEFT: Excelente artigo que demonstra a falácia argumentativa dos opositores da intervenção no Iraque. A maior dessas falácias é a interpretação literal que fazem e fizeram dos argumentos dos defensores da guerra. Agarram-se estática e desesperadamente à letra de algumas declarações.
A libertação de um povo oprimido, a possibilidade de criação de um verdadeiro Estado de Direito, a redução da ameaça que o final dos comércios e contactos encobertos entre Saddam, a Coreia do Norte e Bin Laden, nada disto tem valor ao lado do escrutínio detalhado e literal dos argumentos pró-intervenção. Os riscos de implosão social que o Iraque já continha (e que por exemplo valeu o gaseamento dos curdos) parece que não existiam antes dos americanos chegarem a Bagdad. É o revanchismo argumentativo em todo o seu esplendor. A tentativa de retirar dividendos políticos de brilhantes análises estáticas feitas a posteriori.
Entretanto, lá fora, o mundo pula e avança.
posted by NMP on 6:22 da manhã
#
(0) comments
GUANTANAMO: Apesar das diferenças de opinião sobre a política externa americana, um dos poucos temas consensuais neste blogue tem sido o protesto pela forma como são tratados os presos de Guantanamo. Agora uma voz com alguma repercussão mediática na América veio juntar-se ao coro de protestos.
Trata-se de Teresa Heinz Kerry (Teresa Ferreira de nascimento, portuguesa de Moçambique), mulher do senador John Kerry, candidato à nomeação democrata à candidatura à Presidencia americana. É portanto uma potencial primeira-dama americana (enfim, o marido já viu melhores dias na corrida das primárias americanas, mas nunca se sabe). Para além disso é presidente da importante Fundação Heinz, criada a partir da fortuna do seu primeiro marido já falecido, dono das mostardas com o mesmo nome.
Aqui ficam as suas declarações, apelando à aplicação da Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra a esses detidos. Junta-se assim a todos os governos da União Europeia (português e inglês incluídos). Nesta matéria não é fácil perceber a teimosia da Administração Bush.
posted by NMP on 5:50 da manhã
#
(0) comments
NUMA NOITE SEM SONO:
Ciudad Sin Sueño (Nocturno de Brooklyn Bridge)
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Hay un muerto en el cementerio más lejano
que se queja tres años
porque tiene un paisaje seco en la rodilla;
y el niño que enterraron esta mañana lloraba tanto
que hubo necesidad de llamar a los perros para que callase.
No es sueño la vida. ¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
Nos caemos por las escaleras para comer la tierra húmeda
o subimos al filo de la nieve con el coro de las dalias muertas.
Pero no hay olvido, ni sueño:
carne viva. Los besos atan las bocas
en una maraña de venas recientes
y al que le duele su dolor le dolerá sin descanso
y al que teme la muerte la llevará sobre sus hombros.
Un día
los caballos vivirán en las tabernas
y las hormigas furiosas
atacarán los cielos amarillos que se refugian en los ojos de las vacas.
Otro día
veremos la resurrección de las mariposas disecadas
y aún andando por un paisaje de esponjas grises y barcos mudos
veremos brillar nuestro anillo y manar rosas de nuestra lengua.
¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
A los que guardan todavía huellas de zarpa y aguacero,
a aquel muchacho que llora porque no sabe la invención del puente
o a aquel muerto que ya no tiene más que la cabeza y un zapato,
hay que llevarlos al muro donde iguanas y sierpes esperan,
donde espera la dentadura del oso,
donde espera la mano momificada del niño
y la piel del camello se eriza con un violento escalofrío azul.
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Pero si alguien cierra los ojos,
¡azotadlo, hijos míos, azotadlo!
Haya un panorama de ojos abiertos
y amargas llagas encendidas.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
Ya lo he dicho.
No duerme nadie.
Pero si alguien tiene por la noche exceso de musgo en las sienes,
abrid los escotillones para que vea bajo la luna
las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.
Federico Gárcia Lorca
posted by NMP on 5:39 da manhã
#
(0) comments
"EU COMO O MEU SWATCH": Nada como um bom rap em fim de noite, para nos deixar a pensar em tudo o que não interessa a esta hora:
Eu como o meu swatch!
- se o Guterres for presidente;
Eu como o meu Swatch!
- se o Cruz comeu a Guedes;
Eu como o meu swatch!
- se o Durão for genial;
Eu como o meu swatch!
- se o Sampaio não se reformar;
Eu como o meu swatch!
- se a Casa piar;
Eu como o meu swatch!
- se o Ferro não obrar;
Eu como o meu swatch!
- se Portugal melhorar;
Eu como o meu swatch!
- na TVI. Se formos vítimas de algum inesperado progresso civilizacional prometo comer um Rolex.
posted by Neptuno on 5:38 da manhã
#
(0) comments
21 GRAMAS: Decididamente este é o ano de Sean Penn. Em Mystic River compõe um personagem ambíguo, central no clima de fio da navalha que percorre toda a película. Em 21 Grams, um filme que muito deve ao extraordinário e apaixonado desempenho dos actores, é um dos membros do trio, com Benicio del Toro e Naomi Watts, que proporciona alguns dos melhores momentos da arte de representar dos últimos anos.
Do realizador argentino Alejandro González Iñarritu, 21 Grams é muito pesado emocionalmente. Nada nas duas horas do filme é leve ou frívolo: três personagens com histórias de vida distintas entrecruzam-se tragicamente e deixam-se arrastar alienadamente pelo seu destino macabro até ao limite. Assim se constrói uma história de força perante o infortúnio, de desespero e reacção, de inesperada recuperação pela via da violência, da vingança e do ressentimento. É um filme sobre a possibilidade de redenção, mas de discurso e base anti-moralistas (uma espécie de tortuosa versão cinematográfica da máxima cristã: "estranhos e insondáveis são os caminhos do Senhor").
Um argumento duro e "feio", filmado de forma talentosamente crua e suja, transformou este filme, aparentemente condenado a passar despercebido, na grande sensação do final de ano cinéfilo americano. Muito graças ao brilhantismo do trio-maravilha que dá corpo a um argumento poderoso. Provavelmente esta história não era filmável sem actores com desempenhos de primeira água.
Dizem que perdemos 21 gramas no preciso momento em que morremos. Descansem que não perderão peso durante o filme. Apesar do vento de morte que, durante quatro quintos do tempo, o atravessa, 21 Grams acaba por ser um belo e exaltante hino à Vida.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.