(MAIS) INTENDÊNCIA ESPADIANA: Nada a fazer, sai mais um número. Desta vez, no Expresso de hoje, João Carlos Espada ( ex-director de publicações da extinta UDP, agora incluida no Bloco de Esquerda ), debita a nota da praxe sobre a "polémica da educação sexual" em Portugal. JCE insurge-se contra os "bárbaros" e defende "o direito das famílias a educarem os seus filhos com padrões civilizados". No meio de tanto que se escreveu, de um lado e de outro, esta frase é aparentemente inofensiva. Entre outras razões, se eu não tivesse passado os últimos quinze anos da minha vida , 80 horas por mês num gabinete, a ouvir histórias de pessoas, também seria tentado a considerá-la inofensiva. O que são padrões civilizados? Na história recente da sexualidade, e seguindo Larkin, só houve dois momentos: antes e depois dos anos sessenta. É certo que bem antes, Reich e Freud molharam a sopa, mas não disseram nada que Ovídio não tivesse já dito: somos, salvo fugazes momentos, escravos do prazer. Os últimos quarenta anos trouxeram em levas descontínuas, mais da mesma cartilha, mas com uma diferença: existe agora, para psicólogos e juristas recalcados, uma base política para a libertação sexual, uma espécie de cidadania dos genitais. O sexo passou a ser tão misterioso e obrigatório como o código da estrada. Ora, contra isto, JCE e muitos outros contorcem-se de indignação: têm saudade dos "padrões civilizados". Não se vê que tais padrões possam ser outra coisa que não o regresso às anilhas falo-metálicas para as aventuras puerícias masculinas, ou a soberba educação para a ignorância feminina do botão mágico. Mais adiante, talvez a cultura do amor e da fidelidade, que civilizadamente criou legiões de mulheres enxovalhadas, quando não estimulou patrulhas de putanheiros sifilíticos assoberbados de complicações neurológicas; a neurosífilis era muito civilizada, só raramente atingia professores e magistrados. Mal por mal, prefiro o código da estrada: ninguém me obriga a guiar.
Exagerei um bocado, caro Pedro Picoito, mas às vezes é preciso. O velho Freud nem tem grandes culpas: se você ler ( ou reler) "O Mal-Estar na Civilização", descobrirá um texto, para os padrões dominantes actuais, sombrio, pessimista e conservador no que toca ao prazer. O meu ponto, ligeiro na análise, é este: grande parte da euforia actual face ao sexo é filha dilecta dos "padrões civilizados". Abordarei isto mais à frente.
posted by FNV on 10:01 da tarde
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DEDICADO À AMNISTIA INTERNACIONAL:
"Se é verdade que toda a linguagem inclui os elementos de uma concepção do mundo e de uma cultura, também poderá acontecer que a partir da linguagem de qualquer pessoa possamos avaliar a complexidade da sua concepção do mundo".
Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, 1971 para a edição americana da International Publishers, pp 325, tradução livre.
posted by FNV on 9:18 da tarde
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GEOESTRATÉGIA: Avaliando bem a sinistra involução da economia portuguesa bem como a proverbial certeza nacional de que uma boa cunha vale mais do que um direito, penso que é de elementar justiça "parabenizar" o Engº Sócrates pela visão, audácia e alcance demonstrados na colocação de Guterres como Alto Comissário da ONU para os refugiados...
posted by Neptuno on 4:48 da tarde
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RECTIFICAÇÃO: Aconselho os meus leitores a lerem em web.amnesty.org/report2005, o que a senhora secretária-geral da Amnistia Internacional escreveu. Afinal precipitei-me, a AI não equipara Guantánamo a um gulag qualquer, a expressão rigorosa é outra: "Guantánamo é o gulag dos nosso tempos". Esta classificação vale por si, e a autora separa-a do resto da cartilha - "Os EUA são uma democracia e a portarem-se assim retiram ao mundo civilizado autoridade moral para se poder criticar estados como Israel, Egipto e outros" ( não menciona Cuba nem Coreia do Norte). Leram bem, o gulag dos nosso tempos. O espaço eleito, a referência. Viajam pouco, os funcionários da AI?
GUANTANAMO (II): IT'S NOT PINING. THIS PARROT IS NO MORE!: Tal como eu previa, os meus amigos FNV e Neptuno (ali em baixo, na caixa de comentários) insistem em olhar para a plumagem dos bichos. Ora bem. Dizer "Guantanamo é o Gulag dos nossos dias" não é dizer "Guantanamo é um Gulag". Só um descerebrado ou total ignorante pretenderia comparar os dois termos no seu conteúdo verdadeiro (num registo puramente denotativo, se quiserem). Vinda da AI, creio que a frase deve ser interpretada no sentido que apontei no texto precedente (impermeabilidade às garantias individuais) e, acrescento agora, no sentido do manto de silêncio que encobre os dois espaços: pouco ou nada se sabe do que lá se passa e, por isso mesmo, há muito lugar para propaganda e contra-informação. Aliás, o facto de Guantanamo existir "numa sociedade que o pode vigiar, denunciar e combater", tão carinhosamente exaltado pelo nosso FNV, não tem tido, ao que parece, resultados significativos, pois não? Ora, o que eu quis dizer, e repito agora, porque nenhum dos meus Amigos se refere à coisa, é que não me parece fazer muito sentido discutir, a propósito de Guantanamo, as suas semelhanças e diferenças com o Gulag. A evidência é que um pertencia a um regime totalitário, expressamente predisposto a sacrificar os direitos individuais à razão de Estado; o outro é um tumor num regime democrático, que sacraliza as liberdades individuais, e, como fenómeno patológico, deve ser extirpado. A partir deste ponto, qual é o sentido de continuar a discutir as diferenças e semelhanças entre ambos? Será muito produtiva a conclusão de que o Gulag "era muito pior, muito mais atroz" do que Guantanamo? Se quiserem continuar a discutir a plumagem do bicho, força. Eu acho que está morto.
posted by PC on 3:36 da tarde
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PORQUÊ?: Na semana em que os portugueses são confrontados com a sua falência, enquanto estado, vale a pena questionar as causas para tal ocorrência, tendo sido divulgados alguns dados estatísticos que nos mostram como somos dos países europeus que mais investem na justiça, na saúde e na educação - mesmo comparando com Franças, Alemanhas e Suécias. Penso que a principal causa deste estado de coisas prende-se com a cultura de laxismo e desresponsabilização em que vivemos nas últimas décadas e cujos principais responsáveis são os políticos que nos governaram entretanto. Chegámos a um ponto de degradação tal que os nossos dois últimos primeiros ministros venceram eleições mentindo descaradamente aos eleitores sem que houvesse qualquer censura social por esse facto, como uma população que já se habituou a enganar e a ser enganada e para quem a palavra "responsabilidade" apenas tem lugar no dicionário. Já passaram mais de 30 anos sobre o 25 de Abril. Mesmo dando de barato que tivemos que "levar" com certas "heranças" deixadas pelos exageros do PREC e da reacção generalizada em sentido contrário ao regime fascista então derrubado - o preço a pagar pela liberdade? - não me parece que tais excessos justifiquem que estejamos atolados como estamos, tanto tempo depois. Assim, sobra espaço para a "responsabilidade" de quem tinha (e tem) o poder de decidir. A dita desresponsabilização que hoje vigora na nossa sociedade foi alimentada, em minha opinião, por quatro vias principais e complementares. Em primeiro lugar, a forma como se deixou degradar o funcionamento da justiça - nenhuma sociedade pode permanecer sã se os cidadãos não têm maneira eficaz de fazer valer os seus direitos. Em segundo lugar, nunca se mudaram as jurássicas leis laborais, que permitem que um contrato de trabalho seja encarado (e desempenhado!) como se de uma reforma se tratasse -qualquer investimento em produtividade esbarra no escudo dos direito adquiridos, o qual não parece contemplar obrigações. Em terceiro lugar, a falta de "vontade política" em reformar (leia-se "afrontar") a administração pública que, como é sabido, é quem decide as eleições. Finalmente, o próprio comportamento político dos nossos governantes, que nunca aceitam responsabilidades por coisa alguma e que, por via disso, serão aqueles que mais beneficiam da desresponsabilização vigente. Mas, como se costuma dizer, o exemplo vem de cima... Goste-se ou não, vamos sempre parar aos mesmos responsáveis. E, se estes não mudarem o seu registo, acredito que será o próprio regime a mudar. Brinca-se com o fogo.
posted by Neptuno on 3:25 da tarde
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AO LONGE PARECEM MOSCAS: Os crimes do estalinismo foram únicos, pela dimensão da sua violência premeditada, pelo pré-texto ideológico que os escudava ( em nome do povo contra o qual eram precisamente cometidos), até pela tibieza e pelo tempo que demorou a serem reconhecidos de modo universal. A mesma coisa podemos dizer do crime nazi: não é comparável a coisa nenhuma, o seu nome não deve ser usado noutros lugares. No seu post ( passando ao lado dos remoques ), o meu caro amigo PC, contrapõe, se bem percebi, este argumento: Guantanamo e o Gulag, são e cito, " semelhantes enquanto espaços impermeáveis aos direitos e garantias individuais". Se a semelhança entre os dois espaços é a que PC desenha, temos um problema. Os direitos e as garantias individuais são pluridimensionais: tanto atento contra eles impedindo alguém de falar, como torturando a pessoa. Mas eu posso criar um espaço onde 100 pessoas são presas ao arrepio do direito, torturadas e impedidas de falar e outro onde um milhão de pessoas é morta à fome, à bala e ao frio. Pode também acontecer que um dos espaços exista numa sociedade que o pode vigiar, denunciar e combater, e o outro habite uma sociedade herméticamente fechada. Claro, são ambos espaços impermeáveis aos direitos e garantias individuais. Um leão e um gato, são ambos felídeos.Temos portanto um problema de classificação, que era o que pretendia discutir no post ao qual PC respondeu: graças ao seu estímulo, desenvolvo mais um bocadinho, mas sobre a classificação da AI. J.L. Borges tem um texto muito conhecido sobre o despautério de um taxonomista inglês do século XVII, John Wilkins, que criou um sistema pessoal de classificação da linguagem em 40 categorias. Através de um processo de decomposição, estas categorias dividiam-se de tal forma, que a certa altura, cada letra correspondia a uma categoria; Assim, um dado animal ou o título de um livro , no código de Wilkins, acabava por ter um nome completamente diferente. A classificação instaura um poder imenso, o poder de dizer o que uma coisa é, dentro do sitema classificativo criado. O aborrecido é que a classificação, a seriação, a ordenação, pretendem construir uma realidade sobre outra qualquer pré-existente. A classificação feita pela AI, porque é mais do que uma comparação, é de uma classificação que se trata, não é outra coisa do que a recriação do poder de dizer o que uma coisa é. É um exercício de poder, porque representa algo, esvaziando-o de qualquer possibilidade de auto e hetero representação. No caso em apreço, a AI desqualifica a memória e o texto específico do estalinismo carcerário, que foi construido ao longo dos tempos, por diversas vontades, leituras e testemunhos. Só fica a dela.O mesmo se passaria se alguém afirmasse que "Lisboa é a Atenas do tempo actual". Na célebre enciclopédia chinesa ( "Arquivo Celestial do Conhecimento Benevolente") que Borges cita no referido texto, o secretário do imperador classificava os animais em categorias que iam desde "os pertencentes ao imperador" aos "domesticados", passando pelos que "ao longe parecem moscas". Ao longe...
Obrigado, Senhor, por mais esta dádiva inesperada. Mas... e se o Benfica fosse jogar para o Mundo português onde foi festejado e nós, com o Sim, assistíssemos aqui a mais jogos do eixo Paris-Bona?
GUANTANAMO (I): THIS PARROT IS DEAD!: É um dos mais notáveis sketches dos Monty Python, onde se caracteriza, de forma implacável, a capacidade de alguém recusar a evidência - e o drama do interlocutor que procura o reconhecimento dela. No post anterior, o nosso FNV, que tem sempre a grande preocupação de denunciar - e nisso aproxima-se muito da Amnistia Internacional - os chamados double standards, condena quem chama a Guantanamo o "gulag dos nossos tempos", argumentando que são coisas diferentes. E são, de facto, coisas diferentes, mas não - ou não tanto - pelos motivos que invoca. A aritmética não é, em si, o factor mais importante na aferição da gravidade das violações dos direitos humanos, salvo quando serve para mostrar o projecto sinistro e desumano de onde elas resultam. É por isso que os crimes de guerra cometidos pelos Aliados durante a 2ª Guerra - impunes, na sua esmagadora maioria - nunca poderão ser comparados ao Holocausto. Também é verdade que Guantanamo não é local para se matarem, do pé para a mão, uns milhares de pessoas. Em tudo isto, FNV tem razão. São, também, coisas diferentes, embora FNV não se refira a este ponto, porque Guantanamo não serve, ao que se sabe, para armazenar, em massa, suspeitos e condenados por delitos de opinião. Mas são coisas semelhantes enquanto espaços impermeáveis aos direitos e garantias individuais, propositadamente criados com essa função (como, aliás, FNV reconhece) - em ambos os casos, por razões de Estado. E, aí, não se diga que a mesma coisa ocorre em Cuba, ou em Israel (ou, na verdade, em Portugal, no Reino Unido, em Espanha, etc.). Uma coisa é a privação de garantias, mais ou menos esporádica, mais ou menos frequente, em violação do sistema jurídico formal aplicável; outra coisa é a recusa formal da aplicação desse sistema de garantias a uma categoria de pessoas, como sucedeu com a recusa da aplicação das Convenções sobre prisioneiros de guerra aos detidos de Guantanamo. Creio que a expressão utilizada pela Amnistia Internacional se deve interpretar neste sentido. Enfim, há uma evidência que muita gente não consegue aceitar (eu sei, estou a repetir-me, mas voltarei a fazê-lo, qual Mr. Praline, cada vez que me tentarem vender um papagaio morto): é que o post do FNV, ao recusar uma equiparação entre o Gulag e Guantanamo, cai precisamente no mesmo equívoco que critica, mas pelo lado inverso. A diferença é radical e anterior: num caso, uma prática congruente com a própria ideologia do Estado; no outro, uma prática que renega os fundamentos mais sagrados da constituição do Estado. Assim, diferenciar o Gulag e Guantanamo através de "níveis" de gravidade das atrocidades é comparar as plumagens dos bichos sem reconhecer o facto evidente de que o papagaio está morto.
posted by PC on 2:17 da manhã
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AMNISTIA INTENCIONAL: Tem razão o Luciano Amaral do O Acidental, na crítica sobre a adjectivação que a Amnistia Internacional faz de Guantánamo: "o gulag dos nosso tempos". Deixemos o escritor russo sossegado, deixemos as palavras dormirem em paz. Mesmo que remotamente se perceba o alcance pseudo-filosófico da comparação ( privação dos direitos humanos em nome de uma determinada concepção da razão). Pergunto-me se esta gente terá o sentido das proporções. Pelos vistos, não. Mas pior, muito pior, neste amassar de leveduras incompatíveis, é o cheiro . Esta necessidade de chamar gulag a Guantánamo, tresanda à vontade de branquear o passado: "são todos iguais". Não, não são. Encerrar 400 ou 500 pessoas capturadas num cenário de guerra, prendê-las sem direito a um julgamento e torturá-las ( dou de barato, não porque acredite na imaginação de muitos, mas porque acredito que um campo destes é precisamente feito para que haja tortura), é uma coisa. Ocorre em Guantánamo, como de uma forma ou de outra, em Cuba e em Israel; Outra coisa, é prender metódicamente milhões de pessoas durante anos e assassinar centenas de milhares em nome da razão de Estado . É vergonhosa esta necessidade de nivelar os crimes de uns pelos crimes dos outros, ainda por cima obliterando os factos, a História e os mortos.
TEORIA GERAL DOS IMPOSTOS ( pequeno manifesto para uma economia do desperdício): Trabalhamos, represamos, reproduzimo-nos. Aqui e ali, um instante de pausa. Olhamos o mundo e surpreendemos nas nossas vidas o defeito de Severo, pese embora a vitória sobre Albino: a falta de suavidade. Nesse rasto, nada se compõe, nada se saúda. Resta-nos estudar a fábula e fazer como o castor: perseguido por caçadores ávidos do óleo que se extrai dos seus testículos, enceta a fuga, determinado; a meio caminho, corta com os dentes poderosos os testículos alvo da cobiça alheia.
posted by FNV on 9:34 da tarde
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AO AUGUSTO M. SEABRA: Só posso agradecer-lhe, para além da simpatia, os pontos que trouxe para a discussão. Uma nota final, no entanto, apesar de AMS saber mais sobre a produção cinematográfica nacional a dormir do que eu acordado. Conheço alguns dos exemplos que referiu, mas continuos a classificá-los como insuficientes. Um miúdo português médio exibe maior familiaridade com figuras nacionais francesas, inglesas e americanas, do que com as portuguesas, por causa do cinema. E não se trata de glorificação nacionalista, trata-se de construção de identidade, e até, se se usar uma perspectiva francamente crítica, da construção do nosso olhar sobre os outros. Apelando a códigos de sedução mastigáveis - heróis, vilões, acção, romance - tanto que se poderia filmar sobre o nosso passado: as travessias africanas de Serpa Pinto - agente colonial, o episódio autista de Salazar em Goa, os luso-contrabandistas de ópio em Macau no século XVIII, enfim, toda uma série de episódios. Não tive ainda oportunidade de ler o famoso livro de José Gil, mas suspeito que muito do nosso receio, da nossa angústia actual, se prende com a falta de uma base identitária. Aliás, a histeria que nos marca, como toda a histeria, cresce contra os factos ( desde a cena paroxística para evitar discutir determinado assunto, ao clássico episódio conversivo que cria um braço paralisado). É fácil protestar contra a hegemonia da cultura americana, e depois, diante de um dos territórios dilectos dessa hegemonia, assobiar para o lado; isto é, produzir em catadupa ( passe o exagero, OK) uma narrativa cinematográfica quase sempre intimista e psicológicamente densa.
FUTEBOLÂNDIA IV: Sem querer meter a foice em seara alheia mas metendo, penso que o futebol é apenas mais um dos elementos do "pão e circo" que é "atirado" à população como forma de a distrair dos problemas reais. Claro está que um dia o pão acaba e, sem pão, não há circo que resista. A televisão dos tempos modernos é o instrumento fundamental desta política. Política? Sim e não só porque foram os políticos os seus principais "actores" mas também porque eram e são os únicos com poder efectivo para mudar alguma coisa. No entanto, também é sabido que a uma classe governante medíocre interessa uma população igualmente medíocre como forma de se perpetuar no poder. A tal "política" que serve e perpetua a partidocracia em que vivemos, com resultados que já se tornam difíceis de camuflar. De tal modo que até já não é possível distinguir o comportamento dos candidatos a PM quanto a promessas, nem os próprios PM relativamente à quebra das mesmas promessas, seja qual for o partido. Assim mais vale contratar alguém do que votar... No meio de tudo isto, o futebol torna-se ainda mais atraente.
posted by Neptuno on 11:03 da tarde
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ALERTA: Quando, numas próximas eleições, algum candidato a primeiro ministro afirmar com convicção que VAI subir os impostos, aumentar a gasolina e o tabaco, e deixar entender que NÃO VAI tocar na despesa, já que a mesma implica "mexer" com a função pública... desconfie!
posted by Neptuno on 10:55 da tarde
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FUTEBOLÃNDIA III: O Augusto M. Seabra ( doravante AMS) faz-me, e com toda razão, uma interpelação certeira: como pode uma concepção liberal habitar com uma política cultural ao estilo de Malraux ou de António Sérgio? Eu não estou habilitado a tanto, preferia discutir com o AMS outras coisas. Nos posts anteriores quis dar a entender que se tem de contornar a televisão. O cinema é um, apenas um , dos vários meios ao dispor, no qual o Estado já gasta algum dinheiro. Não querendo discutir as várias configurações da neutralidade do Estado liberal ( Raz, Dworkin, Rawls) sempre adianto isto: quando o Estado apoia financeiramente a construção de dez estádios de futebol ou financia a produção de vinte filmes sobre os labirintos psicológicos do homem neurótico, está a favorecer uma ou outra determinada concepção de cultura. Nada a opor? Apenas se outras concepções tiverem a mesma atenção. Com a vantagem adicional, do meu ponto de vista, de essas outras concepções contribuirem para atrair uma grande fatia da população, que consome em excesso espectáculos boçais e que não pode ( ou não quer) consumir cultura de autor, por vezes excessivamente estilizada. Assim, por que razão é que nos haveremos de queixar de "dirigismo", se o Estado incentivar a produção de filmes sobre figuras da História e da cultura portuguesa? AMS pode sempre dizer-me que tal é virtualmente impossível: "Olhe agora sff o Sr. vai fazer um filme sobre Aristides Sousa Mendes". Dito assim, concordo, parece absolutamente sergiano. Mas dito de outra maneira, ou seja, dito com dinheiro e com meios, convidando pessoas competentes e politicamente abrangentes, já a coisa pia mais fino. Claro que contornar a televisão exigiria muito mais do que apenas uma boa política de cinema, mas seria um bom começo.
posted by FNV on 6:27 da tarde
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FUTEBOLÂNDIA II: Aqui na nau, o nosso P.C. também partilha com JPP a náusea pelo excesso de consumo do futebol sem bola: os debates, as peças intermináveis sobre o joelho do Mantorras, as manifs, as arruaças, as intrigas de vão-de-escada. Mas porque razão estas coisas são tão populares em Portugal? JPP ( e suspeito que também o meu amigo P.C.) responde: porque espelham o nosso atraso civilizacional e - não o diz claramente mas percebe-se - porque ajudam a prolongá-lo. Aqui bate o ponto, a que aludi no post anterior. Penso que JPP está excessivamente preso à ideia de uma TV -informativa fazedora dos gostos culturais da multidão, e portanto acredita que a regulação televisiva ajudaria a melhorar o nosso atraso civilizacional; de outro modo não se compreende o argumento. A minha discordância baseia-se no facto de eu entender a televisão como parte do atraso: os portugueses, até há bem pouco tempo, eram o segundo povo da UE que mais televisão consumia e o que menos livros lia. Os conteúdos televisivos, por exemplo a forma escatológica como abordam as tragédias nacionais, reflectem o lugar da TV: uma sucessão de imagens e de sons sem qualquer relevância, cujo único objectivo é permitir ao espectador identificar-se com o que vê. Se o espectador é pobre e atrasado, tem de se identificar com pobres e atrasados. JPP argumenta: mas precisamente porque assim é, é que a TV deveria elevar o nível. Não. A TV é, num país pobre e periférico, o meio predilecto de consumo do espectáculo. A possibilidade seria, penso isto há anos, investir em zonas que a TV não possa apresentar mastigadas e desossadas. Criar o hábito de gostar de outras coisas - livros, cinema, música - confiando que as pessoas se comecem a interessar. Nesta altura o leitor deve estar a dizer: "isso é muito bonito, mas como é que se faz?". Não sei como se faz, mas sei como não se faz. Não se faz optando por construir dez estádios de futebol num país no qual a segunda cidade não pode receber decentemente uma ópera; Não se faz promovendo um cinema que não tem um punhado de bons filmes dedicados às suas principais figuras e/ou situações históricas ( alguém já viu um filme sobre Aljubarrota, Aristides Sousa Mendes, Viriato, Garcia da Orta, Eça de Queiroz, entre tantos outros?) mas que todos os anos fabrica películas em torno da "solidão urbana", da "sexualidade", etc. Não se faz estimulando a ideia que "elite", "autoridade" e "intelectual" são termos injuriosos, que todos somos igualmente "bons" ou "porreiros". Sobre o imenso e vazio esforço mental, a bola televisiva inscreve uma realidade amável ( literalmente) e inteligível: festarola e cuecas à mostra. Como poderia de ser outra forma?
posted by FNV on 11:43 da manhã
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RI DE QUÊ? Se há coisa que não percebo é a alegria dos jornalistas da SIC no relato das notícias. Mário Crespo e aquele outro rapaz que costuma apresentar os jornais da noite na SIC Notícias anunciam-nos aumentos de impostos socialistas com um sorrisinho na boca como se os impostos só se nos impusessem a nós. Parece que a eles não lhes custa nada! Ah ah ah, aumentaram os impostos, é dito de tal forma como se nós, pobres telespectadores, merecêssemos a sanção, e como se a eles nada acontecesse. O Governo decidiu aumentar o IVA para 21%, dizem como se estivessem a anunciar o nascimento do primeiro filho, alegres e contentes. A ideia que tenho, para não pensar que apoiam sem a mínima discrição e sentido crítico as medidas impostas por este governo, é que riem da mesma forma que as hienas da historieta de Juca Chaves. Que lhes faça bom proveito.
posted by VLX on 12:43 da manhã
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POUPANÇAS E IMPOSTOS SOCIALISTAS: A acreditar numa notícia muito mal escrita no Público de 24/5/05, uma comissão (mais uma) do Ministério da Justiça deslocou-se a Espanha, na semana passada, para analisar o regime de férias judiciais que ali se aplica. Na mesma altura em que o governo exige dos contribuintes mais e maiores sacrifícios e dinheiro para alimentar a sua avidez sem limites, envia para Espanha uma comissão para apreender coisas que qualquer elemento ligado à justiça portuguesa sabe como funcionam (por exemplo, que os tribunais em Espanha encerram às 15h00 da tarde) ou, mesmo que assim não fosse, para conhecer dados que podiam ser enviadas por simples fax. A coisa já era estúpida se feita depois de alardoarem os propósitos antes de fazerem os estudos mas se é para isto que o governo nos exige maiores impostos, seria conveniente começarem as manifestações de rua que por muito menos se fazem aos governos de direita. Para mera satisfação da minha curiosidade nestas coisas, gostaria de saber em que restaurante de Madrid se discutiu tão importante assunto.
A FUTEBOLÂNDIA: Pacheco Pereira, que estimo e do qual sou leitor regular, fez esta semana, no Abrupto e na Quadratura do Círculo, uma críica mais acerba do que é habitual, ao exagero futebolístico em Portugal. Para aqueles que estão a adivinhar a minha discordância apenas porque sou do Benfica, aviso desde já que estou de acordo, na generalidade, com a linha argumentativa de JPP. Mas existem alguns pro-buleumas, no sentido literal ateniense. JPP misturou dois contextos: o estúpido excesso de cobertura televisiva das festas, boçais e primárias ( estou à vontade para falar, porque participei numa e não para ser filmado), e a violência endémica associada aos espectáculos futeboleiros, por um lado; a suposta especificidade portuguesa por outro. JPP falha acaloradamente na intersecção destes dois planos. Na Alemanha, na Bélgica e na Holanda, por exemplo, a violência organizada em torno de desafios de futebol mobiliza recursos, esses sim adjacentes a uma guerra civil; Constituem verdades óbvias duas coisas: nem nesses países as TV's dão o espaço ao fenómeno festivo que dão em Portugal, nem o sucesso da prevenção desses focos de guerra civil é minimamente atingido. Ou seja, nesses países, culturalmente luteranos, a violência dispensa a festa, logo esta não pode ocupar o espaço mediático. JPP engana-se ( não se pode saber tudo) na comparação análise da violência futeboleira lusa com a europeia. Onde não se engana é na denúncia, malgré tout, da existência de uma agressividade malsã no psicodrama futebolístico português. E tem toda a razão na acusação de complacência que faz às autoridades portuguesas: ano após anos, meninos dos principais clubes partem, queimam e intimidam com a mesma frequência com que os seus rostos aparecem escarrapachados nos jornais e nas TV's. Mas o que a indignação de JPP deixa transparecer é sobretudo outra coisa: o espaço mediático ocupado pelo futebol e a sua associação ao nosso atraso civilizacional. Evidentemente, a associação é meritória, mas curta: levada ao extremo, muitos dos valores civilizacionais que JPP habitualmente defende iriam pelo cano: a desigualdade natural, a luta contra "a orientação pelos iluminados", etc. E a preocupação de JPP é sobretudo com a TV, porque está ainda preso, do meu ponto de vista, a uma concepção excessivamente popperiana da regulação dos comportamentos da responsabilidade da caixinha mágica. JPP ainda exibe resquícios do modo de pensar do intelectual ( eu sei que ele prefere o termo "erudito") dos anos 60/70, que tendia a sobrevalorizar o poder da televisão; o pessoal da Internacional Situacionista ficou fascinado/indignado com a imagem divulgada em Outubro de 1967, num canal holandês, do peito nu de uma mulher:
"Na sua crescente afoiteza, os peritos dos meios de formação de massas pretendem revelar ao gado que os contempla uma verdade, segundo julgam, que de outra maneira esta gente nunca veria; e gabam-se da contribuição dada para o progresso cultural destas multidões que eles estão convencidos de terem reduzido a uma passividade definitiva e absoluta".
Espanto-me com o facto de que logo JPP, queira mudar o país através televisão e não apesar da televisão.
AINDA SOBRE A DIFERENÇA ENTRE CAMPEÕES E CAMPEÕEZINHOS: O João indigna-se com o meu post Campeõezinhos, expondo as razões por que discorda de mim e censurando-me implicitamente, se bem percebi, a falta de desportivismo. Ora bem. Sou sócio do FCP há quase 38 anos, sou portista aguerrido, parcial, mas não creio que seja faccioso. E como a escrita do João me merece sempre muita estima, aqui estou a tentar responder-lhe. Vamos então por partes. Em primeiro lugar: não tive a intenção de "apoucar" os feitos dos adversários. Como escrevi antes da última jornada, quando o FCP ainda podia ganhar o campeonato, e reiterei depois numa resposta a um comentário, nenhum clube merecia esta época, do meu ponto de vista, o título de campeão. Campeão, para mim, é aquele que ao longo de um ano, mostra futebol de qualidade superior à generalidade dos restantes clubes - e por isso sucede também, às vezes, que dois ou três clubes mereçam ser campeões, porque jogam melhor que todos os outros e disputam o título até ao fim. Acho que, este ano, não foi o caso: qualquer equipa que ganhasse o campeonato seria, apenas, um campeãozinho. Isto leva-nos ao segundo ponto: a apreciação material do futebol que se praticou. Partindo do princípio que as 4 ou 5 equipas que terminam na frente são melhores que as restantes, é de esperar que sejam elas a proporcionar os melhores espectáculos. Todavia, os jogos em que essas equipas intervieram este ano foram, na sua generalidade, maus ou medíocres, sem arte e sem fulgor. Vi apenas um grande jogo de futebol este ano (o Benfica-Sporting, para a Taça). O resto foi confrangedor. Sim: pode ter havido um ou outro jogo do Moreirense, ou do Estoril, ou do Nacional (e também, seguramente, do Sporting e do Braga), qualificável como bom ou muito bom. Mas não chega para fazer a primavera de "um bom campeonato". Claro que esta apreciação material é puramente subjectiva e, portanto, matéria de opinião: cada um gosta do que gosta. O que já não é matéria de opinião - e este é o terceiro ponto - é que a disputa do título até à última jornada (entre duas, que poderiam ter sido três, equipas) seja equivalente a um grande campeonato. Diz o João que "é asneira pretender que o campeonato foi nivelado por baixo". Eu digo que não é. E digo porquê. Os cinco primeiros classificados deste ano somaram, todos juntos, 300 pontos. No ano passado, os cinco primeiros classificados somaram, todos juntos, 339 pontos. Isto significa que os cinco primeiros perderam este ano mais 39 pontos nos jogos com os restantes clubes. Só que esses 39 pontos não serviram para aproximar os 5º, 6º e 7º dos primeiros: o 5º classificado deste ano (o Guimarães) somou os mesmos pontos do 5º classificado do ano passado (o Sp. de Braga): 54. Na verdade, as 10 equipas do meio da tabela (entre o 6º e o 15º classificado), todas juntas, somaram apenas mais 11 pontos do que no ano passado (436 contra 425): cada uma fez, em média, mais 1 ponto. O que sucedeu foi que os três últimos (Moreirense, Estoril e Beira Mar) somaram, juntos, 94 pontos, mais 14 do que os três últimos do ano passado (Alverca, Paços de Ferreira e Amadora): cada um fez, em média, mais (quase) 5 pontos. Isto é o que eu chamo um campeonato nivelado por baixo, em que as melhores equipas perdem muito mais com as piores equipas. Um campeonato nivelado por cima seria, para mim, aquele em que as 4 primeiras equipas fazem mais de 70-72 pontos cada (convém lembrar que, o ano passado, o 2º e o 3º classificados fizeram, cada um, mais 12 pontos do que este ano) e em que a discussão do título entre elas dura até ao fim. Isso sim - e continuando a partir do princípio de que as equipas de topo praticam melhor futebol do que as do fim da tabela -, seria um indício seguro de que houve bom futebol e nervos q. b. Enfim, como se compreenderá, os feitos internacionais das equipas portuguesas - que até jogaram bem nas taças europeias - são absolutamente irrelevantes para a questão de saber se o campeonato nacional foi nivelado por cima ou por baixo. Por último, não sei se o remoque das pessoas que "de facto não gostam de futebol" também me é dirigido. Se é, só posso dizer que, provavelmente, gostamos de futebóis diferentes. ADENDA: O Américo de Sousa, com aquela ironia bem disposta a que nos habituou, propõe a criação de uma terceira categoria: a dos campõezecos... Tá bem, Américo... seja!
posted by PC on 4:24 da tarde
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"OPERAÇÃO CORAÇÃO": Aproveitando a euforia benfiquista, consta que uma das medidas de combate ao défice a apresentar pelo governo consiste numa reedição da venda dos famosos títulos "Operação Coração". Não vencem juros, não são reembolsáveis e garantem um público alvo de seis milhões de clientes. Entre os subscritores, serão sorteados dois lugares de deputado e um de secretário de estado.
posted by Neptuno on 2:51 da tarde
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PUDOR: Muito se falou das nomeações do anterior governo para o conselho de administração da CGD. Toda a esquerda se uniu, afrontada pelo escândalo de tais compadrios. Já aí está a resposta de quem não alinha nesse tipo de favores políticos: Fernando Gomes é o novo administrador da Galp! Vasco Pulido Valente lá terá as suas razões quando perspectiva a falência do regime.
CALHA BEM: O FCP já tem o seu Robert Waseige. Terá casado aos quinze?
Mas lês-me, lês-me...
posted by FNV on 10:38 da tarde
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BELA COMUNICAÇÃO SOCIAL LHES SAIU EM RIFA: Quem for ver a página da TSF, fica a saber que Guterres foi escolhido para Alto Comissário da ONU, que Sócrates está "emocionado", que considera tratar-se de uma "vitória de Portugal", que Soares elogia o "espírito de serviço de Guterres", que Coelho lhe gaba o perfil e que, em geral, os socialistas estão satisfeitos, cheios de alegria e contentes. Através de inúmeras notícias escritas e depoimentos gravados, pormenoriza-se detalhadamente o tema. Num canto da página é possível (se lá forem rapidamente) descortinar ainda o pormenor deste Governo pretender aumentar o IVA para 21%. Coisita sem importância.
posted by VLX on 7:31 da tarde
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MISTÉRIOS I: Quase todos os relógios de pulso que vejo à venda, digamos que da gama média, apresentam o convincente argumento de serem submergíveis até 50, 70, ou 100 metros de profundidade. Porque razão os publicitários destes relógios entendem que um professor primário, uma anestesista, ou um funcionário das finanças, se deixam seduzir por este argumento? Estão a ver o meu primo, um contabilista cinquentão e anafado, a explicar à mulher o motivo da compra: "Ó filha, foi caro, mas é submergível até 100 metros!"? Deve existir uma explicação para este mistério. Os estrategas da publicidade devem suspeitar que existe um J. Costeau escondido em qualquer um de nós: um tipo compra um relógio desses e corre para casa a enfiar-se na banheira. Mas se é assim, porque é que não nos oferecem de brinde ( ou em suaves prestações), com os relógios submergíveis, barbatanas, garrafas de oxigénio, cursos de mergulhador, lanchas a motor e essas coisas todas? Mistério submergível ( ou submersível, o dicionário admite as duas formas).
DURANTE ESTA SEMANA: Dieta atlântica, muito peixe (branco e azul), que tem o precioso fósforo, essencial para as "little grey cells" e, no caso do azul, aquele colesterol que faz bem às artérias, permitindo irrigar melhor os cérebros mais necessitados. Cuidado com as gorduras, especialmente as provindas do gado vacum. A diminuição do ácido úrico exige a eliminação do polvo. Acompanhar de exercícios mentais (palavras cruzadas servem) para reduzir os riscos de senilidade precoce. Pensando bem, convém que a dieta se prolongue durante os próximos meses.
posted by PC on 12:54 da manhã
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FELIZMENTE: A RTP só me apanhou de raspão, ontem nas comemorações na Praça da República, em Coimbra; é que Coimbra é um meio pequeno, e até um insignificante personagem como eu, poderia ter visto afectada a sua razoável ( vá lá...) imagem se alunos e doentes pudessem ter testemunhado a triste figura: de tronco nu, com uma cerveja numa mão, uma camisola autografada noutra e uma cara de imbecil no meio. Mas como o Francisco José Viegas, portista vincado, fez a amabilidade de tolerar o meu benfiquismo, e os meus amigos fizeram o favor de não ficarem chateados, tudo se perdoa. A lucidez segue dentro de momentos.
A todos, sem excepção, que comentaram o post: obrigado pelas vossas amáveis palavras e pela compreensão demonstrada.
Rapaziada: ou ganham juízo, ou tenho de apagar isto tudo. Eu sei que é a vida de blogger ( conheço um blogger que tem um sobrinho complexado que lhe enfia comentários anónimos e descabelados, mas é um caso de psiquiatria), mas há limites, o meu editor-chefe ainda se chateia comigo...
LES AMIS: São do FCP, o Vasco Lobo Xavier e o Pedro Caeiro, mas são dois bons companheiros, que me incentivaram ( eheheh...), cada um à sua maneira, no dia D. Merci beaucoup.
posted by FNV on 12:56 da tarde
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AVENIDA DOS ALIADOS (pósfacio): Um capitão mercenário agora exilado na Bretanha alvitrou em tempos a nossa vitória, baseado no príncipio da correlação negativa: seríamos os mais fracos, logo os mais esforçados. O mesmo capitão também disse na mesma altura qualquer coisa sobre Palermo ser na Lusitânia, mas a geografia, como se sabe, ainda não está bem estudada por todos. Mas na aurora da graça que os deuses nos ofereceram, coisas mais importantes se assinalam. Dizem-me os mensageiros que na noite passada milhões de mulheres receberam os seus amantes ( não foi o caso deste sinceramente vosso, pois que a sua condição psico-física não era a adequada), e em vez de sons, uma única cor ungiu as suas uniões apaixonadas: toda uma nova geração - lusitanos, bijagós, francos, goeses, balantas, prussianos, etc - nascerá benzida pelo vermelho.
NOTA FINAL: Muitos loam hoje o general piemontês, que sobretudo, beneficiou da desorientação dos comandos adversários, esquecendo o papel do mercenário transmontano. Mas o dedo desta vitória é também do sargento andaluz, que ainda há bem pouco tempo pôs ordem nas hostes e lançou as bases de um exército disciplinado e coeso, coisa que tantos se têm esquecido de referir. A memória faz muito bem à saúde.
Ao FNV e à Maria Ruef: Parabéns. Ao Filipe, principalmente, parabéns. Não vou aqui falar dos colos, das grandes penalidades, dos cartões, da falta de mérito, daquelas coisas todas de que podia falar: apenas dou os parabéns. Goza o momento. Mas deixo aqui um apontamento. No ano passado, os adeptos do Benfica festejaram alegremente a Taça nas ruas do Porto, nas ruas que quiseram. Este ano assistimos a algumas cenas lamentáveis, sem qualquer justificação. Mas devem-se indubitavelmente às provocações da Direcção do Benfica. É pena que assim seja.
posted by VLX on 11:10 da tarde
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AVENIDA DOS ALIADOS ( vol. final): A horda está a postos. Ultrapassem o Medo, que encontrarão a Glória, um par de jardas adiante.
posted by FNV on 4:27 da tarde
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RICOEUR: Morreu um tipo de homem que eu gosto: levou da esquerda e da direita. Vejo, com desgosto, no Público de hoje, que se prepara mais uma edição avulsa de textos seus em Portugal, mas não uma edição completa das suas obras. É pena. Consolo-me com os três excelentes volumes ( emprestei um que nunca me foi devolvido...) editados pela Seuil, "Lectures", sob a batuta de Olivier Mongin; não são exaustivos, mas andam lá perto, pois cobrem o Ricoeur do período 50-92 quase todo.
posted by FNV on 3:11 da tarde
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CONSULTA LIGHT ON-LINE:Como combater a ansiedade sem implicar com as pessoas que estão à nossa volta, e bem entendido, sem nos intoxicarmos? Os cognitivistas reduzem a coisa a um conjunto de procedimentos racionais, linkando-os a práticas comportamentais seguras. Obrigadinho, mas é a mesma coisa que pôr um condenado à morte a assistir, com refresco e palhinha, aos fuzilamentos do dia anterior. Então como fazer? Gosto de rodar pelo lado da angústia. Se tememos que alguma coisa resulte mal, tememos sobretudo o nosso mal-estar, que se advinha. Uma velha regra estóica roubada a Horácio, combinada superficialmente com a circularidade mutante de algumas escolas orientais, permite sobreviver: O dia de amanhã só se vive amanhã, e o dia de amanhã renasce sobre o de hoje. Ou seja, o que somos - amanhã - depois de a coisa correr mal, não é o que somos hoje, portanto não o conhecemos; se não o conhecemos, não nos pode afectar. Isto entrega-nos o resto da encomenda: no entretanto, hoje, como lidar com o temor, resolvido que está o problema de amanhã? É a angústia a funcionar como o toiro sobrero: está lá, mas ninguém espera que seja preciso. Bom, nesta arena, a idiossincrasia rege a faena. Eu recomendo o reconhecimento e a substituição. O reconhecimento significa um princípio base da saúde mental: não negarmos maníacamente aquilo que nos afecta, o que infelizmente é mais comum do que se pensa. A substituição, Freud chama-lhe sublimação, conceito que tem sido alegremente adulterado, é igualmente crucial. A angústia é um sentimento cujo avô é um instinto, o medo, portanto selvagem e misterioso. Só através da cultura - transformação e pensamento - esse instinto pode ser ultrapassado. Eu, hoje, por exemplo, vou dedicar-me a resolver um problema que me anda a chatear há uns tempos num artigo que tenho de escrever - porque razão Bismarck não deu seguimento imperial ao orientalismo germânico doséculo XIX . Mas também vou preparar um belo lanche pré-jogo, para receber um dos meus inúmeros irmãos: broa de milho amarelo tostada em azeite salpicada de poejo e entornada sobre lascas de presunto de Barrancos, salada de batatinhas e cebolas novas asadas com respeito, entre outras vitualhas.
posted by FNV on 11:28 da manhã
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NOITES LONGAS: Ele há gente que hoje não vai conseguir dormir, já todos percebemos. Desconfio também que há unhas que não verão o dia de amanhã. A espera é longa e demorada, o medo assusta, a dúvida aterroriza. Tenho a sorte de não ter ligado ao futebol naqueles longos anos em que atravessar o Douro para sul definia de imediato o resultado do jogo. Praticamente não sei o que é estar dois anos sem ganhar o que quer que seja. As minhas unhas estão intactas. Nada me amedronta, protegido que estou com taças e títulos diversos a servirem-me de barricada forte. Daí que consiga estar impávido e sereno, pronto para qualquer resultado. Mas não consigo deixar de esboçar um sorriso (amigo, sorriso gozador mas muito amigo) ao ver os tremeliques nervosos do adversário. Falta pouco, pá, vira-te para o lado e tenta dormir: olha que ainda tens de aguentar quase todo o dia de amanhã para teres a certeza.
posted by VLX on 1:35 da manhã
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O BENFICA: É altura de explicar, sobretudo aos que não o sabem, o que significa o Benfica. O que sou eu? Um tipo mediano. Nasci sossegado, cresci entre paredes ( demasiado) confortáveis, pelo que logo que me apanhei à rédea solta, tratei de fazer algumas asneiras, é certo, mas também algumas coisas interessantes. Poucas. Estudei, casei-me, tive filhos : tenho hoje menos um do que deveria ter, é o que mereço, provavelmente. Tudo banal. O meu trabalho tem variado ao longo dos tempos, até nisto sou meridianamente mediano. O futebol, para mim, é a cama onde encontro o meu amor ou a minha morte. Se vejo futebol, gosto; se vejo o Benfica, morro. De cada vez que vejo o Benfica, mesmo num particular de pré-época, feneço. O Benfica é uma angústia mortal, um sinal de que algo não está bem, de que algo vai acontecer. Perguntam vocês: então e quando se ganha? Nunca se ganha verdadeiramente. A vitória, qualquer vitória, é uma absoluta ilusão, como se sabe. O Benfica, batido num edifício de influência familiar, sobretudo de um pai que eu via pouco, acompanhou-me até hoje como uma constante imerecida. Noutras categorias, como nas da comunhão, o Benfica ilude-me os mares e as raças, os rios e os povos, apanha-se num taxi ou numa taberna. Um sobressalto de leopardo: amorfo quando o queremos cantar, eléctrico quando já nem o julgavamos vivo. Num certo plano, a coisa é um objecto contra-fóbico: põe-te sossegado quando estás nervoso, desassosega-te quando estás pasmado. A sua constância ao longo dos anos e do chumbo, transformou-o na minha arma predilecta, na que nunca falha, pois que está sempre lá, que sempre funciona. Que mais pode um homem, condenado ao Círculo nono, esperar, senão uma ilusão que o restitua ao Inferno?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.