EPÍLOGO DA LENTILHA: Antes de mais, quero esclarecer que o uso de reticências a seguir ao nome Rui não tinha qualquer intuito depreciativo; ao contrário, visava mostrar que só não tratava a pessoa em causa pelo nome completo - como faço quando polemizo com alguém que não conheço - porque, simplesmente, não o sei.
Posto isto, verifico que, apesar de os meus comentários serem francos e directos, o Catalaxia continua a usar a galhofa chocarreira em vez de discutir a substância das coisas. É pena. Fica para outra vez; talvez quando nos explicar em que é que as declarações do Presidente do STJ violam o princípio da separação de poderes.
Enfim, existe alguma convergência quanto ao local do lançamento do livro: o Pedro dos Leitões, na Mealhada, é uma boa escolha. Não sendo talvez o melhor, é seguramente melhor que o Rui dos Leitões (ali nos Fornos, mesmo à saída de Coimbra), que é de péssima qualidade. E eu, por um requinho, vou até onde for preciso.
posted by PC on 1:30 da tarde
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FILMES: Assisti recentemente (por acaso de forma involuntária) a um filme indiano, com um enredo engenhosamente diabólico. Começava por ser uma história de amor entre uma "fidalga" e um salteador que, entretanto se convertera aos bons costumes, tentando convencer todos - noiva incluída - da sua nova faceta asceta. Finalmente (pensava eu, na minha ingenuidade, após mais de uma hora de filme!), o dito rapaz consegue convencer toda a gente da sua neo nobreza e avança para o casamento. No entanto após consulta no médico, vem a saber que sofre de leucemia e que só terá dois meses de vida. Demonstrando um carácter à prova de bala, decide não comprometer o futuro da sua amada (de viúva inevitável), poupando-a ao desgosto da sua morte mediante a denegrição da sua imagem, por forma a não deixar saudades neste mundo. Para o efeito, contrata uma amiga com ar de meretriz que, no meio do casório, decide relatar à noiva uma série de patranhas sobre o supostamente condenável comportamento do noivo. Todos os compromissos se desfazem, no meio de prantos indescritíveis. Entretanto, o ex-noivo é contratado pelo ex-sogro para matar um escroque que o submete a chantagem, com o argumento de que não tem nada a perder e que, desse modo, impedirá a morte dele, o pai da sua amada. O ex-noivo acaba por aceitar, mas é apanhado ao tentar matar o chantagista - que é de facto apunhalado por outro. Como uma desgraça nunca vem só, a ex-noiva, ao saber da verdade e perante a (falsa) morte iminente do seu amado atira-se por umas escadas abaixo.
Tudo vem a resolver-se a contento. A ex-noiva recupera a saúde, o ex-noivo a liberdade, o verdadeiro escroque - o ex-sogro! - vem a ser abatido pelo líder da quadrilha do chantagista - anteriormente falecido - o qual se vem a revelar um homem de bem e... irmão de sangue do ex-noivo (!), que afinal está são como um pêro, uma vez que a leucemia tinha sido inventada pelo médico a soldo do ex-sogro que, por sua vez, também "arrumou" aquele.
Infelizmente, não é preciso ir à India para encontrar argumentos destes. Ainda recentemente, assisti a uma peça sobre um falso psiquiatra, testemunha num sórdido processo judicial, sobre um crime horrendo, no meio de um enredo a fazer lembrar O Polvo, com manobras políticas à mistura, blá, blá, blá...
posted by Neptuno on 12:45 da manhã
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"GET A GRIP(E)": Surfa nas palavras adulteradas desses excelentes poetas Aerosmith (poetas e progenitores, no caso do vocalista...) mesmo que o som te incomode; faz desporto à chuva mesmo que te molhes; sai à noite e bebe uns copos, mesmo que o frio te rache; enrola-te com a tua amada, mesmo que na corrente de ar; dorme nú, ainda que só.
E acabarás por apanhar uma gripe.
Vais ter saudades.
Vais recuperar.
E vais fazer tudo outra vez.
HUMM.... Uma referência amável ao Mar Salgado, na página 20 do Independente. Só não sei se o P.C. vai gostar...
posted by FNV on 7:44 da tarde
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PEDRAS, SÓ HÁ VIDAGO: Não tenho dúvidas de que o Rui..., do Catalaxia, nutre pela Universidade os mesmos sentimentos de afeição que dedica a Dias Loureiro. Mas o ponto não era esse; nem me interessa discutir a vida de Dias Loureiro, que não conheço, que não me deve nada e a quem nada devo. O ponto era saber se esses sentimentos pessoais não estariam a inquinar a análise de um acto de mecenato, normalmente tão elogiado pela área política em que o Catalaxia aparenta mover-se. Mas talvez a minha inferência estivesse errada e o Catalaxia abomine, em geral, a política de mecenato, independentemente de onde ela vem. Ou, não a abominando, entenda que os beneficiários não devem homenagear os mecenas. E, então, haverá apenas uma diferença de opinião entre nós.
No mais, desejo-lhe boa sorte para a continuação da sua biografia de Dias Loureiro.
PS: Só não percebi onde é que vi alguma coisa "a contrario sensu".
posted by PC on 4:59 da tarde
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NADA DE NOVO: Catlina Pestana e Dulce Rocha eram "empenhadas", "combativas", e isso era bom quando o Barnabé ( link na coluna da direita) as entrevistava. Agora, essas mesmas qualidades, no caso Casa Pia, são más. É isto que eu gosto nos jovens gurus contestários-chic: não perderam o hábito de retocar fotografias. Está-lhes no sangue.
posted by FNV on 3:18 da tarde
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A UNIVERSIDADE, A "SOCIEDADE CIVIL" E AS LENTILHAS: Ontem li o comentário do Catalaxia a propósito de uma notícia do Expresso sobre uma "homenagem da Universidade de Coimbra a Dias Loureiro". Não li a notícia do Expresso, mas, segundo o vetusto Diário de Coimbra, a cerimónia em causa destinava-se a apresentar uma obra editada pelo Arquivo da Universidade, da autoria de alguns investigadores seus, sobre os lentes que passaram pela Universidade desde 1290; do que entendi da notícia, Dias Loureiro teria financiado o projecto, e não só a publicação da obra, pelo que seria homenageado, como mecenas, no acto do lançamento.
Confesso que fiquei algo surpreendido com o tom do post do Catalaxia, que, depois de tecer algumas considerações sobre o percurso profissional de Dias Loureiro, acaba assim: "Espantados? Não há razões para isso: pobre e mal paga, a Universidade portuguesa é veneranda [sic] e agradecida a quem lhe faz bem. E os pergaminhos académicos, a tradição, o distanciamento e a elevação próprios de quem só vive para a Ciência, de nada valem com o estômago vazio. Que se danem! Venha mas é daí um bom prato de lentilhas". Desconfio que, se em vez de Dias Loureiro, o mecenas fosse o desconhecido Sr. Loureiro Dias, o Catalaxia era capaz de se regozijar com o evento, apresentando-o como exemplo de "abertura" da velha Universidade pública à chamada "sociedade civil", tão justamente reclamada por aqueles que lhe criticam o anquilosamento e a incapacidade de encontrar recursos fora dos fundos do Estado. Mesmo que esses recursos sejam um prato de lentilhas.
posted by PC on 11:05 da manhã
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MAIS UMA COMEMORAÇÃO: Desde o primeiro dia ela tem estado à proa desta nau. Agora recebeu o prémio Reína Sofia de Poesia. Como bem escreve Vasco Graça Moura: Nunca, como agora, precisámos tanto do banho lustral e purificador dos sons da sua lira de oiro e cristal, e dos fustes, dos frisos, das colunas, da justa proporção e da medida, do sonho e da água, do ar cor de safira e da luz que cintilam na sua palavra, atravessando-a e atravessando-nos para nos despoluírem a alma e para nos refundarem em dignidade. Para nós, lá vão mais umas garrafas de rum comemorativas, ao som das suas límpidas e cristalinas palavras:
O poema é
a liberdade
Um poema não se programa
porém a disciplina
-sílaba por sílaba-
o acompanha
Sílaba por sílaba
o poema emerge
-como se os deuses o dessem
o fazemos
Sophia de Mello Breyner Andresen
posted by NMP on 1:18 da manhã
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GEHRY: Num post anterior desafiei os excelentes blogues de Arquitectura a comentarem uma obra de Frank Gehry em Los Angeles que tinha acabado de ser inaugurada.
O Projecto, o Arquitectices, o Epiderme (um novo e excelente blogue que linkaremos a seu tempo) e o hARDbLOG, pelo menos, responderam à chamada. E fizeram-no com um nível analítico e uma qualidade argumentativa que me deixaram, como leigo em arquitectura, na condição de espectador verdadeiramente deliciado. Para eles um abraço agradecido de um leitor da blogosfera que tem aprendido imenso com este debate.
Não consigo acrescentar muito mais ao que já foi dito (frase de político quando não sabe o que há-de dizer). Talvez reafirmar que gostava de ver o traço de Gehry a marcar a paisagem urbana de uma cidade portuguesa. Bem sei que há uma polémica em curso a propósito dos custos dessa obra (estou fora do país, portanto não acompanhei essa discussão com atenção). E dou uma sugestão: porque não um estudo prospectivo e quantitativo sobre as eventuais vantagens económicas (directas e/ou induzidas) que um projecto arrojado de Frank Gehry trará à cidade ? O preço final, assim calculado, será certamente inferior ao que tem andado a fazer primeiras páginas. E então logo se decide se vale o investimento ou não (isto demora um mês).
posted by NMP on 1:04 da manhã
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CASE STUDY (2): A propósito do caso de Terry Schiavo, o Adufe emitiu a sua opinião, o Janela para o rio já tinha emitido, alguém (que eu já não me lembro)esclareceu que talvez não seja um caso de eutanásia porque não há declaração de vontade e o Bloguitica exorta-me a largar um míssil. Acho que o vou desapontar, porque este é um dos temas perante o qual não tenho certezas. O argumento do Adufe favorável à eutanásia parece-me razoável, mas depois surgem estes casos-limite que nos levantam dúvidas.
Tendo, nestas matérias morais (eutanásia, aborto), a privilegiar a liberdade individual e a decisão individual, que acho serem, em regra geral, melhores do que qualquer decisão imposta pelo legislador, por um padre, por um rabi ou por um imã. No entanto, o que incomoda nestes casos-limite é a noção que um eventual abuso desta liberdade significa uma situação de não retorno.
Quando intitulei o post como Case Study foi justamente porque, mesmo lendo a peça que me pareceu equilibrada da Newsweek, não consegui formular uma opinião definitiva. A blogosfera também serve para isto: para partilhar dúvidas eternas.
E numa altura em que toda a gente tem opinião sobre tudo, aqui estou eu candidamente a explicar que há questões sobre as quais não consigo ter certezas.
Pode ser que os nossos penalista e psi nos iluminem. Não em termos de certezas, mas para podermos ter uma opinião mais informada sobre a matéria.
posted by NMP on 12:38 da manhã
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IMPÉRIO: Uma discussão com o Terras do Nunca tem ocorrido relativamente ao pós-guerra no Iraque. Posteriormente, o Planeta-Reboque juntou-se à discussão, ainda que pareça mais interessado em discutir os participantes na discussão e as suas fidelidades ideológicas do que propriamente os temas.
Eu digo que a discussão é sobre o pós-guerra, porque o que me motivou foi um post em que o nosso amigo do Terras do Nunca apelidava de loucos os que achavam que as coisas iam bem no Iraque. Contestei, não por achar que as coisas vão bem, mas porque me pareceu e parece que jmf parou na altura da discussão da intervenção armada. E agora, entrincheirado nos temas dessa discussão de há meio ano, tenta tirar desforço argumentativo de todo e qualquer percalço que por lá aconteça. Na última resposta fala de unilateralismo e multilateralismo, uma semana depois de uma Resolução unânime do Conselho de Segurança da ONU apelar a um esforço conjunto para a reconstrução do Iraque.
Para fazer um parêntesis, porque essa discussão foi superada pela evolução da realidade, acho peregrino que se fale em unilateralismo contra multilateralismo, quando por exemplo dos 19 países da NATO 16 apoiaram a intervenção (será que trilateralismo quer dizer multilateralismo ?). Mas não vamos por aí, porque nós já sabemos, por conhecermos essa cartilha, que os únicos países do mundo que têm interesses económicos e não têm vontade própria são os aliados dos americanos...
Voltando à vaca fria, reafirmo que acho que as perspectivas futuras dos iraquianos são mais risonhas do que eram debaixo do jugo de Saddam. e que a construção de uma democracia no mundo árabe é um projecto que deve unir os que partilham desses valores, ou seja, o Ocidente.
A globalização aproximou-nos a todos. Até a um ponto em que o que se passa num estado comandado por um facínora ou numa rede terrorista é um problema nosso, das nossas sociedades, da nossa vida quotidiana, da nossa vizinhança. Se não promovermos sentimentos democráticos, progresso económico e social, a emergência de uma classe média social e politicamente relevante nos países árabes, esta gente cairá nas mãos do fundamentalismo (que, sem meias palavras, é um retrocesso civilizacional em todas as suas dimensões). Com Saddam em Bagdad esta tarefa era muito mais díficil para não dizer impossível pelo seu papel desestabilizador da região.
Houve um tempo em que o Ocidente se podia dar ao luxo de achar indiferente o que se passava nesses países. Depois do 11 de Setembro, isso tornou-se impossível.
P.S. - Quanto aos interesses económicos franceses, alemães, americanos, portugueses ou globais não tenha pena de uns que eventualmente percam para os outros. Eles orientam-se. A questão está muito longe de ser essa.
SEMPRE II: A língua e o olhar vestem-se de uma serenidade maldosa na pessoa que sabe que vai morrer. Como quem diz, é a hora de os rapazes se tornarem homens. Uma leitora ( a Sofia) apanhou-me hoje a meio sótão, entre corujas, contente por haver quem leve uma palavra ao moribundo e amigo. Decerto há obrigação, profissão até no meu caso, mas sobretudo cobardia. Houvesse a possibilidade de desligarmos quem nos incomoda em agonia de osga, e não hesitariamos.
O festival dos cadáveres, mantidos em piloto automático só pode suscitar um desejo, claramente o de apanhar um avião com piloto em carne e osso e desaparecer.
Mas, e por isso a morte vagarosa é das últimas réstias de abnegação e esforço que nos resta, não podemos desaparecer assim tão fácilmente. Não há tempo para o Prozac, para o circo, para a bola. Somos obrigados a assistir ao espectáculo que não queremos, numa altura em que os escolhemos a todos. Voltamos ao tempo dos elefantes, que em volta do marfim, organizam a memória dos outros.
posted by FNV on 8:43 da tarde
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NEM OITO, NEM OITENTA: O Catalaxia insurge-se, neste post, contra as declarações do Presidente do STJ relativamente ao suposto "excesso de garantismo" da lei penal portuguesa. Concordo com algumas das ideias avançadas pelo Rui; com outras, não.
Substancialmente: também creio que esse alegado "excesso de garantismo" (que ninguém nunca sabe identificar com rigor) é um belo saco escuro para onde as magistraturas gostam de atirar parte da sua própria ineficácia. Além disso, também acho que o Presidente do STJ não se devia ter pronunciado sobre o tema no preciso momento em que o fez, por razões óbvias.
Mas não concordo nada com a ideia de que o Presidente do STJ, ao exprimir a sua opinião, esteja a violar o princípio da separação de poderes. Já aqui escrevi contra a audição sistemática dos presidentes das associações sindicais dos magistrados, enquanto tais, sobre a política da justiça em geral, porque não estão legitimados para tanto. Porém, nunca me passaria pela cabeça entender que esses mesmos magistrados - ou o Presidente do STJ - não podem expressar publicamente a sua opinião sobre os problemas da justiça e as suas eventuais soluções, como cidadãos e como magistrados. Da mesma forma que o Governo, ou os deputados, têm a liberdade de, p. ex., modificar as regras da prisão preventiva, tomando como base da decisão o entendimento de que os tribunais portugueses a aplicam, objectivamente, de forma excessiva. Mais: o legislador só pode aproveitar das opiniões de todos quantos lidam quotidianamente com a justiça. E depois decide, serena, soberana e responsavelmente.
posted by PC on 7:29 da tarde
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COITADO!: Costuma dizer-se que o racismo se revela da pior forma em frases como "...racista, eu? Não! Não tenho nada contra. Até tenho pena deles. Coitados!" Este tipo de construção também aparece nas declarações políticas, quando se pretende dizer encapotadamente o quanto se detesta alguém, defendendo antecipadamente possíveis reacções com o formalismo da declaração. Parece-me ser o caso da crónica de hoje de Santana Lopes no DN - Dois Pesos, a "meias" com Jorge Hadem Coelho - sobre o PR em que, enquanto afirma a sua discordância relativamente a palavras e atitudes de Jorge Sampaio, protesta e repete até à exaustão a estima, amizade e consideração que ele lhe merece.
Aproveitando esta onda formal, junto a minha voz à de Santana Lopes no apreço pelo nosso PR. Coitado!
posted by Neptuno on 6:30 da tarde
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TESTE DO BALÃO: Isto de estar para aqui a falar de brindes recorda-me que, de acordo com o jornal Público, a Câmara Municipal do Porto vai passar a testar o nível de álcool dos seus funcionários, até para passar a mensagem de que «(...) a Câmara do Porto não é um conjunto de alcoólicos (...)».
À primeira vista, poderíamos ser levados a pensar que se tratava apenas de mais uma demonstração da obsessão de Rui Rio em não ser reeleito mesmo.
Mas, se pensarmos bem, caso a aplicação de tal medida fosse alargada na administração pública a todo o país e para todos os cargos, o problema do excessivo número de funcionários públicos acabaria por se resolver por si.
posted by VLX on 6:13 da tarde
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O QUE NÓS TEMOS DE OUVIR III: Completamente de acordo, caro PC. Nós só não estamos de acordo quanto aos brindes ou quanto àqueles sobre quem se devem fazer os brindes. Tu brindas a qualquer um, achas que isso te fica bem. Óptimo. O que é preciso é motivo para assaltar as reservas de rum do Comandante. Perfeito. Eu prefiro brindar primeiro aos meus, acho que me fica melhor. E com um bom Vintage. É, dizem, a chamada liberdade da democracia.
Mas também não devemos estar muito de acordo quanto ao local em que se fazem os brindes. Imagino que não te importes nada de os ir fazer alegremente para Olivença. Já eu, mesmo gostando muito dos nuestros hermanos e do clube gourmet, prefiro brindar a partir da Batalha. Tenho destas manias.
posted by VLX on 3:11 da tarde
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AINDA DURÃO E ANGOLA: Só uma pequena apostilha ao último texto do VLX: eu discordei do seu primeiro post porque se dizia aí que a saudação de Durão Barroso era "ofensiva" para os portugueses que combateram em Angola e que "não nos ficava bem". É essa perspectiva que, a meu ver, só tem passado, não tem presente nem futuro. Se o meu amigo VLX ler com atenção o seu primeiro post e a minha discordância, verá que era disso que aí se tratava. Mas ainda bem que, pelos vistos, estamos de acordo no que diz respeito à independência de Angola e ao desenvolvimento de relações amistosas com esse País.
posted by PC on 1:14 da tarde
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O QUE NÓS TEMOS DE OUVIR II: Tenho de admitir que achava estranho colaborar aqui há quinze dias e ainda não ter provocado nenhuma revolta ao estilo da da Bounty.
Mas, mesmo com todas as considerações da ilustre tripulação, não deixo de achar estranho que se ofusquem, apaguem as figuras portuguesas - independentemente de qualquer consideração política - e se vão louvar as estrangeiras, por muito próximas que sejam (e são-no, não duvido). Não sou, obviamente, contra a independência de Angola nem contra as amigáveis relações que se criem ou desenvolvam entre os nossos dois países. Pelo contrário. Apenas pretendo que se considerem igualmente - o que cá não se faz ou não é costume fazer-se - aqueles nossos que igualmente sofreram. A critica era, portanto, mais para nós próprios do que para os outros.
Dir-se-á que a política de então era errada. Tudo bem; nem sequer vou discutir o assunto, não interessa. Sofreram. E não vejo os nossos primeiros a saudar os nossos sofredores com igual entusiasmo. Nem qualquer tipo de reconhecimento. Isto, caro PC, em lado nenhum pode ser considerado uma visão do passado que não tenha futuro. Isto nem sequer quer ter futuro, para além do respeito por aqueles que sofreram. Mais nada.
As relações entre Angola e Portugal deverão ser magníficas, temos de lutar por isso e temos para o fazer até bastantes responsabilidades (desde logo porque a população está a viver muito pior do que vivia há 30 anos atrás e a culpa é nossa).
Mas se queremos honrar os seus heróis, honremos também os nossos que, mesmo descrendo na política - como dizem - honraram bandeira e o país e deram o seu melhor. E isso não é aqui feito. Angola não tem culpa, como é evidente, mas não o fazemos e foi por isso que chamei a atenção para o assunto.
No mais, pouco há a dizer; era difícil discutir neste espaço restrito as resoluções da altura das Nações Unidas ou os donos da verdadeira responsabilidade pelos confrontos. Aliás, caro PC, já o fizemos variadíssimas vezes e nunca estivemos de acordo.
Quanto às desculpas de S.S. o Papa pelos actos da Igreja ou à a homenagem dos Alemães ao povo judaico (esta então é até ofensiva) são coisas não comparáveis.
Por fim, uma confissão de amor: prefiro este governo a qualquer outro. Não posso é deixar de o criticar quando entenda necessário fazê-lo. Felizmente têm sido poucas vezes. Uma outra confissão: nunca lá fui, mas Angola deve ser um país fabuloso.
posted by VLX on 2:33 da manhã
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INSPECTOR MARTELADA: Alerto a restante tripulação que o marujo P.C. ( ver post Heróis II) se passeia pelo convés de caderninho no bolso, a registar as nossas posições relativas para futuras conversas. Chiça, que até me arrepiei! Vou ver se arreio o escaler e me ponho a milhas...
PS: Informem-me se o P.C. aceita arrependidos, de preferência com melhor destino do que os das FP-25.
posted by FNV on 1:28 da manhã
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SEMPRE: Amanhã vou aos HUC despedir-me de uma doente-amiga, tem o fígado repleto de metástases, está amarela, restam-lhes poucos dias. Nos últimos dois anos temos falado regularmente dos dias do fim, mas também dos silêncios do marido, dos seus filhos, do entorpecimento. Nestas consultas não há reestruturação de personalidade, nem anamneses didácticas. Há o tempo. Só.
Esta morte lenta e certa, é em parte, um produto do avanço civilizacional: diagnóstico preciso, informação, terapêutica retardadora. Sabe-se o que se tem, sabe-se que se vai morrer, e espera-se, atrasa-se a lança de Ajax. O que me interessa é saber se esta dilação traz alguma coisa de verdadeiramente importante para o moribundo. Claro que para aqueles que se salvam, a questão nem se coloca, o problema são os outros.
A monitorização do andamento da morte-locomotiva, não atrasa o doente na lida das coisas pequenas. Velhas rixas, dinheiros, cíumes, tudo continua a rolar, tudo segue o seu carril. Ouço falar em apego à vida, mas tenho dúvidas: a vida verdadeira já se separou de nós nesta altura.
Esta minha doente-amiga, há muito que só se preocupa com ela e com o seu cancro. Dança um pas-de-deux voluptuoso e repetitivo, prenhe de lamúrias, que não abraça nem apego nem vida. Esta gente que nos morre, e para as quais só temos palavras mas não temos salvação, não nos revela nada. Só nos cega. E ainda bem.
posted by FNV on 12:45 da manhã
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A SEU TEMPO: O nosso amigo do Terras do Nunca contra-ataca. A discussão está reaberta, com ele e com o Planeta-Reboque. Agora não tenho tempo, mas mais logo contestarei. Entretanto, aproveite e vá-se rindo, naturalmente sem se desmanchar (o importante é que as pessoas andem bem dispostas sem pôr em risco a própria integridade física).
Para lá disso, tenho de dar continuidade a duas discussões aqui lançadas: Frank Gehry e eutanásia (aceitam-se mais contribuições). Então, até logo.
posted by NMP on 12:16 da manhã
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HERÓIS II: À laia de epílogo, informo o F.N.V. de que me referia a críticas provindas de quadrantes do Mar Salgado à direita do Governo (i. e., por actuações do Governo não-suficientemente-conservadoras), e não de críticas provindas do lado direito desta embarcação. Registo no meu GPS a posição actual de F.N.V., para futuras conversas. Mais informo que não consigo ver no seu texto uma crítica ao Governo, mas sim uma risadinha condescendente a propósito de A. Theias e uma ânsia controlada pelo retorno (sempre o retorno) do Patrão, para pôr ordem na Loja.
No mais, só posso concordar com o F.N.V., se o seu texto pretende provar que os combatentes da guerra em Angola não foram criados por Zeus. Não foram, de facto.
HERÓIS Á laia de intróito, informo o P.C. que não foi necessário Angola para o Governo ser aqui criticado, e logo pelo lado direito, no Salgado Mar: ainda ontem escrevi sobre o tema, com o título Patrão fora, dia santo na loja. Adiante.
Enternece-me esta discussão sobre heróis, os do Portugal colonial e os da independência. Miopia minha, certamente, não os vislumbro em barricada nenhuma. Hesíodo conta-nos a 5ª raça criada por Zeus, a dos heróis, que morreram em Tebas e em Troia, Homero fala-nos pela primeira vez dos heróis, príncipes ou senhores, na Íliada. Estes heróis depois muitas vezes retomados, agora destruídos com o fim das grandes narrativas, destacavam-se pela coragem sobre-humana, pelo seu apego à fundação de cidades, à liberdade e à prosperidade dos povos.
Não me parece que os milhares de portugueses enviados para Angola tivessem esta fibra e esta motivação, ainda que, inevitavelmente, a tenham ocasionalmente mordido. Idem aspas para os desgraçados treinados por instrutores chineses, cubanos e soviéticos.
Assim, no debate em curso no Salgado Mar, aproximo-me da posição do NMP, se bem a compreendi. Havendo interesses nossos ( post-coloniais) em Angola, porque não fazer uma declaração amigável e conciliatória? Se não tratámos deles na altura, porque não fazê-lo agora?
posted by FNV on 11:14 da tarde
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SUCATA: Uma das expressões mais felizes que Durão Barroso utilizou aquando da última campanha eleitoral foi a necessidade de nos livrarmos em Portugal, no debate público, de alguma «sucata ideológica». E acrescento eu, sobretudo se estão em causa interesses de Portugal e da afirmação do seu papel enquanto nação, das suas empresas e instituições, no Mundo.
Eu sei que a expressão foi originalmente pensada para se aplicar à esquerda, mas não sei porquê lembrei-me dela quando li o último texto (O que nós temos de ouvir) do nosso recente marinheiro VLX...
posted by NMP on 8:48 da tarde
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DURÃO BARROSO EM ANGOLA: Lá haveria de chegar o dia de o actual Governo ser criticado, no Mar Salgado, pelo lado... direito. Foi hoje.
Ao contrário do VLX, não acho nada que a saudação de Durão Barroso tenha sido "excessiva", "desnecessária" e "ofensiva" para os nossos heróis nessa mesma guerra. Embora não seja propriamente um adepto da ideia de "responsabilidade histórica" (os meus muitos pecados e malfeitorias são-me mais do que suficientes), compreendo que o desenvolvimento de relações amistosas, ou, ao menos, pacíficas, entre grupos sociais (sejam eles Estados, raças ou religiões) precisa, por vezes, de gestos deste tipo. E por isso a Alemanha do pós-guerra homenageou oficialmente o povo judaico; e por isso o Papa pediu desculpas públicas pelos actos de perseguição historicamente imputáveis à Igreja Católica.
Ora, reconhecer os "heróis" da independência de Angola não implica ofender ou esquecer o heroísmo daqueles que, no cumprimento do seu dever imediato, procuraram impedi-la. Tanto que nem se pode ver, nas palavras de DB, a assunção de uma responsabilidade semelhante aos exemplos citados. Aliás, a verdadeira responsabilidade pelos confrontos tem donos, que na época estavam identificados com muita clareza (convém não esquecer as sucessivas resoluções das Nações Unidas, desde 1961, estabelecendo a ilegitimidade da política colonial portuguesa e o direito dos povos em causa à auto-determinação).
De modo que o texto do meu amigo VLX é fruto de uma certa visão do passado que, no presente, me parece não ter futuro. Os armistícios são, por vezes, processos longos, tão longos quanto o necessário para o estabelecimento de relações de confiança entre os povos. As palavras de Durão Barroso foram um acto político, mais ou menos necessário, mais ou menos oportuno, mas não foram ofensivas para ninguém. Nem se pode afirmar que não nos ficam bem. O que nos fica, definitivamente, mal, é não compreender que se saúde hoje a independência das antigas colónias e os seus obreiros.
posted by PC on 7:35 da tarde
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O QUE NÓS TEMOS DE OUVIR: Constato, estupefacto, que Durão Barroso, em discurso proferido na Assembleia Nacional de Angola, entendeu por bem saudar os heróis da independência angolana e saudar todos os angolanos que lutaram para que Angola seja hoje uma nação independente, livre e empenhada em seguir a via da democracia e do desenvolvimento (sic).
Estou pasmo. Compreendo e admito que nas relações entre países, comerciais ou diplomáticas, por vezes se tenha de apertar as mãos a gente que nem sequer na rua cumprimentaríamos. Já esta saudação me parece completamente excessiva e desnecessária, para não falar nas naturais dificuldades em relacioná-la com a realidade efectiva.
Além do mais, é ofensiva para os nossos heróis nessa mesma guerra, que também os tivemos - e muitos -, e que invariavelmente nos esquecemos de saudar, até parecendo que temos alguma vergonha em fazê-lo. Bem como relativamente às vítimas inocentes.
Não era necessária, não se exigia nem se justificava semelhante atitude. Nem nos fica bem.
posted by VLX on 6:42 da tarde
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HISTÓRIAS DE FAMÍLIAS DESAVINDAS II: Têm-me perguntado insistentemente pelo triste fim que terá levado Paula Sofia (PS). Confesso que não faço ideia. Diz quem sabe que PS anda completamente à deriva, desnorteada, provavelmente submetida a medicação forte porque foi vista por diversas vezes deambulando pelas ruas, sem direcção ou destino, a bater com a cabeça nas paredes e a tropeçar nos seus próprios pés. O seu discurso também não é lá muito coerente, mesmo quando consegue articular qualquer coisa com um mínimo de sentido, o que se pode igualmente explicar pelos remédios.
A sua vida amorosa também não deve estar grande coisa. Embora na maior parte das vezes ande sozinha, foi já vista nos braços fortes de Bernardo Ernesto (BE), rapaz tolerado mas considerado pela sociedade como fraca companhia. Truculento, brigão, e de ideias muito próprias. No seu horizonte existe ainda Pedro Cláudio Pereira (PCP), com quem PS sai às vezes, quando briga com BE. Mas nenhuma destas relações parece muito séria ou ter futuro. E isto é tudo o que sei, porque mo disseram.
posted by VLX on 12:21 da tarde
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ALMNAQUE DAS INTOXICAÇÕES VI: Ângelo Mariani, corso de nascimento, lança em 1863 uma bebida que viria a fazer história, o vinho Mariani, feito com a fermentação de folhas de coca. Da Rainha Vitória ao Xá da Pérsia, todo o fino mundo o bebeu, no final desse século. Como curiosidade, uma carta do secretário do Presidente dos EUA William McKinley, para com alguém que enviou para a Casa Branca uma caixinha do produto:
My dear Sir,
Executive Mansion, June 14, 1898
Please accept thanks on the President's behalf and on my own for your courtesy in sending a case of the celebrated Vin Mariani, with whose tonic virtues I am already acquainted, and will be happy to avail myself of in the future as occasion may require.
Very truly yours,
John Addison Porter,
Secretary to the President
Outros tempos.
posted by FNV on 12:05 da tarde
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CATCH ME IF YOU CAN: O psiquiatra apresentado pelo advogado de Carlos Silvino, ontem ao tribunal, diz que Bibi está amnésico. Este psiquiatra não está inscrito na Ordem, no colégio da especialidade ( isto confirmei eu), mas é "conselheiro económico honorário da Embaixada do Panamá".
posted by FNV on 11:10 da manhã
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CASE STUDY: Um caso dramático ocupa as primeiras páginas, rádios e televisões americanas. O drama de Terry Schiavo, uma doente em estado vegetativo persistente (toda a história aqui). À sua volta disputa-se a possibilidade de desligar o tubo que a alimenta. O tubo foi desligado, por decisão de um tribunal em 2001, para ser reconectado dois dias depois por decreto do Governador Jeb Bush (esse mesmo o irmão do outro), investido de poder para tal por outro tribunal. Estes dois dias sem alimentação não foram suficientes para Terry morrer.
A família (o marido e os pais) partiu-se em dois, reacendendo uma discussão pública em torno do direito a uma morte assistida.
Para lá das implicações políticas que podem surgir (Jeb Bush é acusado de alinhar com a direita mais conservadora neste tema, o que é muito impopular na América) e das particularidades do caso gostava de ver este tema analisado nas suas dimensões éticas e morais, jurídicas, psicológicas e outras. Nesta embarcação e na blogosfera em geral.
posted by NMP on 1:26 da manhã
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HISTÓRIAS DE FAMÍLIAS DESAVINDAS: Tudo começou quando o sogro, o velho Pereira Rocha (PR), de nome próprio João Simão (JS), resolveu falar em público sobre o assunto. O velho PR raramente falava mas, mesmo quando falava, o seu discurso era de tal forma ininteligível que as frases e o seu sentido eram sempre explicadas e sussurradas aos outros por um velho amigo, extremamente discreto, o Fontes , que se encarregava de se certificar de que as pessoas compreendiam o alcance e o verdadeiro sentido das palavras do PR.
Pois o PR, que nos últimos meses tudo tinha já aturado da filha, Paula Sofia (PS), resolveu vir a público explicar à sociedade, no seu jeito meio enrolado, aquilo que o movia e as ideias que defendia. O assunto principal prendia-se com umas cartas apanhadas à pobre PS e divulgadas por uma criada, cartas essas bastante comprometedoras, onde ela utilizava uma linguagem pouco própria de uma rapariga de boas famílias. Toda a sociedade da época falava no assunto, primeiro por sussurros e depois completamente à solta, dado que de boca em boca a notícia tinha circulado abundantemente e até o velho Manuel Risonho, o motorista, dantes sempre tão bem disposto e palavroso, sempre tão sensato, desta vez olhava de soslaio e, metendo os pés pelas mãos, só dizia disparates que atrapalhavam o resto da criadagem e incomodava quer PR quer PS.
E o PR falou. Falou tão claramente e de forma tão explícita que daquela vez nem foi necessário recorrer ao amigo Fontes para explicar o que dizia. Só que esqueceu a filha. De PS disse apenas que a conhecia há 30 anos e que não a iria proteger. Por nada. E que, de todo o modo, isso era um assunto menor: com o que a sociedade se deveria preocupar era com o comportamento inacreditável do genro, Paulo Serôdio Dias (PSD). Com a falta de educação dele, com as falhas na educação do PSD, com o que os estrangeiros diziam das terras e gentes geridas pelo PSD, com as doenças de PSD e com a sua falta de cuidado nos tratamentos médicos. Por fim, com a forretice do PSD, que só pretendia aforrar, só aforrar, só aforrar, nada gastar. Só faltou falar na ligação recente do genro à Cristina Duarte Santos (CDS), a quem secretamente PR e PS imputavam todos os males.
O romance do PSD e CDS era, diga-se em abono da verdade, real. Ambos se tinham juntado, embora de início com algumas dúvidas, e criado uma amizade e cumplicidade de argumentos e intenções como nunca antes qualquer um deles tinha realizado. E começavam familiarmente vida nova sobre os destroços da anterior. Só que os escombros eram enormes.
Convém explicar: durante a sua relação, PS e PSD geriam as receitas familiares com total independência, ora um, ora outro, à vez. E tendo PSD passado esta incumbência a PS, de imediato se começou a gastar à doida. E foram festas para os amigalhaços, dádivas, gastos sumptuários, carros de luxo, casacos de pele, tudo era permitido. O limite dos cartões de crédito familiares era permanentemente esgotado e pago apenas pelo mínimo. O pobre pecúlio amealhado anteriormente por PSD era desbaratado sem cerimónia. Enfim, a massa era torrada à tripa-forra, o pilim desaparecia, as verdinhas escorriam-se, a massaroca ia-se. PSD, às vezes, desconfiado, perguntava:
- Mas, ó PS, filha, teremos dinheiro para isto tudo?
Ao que PS respondia, indignada:
- Não te metas! Eu é que sei! Cala-te! É a minha vez de mandar no dinheiro.
E PSD recolhia-se, tristemente e bastante preocupado (alguns dizem que começou aqui a sua relação com CDS).
Até que um dia, não me lembro qual (era dia de eleições, parece-me), PS foi maltratada na rua, no banco, escorraçada das lojas, apupada como caloteira, e, completamente desacreditada, enlameada, enxovalhada, vem para casa, chorosa, lamentando tudo, entregando tudo, desistindo de tudo, fugindo de tudo. Numa palavra, escapuliu-se.
E aí, no meio de toda a tristeza, foi PSD quem tratou de colar os cacos. Com ajuda fraternal de CDS. Foram ambos aos bancos, analisar as despesas, os descobertos, os calotes. Depois ao sapateiro, ao merceeiro, à farmácia, avaliar todas as despesas, fazer acordos, negociar pagamentos. Às criadas retiveram os aumentos; aos fornecedores os juros; aos bancos, os próprios pagamentos; ao American Express expressaram as desculpas (de lá expressaram as condolências). Todos se queixavam de PSD e de CDS e a estes não bastava dizer que a culpa era do despesismo de PS.
Cortaram em tudo. Acabaram-se as festas, os teatros, os cinemas, as obras. Fechou-se a porta à decoradora da moda; expulsou-se o empreiteiro armado em estilista. Ficou apenas o essencial; comiam-se febras com esparguete ou arroz branco, remendavam-se meias, suplicava-se paciência às criadas.
Mas PS exigia alimentos, sempre e cada vez mais; importava-se pouco com as dificuldades e exigia de PSD, principalmente por causa de CDS, sempre e mais despesa. Endividamento. Para eles e para os amigos.
E é claro que PSD e CDS tudo dariam, se pudessem. Mas não podiam: não havia.
Em vão PSD e CDS diziam a PS que estavam a equilibrar as finanças, em vão lhe diziam que estavam a pagar as dívidas anteriores, em vão lhe diziam que não tinham dinheiro, em vão lhe asseguravam que esta atitude protegeria os filhos, o futuro; em vão: PS tudo exigia.
Tanto que PSD e CDS suplicaram a PR alguma ajuda, apoio: mas logo o velho sogro veio dizer que esta poupança podia não ter sentido, que os sacrifícios só valeriam a pena se houvesse verdadeira consolidação orçamental. Abriu assim caminho à dúvida, ao medo. Este instalou-se nas criadas, no merceeiro, no farmacêutico, na banca, arruinando tudo. E foi esta a grande contribuição do sogro. Que lhe dê bom sono.
posted by VLX on 12:58 da manhã
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O NOSSO GÉMEO: Aproveitando a onda de referências náuticas, o Mar Salgado agradece ao Luis Paulo "Balzac" Henriques - também ele velho lobo do mar, posto que momentaneamente em terra - o e-mail com a página do Mar Salgado. Embora, na verdade, devesse ser o Mar Salgado a agradecer ao Luis Paulo a publicidade grátis que o Mar Salgado dele faz aqui.
Não sei o que mais me fascina: se a ideia de fazermos publicidade a uma marca de "bacalhau salgado-seco" (sic), se a possibilidade de estes honrados comerciantes terem já recebido e-mails sobre o Iraque, a Casa Pia, a UBL ou o problema do retorno.
posted by PC on 12:55 da manhã
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PATRÃO MACATRÃO: Eis um nome a fixar pelos membros desta tripulação.
Informa o Diário de Coimbra que, no início da viagem que o levaria à Mauritânia para mais uma época de pesca, o nosso companheiro Madroa, de Ponte Vedra, teve uma arreliadora avaria à saída de Marín. Afirma o comandante da capitania da Figueira da Foz que o chefe das máquinas do Madroa, o valoroso Rodrigo Faudim Carvalho, se terá "envolvido muito com a reparação e, à noite, começou a manifestar sintomas de inquietação e descontrolo". Por indicação do médico em terra, foi-lhe administrado um sedativo e, quando o Madroa se encontrava já ao largo da Figueira, o rebocador Patrão Macatrão combinou um encontro com o arrastão para proceder à evacuação do descontrolado maquinista, que todavia não se concretizou em virtude da forte ondulação que se fazia sentir (sempre quis usar esta expressão para descrever situações meteorológicas); o Patrão Macatrão acabou por acompanhar o Madroa até ao porto de mar, onde Rodrigo Faudim Carvalho foi finalmente desembarcado e transportado (não se sabe se por sua vontade) ao hospital local, permanecendo em observação à hora do fecho desta edição (também gosto desta), embora o seu estado não inspire cuidados de maior.
Tripulantes do Mar Salgado, tomai nota do aviso: quando o Patrão Macatrão vos bater à porta, não abrais - alguém deu com a língua nos dentes.
posted by PC on 12:28 da manhã
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IMPÉRIO (último): Para o Terras do Nunca. A mim não me custa a concordar que as coisas deverão idealmente ser efectuadas de forma multilateral. Mas entre o ideal e o possível, muitas vezes há que escolher o possível. Sobretudo se as partes que tenta trazer para o seu lado têm contratos petrolíferos a assegurar. Contratos com um vil regime ditatorial, não com uma democracia musculada.
E a verdade é que independentemente do que se passou antes da guerra, o importante agora é estabilizar a situação. Podemos não ter apoiado a intervenção armada, mas devemos ter elasticidade mental para perceber que estas realidades são dinâmicas: que o que importa hoje é menos uma recriminação mútua sobre quem tinha ou não razão e sim a reconstrução. Foi aliás isso que levou à Resolução 1511 do Conselho de Segurança da ONU. E que levará os franceses e alemães a inevitavelmente participar no processo de reconstrução (aliás de forma bem barata, não dão dinheiro mas ganham alguns contratos, como é o caso da Siemens, mas adiante).
Por último e para encerrar esta polémica uma pequena dica. O nosso amigo jmf demonstra uma louvável tendência para a ecologia. Por isso aceite este conselho amigo: manifeste-se contra os americanos à vontade, mas nunca levante a sua verde voz contra os franceses. Quem sabe se os valentes gauleses (esses paladinos do direito internacional) não o mandam pelos ares, como fizeram ao barco e ocupantes do Rainbow Warrior da Greenpeace ?
O IMPÉRIO (tréplica): Tem razão jmf, do Terras do Nunca, quanto à necessidade de elevar a discussão relativamente à situação do Iraque. Gostava de propor uma reflexão sobre uma questão que já aflorei em posts anteriores: será exigível que a maior potência do Mundo - que é uma democracia - se submeta à vontade da ONU?
A resposta será claramente afirmativa se entendermos a ONU como o bastião mundial da legalidade internacional, com regras claras e transparentes, tomando decisões com base no direito internacional.
A resposta será claramente negativa se virmos a ONU como ela é, ou seja, como um fórum cuja principal vantagem, em termos políticos, consiste em reunir à mesma mesa nações inimigas ou desavindas, promovendo as negociações que se tornem necessárias para a paz e podendo mesmo agir no terreno quando há unanimidade. Mas, sendo igualmente um fórum onde existem membros permanentes de um todo poderoso Conselho de Segurança - do qual faz parte a China, verdadeiro exemplo de tolerância - e cujas decisões (salvo raras excepções) não têm outro móbil que não sejam os interesses políticos egoísticos de cada país (veja-se a França). E sendo uma organização onde o Iraque de Saddam pode presidir à comissão de desarmamento ou a Líbia de Khadaffi pode presidir à comissão dos direitos humanos.
Dito isto, penso que será sempre criticável a actuação dos EUA à revelia ou contra a comunidade internacional séria. Já não concordo quando se tenta imputar um crime de lesa majestade aos EUA por não respeitarem a ONU nos moldes em que actualmente existe: em que estados não democráticos podem bloquear decisões e em que estados democráticos assumem posições com os olhos, exclusivamente, no seu próprio umbigo.
posted by Neptuno on 11:16 da tarde
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PATRÃO FORA DIA SANTO NA LOJA: Bem sei que Durão Barroso está na terra dos leopardos socialistas, mas nem esta nau assim naufraga quando o Comandante viaja até ao Império. O Ministro do Ambiente, A. Theias, chegou de Bruxelas e ficou surpreendido ( quando? no avião? na sala de embarque?) com a perda da tutela das florestas para o colega da Agricultura. Vai daí, reune os jornalistas e com um papel na mão, já em Portugal, ainda num qualquer aeroporto, diz cobras e lagartos da manigância.
A que governo pertence este ministro? Ao belga? Ao angolano? Se sim, que têm eles ( e ele! ), que se meter com as nossas florestas?
posted by FNV on 9:40 da tarde
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AINDA OLIVEIRA: Manoel de Oliveira ( com o, como bem me repreendeu a MJO), assina um excelente documentário, Um filme falado. Visitando o tempo por entre as ruínas das culturas, sobretudo as mediterrânicas e das civilizações Axiais, Oliveira, parece dar razão a Louis Gernet: não há História que não seja actual. Já segundo Leonor Silveira, o realizador envia uma mensagem ao seu público. Calculo que a mensagem de Oliveira é a sempre eterna utopia do entendimento, uma espécie de Babel abençoada. Pode-se discordar, mas o documentário está muito bem feito. Devia ser passado nos liceus.
posted by FNV on 7:16 da tarde
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NAPOLEÃO: Estou a ouvir o Dr. Guerra Madaleno, candidato à presidência do Benfica, na TSF: Toda a gente em Itália sabe que o Rui Costa já assinou contrato com o Dr. Guerra Madaleno, e por isso não joga (n.d.r.: no Milan) e está de costas voltadas. Ou melhor, ou não joga ou está de costas voltadas.
Esta parte é fascinante: ou melhor, ou não joga ou está de costas voltadas. Quer dizer, o Rui não entra em campo às arrecuas? Razão tinha Napoleão, ao definir a diferença a entre um louco inofensivo e um louco perigoso: o louco inofensivo é o tipo que surpreendemos a comer as uvas da nossa vinha e nos diz: então elas não estão debaixo do sol? E o sol não é de todos? O louco perigoso é o tipo que na calada da noite se aproxima do amigo que dorme, e corta-lhe a cabeça. Depois esconde-se atrás do armário e fica à espera , divertido, para ver a reacção que o amigo terá quando acordar e perceber que já não tem cabeça.
posted by FNV on 11:26 da manhã
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INVEJA II: Com a devida licença do nosso Comandante, gostaria de contestar (= complementar) o post anterior. O imperialismo yankee pode levar a que os ingénuos cidadãos de Bagdad venham a ser involuntariamente compelidos a assistir a subprodutos cripto-culturais do capitalismo! Ainda ontem, na pacata Lisboa, dei por mim a consumir hora e meia de Jazz (pecado mortal?), interpretado por três exímios agentes da CIA, de seus nomes Brecker, Lovano e Liebman, que alienaram toda a plateia com ardilosos e impiedosos golpes de saxofone!
Gentes de todo o Iraque, amotinai-vos! Não deixeis que o Ladrão de Bagdad seja interpretado pelo Brad Pitt (a gente empresta o Luís Miguel Cintra). Não deixeis que vos rapem o bigode! Lutem pelos vossos costumes adquiridos nas últimas décadas! Viva o direito à tirania, à tortura e ao genocídio. Yankees, go home!
posted by Neptuno on 1:01 da manhã
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INVEJA: Certamente fruto da pressa, o nosso amigo do Terras do Nunca escreveu dois posts muito infelizes sobre o Império. Porque o sabemos capaz de muito melhor, sentimo-nos na obrigação de o rebater.
Quanto ao Afeganistão não lhe ocorre nada melhor do que achar um desaforo os posters da Britney Spears, da Shakira e do Ricky Martin (estes dois últimos por sinal nem são americanos) nas ruas de Kabul. Que são um sintoma do imperialismo cultural americano e ocidental. Ele «...queria que o Afeganistão continuasse a ser o Afeganistão». Estava á espera de tudo menos de um argumento salazarengo por aquelas bandas. O nosso António de Oliveira também não gostava da Coca-Cola (a McDonald's ainda não tinha sido fundada) e certamente queria que Portugal continuasse a ser Portugal.
Mas mais abaixo, o nosso avisado comentador adianta uma explicação que nós espíritos mais simples não tínhamos alcançado: o objectivo da guerra era que em cada esquina viesse a haver um McDonald's. Qual teoria da guerra preventiva, qual estratégia de segurança para manter terroristas longe da Europa e dos EUA, qual ideologia neo-conservadora ? Tudo se resume a um objectivo turístico e gastronómico (e nós que não estávamos a ver isto ?!).
No post seguinte, apelida de loucos os que aplaudem o que se está a passar no Iraque. Ainda pensei que se referisse aos atentados contra as forças da coligação. Não, a loucura está em «...insistirem que o Iraque está a caminho da estabilização e que caminha alegre e seguramente para a democracia.».
Pois eu não sei se caminham alegre ou tristemente (pode ser que isto me salve do epíteto de louco) e tenho a certeza que haverá escolhos e dificuldades, mas apoio firmemente a construção de uma democracia no Iraque e acho que estão a ser dados passos seguros nessa direcção. Mais, nesta altura, tenhamos ou não apoiado a intervenção armada, não há outra alternativa, sob pena do triunfo de ideologias fundamentalistas e ditatoriais em todo o mundo árabe. Todos os processos revolucionários são complicados e demoram a estabilizar ou já se esqueceu que, já haviam passado 10 anos sobre o 25 de Abril, e ainda havia meia dúzia de lunáticos que punham bombas em Portugal, em nome da sua concepção de sistema político.
Devo, no entanto, confessar que no meio de tanto disparate apressado acabo por invejar o nosso amigo: deve ser tão fácil viver com essas certezas e com essa visão do mundo a preto e branco.
posted by NMP on 12:23 da manhã
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REALITY: David Bowie foi para mim o grande génio musical dos anos setenta. Sempre na crista da onda, foi um corajoso pioneiro de sons e tendências musicais e precursor e origem de modas, visualmente associadas às personagens que foi incarnando naqueles tempos. Seria exaustivo enunciar o seu legado de obras ímpares tais como Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, The Man Who Sold the World, Hunky Dory, Alladin Sane, DIamond Dogs, Station to Station, entre outras (senão ainda acabo por referir todas!), que ainda hoje se mantêm actuais e sempre à mão em qualquer estante de CD's que se preze.
Já nos anos oitenta, Bowie editou um dos seus melhores álbuns - talvez o meu favorito - intitulado Scary Monsters, no mesmo registo de originalidade e genialidade dos anteriores, ao qual se seguiu Let´s Dance. Este último, embora não o coloque no mesmo patamar dos outros, foi igualmente precursor em termos de música dancing, sendo acima de tudo um excelente álbum para curtir a fundo, o que sem dúvida aconteceu naquela altura.
De então para cá, salvo uma ou outra música dispersa como por exemplo as dos filmes Cat People e This is Not America ou mesmo a esforçada Blue Jean, já não encontramos nas músicas de Bowie dos últimos vinte anos aqueles rasgos de originalidade, de ruptura e de genialidade que antes marcaram a sua carreira.
O seu mais recente álbum Reality - de resto, tal como o anterior Heathen - é bem a prova disso mesmo. E a triste realidade, por muito que me custe afirmá-lo - e com o devido desconto do ressentimento causado pela inevitável comparação com as suas obras maiores - é que o filão criativo secou. De todo.
posted by Neptuno on 12:15 da manhã
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NÃO RESISTO a publicar aqui uma putativa carta (I got the message, Charlotte, obrigado) recebida pelo Comissário Europeu da Agricultura, que circula na Internet como autêntica. E viva a PAC !
Monsieur le Commissaire de l'Agriculture,
Mon ami Robert, habitant la Bretagne, a reçu un chèque de 500.000 F de la part du gouvernement, pour ne pas élever de cochons cette année. C'est pourquoi je pense rentrer dans le programme de non-élevage de cochons l'année prochaine.
Ce que j'aimerais savoir, c'est quelle est la meilleure ferme possible pour ne pas élever de cochons et quelle est la meilleure race de cochons a ne pas élever. Je préférerais ne pas élever de sangliers, mais si ce n'est pas une bonne race a ne pas élever, je serais tout aussi content de ne pas élever de Landrace ou de Large White.
Le travail le plus dur dans ce programme semble alors de tenir un inventaire précis du nombre de cochons que l'on n'a pas élevés. Mon ami Robert est très confiant quant a l'avenir de son affaire. Il a élevé des cochons pendant plus de 20 ans, et le mieux qu'il ait pu gagner, c'est 200.000 F en 1978; jusqu'à cette année lorsqu'il reçut un chèque de 500.000 F pour ne pas élever de cochons.
Si je peux recevoir un cheque de 500.000 F pour ne pas élever 50 cochons, alors, est-ce que je recevrai 1.000.000 F pour ne pas élever 100 cochons, etc. ?
Je me propose de commencer a un petit niveau pour aller ensuite jusqu'à ne pas élever 4000 cochons, ce qui signifie que je recevrai un chèque de 4.000.000F et je pourrai ainsi investir dans un yacht.
Maintenant, une autre chose est que ces 4 000 cochons que je n'élèverai pas ne mangeront pas les 100 000 seaux de maïs qui leur étaient destinés. Dois-je alors comprendre que vous allez payer les agriculteurs pour ne pas produire le maïs ? En somme, est-ce que vous me donnerez quelque chose pour ne pas produire les 100 000 seaux de maïs qui ne nourriront pas les 4000 cochons que je n'élèverai pas ?
Je désire d'autre part commencer le plus tôt possible, puisqu'il semble que cette période de l'année soit propice au non-élevage des cochons.
Très sincèrement,
X.
PS : Puis-je élever 10 ou 12 cochons, même si je suis impliqué dans le programme, juste pour avoir un peu de jambon à donner a ma famille ?
E CONTINUA... Há algo de enviesado na linguagem actual dos demiurgos da política. Depois da sociologia do assobio ( na Luz, ao 1º Ministro), agora é o Presidente Sampaio que mete a foice na psicologia: Portugal tem um problema de auto-estima.
Que causará esta endémica falta de amor-próprio? Os portugueses, alvitrei aqui no Mar Salgado há uns tempos, são um povo histérico. A maioria das pessoas associa a histeria ao seu lado paroxístico, ou seja às crises de humor mais ou menos teatrais, ignorando a faceta conversiva, a somatização muitas vezes discreta e silenciosa: já não o meu rabo é de vidro dos tempos de Elísio de Moura, mas as enxaquecas resistentes, a astenia inexplicável, etc. Mas o defícit de amor-próprio também é uma característica do histérico. Ao contrário do obsessivo, que tenta controlar o mundo, ou do fóbico,que se tenta controlar a ele próprio, o histérico aspira a controlar a medida do afecto dos outros. Ama-se na medida em que o amam, depende quase exclusivamente de uma fonte externa de devoção e de afecto.
Os portugueses têm um problema com a sua auto-estima? Não, porque a auto-estima, palavra modernaça para orgulho, necessita de uma certa dose de risco e solidão. Forjam-se nessas coordenadas, qualidades que depois serão admiradas por outros. Os portugueses, como bons histéricos, queimam etapas: têm de ser os outros a reconhecer-nos capacidades. Dispensamos assim a laboriosa tarefa de nos erguermos, oferecemo-nos sedutoramente aos golpes do destinos e das perdas. A defesa do histérico é astuciosa: se os outros nos amam, é porque alguma coisa temos de bom, finalmente o reconhecem; Se as coisas nos correm mal, é porque os outros nos abandonaram ou prejudicaram.
Claro que neste Campo de Marte, nada se constroi de definitivo.
posted by FNV on 11:21 da tarde
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RETÓRICA & ARTIFÍCIOS: O Américo de Sousa não só teve a gentileza, que desde já agradeço, de responder à pergunta que lhe tinha posto aqui, como também, a pretexto dela, aproveitou para nos presentear com uma excelente lição de retórica. Nada melhor que um especialista para discorrer sobre a (in)adequação de certos procedimentos na discussão pública de ideias.
A lição só não foi ainda mais incisiva por minha culpa: na ânsia de sintetizar o problema concreto que me preocupava, não pude deixar claros todos os pressupostos de que partia e AS não podia, evidentemente, adivinhá-los.
Não pude, por exemplo, esclarecer que o termo "artifício" não tinha, apesar do contexto em que o empreguei, uma conotação pejorativa, antes pretendia significar, como AS bem lembra, "engenho" ou dispositivo - que todavia, e com a devida vénia, eu não assimilaria aos que se empregam nos "usos de linguagem" comuns, dado que a retórica é um uso de linguagem qualificado, com uma vinculação final específica (a persuasão). Dito de outra forma, em minha opinião, um artifício ou dispositivo retórico não o é apenas na estrita medida em que toda a linguagem é artifício ou dispositivo, nem sequer na medida em que o são as figuras de estilo, porque comporta um elemento dinâmico (dado pelo fim persuasivo) que exorbita da linguagem enquanto mero aparelho de comunicação.
Também não deixei suficientemente claro que a pergunta pressupunha um contexto de comunicação aberta (um debate público), nem que o emissor desconhecia, no momento da declaração, a identidade concreta de eventuais opositores - o que afasta, suponho eu, a possibilidade de vermos aí um argumento ad hominem.
Enfim, esclarecidos alguns dos pressupostos implícitos de que partia a minha questão, e só pelo prazer de continuar esta agradável conversa, a leitura do texto de AS permitiu-me consciencializar que o cerne do problema ainda me resiste. É que não se trata apenas de "insultar antes de ser insultado". Trata-se de prevenir um ataque muito concreto: eu, declarante, sei que grande parte dos membros do auditório relevante consideram a minha ideia como própria de um troglodita, e por isso qualifico eventuais discordantes como trogloditas (e não como estúpidos, ignorantes, desonestos, ou outra coisa qualquer).
O que me pode levar a fazê-lo? Creio que o objectivo só pode ser o de desvalorizar, perante os membros do auditório, não só a adjectivação de que, pessoalmente, posso vir a ser alvo, como também a linha de argumentação - no caso, essencial - que procure mostrar que a minha ideia não é compatível com o estado actual da civilização. Se essa linha vier a ser adoptada, a discussão descentrar-se-á, passando do aspecto substancial da questão para o aspecto lateral de "quem é o troglodita". Neste sentido, a qualificação que fiz previamente dos eventuais opositores (e que dificilmente pode ser vista como um insulto, pois não visava uma pessoa concreta), ainda é um artifício retórico, pois condiciona fortemente as possibilidades da argumentação. Coisa diversa é saber se ele ofende as regras deontológicas da arte. Será assim, Américo?
posted by PC on 7:50 da tarde
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OLHA PARA O QUE EU DIGO (SOBRE OS OUTROS), NÃO OLHES AO QUE EU FAÇO E DIGO (SOBRE MIM): Um dos novos sub-capítulos da novela que entretém a opinião pública é o da polémica entre João Pedroso e Marcelo Rebelo de Sousa (MRS). Ao contrário deste último, João Pedroso não vê mal nenhum no facto de ter tido conhecimento do inquérito do irmão a nove de Maio, ter assumido de imediato e seu patrocínio como advogado e tomado posse como membro do CSM a treze de Maio.
Estou ansioso para ouvir a posição do PS sobre o assunto e divertir-me com as manobras de contorcionismo que fará. É que este PS é o mesmo que criticou Paulo Portas até à exaustão, embora este fosse uma mera testemunha de um processo, vaiou inacreditavelmente e sem qualquer tipo de fundamento Celeste Cardona por alegadamente estar em posição de proteger Paulo Portas (mera testemunha de um processo) e apupou alegremente Luís Nobre Guedes por assumir a sua posição no CSM só por este ser amigo de Paulo Portas (mera testemunha de um processo) e poder ficar em condições de o proteger (sabe-se lá de quê, dado que, caso não se tenha percebido ainda, Paulo Portas era mera testemunha de um processo).
Vem daqui a minha ansiedade relativamente à posição que o PS tome sobre o assunto. Ou critica com o mesmo vigor, embora as situações anteriores não sejam exactamente as mesmas (como qualquer um se aperceberá), ou mostra que tem dois pesos e duas medidas bem diferentes, o que não quero acreditar que seja possível. Ou será?...
posted by VLX on 11:33 da manhã
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FIESTA: Discute-se hoje na TSF, e noutros borladeros, a sociologia do assobio: foi Durão Barroso muito ou pouco assobiado na Luz, no passado Sábado? Sugiro então aos analistas políticos a escala da fiesta: vaia, silêncio, aplauso, aplauso forte, volta à arena, corte de uma orelha, corte de duas orelhas, corte de rabo, saída em ombros.
Só não sei, se na inauguração das Antas, o Presidente Sampaio for muito aplaudido, o que acontecerá se o povo pedir uma orelha? O director da corrida, Pinto da Costa, terá de satisfazer a aficion e mandar um cortar uma orelha, ou até um rabo.
E depois, como vai ser? Não estou a ver Luis Filipe Menezes à Van Gogh, ou Elisa Ferreira amarrada para toda a vida a uma almofada. Vocês estão a ver o risco desta coisa dos toiros?
posted by FNV on 10:22 da manhã
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SEMPRE ÁS ORDENS, neste caso do Luís, da Natureza do Mal (link na coluna da direita), e do seu dicionário. Diz o Luís a propósito de cegar, que se diz no norte cegar as couves, tirar-lhes os olhos, os buracos feitos pelos animais. Penso que se engana o Luís. A origem do termo que é segar as couves, e não cegar as couves, virá do termo sega: ferro que se põe adiante da relha do arado para facilitar a lavra, ou acto de segar, ceifar. Segar será assim cortar, até porque segada siginifica ceifa, e segadeira designa uma espécie de foice grande. Uma vendedora do mercado do Calhabé (pequenino, mas delicioso), que me costuma arranjar couve caseira para caldo verde , costuma dizer-me foram segadinhas ( ripadas, cortadas) hoje.
Sempre às ordens, e longa vida para o dicionário.
posted by FNV on 9:45 da manhã
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UMA BOA ALTURA: O Paulo Gorjão, do Bloguítica Nacional (link na coluna da direita), referencia amavelmente o meu post Carta aberta à Dinamarca, Noruega , Irlanda e outros, terminando enigmáticamente dizendo é por isso que continuará a haver esquerda e direita.
Bom, eu não sei exactamente o que o que o Paulo quis dizer, embora ele deixe perceber que concorda comigo. Mas deu-me a deixa: porque é que a esquerda portuguesa institucional alinhou no EURO-2004? Porque é que um país pobre, e com muito para fazer em áreas essenciais, tem uma esquerda que se calou desta maneira? Longe vão os tempos em que EPC, encarregado da defesa oficial, sentenciou: quando a capela Sistina foi pintada pelo mestre, também ainda havia fome.
Ou seja, seria demagogia recusar o circo da bola só porque ainda existem bolsas de pobreza. Mas eu não falei (só) de pobreza. Falei de investimento em áreas essenciais, que óbviamente faz mais falta às classes desfavorecidas, com menos meios e possibilidades. A Holanda e a Bélgica, países com um nível de vida infinitamente superior ao nosso resolveram no EURO-2000 partilhar custos. A Dinamarca e a Irlanda nunca foram em futebóis.
Esta esquerda portuguesa, calou-se miseravelmente na altura, e agora põe o cachecol ao pescoço e participa afanosamente em mui fascistas extâses, comunhões, exibições de luxo, delírios de massas. Se fossem coerentes, antes sequer do projecto de candidatura, teriam denunciado a demencial opção de gastar 800 milhões de euros em estádios de futebol: quanto mais não fosse, pelos príncipios, que só eles têm.
Defendem o povo à porta de uma fábrica que fecha, mas levam-no pela mão ao circo, mesmo quando ele não tem dinheiro para o bilhete. Esta esquerda não serve de exemplo.
posted by FNV on 1:37 da manhã
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O PAÍS QUE TEMOS: Tem dias em que dou graças por viver em Portugal, tem dias em que não. Vem a propósito da primeira observação a ansiada recepção não só da minha carta de marinheiro como também as de patrão de costa e alto mar que me possibilitam manobrar esta nau, divulgar o que entender e sem receios de que se possa confundir a identidade do autor com a do amável postador. Não pensem que foi fácil. Contagiada por centenas de anos de desenvolvimento (sem igual nos países desenvolvidos) do processo burocrático, a secretaria da direcção do blog atrasava o envio da documentação necessária. Que iria demorar muito, que eu precisava de juntar certidão de nascimento (como para quase tudo, neste país), cópia de facturas da EDP e da PT, preencher formulários, fazer exames de aptidão e médicos, seguro de responsabilidade civil, enfim, uma infinidade de coisas. Sem êxito tentei demonstrar que isso era um exagero, que iria demorar imenso tempo. Disse até que o tempo de admissão não era compatível com o fenómeno dos blogues, dado que alguns deles constituíam projectos a dois anos e que o processo de admissão consumiria necessariamente esse período. Debalde; a funcionária não foi na minha conversa. Que não, e que não e que não...
Felizmente conhecia bem a direcção do blog e um agradabilíssimo jantar com Neptuno proporcionou-me de imediato a documentação necessária (mais, até), sem sequer prestar exames de admissão.
Portugal é um belo país. Oiço por aí que há ministros que são corridos por situações destas, mas isso deve ser na coisa pública...
A segunda observação vem a propósito da notícia da TVI (embora já a tivesse ouvido, há dias, na TSF), segundo a qual estaria para publicação (ou teria já sido publicado, eu ainda não o vi) um qualquer diploma onde se proíbem nas escolas os aquecedores a gás. O assunto preocupa naturalmente regiões como Trás-os-Montes e Minho (imagino que também a Beira Interior) e provocou logo reacções de dirigentes autárquicos, responsáveis pelas escolas.
Segundo eles, não há dinheiro para, de um momento para o outro, alterar o equipamento de forma a banir os aquecedores a gás e, como as crianças não podem - muito naturalmente - sofrer com o frio, manter-se-ão os aquecedores a gás. Mas a lei proíbe, insistia a jornalista. Pois proíbe mas, como não há alternativa, terá de se violar a legislação, afirmava calma e displicentemente à TSF um autarca de Trás-os-Montes.
Não sei o que me incomoda mais nesta notícia, tenho sinceras dúvidas. Talvez a forma como em Portugal (Lisboa) se legisla, sem o mais pequeno conhecimento da realidade nacional. Não se veja nisto um apelo a uma qualquer regionalização, que não desejo. É apenas uma constatação. Infeliz constatação. Temos das normas mais avançadas da europa e do mundo; não servem é no país: fica-nos curta nas mangas, para usar a expressão de Eça de Queirós.
Mas também o facto das autarquias não poderem adquirir umas dezenas - ou centenas, que fossem - de aparelhos ou sistemas de aquecimento para as escolas me parece inadmissível. Estou sinceramente convencido de que para se chegar a esta lamentável situação - a ser verdade - é porque se anda a gastar muito mal o dinheiro. Admito que a instalação de outro equipamento (ou, apenas, o cumprimento das disposições legais...) não dê tantos votos como os da inauguração da fonte luminosa na nova rotunda, mas (que chatice!...), alguém tem de o fazer.
Por fim, igual horror me causou a forma como o autarca, sem qualquer tipo de problema, anunciou que se iria violar o diploma, que se iriam manter os aquecedores a gás. O argumento era o de que não havendo dinheiro, não se cumpria o disposto no diploma. Claro, sr. Autarca: não há dinheiro, fazer o quê? É evidente que não se pode cumprir a lei. Imagino que não deva ter uma linha de pensamento muito diferente desta aquele que não cumpre as suas obrigações fiscais ou o fulano que me roubou o rádio há quinze dias atrás...
NEM TUDO MUDA: O Bloguítica Nacional já fez referência ao pedido de Carlos Carvalhas para que o PR intervenha em prol da independência nacional, contra o domínio das empresas portuguesas por alemães, franceses e outros parceiros da União. Quando ouvi Carvalhas no Telejornal, não pude deixar de pensar como vão longe os tempos do internacionalismo comunista contra a opressão dos tiranos nacionais. Ou nem tanto: a mesma peça mostrava que, no fim das reuniões do PCP, a Internacional continua a preceder A Portuguesa.
posted by PC on 11:52 da tarde
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O ROCKET é a Kalashnikov dos tempos modernos. A arma da guerrilha urbana por excelência. Expulsou os americanos da Somália e a medir pelo que aconteceu ontem vai dar muito trabalho aos americanos no Iraque.
Só que desta vez o empenho e determinação são diferentes. Os americanos já não estão sozinhos: a resolução 1511 do Conselho de Segurança da ONU e a Conferência de Países Doadores para o Iraque em Madrid marcaram o envolvimento da comunidade internacional como um todo no processo de reconstrução iraquiano.
A partir de agora, com a caução da comunidade internacional nos orgãos próprios, seguindo os procedimentos do direito internacional estabelecido, a disputa está claramente marcada entre a civilização e a barbárie, entre progresso e violência, entre a democracia e a tirania.
O que está em causa é perceber se uma sociedade islâmica consegue (com maior ou menor dificuldade) construir um sistema político democrático, viver numa sociedade aberta e de mercado livre. Acreditamos que sim. Que a esmagadora maioria dos muçulmanos são moderados que não se revêem em discursos radicais de fundamentalistas ou de ditadores oportunistas e que apenas necessitam que lhes seja dada oportunidade de o exprimir livremente. E sobretudo, nesta questão não temos dúvidas sobre qual é o nosso lado.
Temo, no entanto, que alguns, inflamados pelo seu anti-americanismo primário, passem a glorificar o desaparecido Saddam e os algozes da Al-Qaeda como grandes combatentes da liberdade. Cá estaremos para assistir.
posted by NMP on 5:11 da tarde
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UMA GRANDE DIFERENÇA entre a sociedade americana e a europeia é o maior valor que se dá na América à noção de propriedade e ao individualismo, que se traduz na convicção generalizada de que ter armas em casa é um direito inalienável dos cidadãos.
Depois da comoção provocada pelos acontecimentos em Columbine ter passado, a ideia do controle de armas começou a perder fôlego. Hoje, como se vê neste artigo do Washington Post, nem os candidatos democratas querem falar em legislação de controle e registo, como o fizeram durante a década de 90. E ironia das ironias (ou talvez não), um dos mais esquerdistas e populares de entre os actuais candidatos, Howard Dean (frontalmente anti-guerra no Iraque e anti-corte nos impostos), é um dos maiores defensores do direito dos americanos a ter armas em casa.
posted by NMP on 5:04 da tarde
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EXCELENTE ARTIGO que retrata a perplexidade e confusão reinante em muitos espíritos (incluindo o meu). Por isso não comento o processo Casa Pia.
posted by NMP on 5:01 da tarde
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É O QUE SE PODE ARRANJAR: Bem posso eu votar pela despenalização do aborto, ou todos os anos dedicar 1/4 da cadeira de psicologia social que lecciono à desmontagem dos mecanismos do racismo e de xenofobia; são notas como a que se segue, que me valem aqui em alguma blogosfera, o labéu de reaccionário ou obcecado com a esquerda. Compreendo, pois que muitos do mecanismos de acção dos utópico-revolucionários fundam-se mais no cadafalso e na intolerância, do que na discussão de ideias. Adiante.
A nota que deixo prende-se com a passagem anunciada hoje na SIC de um filminho menor, mas didáctico. Trata-se do Massacre dos Inocentes e relata as vicissitudes dos boat-people que fugiam do regime comunista do Vietname. Saigão foi definitivamente libertada em 1975 da influência norte-americana, e para terem a certeza que a libertação seria completa, cerca de 0.5 milhões de estudantes, funcionários, budistas, comunistas do Sul, foram encarcerados em campos de reeducação. A perseguição e assassínio não diferiram muito das exercidas, sobretudo no Norte, antes da intervenção americana, foram até talvez menos violentas. Mas se nessa altura Ho-CHi Min já era o ídolo dos make peace not war, e o mártir do Tio Sam, claro que depois de 1975, os meninos pacifistas e da esquerda universitária ocidental não verteram uma lágrima, não fizeram uma manifestação. Pior: para eles, o regime era uma bandeira.
O filminho de hoje é uma pequena e miserável homenagem a esses tempos e a essas pessoas. Aqueles que na altura batiam com a mão no peito por Hanói, hoje dirão que não podem ficar amarrados ao passado. O que é interessante é que a noção de passado, para esta gente, é assaz particular: daqui a quantos anos o PCP e amici vão saber o que se passou em Cuba durante todos estes anos? Por isso existe apesar de tudo uma diferença, aqui mesmo na blogosfera: entre uma esquerda como por exemplo do Barnabé, que denuncia o que há para denunciar, e uma esquerda cinquentona, ressabiada, moralmente superior e carregada de silêncios selectivos. Hoje, indignada, esta esquerda caviar-de-ovas-de-salmão dirá ( como muito tarde disse do estalinismo), também, que não se revia naquilo, que não era o que defendiam. Pois não. Bom seria terem dito isso na altura: na alegre casa das ideologias, a suposta superioridade moral tem o seu preço.
posted by FNV on 11:02 da manhã
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"5 à SEC": Sem qualquer juízo de valor ou outro, ao ler o Expresso de hoje constato que continua o programa de "lavagem" do Dr. Paulo Pedroso na imprensa, suscitando a inveja de inúmeras figuras públicas cuja "lama" não teve direito tão vigorosa "mangueirada". Atendendo a que já dura há uma semana, é de concluir que é bom ter amigos. Repito - como o inenarrável Malheiro - sem quaisquer considerações sobre a culpabilidade ou inocência do sujeito. Sublinho, sem beliscar a honrabilidade do dito cujo.
posted by Neptuno on 3:51 da manhã
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JUSTIÇA II: Outra razão premente para que a justiça funcione prende-se com o desmesurado e incontrolado (num estado de direito moribundo) poder dos media. Sendo a democracia o poder das maiorias, a realidade democrática, hoje em dia, é a dos media. E mesmo que esta, por vezes, possa transmitir a realidade de facto, mesmo essa realidade pode ter sido objecto de construção ou filtro mediáticos, ao serviço de interesses egoísticos ou outros que não tenham sido sufragados na sua pureza - pré-media - pelos eleitores.
Ñão se pede outro controle que não o de uma justiça que funcione. Em que o anónimo cidadão ou mesmo o mais mediático se possam defender dos excessos ilegítimos de um dono de uma televisão, de uma redacção "engajada" ou mesmo de um jornalista rancoroso que, no uso de um poder que lhe é conferido por circunstâncias alheias a qualquer sistema representativo possa, impunemente, fazer tábua rasa da lei.
Que a lei seja igual para todos e que a justiça seja eficaz para todos, mesmo para os media. Apenas isso.
posted by Neptuno on 3:32 da manhã
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JUSTIÇA: Se algo de bom pode emergir do processo pia, que seja pelo menos uma maior sensibilização dos portugueses para a necessidade primordial de um sistema judicial que funcione. A cultura da desresponsabilização vigente nos últimos vinte anos tem que acabar. Seja no cheque careca, nas obras em atraso, na gestão política de processos ou na gestão mediática que encobre falhas processuais ou outras, nos impostos e nas multas que não se pagam, no risível segredo de justiça, nas expedientes prisões preventivas ou nos crimes que prescrevem ou são amnistiados. A vida em comunidade será sempre um fracasso enquanto eu sentir que o meu vizinho prospera na impunidade. E se o "exemplo" vier de cima - do parlamento ou das altas instâncias da magistratura - tanto pior. Por todos os motivos, terá que haver justiça.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.