PRIORIDADES: Ia ontem rumo à concentração desta bela nau, e percorria a pé, uma vez mais, com Neptuno, as ruas da velha Alta de Coimbra. Eu e este meu amigo conhecemo-nos há vinte anos, conhecemos a Alta há vinte anos, como ela está agora: feia, porca e degradada. Pormenorizando, paredes em ruínas, casas a cair de podre, tabiques por todo o lado, promessas de obras adiadas. Em qualquer cidade média de Espanha ou de França, o casco histórico é o cartão de visita e o emblema da cidade. Exprime o patamar civilizacional, a abertura ao mundo, o respeito pela memória colectiva, o brio do povo que a habita.
Dir-se-à que a cidade é pobre, que faz o que pode. Nem tanto. Quinze anos de fundos comunitários não foram suficientes para os salatinos e restantes membros da comunidade recuperarem a Alta. Mas um campeonato de futebol bastou, para a Câmara se endividar a construir um estádio novo, que registará, como o anterior, uma assistência média de 4000 espectadores enternecidos com um clube quase moribundo.
Muito me ri, quando a propósito da vinda dos Stones à estreia do novo estádio, se disse que Coimbra dava um cosmopolita passo em frente. Responsáveis e decisores que oferecem aos seus munícipes e aos seus visitantes, a alma de uma cidade histórica em ruínas, enquanto se excitam com a vinda dos Pedras Rolantes, dão um passo em frente, sim: acrescentam e fazem acrescentar à cidade que governam, um metro ao seu já longo e cabotino provincianismo.
posted by FNV on 5:51 da tarde
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PACIFICAÇÃO FUTEBOLÍSTICA: O Benfica-Porto de amanhã será o mais suave e eficiente dos últimos dos anos. Senão vejamos:
Mourinho diz que "não precisamos de ganhar para provar que somos os melhores". A coisa já por aí está resolvida: vamos fazer a vontade a Mourinho. Por outro lado, soube que o SLB já preparou um conjunto de camisolas do Benfica para serem trocadas com atletas do FCP, eventualmente interessados no potlach: estão todas previamente rasgadas, e o portador, em vez de um cidadão deficiente e frágil, será o Fernando Aguiar.
Last but not the least, Mourinho, amanhã, por mais "contente" que fique por não ter sido "necessário ganhar", vai-se abster de desejar ao Simão ou a outro qualquer, que "morra em campo". No Benfica, nesse departamento, não manda quem quer, manda quem pode. E pode muito.
NÃO VALE ATACAR: Estou a acabar de me vestir. Engraxo pela última vez os meus sapatos, confiro se está tudo limpo e operacional, dou uma última vista de olhos pelo convés, e preparo-me para a reunião que o nosso comandante convocou.
Hoje, pelas 00:00, a tripulação do mar salgado vai sair dos seus postos, fundear a embarcação, e dirigir-se para o nosso refúgio.
A única coisa que vão ouvir do nosso lado são gritos de alegria e garrafas de rum a abrir. A felicidade pertence-nos nas próximas 24 horas.
Respeitem pois o descanso dos marinheiros.
Até ao meu regresso.
posted by TRM on 10:43 da tarde
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DIA DE S.VALENTIM: Sempre desconfiei que esta data foi imposta no calendário pelos fabricantes de perfumes ou de gravatas. De facto não me parece que seja necessário instituir uma data para demonstrações de amor e muito menos através da compra - quase institucionalmente obrigatória - de presentes que nos são ostensivamente sugeridos.
No entanto, esta data suscita vários comportamentos entre os homens:
Aqueles como eu que, apesar dos meus belos ideais, não poderei aparecer de "mãos a abanar" sob pena de represálias (elas é que mandam...); aqueles que vão oferecer a primeira "plaquinha" (quem souber a anedota que conte...); aqueles animais que "brilham" na violência doméstica, para quem a data não existe e que cumprirão o seu rotineiro ritual de sopapos; aqueles que, pura e simplesmente se esquecem; e aqueles cujo calcanhar (daqueles...) não lhes permite ter, ocasional ou permanentemente, uma alma gémea para presentear.
No entanto, o herói nacional será sempre o macho, o Valentão. Aquele que, indiferente ao próprio nome e em plenas vésperas de S. Valentim, não hesita em aludir a expressões como cadela com cio - ao comentar declarações de Maria José Morgado - ou em aconselhar Ferro a impor tento na lingua a Ana Gomes - tipo: "vê lá se pões na ordem essa gaja do teu partido" - em contra ataque ao simpático qualificativo de "gabirus", com que aquela rotulou os dirigentes do futebol.
E pronto. Vou às compras!
A VER VAMOS, se os fregueses do costume, sempre tão indignados com "cunhas", incumprimentos fiscais" e outras patifarias do mesmo jaez, vão exigir uma comissão para ouvir a Dr.ª Manuela Arcanjo ou se vão indignar-se nos seus blogues. Disse a senhora a quem a quis ouvir, que quando assumiu a pasta da Saúde no defunto governo guterrista, os dossiês e os processos sobre a mega fraude farmacêutica, agora desmantelada pela PJ, tinham desaparecido. A TSF, mázinha, passou estas declarações a seguir às da sua antecessora, Maria de Belém Roseira, que dizia que tinha enviado as denúncias da Ordem dos Médicos sobre o assunto para o lugar apropriado.
Aguardemos.
posted by FNV on 9:48 da tarde
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INSÓNIAS: Problema gravíssimo. E alguém voltou a esquecer-se de tomar os comprimidos para dormir. Só pode.
posted by VLX on 8:30 da tarde
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INVERDADES: Primeiro foi o Francisco Louçã, agora é o Daniel Oliveira, do nosso mui estimado Barnabé (link directo só disponível na coluna da direita). E que nos diz o Daniel? Que "Hoje o Afeganistão produz nove vezes mais ópio do que antes da chegada dos americanos". Onde foi o Daniel buscar este número, não sei, ele não diz.
Eu em sede de geopolítica das drogas sou um frequentador da escola francesa: acho-a de uma forma geral mais isenta do que a americana, mais actualizada do que a inglesa. Por exemplo, Anne Coppel, Cristopher Luckett, Guy Delbrell, e Pierre-Arnaud Chouvy, este último autor de um excelente artigo publicado no Asia Times em Outubro de 2003, The ironies of Afghan opium production. Com os dados de J-P Chouvy e do departamento da ONU dedicado ao tema (UNDCP), os números e a cronologia que disponho são diferentes dos do Daniel.
Em Julho de 2001, o édito do Mullah Omar conseguiu de facto que a produção do ano seguinte fosse a mais baixa de sempre, desde que há registo do UNDCP: 185 toneladas. A colheita de 2002, pós-11/9, portanto, já atingiu as 2.500 toneladas. Mas o recorde dos últimos dos anos data de 1999, muito anterior "à chegada dos americanos": 4.600 toneladas.
Para se ser anti-Bush, não é preciso, caro Daniel Oliveira, ser-se anti-realidade. Antes pelo contrário.
posted by FNV on 7:37 da tarde
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AMANHÃ, NÃO? Reunião no porão desta embarcação.
posted by FNV on 7:37 da tarde
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DIAS SANTOS NA LOJA: A orgia de posts desta noite deve-se ao facto de, devido a inadiáveis compromissos profissionais, durante a próxima semana, provavelmente vir a ter dificuldade em postar qualquer coisa.
Á tripulação peço apenas que tenham cuidado com experiências científicas a bordo, na ausência do Comandante. Não peguem fogo à nau.
posted by NMP on 4:45 da manhã
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PURITANISMO: Para se ter uma medida do grau de puritanismo na América, acabei de assistir a uma discussão numa comissão do Congresso (?!) sobre o incidente Janet Jackson.
A dada altura, uma senhora congressista republicana do Novo México ficou à beira das lágrimas quando, interrogando o Presidente da Viacom (proprietária da CBS), se referia à falta de escrúpulos e princípios morais dos capitalistas, que só queriam encher os bolsos de dinheiro à custa da moralidade e de chocar a população, nomeadamente as criancinhas. O que mais me impressionou foi que a senhora estava notoriamente alterada, prestes a rebentar num pranto.
O homem bem balbuciava umas respostas, mas o clima não era muito propício ao apuramento da verdade material dos factos.
P.S. - No entanto, também a devassidão e dissolução da moral e bons costumes afectam esta sociedade. A mesma comissão aprovou há pouco tempo uma resolução que autoriza o uso pelas séries televisivas da "f-word" como interjeição. Fica apenas vedado o seu uso enquanto descrição de comportamentos ou intenções sexuais.
posted by NMP on 4:36 da manhã
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CRIATIVIDADE LUSA: Muita gente diz que os portugueses são pouco criativos e que não têm sentido de humor. É porque nunca navegaram um bocadinho pela página dos Frescos. Os nomes e títulos dos blogues lusos são um claro desmentido dessas ideias feitas. Alguns bons exemplos encontram-se na coluna da direita.
Mas um bocado passado nos Frescos dá-nos uma ideia luminosa da criatividade e humores pátrios e do talento denominador luso. Há para todos os gostos.
Há os desmancha-prazeres como o E o homem de cuecas disse lentamente que não, os que se dão mal com a Natureza como o Espirro-no-Mato ou aqueles a quem lhes cai mal a comida como o A Azia do Dia. Encontramos os que denunciam graves problemas de saúde pública como os autores do blogue O Joaquim Rita tem caspa, um grupo de esfomeados surrealistas no Faz-me um Bife - A radiofonia dos esgotos de Budapeste ou os que matam os problemas pela raíz no Como acabar uma carreira que ainda nem sequer começou.
Encontramos títulos que são manifestações de preferências gastronómicas como o Abaixo o chispe, viva o iogurte ou de apurada e comovente sensibilidade romântica como no Na tua casa ou na minha ? ou no Em cima delas que nem cães.
Vão lá ver que há por lá muito mais e imperdíveis.
posted by NMP on 4:05 da manhã
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ESCLARECIMENTO: Informamos os nossos clientes que o nosso tripulante VLX não se veste como um vendedor de Alfa Romeos e, apesar de advogar num escritório chique (et pour cause da sua presença), há muito passou a fase do estágio.
Isto é apenas para prevenir alguns adeptos que por aí haja de uma nova escola de semiótica da moda que, há cerca de uma semana, se revelou ao mundo nas páginas do Público.
posted by NMP on 3:56 da manhã
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O FUTURO DE DAVID KAY: Assisti com particular atenção a todo o célebre testemunho no Congresso americano de David Kay, que despoletou a actual discussão em torno das ADM. Escrevi na altura este post sobre isso. E reafirmo parte do que aí disse.
Uma das mais importantes coisas que Kay afirmou foi o termos passado da era da avaliação e controle de ADM para a idade da avaliação e controle da intenção da sua utilização. Isto resulta da proliferação de tecnologia para a sua construção (como a confissão do pai da "bomba islâmica" paquistanês confirmou). Há mais de 50 países com capacidade de construir armas deste tipo. Há redes internacionais com capacidade para adquirir e vontade de utlizar este tipo de armamento. Redes, governos e regimes que são deceptivos e na sua essência mentirosos, que muitas vezes jogam no bluff. A comunidade internacional terá de se entender para enfrentar eficazmente estas novas ameaças. Não estamos a falar de armas que matam dezenas ou até mesmo centenas de pessoas. Mas de armamento que extermina dezenas ou centenas de milhar de vítimas inocentes.
Claro que, no dia em que os testemunhos e argumentos de Kay forem utilizados para sustentar a mera possibilidade de uma acção de força de características mais ou menos preventivas, que será necessariamente liderada pelos americanos (os únicos com capacidade para tal), o senhor passará, aos olhos dos anti-americanos, de honesto agente de informações para a categoria dos vigaristas. Tal qual aconteceu com o pobre e outrora impoluto juíz Hutton, que se limitou a não concluir o que grande parte dos media e a intelligentzia europeia queriam (tantos anos a criar uma carreira e reputação para acabar nas mãos destes algozes).
posted by NMP on 3:24 da manhã
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A DEMOCRACIA É UMA FESTA: É óbvio que reconhecemos as questões de credibilidade levantadas por não se encontrarem ADM no Iraque. Sobretudo pelo que tal nos transmite sobre a falibilidade dos serviços de inteligência. O que nos torna a todos (ocidentais) potencialmente menos seguros no futuro. Talvez por isso me escape como é que esta preocupante revelação provocou ondas de alegria na esquerda bloguística.
A não ser que acreditassem realmente nas patranhas que previam que os americanos plantariam ADM no Iraque apenas para provar o seu argumento. Se é esta a razão, então eu, adepto fervoroso do escrutínio e transparência democráticos, de atitudes de humildade democrática de governos democraticamente eleitos como a admissão de que se enganam (ou são enganados) e de um sistema de checks and balances, junto-me à festa.
De facto, é bem bonito ver a democracia a funcionar.
posted by NMP on 3:05 da manhã
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MAS HÁ MAIS: Num registo mais bloguistico, graças à Charlotte, encontrei este genial texto do maradona que é um dos melhores textos que li nos blogues sobre as discussões actuais.
posted by NMP on 2:59 da manhã
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VAMPIRISMO: Preparava-me eu para me lançar numa cruzada contra o revanchismo argumentativo que por aí anda, a propósito do Relatório Hutton e das ADM, quando deparei com esta bela peça.
Quando alguém expõe melhor que nós a nossa opinião, para quê estragar ? Justifica-se aqui totalmente o vampirismo e a colagem descarada.
O autor é Paulo Tunhas, co-autor com Fernando Gil do melhor livro em língua portuguesa (Impasses) sobre as discussões políticas e intelectuais lançadas pela nova realidade geoestratégica pós-11 de Setembro.
Aqui está dedicado ao Barnabé, ao BdE, ao Causa Nossa, ao Glória Fácil, ao Terras do Nunca e aos nossos amigos relativos, com os melhores cumprimentos de consideração, estima e amizade (podem saltar a parte dedicada a M. Villaverde Cabral, que o argumento não perde força).
posted by NMP on 2:36 da manhã
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HÁ UMA PRIMEIRA VEZ PARA TUDO: E pronto. É assim mesmo. Diz o meu Amigo VLX que programou o seu texto polémico sobre a descolonização "milimetricamente" para depois avaliar as reacções e tirar conclusões. Conhecendo-o bem, sei que é pessoa que não mente e acredito cegamente na sua palavra.
Sucede que, pela parte que me toca, nunca tinha servido de cobaia para um estudo de outrem - ao menos que me desse conta. Pelos vistos, aconteceu agora, no lugar onde menos esperava. Na verdade, nunca aqui escrevi com reserva mental, nem com o intuito de estudar as reacções alheias. Mas isso é, evidentemente, um problema meu, e não uma atitude susceptível de imposição generalizada aos outros.
Talvez tenha sido um exercício interessante para quem o concebeu. De toda a forma, não sei se os resultados alcançados são surpreendentes: mesmo antes do estudo de campo de VLX, era bastante claro, para mim, que o tema da descolonização não goza ainda da distância histórica suficiente para uma sua análise "objectiva" (dentro dos flexíveis parâmetros de objectividade que a ciência histórica permite), como aliás é sabido por quem se dedica a essas hortas. Sim, a água ferve a 100º. Too much ado about nothing?
Tinha vontade de contradizer o nosso VLX e de lhe explicar que, de facto, ir buscar refugiados a Espanha durante a Guerra Civil não era apenas um problema de polícia criminal (como o não foi a concessão de vistos a judeus por Aristides Sousa Mendes, contra ordens expressas de Salazar, durante a 2ª Guerra) e sim um assunto da polícia política. Mas não sei se o VLX já despiu a bata de cientista ou se continua no seu laboratório. E como eu já despi a pele da cobaia, acho melhor calar-me.
DESINFORMAÇÃO: Leio, num dos meus blogs favoritos – Barnabé – um post onde muita é a parra e pouca é a uva. Este post ataca Fernando Negrão – presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) - por este ter afirmado ser contra o uso da cannabis para fins médicos.
Daniel começa o seu argumento da seguinte forma: “Saberá Fernando Negrão que grande parte dos medicamentos são à base de drogas ilegais, quase todas bastante mais perigosas que a cannabis? Lembra-se da morfina, usada exactamente para doentes terminais?” Caro Daniel, nenhum medicamento é à base de drogas ilegais. Por certo queria dizer que tanto medicamentos como drogas ilegais têm, por vezes, a mesma origem (natural ou sintética). A morfina, por exemplo, não é um derivado da heroína, são sim ambos derivados do ópio.
A lição continua com a insinuação que Fernando Negrão devia estudar mais: “Se é por falta de estudo, tenho aqui 5 link para Negrão”. Meu caro, dos 5 links, 2 são relatórios parlamentares e só 3 artigos médicos. Mas como deve saber 3 estudos não são nada em medicina, nem reflectem nenhuma verdade. Tomei pois a liberdade de consultar por si 177 artigos médicos que têm como base a relação da cannabis com a dor (para os consultar, escreva cannabis and pain neste motor de busca médica). Aí ficará a saber que todos os resultados obtidos são preliminares, não havendo ainda nenhuma indicação clínica para a cannabis. Aprenderá também que o mito que a cannabis alivia a dor nos doentes terminais é uma falsa verdade. A morfina (ou mesmo a heroína, caso prefira) é muito superior à cannabis como analgésico. Além do mais, a cannabis tem uma imensidão de efeitos colaterais, como alterações do humor, taquicardia, hipotensão, alterações cognitivas, entre outras.
Concluo aconselhando o autor do referido post a ter mais cuidado com o que escreve, ou pelo menos que o faça tendo mais informação como base. Caso queira, podemos de uma forma desapaixonada discutir as indicações da cannabis na medicina. Quanto a mim, espero por mais estudos clínicos para que possa criar uma opinião cientificamente validada. Até lá, nunca aconselharei cannabis a nenhum doente. Não posso pois de deixar de dar razão ao Director do IPO de Lisboa – João Oliveira - que quando questionado sobre a utilização da cannabis para fins terapêuticos diz: “Temos medicamentos mais eficazes e substancialmente mais seguros".
posted by TRM on 11:23 da tarde
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CASE STUDY: RESULTADOS: Entre outras, estas últimas reacções, exactamente por virem de quem vêm mas mesmo assim estarem recheadas de emoção, fazem-me concluir que na verdade não é ainda possível discutir estes assuntos da nossa História, não obstante já se terem passado 30 ou mais anos sobre eles. É que a discussão assim apaixonada e inflamada altera os argumentos, enche-os de emoção, retira-lhes seriedade, força e objectividade e um mínimo de isenção e imparcialidade (a ambos os lados, naturalmente, não me esqueço de que fiz por isso). Podem já ter passado mais de 30 anos mas a discussão sobre estes temas não se faz em moldes muito diferentes daquela discussão futebolística que temos todos os dias, em que a "clubíte" nos impede de ver a realidade, de discutir com isenção, de argumentar com objectividade. Tal como no futebol, por pouco não anda tudo à pancada. E isso é grave. Parece-me que nós, que vivemos em democracia, que temos a sorte de viver em democracia e de poder falar de tudo, podíamos pensar nestes estranhos motivos que nos impedem de discutir sem insultos temas que morreram há 30 anos. Estou certo de que pelo menos VM, PC e TRM concordarão comigo.
ISTO POSTO: Estará então o resistente leitor, já cansado, a pensar "quem será este tipo"? "O que é este tipo"? Descanse e serene, amigo leitor. Quem lhe escreve não é um extrema direita, fascista ou saudosista de qualquer regime ou sistema, principalmente deste que temos tratado. Quem lhe escreve considera até um disparate pegado falar-se em saudosismo, porque cada coisa tem o seu tempo e porque gosta de viver em democracia e não sabe viver de outra forma. Quem lhe escreve considera-se efectivamente de direita e entende que cada época da nossa História teve a sua história, boa ou má, e teve o seu tempo. Ao longo da nossa longa História, tivemos períodos bons e maus, e períodos onde se cumularam coisas boas e más, ao mesmo tempo. O melhor exemplo para isso é exactamente o 25/4, que está pejado de acontecimentos bons e acontecimentos maus, de acontecimentos que nos vieram enriquecer e de outros que nos vieram empobrecer, de coisas boas e más, de pessoas boas e más, de boas e más intenções. Quem acha isto, acha também que o anterior regime teve os seus aspectos bons e os seus aspectos maus, os seus momentos bons e os seus momentos maus. Mas acha principalmente que, vivendo-se em democracia há 30 anos, já ia sendo tempo de se conseguir discutir este tipo de questões de forma minimamente civilizada, tentando colocar de lado as emoções. Mas, recorrendo novamente a VM, pode bem ser que isso ainda venha a acontecer se aproveitarmos bem os próximos 30 anos.
posted by VLX on 10:06 da tarde
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CASE STUDY: O ESTUDO III: De entre estas destaco as dos meus colegas TRM e PC, pessoas brilhantes, cultas e inteligentes. Na verdade só a emoção pode justificar que pessoas assim venham, ao lhes ser falado em "colonização", referir-se ao "Tarrafal". Não faz sentido a referência porque Tarrafal existia por causa do regime, não por causa das colónias ou do processo de colonização (iniciado muito antes do regime existir). Outros países colonialistas podiam ou não ter coisa semelhante, sendo ou não democracias. Por outras palavras, o Tarrafal não tem directamente a ver com o facto do país ter sido colonialista: tem a ver com o regime que tínhamos. Não se deve ao colonialismo, deve-se à política.
Coisa semelhante se pode dizer do episódio dos «pauliteiros de Miranda» relatado por PC: numa altura em que não havia propriamente liberdade de circulação na Europa, o facto de se fazer passar pessoas pela fronteira sem ser pelas alfândegas era naturalmente proibido, mas como PC sabe melhor do que ninguém - isso era um caso da polícia criminal e não da polícia política. Fazer passar pessoas pela fronteira tanto era proibido entre Espanha e Portugal como entre França e Bélgica, na altura democracias (isto, claro, sem pretender desvalorizar o esforço moral daqueles que protegiam os refugiados). Daí que PC tenha trazido à discussão algo que não tinha propriamente a ver com o que queria criticar (as perseguições políticas do regime, que todos sabemos terem existido), o que, numa pessoa brilhante como é PC, só se pode justificar por se ter deixado cegar pela emoção dos que lhe eram próximos.
Ainda de entre pessoas por quem tenho consideração, Vital Moreira, do Causa Nossa, gozou com o trecho propalada falta de liberdade, embora retirando-o do contexto em que se inseria e que pretendia apenas dizer que, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, a generalidade dos portugueses não vivia preocupada com a falta de liberdade (o que é diferente de dizer que esta não existisse, como concordará comigo. Podemos ainda, como fez PC, apontar causas para o facto - a manutenção da ignorância é aventada por PC como uma das causas - mas é difícil contrariar aquele facto). Repare-se que argutamente VM não se referiu ao contexto integral (o qual não podia negar) em que aquele trecho aparecia mas apenas a ele. Seja como for, fico feliz por constatar que VM (tal como eu) defende entusiasticamente a democracia, o que só pode resultar de ter «arrecuado» para o PS. (cont.)
posted by VLX on 9:38 da tarde
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CASE STUDY: O ESTUDO II: Depois tive as reacções do segundo tipo, sérias mas emotivas, perdendo assim muito do que as podia fundamentar.
Tenho de confessar que tinha enorme vantagem sobre todos os outros: tive todo o tempo que quis para elaborar o texto. Cada frase, cada palavra foi pesada, pensada, colocada milimetricamente para obter o resultado pretendido. Cada adjectivo minuciosamente colocado. E as ideias laboriosamente escolhidas. Obviamente não eram minhas mas constam dos estudos de inúmeros historiadores, de relatos, de memórias, de jornais ou do conhecimento público e constituíam factos reais dificilmente atacáveis ou inegáveis. Atente-se, por exemplo: a colonização mais humanizada (não exactamente nestes termos no primeiro post) face às colonizações de outros países (ou menos perversa, se se preferir, mas não se dizendo nunca que se defendia a colonização); o facto do português médio não ter como preocupação fundamental contra o regime a falta de liberdade em Portugal (não se dizendo que não havia liberdade, o que é uma evidência); o facto da falta de liberdade só incomodar seriamente franjas da população, referindo no entanto aqueles que mais sofriam com a falta de liberdade (o que implica necessariamente admitir que a dita liberdade não existia); o facto dos estrangeiros também não se pronunciarem sobre isso, embora se preocupassem com as colónias, por motivos mais ou menos humanistas (o que é verdade); a preocupação, após o 25/4, de efectuar o mais rapidamente possível a descolonização (outro dado indiscutível); a guerra civil horrorosa que isso provocou (a que todos temos assistido), etc., etc.
Tudo isto, objectivamente considerado, constitui um conjunto de factos dificilmente rebatíveis (como disse atrás, FNV ensaiou-o com bastante êxito, embora recorrendo às intenções políticas, quase me estragando a análise e me obrigando a sublinhar o aspecto mais humanista - ou menos perverso - da colonização portuguesa em relação aos restantes países colonialistas), e a sua simples enumeração ou constatação não implica necessariamente que uma pessoa seja contra ou a favor do regime onde eles se deram. Aqueles factos podem ter interpretações e explicações políticas diversas, mas não deixam de constituir, objectivamente considerados, dados de qualquer historiador sério, mesmo do mais perseguido pelo regime (o que é diferente da sua análise política, da sua explicação, motivação, apreciação, etc.). É evidente que os adjectivos colocados, uma forma de escrita mais agressiva e uma ou outra picardia fizeram o resto, que foi provocar a emoção nas reacções, afastando-as do concreto. (cont.)
posted by VLX on 9:21 da tarde
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CASE STUDY: Há umas semanas atrás adiantei uma vintena de nomes de políticos (alguns de pessoas que estão entre nós e em cargos importantes) e que apenas tinham duas coisas em comum: eram personalidades fora do vulgar e de uma forma ou de outra tinham exercido cargos políticos no regime anterior.
De imediato choveram insultos da mais variada ordem e críticas vieram de pessoas que sabia (e sei) serem admiradoras de muitos dos nomes ali indicados. Fiquei estupefacto mas o motivo era simples: foi por ter incluído o nome de Caetano e Salazar. Que diabo! Salazar morreu há quase 40 anos; o regime desmoronou-se há 30! Será possível que passados estes anos todos não se possa falar normalmente daquelas pessoas e do regime que vivemos sem que se seja insultado? Poder-se-á falar da História portuguesa sem se ser vaiado? Afinal de contas, independentemente da política e até da sua personalidade, Marcello Caetano era ou não um cientista brilhante, um jurista insigne? Não se poderá ainda falar desta gente sem ser com emoções fortes, ódios e paixões inflamadas? - Tinha de tirar a prova dos nove e isso foi-me quase de imediato possibilitado por mais uma trica entre Mário Soares e o CDS, sobre extrema direita e descolonização.
O ESTUDO: Foi fácil fazer um texto sobre o assunto e deixá-lo resvalar para o anterior regime, suscitando assim mais reacções e, como eu esperava, emoções. Ou, mais propriamente, reacções extremamente emotivas, inflamadas e apaixonadas a que comodamente instalado assisti.
A grande maioria das reacções recorreu, como previa, ao insulto fácil e gratuito, próprio daqueles que não têm argumentos: dessas não vale a pena falar a não ser para constatar, divertido, que a grande maioria veio de adeptos de um dos regimes mais totalitários e ditatorias de que há memória, a URSS.
Mas tive também reacções superiores e distanciadas, bastante interessantes, outras sérias mas bastante emotivas e, por isso, perdendo alguma objectividade, embora não menos interessantes.
No primeiro caso está desde logo a reacção de FNV. Reacção séria e desapaixonada. Preocupantemente séria porque de tão pouco emotiva e tão bem documentada estragava-me de imediato o exercício. Preferi não ligar, deixar cair a mensagem dele no esquecimento. Felizmente logo a seguir veio uma do Comandante e respondi a essa remetendo o assunto para o patamar onde eu o queria (estar a responder a um pensando no outro originou um lapso prontamente corrigido e um episódio divertido cá dentro da nau, mas isso são contas de outro rosário). Recebi ainda de leitores atentos várias mensagens extremamente interessantes e possibilitadoras de uma discussão séria e elevada sobre o assunto (a quem conto responder rapidamente e a quem desde já agradeço o interesse manifestado no assunto e a forma civilizada como o trataram). Nenhum deles, claro, concordava com o que tinha sido escrito mas colocava os termos da discussão num patamar onde era possível discutir com agrado. (cont.)
posted by VLX on 9:07 da tarde
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A PIRUETA: Ouvia eu a TSF hoje de manhã cedo a discorrer sobre as capacidades de Kerry para ser presidente, e para meu espanto, o democrata ganhava a Bush porque é um veterano "três vezes medalhado" do Vietnam. Já Bush, que serviu na pacífica Guarda-Nacional, "ausentava-se muitas vezes da base".
Quer dizer, Kerry é melhor porque matou vietcongs nessa "ignominiosa guerra imperialista" que o Tio Sam fez. Bush, pacífico guarda-nacional ( terá sido objector de consciência?) e recruta rebelde que saltava os muros do quartel, não serve para o cargo. Também eu prefiro, por instinto, Kerry a Bush, mas deveria, para a esquerda americana e europeia anti-Bush, tão cheia de gravitas pacifista, valer tudo menos arrancar olhos.
posted by FNV on 12:04 da tarde
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O FANTASMA DA ESTATÍSTICA: Claro que a área política nao podia fugir à obsessão americana pelas estatísticas. Qualquer analista político numa televisão americana debita dezenas de estatísticas, de regras, modelos e padrões de comportamento do eleitorado, com base em números e dados estatísticos. Ao contrário da Europa, em vez de opinion makers são autênticos number crunchers.
No entanto, estas eleições primárias estão a desafiar algumas ideias feitas. Há cerca de 40 anos, que nenhum candidato democrata que ganhasse no Iowa conseguia ser o nomeado. Kerry vai bem lançado e parece imparável, apesar de ter ganho aí os caucuses.
Restam ainda duas regras estatísticas bem mais difíceis de superar. A primeira diz-nos que desde Kennedy (há 40 anos) nenhum senador conseguiu ser eleito Presidente dos EUA. Todos os sucessores de Kennedy eram ou governadores ou vice-presidentes. Há uma razão política substancial para este facto: o registo das votações de senadores são um autêntico maná para os seus opositores. Kerry, por exemplo, votou contra a primeira intervenção americana no Iraque em 1991 e a favor da presente guerra. Vai exigir muito talento (que, diga-se de passagem, não falta a Kerry) para tornar politicamente irrelevante este aparentemente estranho comportamento.
Também desde Kennedy que nenhum Presidente eleito é oriundo dos estados do Nordeste, mais progressistas ideologicamente e mais europeus no estilo. Todos os presidentes, de há 40 anos para cá, eram oriundos de estados do Sul, com a excepção de Reagan que era californiano (um estado que, só por si, tem uma dimensão muito relevante).
Os eleitores democratas, no entanto, não têm ligado a estes dados: inquéritos à saída das urnas indicam que os democratas votam em peso em Kerry, porque o consideram "elegível" - conclusão que contraria a cruel frieza das estatísticas.
Por aqui se mede a díficil tarefa que espera Kerry. Com um candidato a vice-presidente bem escolhido (com saída no Sul) e uma boa campanha, pode provar que as estatísticas de pouco valem em política. Mas este ruído de fundo de comentadores e analistas num país de data-freaks, não ajuda em nada.
Como escrevia Arthur Miller "os dados e relações estatísticas são como os humanos. Nascem. Amadurecem. Casam. E divorciam-se. A única coisa que nunca lhes acontece é morrerem. É preciso matá-los."
posted by NMP on 4:27 da manhã
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CADA VEZ MAIS PERTO:John Kerry ganhou as primárias no Tennessee e na Virginia por largas margens. Edwards terminou em 2º e Clark em 3º (quase empatados no caso do Tennessee).
Kerry prova assim que consegue ganhar no Sul. Apesar do estado da Virginia ser um estado sulista atípico - a sua parte norte (onde vive cerca de 25% da população do Estado) faz parte da área metropolitana de Washington, é urbana, com uma mini-Sillicon Valley, sendo menos conservadora e tradicional que o Sul profundo. Nesta área grande parte da população tem ligações militares (aí se situam a sede da CIA e muitas outras instalações militares relevantes), o que estranhamente não favoreceu Clark ( que deverá desistir amanhã, o que deverá beneficiar sobretudo Edwards que terá finalmente o seu um para um).
De qualquer forma, é uma enorme demonstração de força da parte de Kerry. Teimosamente, Dean e Edwards não pretendem desistir. Howard Dean saltou estas primárias e concentrou-se no Wisconsin, estado bastante esquerdista, onde haverá primárias a 17 de Fevereiro e onde Dean espera receber um empurrão que o salve da anunciada desistência. E a 2 de Março vem o grande prémio, com os estados grandes que elegem cerca de 1/3 dos delegados. Kerry, o homem da frente elegeu para já qualquer coisa como 550 a 600 delegados, mas necessita de mais de 2.100. Se a margem de manobra política começa a escassear, por falta de fundos e de apoios para os opositores de Kerry, há ainda muita margem matemática para alimentar esperanças. Sobretudo Edwards pode ser temível se ficar sozinho com Kerry na corrida.
Uma consequência óbvia desta disputa será o aumento das críticas entre os candidatos democratas - Dean, em desespero, já afirma em cima do palco que, ao mesmo tempo que os americanos devem enviar Bush para Crawford, Texas, há um certo senador que devia ser recambiado para Boston, Massachussets.
Depois de um período de queda de popularidade, os republicanos têm aqui uma oportunidade. Bush recomeçou a dar entrevistas em programas de grande audiência e a Casa Branca tenta matar à nascença uma polémica crescente sobre o serviço militar do Presidente, lançada por meios democratas para o contrastar com o heroísmo de guerra de Kerry.
Bush começou notoriamente mal o ano, com um discurso do Estado da Nação pouco empolgante e com a polémica sobre as ADM. Aos poucos começa a reagir. De qualquer modo, numa América dividida partidaria e ideologicamente quase a meio, aproximam-se meses de violento combate político.
posted by NMP on 4:00 da manhã
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POLÍTICA E DESPORTO: Recebemos uma interessante missiva do nosso leitor Alexandre Mota Pinto (que é dotado de inúmeras qualidades e talentos apesar de carregar a cruz de ser meu irmão mais novo - um exemplo claro de como o resultado de combinações genéticas pode melhorar com o tempo), sobre um tema (Política e Desporto) abordado pelo nosso amigo do Terras do Nunca:
Escreve o JMF do "Terras do Nunca", depois de defender o não intervencionismo do Estado no desporto: "Salazar ou Estaline também achavam que o desporto fazia parte do aparelho do Estado. Para glorificação do corpo e do espírito. Salazar e Estaline não sabiam é que iriam ter tão bons discípulos". Os "discípulos", na opinião de JMF, são João Pereira Coutinho e Manuel Alegre que se limitaram a pedir maior intervenção do Estado no futebol. Embora termine desta forma lamentável (e sem sentido, até face ao resto do texto), JMF chama a atenção para um tema muito actual, as relações entre o poder político e o desporto, que merece alguns comentários:
- O desporto tem um impacto enorme no mundo actual. Como escreve Umberto Eco, não se trata só do "desporto na primeira pessoa" (o desporto praticado), mas também do "desporto ao quadrado" (o desporto visto, enquanto espectáculo) e, pior ainda, do "desporto ao cubo" (o discurso sobre o desporto visto - a imprensa desportiva e as discussões sobre futebol) que, com a auto-reprodução destas dicussões (a discussão sobre a imprensa desportiva), degenera num "desporto elevado à potência "n" ". Pessoalmente, só gosto de praticar o desporto na primeira dimensão (de preferência com uma bola de basquete na mão) e sei que na nau que me acolhe se pratica o desporto em todas estas dimensões, destacando-se até um veterano na prática do "desporto elevado à potência "n" ". Ainda assim, atrevo-me a lançar estas duas fórmulas para caracterizar as principais relações entre o político e o desporto:
1 - "Enquanto estão no «circo» não chateiam". Sem querer discutir o papel social (positivo ou negativo) do espectáculo desportivo, parece-me óbvio que este gera um efeito perverso ao desinteressar os cidadãos da discussão sobre a res publica, criando a ilusão de que um golo é tão ou mais importante do que uma boa medida política. Esta conversão da Cidade em Estádio aproveita, notoriamente, a todos os políticos que estão no poder, já que enquanto o "circo" durar, o discurso sobre o desporto substitui o discurso sobre o político, que pode até ser inconveniente. Um exemplo: um estudo efectuado nos Estados Unidos, nos anos 90, demonstrou que os jovens americanos conheciam melhor as tatuagens e os "piercings" de Dennis Rodman, jogador dos Chicago Bulls, do que as políticas de segurança interna de Bill Clinton, que visavam um aumento dos polícias nas ruas, embora ninguém duvide que estas políticas são muito mais importantes para esses jovens do que os desenhos no corpo de Rodman.
2 - "O político que gera campeões, é um político campeão". A tendência reprovável para pôr o desporto ao serviço do Estado, do Político ou de certas ideologias não surge apenas nas ditaduras (não é o caso do Estado Novo - Salazar desconfiava do desporto profissional e preferia a modesta "ginástica de formação"), mas também nas democracias. Todos nos recordamos da corrida às medalhas olímpicas durante a guerra fria e das tentativas dos EUA e das defuntas URSS e RDA para demonstrar, por esse meio, a superioridade dos seus sistemas económicos e políticos. Sabemos, hoje, que os líderes soviéticos procuraram associar as glórias desportivas ao espírito de camaradagem e ao colectivismo, embora os atletas (muitas vezes forçados) e a população, em geral, as vissem como símbolos da coerção e exploração estatais. Sabemos, por exemplo, que, em 1984, Ronald Reagan aproveitou o sucesso dos EUA nas olimpíadas de Los Angeles para, na sua campanha de reeleição, reafirmar a restauração do orgulho americano. Bill Clinton voltou a fazer o mesmo nas olimpíadas de Atlanta, em 1996. Se formos felizes, Durão Barroso fará o mesmo no final do Euro 2004, embora com isso só contribua para uma triste evidência: a maioria continuará a preferir Figo a Durão e Rui Costa a Ferro. Mas, se assim não fosse, a maioria podia deixar de ir ao circo e começar a chatear...
Caro JMF: vai toda a distância entre o Estado que regulamenta o desporto e o Estado que põe o desporto ao seu serviço. Os "discípulos" a que se refere defendem, apenas, a regulamentação estatal para acabar com os episódios lamentáveis de violência, "doping" ou corrupção no desporto.
posted by NMP on 3:26 da manhã
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ZAPOLÍTICA: Acontecimentos como a morte de Féher são a prova indesmentível do terrível poder da televisão. Ao contrário do nosso FNV e, concordando com blogues como o Santa Ignorância, o impacto daquela morte não relevou de um qualquer fervor clubístico mas sim do facto de ser vista em directo por centenas de milhares espectadores.
No fundo, este triste acontecimento deveria sensibilizar-nos para um facto (político) da vida real que nos toca a todos: o facto de que, na política, um acontecimento apenas ter relevância se tiver divulgação televisa. De contrário, será completamente ignorado. Pela população et pour cause pelos políticos, ou vice-versa. Será um não acontecimento.
Nesta realidade virtual em que, por exemplo, o governo Guterres seria credor de um merecido Óscar, só os "actores" é que ganham.
Num momento em que o país definha por "políticas reais", que passem do écran para a realidade física, será necessário que os políticos se lembrem que os "espectadores" são pessoas de carne e osso, que diariamente sofrem na saúde, no emprego, na carteira, etc. E que os até aqui passivos "espectadores" sejam de carne e osso e "desliguem" do mau espectáculo que diariamente lhes é oferecido e reclamem a boa programação a que têm direito.
posted by Neptuno on 2:11 da manhã
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A DESCOLONIZAÇÃO DO VLX: Depois da tormenta levantada pelo nosso VLX parecem-me adequadas algumas considerações. Há certos factos históricos que são isso mesmo e que, por isso mesmo, são incontornáveis. Não é possível julgar o colonialismo pelos parâmetros de hoje, da mesma forma que não desprezamos a Grécia de Péricles pelo trabalho escravo. O fim do colonialismo também aconteceu no seu tempo histórico e, no que nos diz respeito, tardiamente, pelos motivos que se conhecem.
No entanto, não me parece que seja possível explicar pelo contexto histórico a entrega das armas aos movimentos marxistas-leninistas das ex-colónias. Sempre que converso com cidadãos das ex-colónias portuguesas acabo a tentar explicar (desculpar?) esse facto com o PREC e com o perigo comunista que pairou sobre Portugal na altura. E lembro - desgraçadamente para as ex-colónias - as teorias da existência de um acordo secreto entre os EUA e a URSS (em plena Guerra Fria), pelo qual os soviéticos "largariam mão" de Portugal, a troco da exportação (imposição) da revolução para as desditas ex-colónias.
E lembro-me, igualmente, da imagem que alguém usou há mais de vinte anos (um rebuçado para quem adivinhar) para caracterizar a descolonização portuguesa: "Uma debandada de pé descalço."
RESPIRAR II: O José, do Anti-Direita Portuguesa (link na coluna da direita), o blogue mais estalinista-delirante que conheço ( e já aqui, noutras ocasiões expliquei porquê), faz um rasgado elogio ao Mar Salgado. E fá-lo, porque alegadamente nós não os censuramos "salazarentamente", ao contrário dos vários blogues de esquerda, que não o linkam nem o mencionam. Diz o Anti-Direita Portuguesa que nós, um "blogue direitista", damos dez a zero à esquerda blogosférica em matéria de liberdade de expressão. Passando a evidência que o Mar Salgado, por muito que custe a entrar no bestunto de alguns, é de facto plural, ou seja inclui todo o convencionalmente designado espectro ideológico, esta posição do Anti-Direita obriga-me a dizer uma ou duas coisas, na sequência do meu post anterior.
É-me indiferente, e falo por mim apenas, que um blogue como o referido nos elogie ( já elogiou em tempos o Muito Mentiroso),quanto à liberdade do que quer que seja ( dou-me aliás bem melhor com o ataque do que com a lisonja). Mas há um fundo de verdade no que o Anti-Direita protesta: o silêncio, como o insulto gratuito ( ou seja, sem sequer uma discussão substantiva associada) denota a incapacidade e a insegurança do actor face à dificuldade do texto. Na discussão política, cultural, filosófica, o espectro tem de facto de ser alargado até ao limite, pois só assim se pode ler todo o texto. A liberdade de expressão, em democracia, (pois pode haver liberdade de expressão no estado de natureza, por ex.) não existe para dar voz às teses compaixonadas ou aos raciocínios equilibrados e sublimes; a liberdade de expressão, em democracia, tem como função dar voz ao que nos incomoda e sobressalta.
posted by FNV on 11:01 da tarde
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EXTRA! ALTERAÇÃO ESPECTACULAR NO ANTI-RANKING DOS MINISTROS!: Fevereiro começa com uma mudança dramática (mas não totalmente inesperada) no anti-ranking dos nossos ministros. Morais Sarmento, que liderou isoladamente a lista desde que assumiu a pasta - um "vencedor nato", como alguém premonitoriamente vaticinou -, começou a dar sinais de cansaço no final de 2003, que vieram a confirmar-se em 2004 com a refundação da 2: (embora os defensores mais acrisolados da sua permanência no top protestem que ele nada teve a ver com o processo).
Se a isso somarmos o silêncio a que se tem remetido nos últimos tempos e a barba curta que passou a ostentar (sinal claro de sageza e perspicácia), rapidamente percebemos que, mais cedo ou mais tarde, o inevitável tinha que acontecer: Morais Sarmento caiu, inexoravelmente, para o discreto segundo lugar do anti-ranking.
E quem o depôs? O Ministro das Relações Públicas e do Euro-2004, que dá pelo nome de José Luis Arnaut, vindo directamente do terceiro lugar e passando por cima de Amilcar Theias. JL Arnaut já tinha dado boas indicações, exibindo as gengivas nas situações mais improváveis, disfarçando-se subtilmente de assessor de imprensa do nosso Primeiro (ligeiramente atrás e à direita dele, como o miúdo do Molero, nas aparições públicas), confundindo deliberadamente a pose de Estado com a pose de quem vai para o estrado (de uma discoteca). Hoje consumou o golpe: deslocou-se a Londres para apresentar o Euro 2004 e fê-lo no inglês fluente que aprendeu nas últimas férias em Istambul. E foi vê-lo, feliz e nervoso, lendo o pequeno papel que lhe puseram nas mãos, não tanto pela ocasião de discursar naquela língua exótica, mas sim porque antecipava já o gozo e a glória de derrubar Morais Sarmento e ascender ao disputado 1º lugar do anti-ranking.
Parabéns a JL Arnaut e votos sinceros para que não se acomode ao posto; a concorrência é brava, o júri é atento e exigente e, por isso, há que trabalhar todos os dias (e todas as noites, incluindo as de sábado) para o merecer.
posted by PC on 10:33 da tarde
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RESPIRAR: Agora que a coisa amainou, uma ou duas notas. O Vasco Lobo Xavier escreveu um par de textos que originaram contradita por parte de quase todos os seus companheiros de nau, incluindo eu. Outros blogues referiram-se a uma e outra coisa, e dos que li, ( Barnabé, Terras do Nunca, Causa Nossa, Glória Fácil, Almocreve das Petas, entre outros, links na coluna da direita) fizeram-no com sentido humor, cordialidade e sentimento de repulsa qb. Os textos de VLX configuravam uma visão do Estado Novo e da Descolonização, discutível, e em alguns pontos facilmente refutável, o que ele aliás acabou por reconhecer.
Comparando com outras coisas que se escrevem na blogosfera, no outro extremo do espectro ideológico-doutrinário, os textos de VLX não eram, pelo menos, mais polémicos ou ofensivos. No entanto, os blogues que referi, e outros, não adoptam normalmente a mesma atitude, quando o vento sopra, com força, da outra colina. Isto significa uma velha-nova tradição intelectual portuguesa de indignação selectiva, que admito, resulte de um ajuste de contas: até 74, a balança pendeu sem rebuço para a uniformização conservadora.
Mas a blogosfera vive em 2004, e no plano da discussão política, tal como a memória colectiva, viverá necessariamente da dissensão sobre a justeza dos caminhos escolhidos. Ou não viverá.
posted by FNV on 6:59 da tarde
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A RETOMA EM VERSÃO BLOGOSFÉRICA: O Vitima da Crise arranjou finalmente emprego (via diversos blogues).
posted by NMP on 4:48 da manhã
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A ROLETA GENÉTICA: A Monarquia Inglesa definha lentamente. Agora é o pobre Henry que, segundo rezam as más-línguas, namora com uma stripper. Lembramos que é o mesmo príncipe que já tinha sido apanhado a fumar haxixe, a embriagar-se com os amigos, a provocar desacatos, enfim, tudo o que se pretende de um jovem monarca, exemplo para a juventude daquele país.
Ainda bem que os reis são, segundo os defensores da causa monárquica, preparados desde a nascença para o alto cargo que vão desempenhar. Pergunto-me o que aconteceria se o não fossem...!
É o que dá confiar na roleta genética...
posted by TRM on 3:24 da manhã
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YO LOVE LA GAUCHE que não tem mais nada que se ocupar do que com as mamas da Janet, censuradas por uma network privada, num jogo de bola ou numa cerimónia pindérico-musical, também privada. Quando o coro de ofendidos é lusitano, a situação ainda é mais divertida: mais depressa se vê neste país um cão sem pulgas, do que a mama de uma deputada, de uma actriz, da Teresa Salgueiro, ou de uma jornalista.
Falta de causas, preguiça, inveja, ou consumismo em excesso?
ARMAS DE DESTRUIÇÃO SUAVE: Porque o Mar Salgado é lido por leitores atentos dos jornais ingleses, como a Micha, e não vá isto ter-lhes escapado, aqui vai com os melhores cumprimentos do The Observer. Trata-se de um excerto de um rapper jihad-style, de seu nome Sheikh Terra, que está a fazer sucesso na Inglaterra. Está disponível em video no site do amigável Mohamed al-Massari.
Peace to Hamas and the Hizbollah
OBL (bin-Laden) pulled me like a shiny star
Like the way we destroyed them two towers ha-ha
The minister Tony Blair, there my dirty Kuffar
The one Mr Bush, there my dirty Kuffar...
Throw them on fire
Ora o que eu gosto, é de gente que fala claro.
posted by FNV on 11:38 da manhã
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CADA VEZ MAIS PERTO:John Kerry ganhou este fim de semana os caucuses dos estados de Washington, Michigan e Maine. Está cada vez mais perto de assegurar a nomeação. Sobretudo se, na próxima terça-feira, conseguir ganhar as primárias num dos estados do Sul, no Tennessee ou na Virginia. Provará assim se a sua candidatura tem ou não dimensão nacional.
posted by NMP on 5:50 da manhã
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CARO TRM: Longe de mim querer irritar-te mas a vida é como é. Portugal fez parte de um grupo de países vulgarmente designados de colonialistas. Esses países realizaram as colonizações de diversas formas, a que Portugal escolheu para fazer neste séc. XX foi, aos meus olhos e comparando-a com as dos outros, a mais humana. Não há colonização humana, dir-me-ás. Admito, mas também nunca me viste a defender a colonização propriamente dita, apenas a falar sobre ela como facto histórico. E para subjectivamente afirmar que foi melhor do que as outras. Ou, se preferires (e eu cedo perfeitamente neste ponto), não foi tão má. Recordo-te também que nunca me viste aqui a defender o antigo regime, só a falar dele e de algumas pessoas que a ele estiveram ligado (e, já agora, para as mentes mais perversas, também nunca me viste a gabar a Alemanha nazi ou coisas do género).
Prosseguindo; a necessidade de descolonizar à pressa é fruto de justificar o 25/4, mais nada. E não é seguramente pelas ânsias das populações locais (que seriam, de resto legítimas: também nunca me viste a dizer o contrário) porque essas “ânsias” não existiam na generalidade da população das colónias.
Para finalizar, é evidente que não tendo o antigo regime resolvido a questão das colónias, ele é necessariamente co-responsável pelo facto de ela ter sido mal resolvida pelos que vieram atrás. Mas mantenho o que disse: isso não justifica que o poder pós 25/4 tenha entregue as colónias (aos movimentos armados mais esquerdistas) com um simples “amanhem-se”. E que isso originou o horror a que temos assistido nestes últimos 30 anos, também é verdade.
posted by VLX on 1:40 da manhã
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1º PRÉMIO: Neste tipo de coisas fico sempre à espera daquele que se lembra, sem qualquer tipo de justificação, de vir com a Alemanha nazi. Desta vez o primeiro foi o PC (nenhuma relação...) pelo que o prémio fica na embarcação.
posted by VLX on 1:17 da manhã
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VOLTAR À TERRA ou subir à nuvens, para o caso não interessa. Acabei de ver Prince e Beyoncé (Deus ou o Grande Arquitecto a guardem assim por muitos e bons anos !) a cantar o Purple Rain, abrindo os Grammy Awards numa prestação a transbordar sensualidade, musicalidade e energia.
De repente, tudo o resto me soa mesquinho. Desinteressante...
posted by NMP on 1:09 da manhã
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...E O BOMBEIRO: É óbvio que as declarações de Mário Soares se destinavam a provocar uma reacção. Pelos vistos, foram bem sucedidas.
Enfim, cada um sabe o isco que quer morder.
posted by NMP on 12:59 da manhã
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PELO CONTRÁRIO: Meu caro VLX, irritar pessoas não é difícil. Tal como tu te irritas quando te chamam de “fascista”, “extrema-direita” ou “saudosista”, tu irritas as pessoas ao provocá-las com os teu posts. E a mim irritaste-me.
Há frases tuas que eu considero inqualificáveis. Uma delas é :“É indiscutível que a nossa colonização foi das melhores do século XX...”. Mas o que queres dizer com isto? Que fomos mais meigos? Por este andar estás a dizer que o Tarrafal foi o campo de concentração menos hediondo da história! Ou que a nossa polícia política era a que menos torturava!
Não há desculpas! Colonização é colonização, basta perceber isto que está tudo dito. A necessidade de descolonizar à pressa é fruto de anos de prisão (vulgo colonização), e de um sentido de justiça que tinha que ser reposto o mais rapidamente possível. O que esteve errado não foi a descolonização, mas sim a colonização doentia, saudosista e imoral que o Portugal Salazarista prolongou durante anos, muito após as outras potências terem começado a descolonizar.
Aquelas pessoas que há uns tempos atrás qualificaste de “grandeza pessoal e científica”, casos de “Adriano Moreira, Franco Nogueira, Bissaya Barreto, José Hermano Saraiva ou mesmo Oliveira Salazar e Marcello Caetano” (e Kaúlza, porque não Kaúlza? Lapso de memória?) deviam ter tido inteligência suficiente para o entender, e assim preparar uma descolonização coerente, indo de encontro às ânsias das populações locais.
É desta forma que afirmo, sem a mínima dúvida, que a culpa da descolonização foi do regime, e não da esquerda que, liderada por Mário Soares, fez o que era possível na altura.
posted by TRM on 12:55 da manhã
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A PIROTECNIA E OS SEUS PERIGOS: O discurso é velho e relho. A única causa para algum alarme é o poder persuasivo da mentira repetida, que Goebbels bem conhecia. O problema é que, ao contrário da Alemanha nazi, não podemos esperar por uma intervenção vinda do exterior que nos redima. Pede-se, por isso, uma resistência quotidiana, tão paciente como a difusão da mentira. Entendo que isso não é uma liberdade, é um dever cívico.
Sobre o problema da descolonização já escreveu aqui, com lucidez, o nosso FNV, sempre tão "civilizado" quando discute com a direita. Mas, em minha opinião, o mal maior está alhures. Escreve VLX que "a propalada falta de liberdade afligia franjas da população, alguns políticos, o PCP em geral mas não consistia um problema concreto ou diário para a maioria da população". Três notas apenas.
A primeira: para quem se preocupa tanto com o carácter "ofensivo" das opiniões, VLX ofende pessoas vivas, a memória de pessoas mortas e as famílias dessas pessoas (grupo onde me incluo) - as tais "franjas da população" que eram presas e torturadas, ou, lembrando apenas casos que me são próximos, que iam a Espanha, disfarçados de Pauliteiros de Miranda, buscar refugiados da Guerra Civil e os escondiam em casa, ou que não podiam votar, ou que só conseguiam obter os seus diplomas de licenciatura alguns anos depois de a terminarem.
A segunda, especialmente dirigida ao público mais novo (este ano já fazem 30 anos os primeiros portugueses que nasceram em democracia...): infelizmente, VLX tem razão quando escreve que a falta de liberdade não era um problema concreto e diário para a maioria da população. Só é pena não ter explicado que isso sucedia por causa do analfabetismo generalizado, da ignorância maiúscula e da indigência cultural em que a ditadura galhardamente mantinha essa maioria da população. A pequena minoria, ou pertencia (cultural e economicamente) ao regime, ou entrava na clandestinidade, ou praticava diariamente uma resistência discreta - para manter viva e visível a ideia de que as coisas não tinham que ser assim.
A terceira: as "franjas da população" são, hoje, os que pensam como VLX. Felizmente, têm liberdade para escrever publicamente o que bem lhes apraz. Mesmo que sejam opiniões ofensivas (vd. primeira nota) e enviesadas (vd. segunda nota). Hoje, bato-me para que VLX possa dizer o que quer. Nenhum de nós saberá nunca se ele faria o mesmo por mim antes de 1974.
Assim, agradeço ao VLX por me ter fortalecido, em tempos de tão grande tentação, na minha fé na superioridade moral da democracia.
posted by PC on 12:29 da manhã
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DEFESA E PROVOCAÇÃO: Isto não devia ser necessário, mas uma vez que de vez em quando o nosso VLX provoca reacções exacerbadas, aqui vai. Toda a gente tem direito à sua opinião sem ter de ser imediatemente arrumado em categorias políticas que, nalguns casos, até podem ser ofensivas (como fascista ou de extrema-direita). Este é o critério que aqui seguimos.
Já agora e para provocar mais um bocadinho, porque raio trinta anos depois, a Constituição portuguesa ainda proíbe organizações fascistas e nunca se considerou a hipótese da mesma proibição para organizações comunistas ?
Bem sei que há uma razão histórica, na história recente portuguesa. Mas, para utilizar o mesmo critério, parece-me que também há algumas razões históricas na história recente do Mundo para proíbirmos organizações comunistas.
Eis pois uma proposta controversa: que maneira mais bonita de comemorarmos os 30 anos do 25 de Abril do que suprimirmos aquela proibição ? Ou então em alternativa, quem sabe, alargá-la a outras ideologias mortais (prefiro, por amor à liberdade, de longe a primeira hipótese).
Seria uma demonstração da superioridade moral da democracia, dando voz até aos seus inimigos (uma parte, porque outros sempre foram e continuam a ser particularmente vocais).
EU SABIA, EU SABIA! Eu sabia que os iria irritar. É limpinho, é o cão do Pavlov revisitado e melhorado. Assim é, na verdade, Glória Fácil (link aí ao lado).
ps: com o que não contava era com NMP, com quem se tem discutir com mais cuidado, por motivos óbvios. De todo o modo, e telegraficamente, meu caro NMP: não se trata da minha visão da história (embora agradeça o elogio), o que eu disse não é novidade nenhuma, como sabes. Depois não ha engodos: a colonização "a sério" fez-se, como tu próprio dizes, em dez ou quinze anos e por um país pobre, não sabemos se houve tempo e dinheiro para mais. A diferença para os outros países colonizadores é realmente grande (para melhor) fundamentalmente no aspecto da mistura fácil que o português tem. Por política e por feitio o português tem enorme capacidade de se integrar e isso aconteceu bastante através do casamento nas colónias portuguesas. Dada essa mistura, mais dificilmente se poderia falar em "exploração" como se falava em relação aos outros países colonizadores. Quanto ao segundo engodo, ele também não existe. É óbvio que o que se passou em 74/75 não pode ser dissociado do que estava para trás. Mas isso não legitima a descolonização tal como ela se fez. O "peguem lá e amanhem-se" não tem qualquer desculpa e sabemos que isso só foi assim para justificar o 25/4.
Por fim, tenho pena de que não queiras discutir Mário Soares (ao fim e ao cabo o inspirador deste post). Tenho a certeza de que seria divertido discutir contigo esta coisa do Soares andar permanentemente a lançar atoardas e insultar toda a gente e depois ofender-se qual virgem púdica quando lhe respondem na mesma moeda. Não era ele que tinha qualquer coisa sobre "telhados de vidro"?...
posted by VLX on 11:25 da tarde
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ATAQUE SEMANAL: O nosso VLX fez o seu ataque semanal e lançou diversas ondas de choque pela blogosfera. Pela minha parte, não estou interessado em entrar na troca de acusações entre o PP e Mário Soares.
As acusações da descolonização e as acusações de extrema-direita, de tão gastas, tornaram-se slogans que soam como de outros tempos. Destinam-se apenas a irritar os adversários e a fazê-los descontrolarem-se (pelos vistos com sucesso).
Quanto à visão da história de VLX ela assenta pelo menos em dois engodos: o de que a nossa colonização foi melhor que a dos outros (em quê, na industrialização, na educação ?) e na ideia de que o que se passou em 74/75 se pode desligar do que se passou anteriormente (dos 48 anos de ditadura, da guerra colonial, da descolonização de todos os outros impérios europeus).
posted by NMP on 10:31 da tarde
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DESCOLONIZAÇÃO II, ou um reparo civilizado: De facto, caro VLX, aqui há tempos referi esse aspecto da nossa colonização: só depois de 1961 se investiu em força em Angola e em Moçambique. Dizes-me agora que comodamente esqueço (se não era para mim, é como se fosse) a situação que o país vivia na altura. Seria interessante recomendar a leitores mais novos ou distraídos, testemunhos de Spínola (Portugal e o Futuro) ou de Adriano Moreira (O Novíssimo Princípe), ou aspectos parcelares da correspondência entre Marcelo Caetano e Salazar (Cartas Secretas 1932-1968). A ti não te recomendo porque já conheces estes textos, mas outros achariam nestes textos de gente que conheceu a nossa colonização nos anos 40-60, uma boa fonte para a objecção que agora refutas: O Regime pode ter feito uma colonização menos brutal, mas nunca apostou (veja-se a Lei do Indigenato) no desenvolvimento de elites nativas técnicas, docentes, admnistrativas e políticas. Caetano, Ministro das Colónias(44-47) ou Adriano Moreira, Ministro do Ultramar (61-63), cada um à sua maneira, reflectem o receio da Metrópole de libertar do espartilho especulativo a economia ultramarina, ao mesmo tempo que se percebe fácilmente, no que contam e no que escrevem, como tal receio face aos brancos se acoplava a uma descrença e a um desprezo pela remota possibilidade de incluir os negros no seu proprio governo. Com Spínola, descortinamos o alheamento, sobretudo na Guiné, dos povos face ao seu destino. E isso, porque o Regime não conferia aos negros a capacidade de aprenderem, de evoluirem, isso porque adjacente à nossa colonização tardia vigorava ainda um primado de superioridade racial.
E "isso" meu caro VLX, é ter responsabilidade na descolonização que se seguiu. Povos pobres e diminuidos acolhem mais facilmente déspotas e canalhas, de palavra fácil e costas quentes.
posted by FNV on 6:31 da tarde
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DESCOLONIZAÇÃO: Há uma coisa na esquerda que me irrita profundamente e que consiste no facto de tentarem divulgar e propagandear que quem critica a descolonização feita pela nossa “democracia de 74” deva ser de imediato considerado como um colonialista ou um defensor da ditadura, qualquer que ela tenha sido. Não é verdade e é até ofensivo.
É indiscutível que a nossa “colonização” foi das melhores do século XX, muito diferente da exploração gratuita feita por muitos outros países, e que a “descolonização” foi das piores. O investimento feito nas ditas colónias na década de sessenta é formidável e aqueles que comodamente criticam porque apenas nessa altura se tenham feito tais investimentos esquecem-se de que 50 anos atrás se estudava a possibilidade de se “venderem” ou “trocarem” as colónias. Ou de que as mesmas eram cobiçadíssimas. Ou ainda de que o país (continente) estava de rastos e completamente desfeiteado pela 1ª República e que necessitava primeiro de se aproximar do patamar europeu antes de tratar das colónias.
Posto isto, tratemos da descolonização. A descolonização foi apressada e desajeitadamente feita na sequência do 25/4 e este foi apresentado à população fundamentalmente como o meio de acabar com a guerra (juntamente com o regime) e com as colónias. Não era unicamente (ou principalmente) uma questão de liberdade (ou falta dela) porque isso não era o que preocupava a classe média e a generalidade de população. A propalada falta de liberdade afligia franjas da população, alguns políticos, o PCP em geral mas não consistia um problema concreto ou diário para a maioria da população: o que a preocupava era a guerra e a ida dos seus filhos para o ultramar. No exterior também, deixemo-nos de hipocrisias: o mundo inteiro estava-se positivamente nas tintas para o facto de termos mais ou menos liberdade interna mas já olhavam com outros olhos para as colónias e para a possibilidade de nos substituírem. Basta ver a pressa com que a URSS pôs a sua pesada pata em Angola e Moçambique ou a Indonésia em Timor.
Daí que a missão primeira dos políticos pós 25/4 (para justificarem o movimento, interna e externamente) terá sido fazer desaparecer rapidamente a guerra e as colónias, sem se preocuparem minimamente com os efeitos nefastos que isso produziria.
E produziu. Por causa da forma abrupta utilizada, a descolonização proporcionou trinta longos anos de sofrimentos nas colónias, guerra civil, massacre de populações, fome, miséria e uns quantos milionários. A vida naqueles países é, hoje, muito pior do que na década de sessenta. A guerra civil angolana produziu um número muito maior de mortes, catástrofes e atrocidades do que a guerra colonial. A miséria é muito maior hoje e isso é consequência directa da descolonização tal como foi feita.
E não se diga que isso era imprevisível pois basta ler alguns textos e discursos dos principais políticos do antigo regime para se ver que contêm premonitoriamente tudo o que se veio a passar nas colónias no pós 25/4 (a pata soviética, o cenário da guerra fria, a guerra civil, a morte e a miséria, etc., etc.). Está lá tudo. Estava tudo previsto.
De forma que é indiscutível que o processo de descolonização foi uma desgraça e que criou inúmeras atrocidades bastante previsíveis. Estas devem-se aos responsáveis da descolonização. Entre estes está, na primeira linha, Mário Soares. Assume-o e já reconheceu o erro. Mas porque carga de água não podemos nós, hoje, qualquer que tenha sido o papel de Mário Soares na História, afirmá-lo também? Dir-se-á que a qualificação de “criminoso” é exagerada e forte. Talvez seja. Mas deveremos nós estar aqui com pruridos e delicadezas com alguém que a cada passo nos apelida injustificadamente de xenófobos ou de extremistas radicais de direita?
Post scriptum: imagino que este post vá provocar "pele de galinha" na esquerda gaiteira, a qual me vai de imediato (como sempre, à falta de argumentos sérios) apelidar de extrema direita, fascista, saudosista ou outros disparates do género. A esses posso desde já dizer que não tenho saudades de regime nenhum, de colónia alguma, que não sou fascista nem de extrema direita, e que sou suficientemente crescidinho para analisar a História de Portugal de forma desapaixonada e séria. E que, uma vez mais o digo, não tenho medo de fantasmas.
posted by VLX on 4:00 da tarde
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Petit à petit l'oiseau fait son nid: Quer dizer que lá para 2005 a relva do Estádio do Dragão estará ao fininho. Não estou a ver é a UEFA a autorizar o Manchester a jogar naquele batatal. Isto cheira-me a conspiração sulista, elitista e liberal.
posted by FNV on 12:17 da tarde
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OLHA: EXISTEM! Eu não sabia que havia oposição socialista a Luis Filipe Menezes, em Gaia. Ontem vi pela primeira vez, na TV, a tal oposição. Isto significa que Rui Rio já está condenado, e por isso Menezes já não é útil. Foram dois bons anos, à moda do Porto.
posted by FNV on 12:12 da tarde
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ACREDITE SE LER NO EXPRESSO: Henrique Monteiro escreve no último Expresso a favor de Soares e contra o CDS/PP por entender que, embora Soares “carregue um pouco nas tintas” quando não gosta de alguém, o mesmo deve ser desculpado, respeitado sempre e nunca atacado. Diz ainda que devemos mais a Soares do que a todo o CDS sozinho.
Pois eu devo uns dinheiros ao BPI devidamente hipotecados e não devo nada a Mário Soares. Mais devo ao CDS, que num momento extremamente difícil votou contra uma constituição que imbecilmente desejava e profetizava uma sociedade socialista, a mesma que Henrique Monteiro e Mário Soares talvez nunca tenham querido mas que, pelo mesmo este último, aprovou e defendeu.
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